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A Festa do Divino Espírito Santo em Macapá pelo Grupo de Marabaixo Raimundo

O Ciclo do Marabaixo em Macapá é realizado atualmente pelas Associações Culturais distribuídas entre vários bairros e localidades da capital amapaense. No Bairro do Laguinho, temos a Associação Cultural Raimundo Ladislau, localizada na rua Eliezer Levy, 632, que realiza as festas do Ciclo do Marabaixo.

A Associação Cultural Raimundo Ladislau foi fundada em 1988. Seu principal objetivo consiste em “resguardar, difundir e valorizar a cultura do povo negro do Amapá” e, neste aspecto, o Marabaixo tem destaque maior por ser uma manifestação genuinamente regional.

Segundo Daniella Ramos, que já está no seu segundo mandato como presidente da Associação, a ideia de criar uma entidade que fosse, de fato e de direito, responsável pela manutenção e realização das festas do Marabaixo, está relacionada aos seguintes fatos:

Com o falecimento do Mestre Julião no final da década de cinqüenta, a festa do Marabaixo foi se enfraquecendo ao longo dos anos e na década de oitenta chegou a enfrentar sua pior crise chegando a uma situação de quase completa extinção, fato que sensibilizou uma parcela da sociedade através de cobranças e os apelos expressos em alguns jornais da época e também por algumas autoridades, fez com que os filhos do Mestre Julião se reunissem e voltassem a realizar a festa. (Entrevista com Daniella Ramos, 14 jun. 2011).

As associações, na maioria dos casos, representam uma família tradicional de Macapá. A Associação Raimundo Ladislau, foi criada pelos filhos e netos do Mestre Julião18 Ramos. A sua criação está relacionada a um fato interessante ocorrido na casa da Tia Biló,19 no final da década de 1980. Daniella Ramos, bisneta de Mestre Julião e atual presidente da Associação, relata que:

      

18 Julião Thomas Ramos(1876 – 1958), mas conhecido como Mestre Julião, foi um exímio tocador de caixa de marabaixo e é reconhecido na história da festa do Marabaixo como o principal mantenedor e incentivador da realização da festa no bairro do laguinho, na cidade de Macapá 

 

19 Benedita Guilherma Ramos (Tia Biló) é a última dos dez filhos do casal Julião Thomaz Ramos e Januária Simplícia Ramos. Hoje com 86 anos, cumpre, apesar da idade, a promessa que fez ao pai de dar continuidade à festa do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade.

o fato aconteceu na época que a cantora Bethe carvalho veio a Macapá. Quem trouxe foi o governo e a prefeitura. Depois do show, ela veio na casa da tia Biló e fizeram o Marabaixo para apresentar à cantora. A casa era de madeira, nessa época o Marabaixo acontecia na sala; a sala era toda esvaziada, houve uma multidão querendo entrar na casa até que quebrou o assoalho e depois a cumieira, parte do telhado que sustenta a casa, nessa época teria uma viagem para o grupo de Marabaixo, para um evento a ser realizado em Belém, acabou que esse evento foi cancelado e o dinheiro iria voltar, então o funcionário do governo deu essa ideia para o meu tio de pegar esse recurso e ajeitar a casa, que a casa ficou comprometida, principalmente o telhado. Então ele iria dá essa ideia para liberarem esse recurso para ajeitarem a casa. Nessa ocasião, foi dada a sugestão de se criar uma instituição para o próximo ano, a fim de que a mesma pudesse está recebendo uma pequena quantia de apoio financeiro para o Ciclo do Marabaixo. Foi então que os filhos do mestre Julião, se reuniram, mais algumas pessoas que eram amigos ligados a família, como o seu Lino (Francisco Lino da Silva) uns dos fundadores da Escola de Samba Boêmios do Laguinho, e resolveram criar a Associação Cultural Raimundo Lasdislau em 1988, com o objetivo de fazer o resgate do Marabaixo, tratar dessa manutenção e também buscar recurso junto ao Estado e Ministério. Até mesmo porque algumas pessoas, os mais antigos já tinham morrido, estava ficando cada vez mais difícil garantir a realização da festa. (Entrevista com Daniella Ramos, 14 jun. 2011).

Esse espaço é denominado tanto como a “casa do festeiro” como também de “Centro Cultural Tia Biló”, e é o local onde foram realizados os festejos do ano de 2011, conforme o calendário constante do folder do evento, elaborado e divulgado pela Associação.

 

Figura 4 - Tia Biló, única filha viva do Mestre Julião, cantando um ladrão de marabaixo na abertura do Ciclo do Marabaixo, 2011

   

A Associação conta com um número de 158 membros que se dividem entre os brincantes, os organizadores e os realizadores da festa. São realizados durante o ano eventos para conseguir recursos financeiros, como bingos organizados pela Associação, além desses, a Associação participa de outros eventos que garantam remuneração.

Os festejos do Ciclo do Marabaixo de 2011 tiveram início no dia 24 de abril, no domingo de Páscoa, com o Marabaixo da Ressureição, às 17h. Nesse dia, a presidente da Associação anuncia o início dos festejos e convida todos os presentes para apreciarem a festa. A programação consiste na realização do momento lúdico da festa. Ao som das caixas do marabaixo, os presentes cantam e dançam comemorando a abertura do ciclo. Grupos de outras comunidades são convidados para também tocarem e dançarem no evento. Durante a festa, é servido o tradicional caldo, feito de carne bovina e verduras, e a gengibirra, bebida típica da festa, feita de cachaça, açúcar e gengibre. O “primeiro Marabaixo”, assim também denominado, termina à meia-noite.

 

 

Figura 6 - O caldo de carne e bebida gengibirra: iguarias servidas durante a festa

O evento segue de acordo com o calendário, que é fielmente cumprido. No dia 28 de maio acontece o corte do mastro. O grupo se desloca até o Curiaú, área reconhecida como região quilombola que se localiza a uma distância de aproximadamente 12 km de Macapá e que contém uma grande área verde preservada, com uma mata bastante densa onde é possível encontrar o mastro apropriado, para então realizarem o corte do mastro. Todo o ritual é acompanhado pelo som das caixas e das cantigas de marabaixo.

No dia 29 de maio acontece o “segundo marabaixo”, denominado o “marabaixo do mastro”. Em seguida, no dia 1º de junho, às 17h, é realizada a quarta-feira da murta do Divino Espírito Santo. Nesse dia, o grupo sai às ruas cantando e dançando ao som das caixas de marabaixo para apanharem a murta.20 A busca da murta era realizada, antigamente, no centro       

20 A murta faz parte de um gênero de plantas, com mais de 200 espécies, geralmente da família das mirtáceas, das melastomatáceas ou das rubiáceas (Cacciatore, apud Videira, 2009, p. 111). Corresponde a uma ramagem verde, que é apanhada por mulheres que se deslocam para as matas próximas da cidade na “quarta-feira da

da cidade e, em seguida, entrava-se na igreja com a murta, depois se saía e jogava-se a carioca21 na frente da igreja. Com o desenvolvimento urbano e populacional, as murtas são colhidas na mata do Curiaú e guardadas nas casas de parentes da família ou de devotos do Divino Espírito Santo até a hora do cortejo, que sai em busca da murta e depois segue o trajeto de acordo com as casas que estão preparadas para receberem as bênçãos do Divino Espírito Santo e dá Santíssima Trindade. Durante o cortejo, alguns devotos preparam um pequeno altar em suas casas para receberem o grupo.

Após apanhada a murta, o grupo retorna à casa do festeiro realizando um cortejo pelo bairro com a murta na mão, as bandeiras do Divino, fogos de artifício, todos cantando e dançando e pedindo proteção ao Divino Espírito Santo. De volta à casa de Tia Biló (casa do festeiro), o evento continua sempre com a dança do marabaixo, a tradição do caldo, da gengibirra, e se prolonga até o amanhecer, quando, às 06h da manhã, é levantado o mastro que foi decorado com a murta e o mastro que foi pintado com as cores do Divino, consideradas pelo grupo como sendo as cores vermelha e branca, e, em seguida são fincados em frente à casa, com muita alegria, dança ao redor do mastro, e as cantigas do marabaixo. Esse mesmo evento acontece novamente nos dias 12 e 13 de junho, quando o grupo começa as homenagens à Santíssima Trindade, que é representada pelas cores azul e branca.

Segundo Daniella Ramos, o mastro é “o símbolo que representa a conclusão das festas. No momento que se levanta os mastros nós estamos falando para as pessoas que a festa daquele Santo já foi realizada, já foi concluída, a missão foi cumprida”. Os dois mastros erguidos para cada santo homenageado tanto servem para indicar o cumprimento das homenagens como também para indicar os santos, que são identificados através das cores pintadas no próprio mastro, juntamente com as suas respectivas bandeiras. Assim como em Portugal, o levantamento do mastro contempla o calendário das festa, que fazia referência aos mastros levantados em frente da Igreja Matriz. Este fato antigamente acontecia em Macapá, como afirma Canto; mas, por volta de 1950, deixaram de fincar os mastros em frente à igreja matriz para serem colocados frente à casa do festeiro. Após a morte do mestre Julião Ramos        murta”, e cantando e se confraternizando apanham vários galhos que serão utilizados como revestimento dos dois mastros. Estes últimos são dois troncos finos de árvores que também são retirados de matas das cercanias, por homens, alguns dias antes do começo da festa.

21 “A ‘carioca’ consistia de passos parecidos com os da capoeira. A minha avó diz que não eram capoeira, ela tinha a forma de jogar de se brincar, era diferente e era ao som dos tambores do marabaixo. Era ao som do dobrado do caixa que a gente canta, quando sai nas ruas.” (Daniella Ramos).

(em 1958), a sociedade do Marabaixo, composta por mordomos e novenários, desapareceu (1998, p. 30).

A murta serve para enfeitar o mastro e também para realizar a limpeza espiritual. Para Daniella Ramos, tradicionalmente o poder a murta está relacionado ao afastamento das energias negativas, o mal olhado, “antigamente diziam que a murta tinha uma energia muito boa, quando as coisas não iam muito bem, quando tudo parecia errado, no dia da retirada da murta parecia que as coisas fluíam bem melhor”.

 

 

 

Figura 9 - Decoração do mastro com a murta antes de ser erguido

 

Figura 10 - Início do levantamento do mastro, que acontece religiosamente às 06h da manhã, de acordo com a tradição

 

Figura 11 - Altar preparado na casa dos devotos para receber a procissão da murta

 

 

Figura 13 - Procissão com a murta pelas ruas do bairro do laguinho

 

A procissão se encerra com a chegada à casa do festeiro, onde todos cantam e fazem saudações aos santos homenageados em frente do altar, que fica montado o ano inteiro representando a devoção dos moradores daquela casa.

 

Figura 15 - Chegada da procissão da murta em frente ao altar na casa do festeiro

No calendário, encontramos também referência aos bailes dos sócios, que acontecem nos dias 02, 11, 13 e 18 de junho. São denominados “baile dos sócios do Divino Espírito Santo” e “baile dos sócios da Santíssima Trindade”. É o momento da festa onde não consta a apresentação do marabaixo, e se caracteriza por ser um baile dançante com músicas tocadas através do som mecânico, contemplando repertório dos gêneros forró, brega, sertanejo, samba, entre outros.

Durante o Ciclo do Marabaixo, acontece o novenário. São nove novenas distribuídas para cada santo homenageado, em agradecimentos pelas graças alcançadas e pela proteção recebida. As novenas são realizadas pelo Seu João, um dos foliões mais respeitados na cidade de Macapá, que apresenta o batuque como sendo a parte lúdica do festejo e que pertence ao grupo da folia de São Joaquim, santo comemorado no Curiaú. Na hierarquia dos foliões, assim como em Portugal, ele é considerado uma pessoa importante, uma pessoa especial dentro da hierarquia da festa. Seu João vem especialmente do Curiaú para proferir as ladainhas, que se dividem em momentos de fala e de cantos, em latim e em português, acompanhado pelos devotos em frente ao altar da casa do festeiro. O final do rito é sempre comemorado com fogos de artifício.

 

Figura 16 - Novena realizada pelo seu João na casa do festeiro Munjoca

 

Figura 17 - Novenas são realizadas em frente do altar onde estão as coroas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade

A presença dos foliões durante a realização das novenas é vista pelo grupo Raimundo Ladislau como um dos momentos mais importantes para consagrar a seriedade das manifestações dos devotos. Não existe entre os membros do grupo aquele que seja denominado de folião.

Na coluna de Estácio Vidal, “Crenças, Mitos e Lendas de Macapá”, do Jornal do Povo, publicado em 12 de março de 1981, os “foliões” são citados como sendo uma parte da festa do marabaixo que não existe mais, conforme informações de D. Venina Francisca da Trindade, entrevistada por Estácio Vidal:

Antigamente, os “foliões” de santos, eram um grupo de indivíduos pouco amigos do trabalho, que percorriam alguns lugares do município de Macapá arrecadando donativos para os festejos de São José, São Joaquim, Nossa Senhora da Conceição, Divino Espírito Santo e às outras devoções. Quando chegavam as oferendas, cantavam a “folia”, que era uma espécie de agradecimento a Deus, pela bondade dos ofertantes no decorrer daqueles dias.

O grupo era liderado pelo “Mestre Sala”; este era o “padre” que rezava um latim arrevezado e que exercia uma ascendência de autoridade sobre os demais membros devotos. Era uma figura diferente do pajé. Quando os “foliões” chegavam a qualquer casa, nela ficavam até o dia seguinte, com isso dando tempo para que a vizinhança recebesse aviso de suas presenças para trazer os donativos. O proprietário da casa, que já estava acostumado, valia-se do terreiro para homenagear os “foliões” e os devotos.

Quando chegava a noite, primeiramente rezavam a “folia”, cujos instrumentos eram a viola, o reco-reco, a “caixa” do marabaixo e o quexé-quexé. A “folia” era uma toada no ritmo da marcha (é bom lembrar que Zeca Serra era músico), mas para ser rezada e não para ser dançada. Nessas ladainhas “caseiras”, os foliões ficavam de pé, em frente ao altar improvisado do santo reverenciado, quando começava a ladainha. O povo ficava ajoelhado em cima de esteiras de junco ou de talas de buriti e postava-se com grande respeito, rezava com fervor que encantava a todos.

Os seus cânticos eram feitos de acordo com a sapiência de cada um, e nem por isso deixavam de exprimir o que cada um sentia em sua crença com relação aos seres divinos. No Rosário de Maria era combatida a força do inferno:

As contas do seu rosário São balas de artilharia, Que combatem o inferno, Dizendo “Ave Maria” Muitas almas se perdiam, Se Deus não viesse ao mundo, Ai de nós o que seria!

No final da ladainha, o “Mestre Sala” rompia um cântico em que o povo, pessoa por pessoa, ia beijar a fita do santo. Era um cântico sem rima, que era encabeçado pelos “foliões”, e o povo respondia:

Bendito para sempre, louvado seja, Santo nome de Jesus,

São José e a Virgem Maria!

(Arquivo da Diocese de Macapá. Prot. 20427, 16 maio 1984)

Seguindo o calendário de 2011, nos dias 12 e 19 de junho aconteceram as missas em homenagem aos santos, realizadas na Igreja de São Benedito que está localizada no Bairro Laguinho, o mesmo bairro da casa do festeiro. As missas acontecem sempre às 07h da manhã, no domingo. Em seguida, é realizado um café da manhã na casa do festeiro, onde todos são convidados.

No dia da missa, as coroas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade são colocadas em frente ao altar, de onde o padre realiza a cerimônia. Todos os integrantes do grupo vão à missa vestidos com as roupas confeccionadas para os festejos do marabaixo. É possível contar com a presença das crianças, dos jovens adolescentes e dos mais velhos. O padre também veste roupas nas cores que representam o santo. Durante a missa é jogada água benta sobre os participantes do evento e sobre as coroas. A homilia realizada pelo padre faz sempre referência ao santo do dia da missa. No final da missa, o canto final é realizado pelos tocadores e pelas cantadoras da Associação. Em seguida, após a missa, todos seguem em procissão ao som das caixas de marabaixo, com uma menina levando a coroa para a casa do festeiro, onde é servido o café da manhã.

 

 

Figura 19 - O translado da coroa do Divino Espírito Santo após a missa até a casa do festeiro

 

Figura 20 - O translado da coroa após a missa até a casa do festeiro feito com o acompanhamento das caixas do Marabaixo

 

 

 

Figura 23 - O grupo de Marabaixo Raimundo Ladislau na missa

 

Figura 24 - Vanessa, a mais nova integrante do grupo, com apenas três anos de idade, na missa em homenagens a Santíssima Trindade

Ainda que o rito da coroação do imperador não contemple na programação dos festejos do Marabaixo em Macapá, a coroa é um dos objetos mais significativos de representação presentes nos festejos do Divino. A coroa, que representa o Espírito Santo, constitui-se quase numa réplica da coroa real usada no século XVI; porém, o emblema usado é o da Santíssima Trindade e do Divino. Nas coroas do Divino e da Santíssima Trindade foi colocada uma pomba no topo da coroa, que está pousando sobre uma bola que simboliza o mundo. Cada uma é enfeitada com fitas que representam a sua cor.

Segundo Daniella Ramos, essa coroa existe há mais de 150 anos. Foi doada ao Mestre Julião Ramos pelo senhor Raimundo Borges. O pai de Seu Raimundo realizava a festa do Divino juntamente com o Mestre Julião. No entanto, após o falecimento do seu pai, Seu Raimundo Borges herdou a coroa e os santos. Porém, por não se identificar com os festejos, e tendo em vista realizar uma viagem para fora do estado, deixou sob os cuidados do Mestre Julião a coroa e os santos, afirmando que se não retornasse, o amigo poderia ficar com os objetos. Os santos doados já se perderam, ficaram somente as coroas.

 

A bandeira relatada nos documentos históricos fazia referência à confraria ou à irmandade. Ainda hoje a bandeira simboliza o divino protetor. Na maioria dos casos, o tecido escolhido era vermelho, tendo no centro a pintura ou o bordado de uma pombinha. Hoje elas são usadas principalmente nos Marabaixos de rua, no dia da Murta, no dia do Mastro, quando é feito o trajeto pelas ruas do bairro. Para Daniella Ramos, as bandeiras simbolizam o anúncio da chegada ou a passagem da Santíssima Trindade ou do Divino por onde vai passando.

As cantigas de Marabaixo são uma espécie de registro da história e da memória dos dançantes. São compostas por versos, denominados de “ladrão”. Tais versos são tirados de improviso com o intuito de criticar, exaltar, agradecer, etc. os fatos ocorridos no dia-a-dia da comunidade e nas relações com a sociedade em geral.

O termo “ladrão” deve-se à forma improvisada das cantigas. São versos roubados da memória por pessoas que possuem habilidades com a rima. Para o mestre Pavão, sobrinho de Tia Biló e festeiro do Marabaixo, é nos versos dos ladrões que a musicalidade das cantigas ganha vida:

Eu to cantando, então já vem outra pessoa, entra do lado da caixa de marabaixo e já começa cantar. [...] Ele está roubando aquela palavra, porque o ladrão de marabaixo, ele não é cantado, ele é todo enversado. Tu podes pegar “Aonde tu vai rapaz, por esses caminhos sozinhos, vou fazer minha morada, lá nos campos do laguinho”. (DVD Marabaixo – Ciclo de amor, fé e esperança. 2008. Prefeitura Municipal de Macapá).

Vale ressaltar que não constam muitas renovações dos “ladrões” de Marabaixo. As cantigas, na sua maioria, continuam intactas, como foram deixados pelos mais antigos. As cantadeiras das gerações mais recentes criaram poucos “ladrões” e normalmente baseando-se nos já existentes.

As cantigas de Marabaixo são documentos históricos que representam a forma de expressão e de resistência do povo negro frente às imposições,

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