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CAPÍTULO III – A ANÁLISE DE REDES SOCIAIS E O SEGMENTO CULTURAL

3.4 Ferramentas e indicadores da Análise de Redes Sociais

Em análise de redes sociais, os atributos dos atores, conforme já visto, ganham significado a partir das interações entre os mesmos, isto é, sua importância é definida no âmbito de relações empíricas que se estabelecem entre atores específicos e situações específicas (empíricas). Sua importância não é um dado a

priori, descontextualizada da relação entre atores específicos e em situações específicas. Já os atores sociais são compreendidos em termos de padrões ou estruturas de ligações entre as unidades. A análise de redes sociais consiste no mapeamento de relações entre as diversas representações dos laços entre atores, na forma de matrizes, gráficos e análises.

Os analistas de redes sociais utilizam dois tipos de ferramentas matemáticas para representar a informação sobre os padrões de relação entre os atores, proporcionando uma melhor interpretação dos dados: as matrizes e os grafos. As referidas ferramentas fornecem indicadores que traduzem, de forma rápida e precisa, os padrões de relações sociais (WASSERMAN; FAUST, 2007).

O tipo de representação gráfica utilizada em análise de redes consiste em pontos ou nós que simbolizam os atores. Um grafo ou sociograma é uma representação composta por um conjunto (supostamente finito) de nós ligados por flechas (grafos direcionados) ou arestas (grafos não direcionados). (WASSERMAN; FAUST, 2007).

Além da notação matemática dos grafos, a ARS utiliza ainda a notação matricial da álgebra linear, em que as redes são apresentadas por meio de matrizes. Essas matrizes são formas de representar e resumir dados de rede. Assim, uma matriz contém exatamente a mesma informação que um grafo, porém, é mais adequada às análises em métodos computacionais (WASSERMAN; FAUST, 2007).

Considerando as possibilidades de avaliação das redes sociais, a análise de suas características estruturais possibilita duas abordagens: a primeira seria a avaliação da estrutura da rede como um todo, e a segunda, o nível das relações entre os atores da rede. Silva (2003) ainda cita os critérios qualitativos de análise de redes sociais.

Dentro da primeira abordagem, é possível um levantamento de critérios estruturais significativos, como o tamanho, a densidade, a distância geodésica e o diâmetro da rede. Ainda nesse enfoque, há a avaliação da coesão da rede, a qual consiste em um levantamento dos subgrupos – os cliques e o coeficiente de agrupamento. Nessa abordagem, de acordo com Wasserman e Faust (2007), os principais indicadores são:

efetivas (reais) ou possíveis no grupo estudado. Esse indicador é bastante importante, já que todas as demais variáveis estruturais são calculadas a partir dele. Em redes muito grandes, os indicadores podem sugerir análises inconsistentes. Nesses casos, considera-se o tamanho da rede como a medida das ligações efetivamente ativadas, desprezando-se, as potenciais.

A abrangência é o número total de atores da rede menos o número de atores isolados. Esse indicador permite avaliar quantos atores estão interligados na rede.

A densidade é a relação entre a quantidade de ligações existentes e as relações possíveis ou potenciais. Quanto mais conexões (linhas) existir numa rede, mais densa ela será. Tal medida revela a quantidade de informação trocada na rede. A hipótese geral é que, quanto mais conectada uma rede, maior o grau de homogeneização de valores e regras entre seus integrantes. Essa maior homogeneização pode ser fonte de vantagens, a exemplo de maior facilidade de implementação de projetos que dependam do compartilhamento de saberes de cada ator da rede, e desvantagens, a exemplo de barreiras à internalização de novos conhecimentos externos às redes.

Na literatura e nos estudos empíricos, observa-se que quanto maior a rede, menor a densidade, já que a densidade é muito influenciada pelo número de atores envolvidos (RIBEIRO, 2006). Trata-se de um índice que deve ser utilizado com muito cuidado, pois a comparação entre estudos diferenciados tende a ser incoerente.

O diâmetro da rede pode ser definido como o maior caminho dentre os caminhos mais curtos da rede. Representa, em média, a maior distância entre os pontos mais distantes entre si.

A distância geodésica é definida como o número de relações no caminho mais curto entre dois atores (ou de um ator em relação a si mesmo). Assim, a distância geodésica entre um par de “nós” é o número de laços que existe no caminho mais curto entre eles. Esse indicador avalia qual a melhor forma de um ator chegar a outro.

Os cliques ocorrem quando um subgrupo de atores possui vínculos diretos entre si, e nenhum ator com vínculos com todos os demais fica de fora do subgrupo. A definição de clique é um ponto de partida útil para especificar a propriedade coesiva de subgrupos. Segundo essa definição, deve haver no mínimo três “nós” para compor um clique. Esse indicador é importante para a identificação de laços fortes dentro da rede, pois se trata do forte relacionamento entre atores de uma rede, formando subgrupos em virtude de vínculos estabelecidos por afinidades. Também ajuda a entender como uma estrutura social mais complexa emergiu de grupos mais básicos.

O coeficiente de agrupamento – c – é a fração média de pares de atores próximos de um ator que também são próximos de outros. Em uma rede completamente conectada, na qual todos conhecem todos, o coeficiente de agrupamento c = 1. A aplicação dessa medida para um arranjo produtivo possibilita medir o quanto os atores que dele participam são relacionados entre si e explica, de alguma forma, o grau de sinergia possível do grupo como um todo.

Outra técnica de identificação de grupos em uma rede é a análise da “equivalência estrutural” entre os atores. Esse é o caso em que os atores têm as mesmas relações de todos os outros “nós”. Os atores estruturalmente equivalentes são idênticos em "posições" na estrutura do diagrama, ou seja, dois atores devem ser exatamente substituíveis (MELO, 2008). Nessa análise, agrupam-se atores que têm o mesmo padrão de vínculos, isto é, colocam-se juntos atores que se relacionam com os mesmos atores.

Na segunda abordagem, a do nível das relações entre os atores da rede, a análise passa a ser feita centrada em egos, ou seja, focada em determinados atores. As medidas mais importantes usadas para descrever a posição dos atores na rede são as de centralidade, que correspondem à quantidade de relações que se coloca entre um ator e outros atores. Na ARS, conceitos como o de centralidade estão relacionados às pesquisas sobre poder. A centralidade pode ser calculada de acordo com diferentes medidas, que dão lugar a diferentes conceitos de centralidade, definidos a seguir (WASSERMAN; FAUST, 2007):

relacionamentos do ator e permite a visualização dos atores que assumem papéis centrais dentro do contexto da rede. Pode ser dividida em centralidade de grau de entrada (número de relacionamentos que o ator recebe), ou centralidade de grau de saída (número de relacionamentos que o ator estabelece). Wasserman e Faust (2007) indicam que, na análise de redes sociais, a centralidade de grau de saída mede a expansividade. Já a centralidade de grau de entrada mede o prestígio, popularidade ou ainda a receptividade do ator dentro do grupo.

Centralidade de proximidade de um ator é a sua independência em relação aos outros. Ele é tão mais central quanto menor o caminho que precisa percorrer para alcançar os outros elos da rede. Esse tipo de centralidade depende não apenas das relações diretas, mas também das relações indiretas.

Centralidade de intermediação é uma medida do número de vezes que um “nó” aparece no caminho mais curto entre outros dois “nós”. Esse indicador caracteriza os atores que têm posição de vantagem na rede, na medida em que eles estão no menor caminho entre dois conjuntos de atores.

A Centralidade de Bonacich leva em consideração fatores de atenuação ou de amplificação decorrentes de ligações indiretas e dos prestígios gerados por elas, que alteram a centralidade de grau. Dois atores centralmente localizados, quando ligados, podem ser considerados detentores de posição de poder importante, pois, em uma situação de tomada de decisão, cada um desses atores possui ligações importantes.

As medidas de centralidade visam a associar a posição do indivíduo em relação à estrutura da rede e podem refletir influência interpessoal, acesso à informação, relações de poder, dentre outras. Marteleto (2001, p. 76) adverte para o fato de que indivíduos com mais contatos diretos em uma rede podem não ser necessariamente aqueles que ocupam as posições mais centrais. Um ator com poucas relações diretas pode estar muito bem posicionado em uma rede por meio da utilização estratégica de suas aberturas estruturais, por exemplo. Para Guarido

Filho e Rossoni (2007), na estruturação de campos organizacionais, agentes que possuem melhor acesso aos recursos, apresentam maiores condições de determinar a institucionalização desses campos.

Pode-se citar também, como análise centrada em egos, a identificação de papéis críticos assumidos pelos atores. Os estudos geralmente têm focado quatro papéis críticos de ligação: (1) conector central, que liga a maior parte das pessoas de uma rede social umas com as outras; (2) expansor de fronteiras, que conecta uma determinada rede social com outras partes de uma organização ou com outras organizações; (3) corretor de contéudo, que mantém a comunicação entre os diferentes subgrupos de uma rede social, unindo-os e impedindo que a rede se fragmente em subunidades menores e menos eficientes; e (4) especialista periférico, a quem todos de uma rede social podem recorrer sempre que algum conhecimento específico é necessário (SILVA, 2003).

Por fim, uma terceira vertente de análise de redes sociais é a centrada em critérios qualitativos. Silva (2003) enumera quatros aspectos de avaliação, a saber: diversidade das ligações; conteúdo transacional; sentido do fluxo; frequência e duração das relações. Essa abordagem é importante, pois permite avaliar os fluxos entre os atores e a natureza desses fluxos, favorecendo a identificação de conteúdos mercantis e não-mercantis e laços fortes e fracos.

Para entender o propósito deste capítulo, à semelhança do que foi feito com a teoria das aglomerações, serão discutidas, em seguida, algumas aplicações da Análise de Redes Sociais às atividades culturais.