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A Igreja Matriz, cujo Santo Padroeiro ficou sendo São José, só foi inaugurada em 1761. A solenidade foi presidida pelo padre Joaquim Pahimo. Na cerimônia estava presente o governador do Pará, Manoel Bernardo de Melo e Castro. Nessa época, as terras amapaenses pertenciam ao Estado do Pará. Ainda que a Paróquia de São José de Macapá tenha sido criada em 1752, só foi de fato efetivada seis anos depois, em janeiro de 1758, sendo subordinada pela Prelatura Nullius de Santarém, criada em território da Diocese de Belém do Pará, que encaminhava todos os anos um sacerdote responsável para presidir as principais festas e exercer os sacramentos.

Em 1904, assumiu o posto o padre Francisco Rellier. No entanto, pouco se sabe da relação entre o Marabaixo e a Igreja durante esse interstício histórico, que vai da inauguração da Paróquia de São José até o referido período. Porém, é possível perceber, através das palavras do padre Júlio Maria de Lombaerd,22 a relação da Igreja com as manifestações populares da época:

Durante este longo período, o ensino religioso e o espírito cristão foram sensivelmente declinados, abrindo as portas aos abusos, superstições, espiritismo, festas profanas, que pouco a pouco tomaram contam da paróquia de Macapá, dando-lhe este aspecto atrasado que entristece seus filhos mais educados e progressistas. (LOMBAERDE, 1987. p. 40).

Outro fato que faz referência a essa relação é encontrado no jornal Pinsônia, em texto escrito pelo cronista Prancário Júnior, em 1899, no qual relata:

Como prática da religião catholica, teve lugar n’este mez, a tradicional festa do Divino Espírito Santo, executando-se os episódios originaes e primitivos, cujos os costumes ainda não se extinguio in totum. Si bem que antiquada uzança não esteja mais aqui, em parte, adaptada a ephoca que passamos; contudo, respeitemos, e achamos mesmo um certo prazer, em vermos reproduzir-se os quadros que provocam extasi nas almas singelas e simples dos antepassados d’esta boa terra.

E acompanhando fazemos echo, ao delírio innocente, de uma parte do povo que não quer esquecer as tradicionais demonstrações de fé religiosa, sem que, por isso, nos venha algum desar, sem atraso, ante os pensadores livres e philosophos à outrance...

Assim entremos na tarefa, com agrado e acatamento.

      

22 Padre belga que chegou a Macapá em 1913 e foi vigário da paróquia de São José de 1916 a 1923. Além de vigário, desenvolveu outras atividades: professor, dentista, farmacêutico e médico.

No decorrente ano, exerceu as funções de Juiz da Festa o ilustre Sr. Dr. Alvares da Costa, que soube e pode talvez satisfazer as mais exigentes, e é à expectativa dos devotos: foi todo amabilidade para com todos. Entretanto foi sensível, para maior explendor, a ausência do Sacerdote nas solenidades da egreja; falta esta que está desculpado o Sr. Juiz, que providenciou no sentido contrário, contractando para tal fim, com o Sr. Conego Teixeira, que vinha munido de uma portaria do governo bispado. Não sabemos o poderoso motivo que obstou, em caminho, bem próximo, a que o Sr. Conego Teixeira, tivesse faltado a tão sério compromisso (CANTO, 1988, p. 22).

Ainda, que o referido artigo seja um testemunho baseado na curiosidade e no respeito, expressa bem a decepção dos brincantes pela falta do representante da Igreja. O jornal dispõe, ainda, de outros artigos bem mais enfáticos sobre o Marabaixo, como é o caso da edição de 25 de junho de 1898, que traz um artigo anônimo denominado “Mar-Abaixo”:

 

Até que afinal desapareceo o infernal folguedo, a dança diabola do Mar- Abaixo; serà uma felicidade, uma ventura, uma medida salutar aos órgãos acústicos, se tal troamento não soar mais, senão nas profundezas da terra, nos subterrâneos onde moram monstros, capazes de supportar tamanho ribombo de estravagante musica para meneio immoral e nojento.

Graças ao Divino-Espírito Santo, symbolo de nossa santa religião, que só exige a pratica das bôas acções, não ouviremos os silvos das víboras que dansam ao som medonho dos gritos dos maracajás, que ao mesmo tempo batem com as patas, produzindo barulho que faz arripiar as carnes, e os cabellos, que é sufficiente a provocar doudice á qualquer individuo.

O nosso primeiro artigo á respeito deu no gôto de muita gente boa, que dá alma vida e coração pelo tal brinquedo; deu-lhe no gôto, mas negativamente, pois não comprehendera o sentido da linguagem, toda moralisada, toda doutrinal, toda civilizada.

Alguém desesperou-se com a nossa licção de moral, a ponto de atirar apôdos ao nosso Director, que de coração bem formado, não negará misericórdia aos pobres de espírito.

Que o mar-abaixo é indecente, é o fóco das misérias, o centro da

libertinagem, a causa segura da prostituição, asseveramos [grifo

nosso].

Que os paes de famílias não devem consentir as suas filhas e esposas freqüentarem tão inconveniente e assustador espetáculo dessa dansa,

oriunda dos cafres, [grifo nosso] aconselhamos, para darmos bello,

edeficante e moralisador exemplo de civilização, para demonstrarmos que enchergamos alguma cousa (CANTO,1998).

Ainda que seja um artigo de autoria anônima, o discurso agressivo advoga a favor da Igreja, enquanto representante da moral e dos bons costumes, e condena o mar-abaixo, que, ao contrário da Igreja, representa o inferno, sendo considerado uma prática de origem diabólica.

Com a chegada de padre Júlio Maria Lombaerde, em 1913, as relações conflitantes entre a Igreja Católica e os representantes e praticantes do Marabaixo se intensificaram ainda mais. Padre Júlio Maria considerava como anticristãs as práticas religiosas desenvolvidas pelas comunidades negras de Macapá. Suas críticas repousavam na acusação de que os devotos se utilizavam de símbolos católicos para poder manifestar, com tranquilidade e segurança, reverência e adoração aos seus deuses espirituais. A Igreja acusava a comunidade de se apropriar dos símbolos católicos para, assim, praticar os seus cultos e rituais religiosos.

A postura radical de padre Julio Maria Lombaerd em relação ao Marabaixo é também expressa através da fala de seu aluno Zacarias Leite, tendo em vista que, entre outras coisas, o padre desenvolvia algumas atividades extras à do sacerdócio, como, por exemplo, as de farmacêutico e de professor:

Pe. Júlio combatia as festas do Marabaixo. Elas não passavam de batuque e bebedeira, com exploração de dinheiro, mediante a apresentação da coroa de prata do Espírito Santo, conhecido como Divino. Pe. Júlio fechava a Igreja mas o povo fincava mastros na frente da matriz. Era tradicional em Macapá deixar-se essa coroa do Divino na Igreja São José, de um dia para outro. No dia seguinte, após a benção dada pelo vigário, a coroa era recolhida pelo festeiro, entre orgias populares.

Pe. Júlio não aceitava esse costume. Combatia-o publicamente. Um ano na igreja, quebrou a coroa de prata do Divino e mandou entregar aos pedaços ao festeiro do Marabaixo. O povo se revoltou e quis invadir a casa do Pe. Júlio. O intendente, Cel. Teodoro Manoel Mendes (prefeito), vendo a intenção geral, impediu que isso acontecesse, aconselhando o povo a se afastar da casa do vigário. Nós alunos maiores, estávamos na casa paroquial armados de faca, refles, cacetes, a fim de defender Pe. Júlio Maria, que permanecia sereno. Afinal tudo não passou de coisa momentânea. Diga-se de passagem que a festa da coroa de prata do Divino, cerimônia específica do Marabaixo, já era de longa data na região e não tem nada a ver com a coroa de N. Sra. Do Rosário da Igreja de S. José, onde Pe. Júlio era zeloso vigário. (CANTO, 1998. p. 26-27).

Ainda que muito combatida pela Igreja, é possível ver no relato do aluno Zacarias momentos de resistência por parte dos brincantes do Marabaixo, que, mesmo ao encontrar a Igreja fechada, colocavam o mastro na frente da igreja. Para Roger Chartier, relações tensas como essa podem levar a um julgamento da cultura popular como sendo uma cultura inferior, fazendo, muitas vezes, uma desconsideração do poder político da Igreja e provocando a rejeição da sociedade pelo Marabaixo. Chartier considera que:

As revoltas pertencem realmente ao mundo da cultura ‘popular’ própria dos mais desprovidos por oposição à dos mais notáveis, mas como um repertório de motivos e de comportamentos que são partilhados pelo conjunto da sociedade (o que não significa que sejam pensados ou manejados por todos da mesma maneira). (CHARTIER, 1991, p. 200).

Numa tentativa de manter um certo controle diante dos conflito e, assim, atrair a comunidade para eventos relacionados exclusivamente à prática religiosa da igreja, padre Julio Maria Lombaerd estrategicamente estabelece um culto a São Benedito, santo adorado pelos negros de Macapá. Porém, fecha as portas da igreja para qualquer outra manifestação da cultura religiosa popular da comunidade negra, como o Marabaixo.

A manifestação de fé dos brincantes do marabaixo passa novamente pelo controle institucional, isto é, a Igreja é quem estabelece uma nova relação entre o que é profano e o que é sagrado.

Fernando Canto, em seu livro de crônicas amapaenses, denominado “Adoradores do Sol”, publicado em comemoração aos 250 anos da fundação de Macapá, ao falar das rupturas que o marabaixo sofreu ao longo de sua jornada histórica, faz referência à presença das figuras da imperatriz e do mordomo nas festas de marabaixo que aconteciam no município de Mazagão Velho e, também, em Macapá. No entanto, não se pode afirmar que tais figuras representassem alguma ameaça política, ou qualquer outro tipo de ameaça à sociedade da época, mesmo que tais personagens fossem apontados pela Igreja como ameaçadores ao poder da ordem social.

As festas brasileiras que aconteciam no período colonial, enquanto manifestação de fé, interação social, confraternização, celebração da vida, tudo regado com muito colorido, com dança, com música, com fogos de artifício, momentos esperados para se fugir da rotina, vão sendo arbitrariamente substituídas, ou vão se configurando, conforme Roger Chartier, enquanto locais de luta, controle e manutenção de privilégios hierárquicos, e, como consequência, verifica-se a desvalorização das tradições presentes nas misturas híbridas das quais esses eventos se constituíram.

A Igreja Católica no Brasil, através do seu calendário cristão, permitiu por, pelo menos, duzentos anos, que as camadas populares se divertissem através das festas dos santos

padroeiros, estabelecendo uma relação entre o lazer e o trabalho, compensado através das comemorações dedicadas aos santos de devoção.

No entanto, em Macapá os conflitos com a Igreja continuam com a chegada dos primeiros missionários do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME), em 29 de maio de 1948. Os padres proibiram a entrada dos negros na Igreja de São José e se recusaram a rezar missa por ocasião desses festejos populares. Nessa época, os padres consideravam o Marabaixo como macumba, “coisa ruim”, e seus hábitos e crenças eram combatidos e considerados como hediondos e pecaminosos (CANTO, 1998, p. 56).

As relações sociais entre sacerdotes italianos e líderes do Marabaixo foram ficando cada vez mais difíceis e intoleráveis. Essa situação provocou discórdia entre os brincantes do Marabaixo. Martinho Ramos, filho de Julião, conta que:

Até 1948 tudo ia muito bem. Mas depois que os padres chegaram aqui [em Macapá] entenderam que o Marabaixo era macumba, aí houve uma grande queda, mas ele [Julião] aguentou... Tanto que ele pertencia à irmandade do Sagrado Coração de Jesus e foi tirada a fita dele, então ele não pôde mais tomar parte da irmandade. Depois que muita gente caiu na realidade, que o marabaixo não tinha nada a ver com macumba, que era apenas um folclore, foi que todo mundo voltou, mas já era tarde... (Entrevista com Daniella Ramos, 15 jun. 2011)..

As festas populares foram perdendo força diante do poder ideológico da Igreja, principalmente as festas das comunidades negras, como o Marabaixo. Ainda nessa época, a Igreja conseguiu um forte aliado, o governador do Território Federal do Amapá, que intercedeu junto ao líder do Marabaixo, o mestre Julião Ramos. Embora as manifestações tenham acontecido, o brilho e o vigor da festa já não eram os mesmos.

Em 1980, D. Aristide Piróvano, bispo prelado de Macapá, reforça a ideologia da Igreja ao se pronunciar no jornal local, no qual comenta: “Disse que era muito amigo de Julião Ramos, mas folclore é folclore, religião é coisa séria e não podemos misturar as duas coisas. A Igreja não é contrária à diversão do povo, mas não se pode misturar água benta com o diabo.” (CANTO, 1998, p. 29).

Segundo Daniella Ramos, os antigos moradores da Vila Santa Engrácia, à época moradores do Bairro do Laguinho e do Bairro da Favela, sentiram-se intimidados diante do poder que a Igreja ocupava na atual sociedade amapaense:

Chegou uma época em que o padre, que era na época D. Aristides Pirovano, dizem que foi um padre muito péssimo, péssimo para nossa cultura, ele pediu para que o Mestre Julião, não só ele como os outros, escolhessem entre a igreja e o marabaixo, porque não se poderia misturar água benta com o diabo, tanto que o Fernando Canto escreveu aquele livro, escreveu muito bem aquele livro que fala exatamente desse conflito entre a igreja e o marabaixo. E todos optaram pela igreja. O único que optou pelo marabaixo foi o Mestre Julião. Os outros iam para a igreja de dia e a noite dançavam marabaixo escondido dos padres. O próprio Raimundo Ladislau, que foi um grande compositor de marabaixo, não teve um grande destaque no nosso marabaixo, mas por que ele fazia tudo isso escondido, ele fazia as músicas, mas dava para o Mestre Julião apresentar e dizer que eram dele, por que ele tinha medo, tanto da igreja, da represália da igreja, quanto das autoridades, que tinham algumas músicas que mexiam com algumas pessoas, com alguns fatos que aconteceram, como a própria música “aonde tú vai rapaz”, que é a música de consagração para o marabaixo, ela fala muito bem sobre essa urbanização de Macapá, que as pessoas não ficaram satisfeitas com a retirada das famílias de lá, então na verdade ele era um grande compositor, mas ele era um tanto covarde, ele tinha medo, ele não assumia que ele era do marabaixo, ele fazia tudo escondido, tudo na calada da noite, principalmente para a igreja não saber, se não ele seria mais um que seria expulso. (Entrevista com Daniella Ramos, 14 jun. 2011)..

Após a década de 1960, os conflitos entre a Igreja e o Marabaixo praticamente desapareceram. Com a construção da igreja de São Benedito,23 no Bairro do Laguinho, e a construção da igreja Jesus de Nazaré, no Bairro da Favela, os grupos de Marabaixo deixaram de realizar a festa do Divino Espírito Santo em frente à igreja de São José de Macapá, no centro da cidade. Segundo Danielle Ramos,

Desde a época do meu bisavô até aqui, tinha dado uma acalmada. A Igreja já nos recebia, não do jeito que nós queríamos, mas a Igreja sempre nos recebeu, sempre nos abriu as portas, sempre levamos os santos, sempre foi celebrada a missa, aqui no Laguinho. Lá no Bairro da Favela, por conta de alguns conflitos, eles adotaram a realização da missa dentro dos barracões. O padre vai lá. Mas nós não. Nós fazemos questão de levar para a igreja, porque a gente entende que a igreja é da comunidade. (RAMOS, Danielle. Entrevista concedida em 15 de junho de 2011).

      

23 A igreja de São Benedito foi inaugurada no dia 02/03/1956. A igreja Jesus de Nazaré foi inaugurada no dia 07/08/1966. DIOCESE DE MACAPÁ. Disponível em: <http://www.diocesedemacapa.com.br/>. Acesso em: 09 jul. 2011.

A Associação Cultural Raimundo Ladislau, do Bairro do Laguinho, enfrentou uma relação de conflito com a Igreja no ano de 2008, na paróquia de São Benedito, através do Padre Geovani Pantarolo. Em entrevista realizada no dia 15 de junho de 2011, Daniella Ramos relata os fatos que iniciaram as tensões desse conflito:

Quando eu fui com ele para falar sobre o santo ser levado para a igreja, ele disse que podia trazer o santo. No domingo seguinte nós levamos o santo, foi em 2008. Quando chegou lá, na hora da homilia dele, ele começou a falar tanta besteira sobre o Marabaixo. Falou que o Marabaixo não vivia na plenitude de Deus, que era festa do diabo, que pessoas se aproveitavam das crianças e dos santos, levantavam mastros para tirar dinheiro do Governo. Nós tivemos um problema com ele em 2008. Nós estávamos lá assistindo a missa. Ele já tinha vindo aqui no início da festa. Ele veio na casa da minha tia que mora ao lado da casa da minha avó, aí a minha avó falou com ele — já viu idoso quando vê um padre, Deus o livre né? E aí falou com ele... Foi receptiva com ele... E então ele falou assim: “Olhe, eu quero lhe pedir uma coisa, não quero que a senhora realize essa festa do marabaixo, essa festa não é Deus”. E a minha avó disse: “Não, seu padre, o senhor está enganado”. Só que a minha avó falou rindo, a minha avó até pensou que ele estivesse brincando. E ela disse: “Não, padre, essa festa é em louvor ao Divino e à Santíssima Trindade; essa festa o meu pai [Mestre Julião] já fazia, e o meu pai pediu para não morrer, e eu, junto com os meus filhos e netos, estamos dando continuidade; eu não posso deixar de fazer”. Mas o padre disse: “Não! Mas não pode, isso é festa de bebedeira, de gente que só quer beber”. E a minha avó, rindo e dizendo: “Não é isso não, padre”. (RAMOS, Danielle. Entrevista concedida em 15 de junho de 2011).

O pronunciamento negativo sobre o Marabaixo, por parte do padre Geovane Pantarolo, causou surpresas em todos os presentes na igreja, tanto pelos que respeitavam o Marabaixo como por aqueles que comungavam com o pensamento do padre, apesar de não aprovarem tal atitude.

Ao relatar o fato para o bispo da cidade, que não aprovou a atitude do padre, este prometeu a Daniella que, no próximo domingo, “o mal entendido estaria resolvido”. É possível perceber, no relato de Daniella Ramos, a influência dessas tensões na própria prática da festa:

E mais! Nós não íamos para a igreja caracterizados. A gente sempre mandava fazer camisa e no dia da missa era usada essa camisa com a calça jeans. Nós não íamos caracterizados. Depois desse conflito que nós tivemos com esse padre eu achei importante nós irmos a caráter e mostrar que a gente estava ali, por conta de nós estarmos defendendo a bandeira da cultura, a bandeira do Marabaixo, a Igreja tinha que entender isso. (RAMOS, Danielle. Entrevista concedida em 15 de junho de 2011).

No entanto, para a surpresa do grupo, na missa seguinte o padre não foi, alegou motivos de saúde e a cerimônia foi realizada por um diácono. Segundo Daniella Ramos, essa situação foi intencional, pois que o padre teria que se retratar publicamente, e, além disso, a cerimônia que acontece sem a presença do padre não se caracteriza como missa, e, assim, interfere-se na programação dos festejos do marabaixo, que contemplam as missas em homenagens aos santos. Porém, a tensão piorou quando o diácono repetiu na cerimônia os comentários negativos que o padre tinha realizado na missa anterior.

Ele falou na homilia, que, na verdade, não é homilia o que ele faz, é um comentário, tudo o que o padre Geovane tinha dito anteriormente ele repetiu, o mesmo discurso, e ainda fez pior. E nós sentados nos primeiros bancos, e ele ainda fazia referência a nós: “A gente quer saudar as pessoas do Marabaixo que estão aqui, e convidá-los para que o Marabaixo faça parte da plenitude de Deus, viva em plenitude com Deus”. E todo mundo olhando, e eu tremia de raiva. Depois que acabou as pessoas diziam: “Tu não vai lá com ele?” Eu dizia: “Não. Eu vou com o bispo, novamente”. (RAMOS, Danielle. Entrevista concedida em 15 de junho de 2011).

Ainda em 2008, Daniella encaminhou uma carta ao bispo (v. Anexo I) relatando os fatos e pedindo providências; no entanto, não recebeu resposta. Com o início das festividades em 2009, os conflitos se repetiram. O padre se recusou a celebrar a missa alegando que não tinha como receber os santos na igreja, justificando que teria outra programação. Então, a Associação Raimundo Ladislau resolveu fazer, no dia da missa, uma cerimônia na casa do festeiro e, assim, cumprir o calendário festivo.

No entanto, o grupo Raimundo Ladislau decidiu fazer um manifesto em frente à igreja, no domingo, antes da missa do início da noite, durante a procissão da murta. Após uma grande mobilização realizada entre os integrantes do grupo e os simpatizantes da causa, os principais meios de comunicação divulgaram a proposta durante todo o domingo e depois foram para frente da igreja fazer a cobertura da manifestação. Ainda emocionada, Daniella

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