3.3 Fatores que afetam o relacionamento no canal de distribuição
3.3.3 Fidelidade
O conceito de fidelidade é de grande importância para um relacionamento de longo prazo
(BIONG, 1993; DICK; BASU, 1994). O conceito psicológico de fidelidade foi explorado por
Oliver (1997) como um comprometimento profundo para recomprar de um produto ou serviço
preferido consistentemente no futuro, independente de influências situacionais ou esforços de
marketing que tenham como objetivo a mudança de comportamento.
Os estudos de marketing sobre fidelidade têm focado principalmente em relação à aquisição
de bens de consumo (fidelidade à marca), porém este conceito também é muito importante
para bens industriais (fidelidade ao fornecedor), serviços (fidelidade ao serviço) e
estabelecimentos de varejo (fidelidade à loja) (DICK; BASU, 1994), e esta dissertação focará
na fidelidade ao fornecedor.
Um estudo de Biong (1993) sobre fidelidade e satisfação do varejo em relação ao
relacionamento com o fornecedor mostra que a fidelidade ao fornecedor é afetada por
produtos, força de vendas e rentabilidade do produto. A diferenciação de produto pode ser
parte da estratégia para o fabricante criar vantagem competitiva, e os varejistas escolhem
preferencialmente os produtos com maior demanda, porém os produtos não podem ser
analisados isoladamente da rentabilidade, que é a parte financeira da recompensa ao varejista
por cooperar com o fornecedor. Um preço competitivo e bons termos de venda são vistos pelo
varejista como a cooperação do fornecedor e pode reforçar o desejo por parte do varejista em
continuar neste relacionamento. O estudo mostra também que a força de vendas influencia a
fidelidade indiretamente através da satisfação.
A questão de fidelidade é vital para os fornecedores, e, embora a literatura de marketing possa
dar a impressão de que ao estar satisfeito, o cliente é automaticamente fiel, os estudos de
Biong (1993) sugerem que clientes satisfeitos são importantes, porém não é suficiente para
obter clientes fieis. Biong (1993) complementa que nenhum fator único se sobressaiu como
determinante para a fidelidade, porque a fidelidade é indicada como o resultado da
inter-relação entre diversos fatores, como dependência e fontes de poder no relacionamento. Para
um consumidor continuar fiel, ele deve acreditar que o produto daquela empresa continua a
oferecer a melhor alternativa de escolha (Oliver, 1999).
Dick e Basu (1994) conceitualizam fidelidade como o relacionamento entre a atitude relativa
com respeito a uma entidade (marca/serviço/loja/fornecedor) e o padrão de comportamento.
As atitudes têm sido relacionadas com comportamentos, embora seja importante notar que
uma pessoa pode manter uma atitude favorável em relação à marca, mas não comprá-lo em
várias ocasiões por causa de uma atitude de resistência comparável ou maior em relação a
outras marcas. A natureza das atitudes relativas é susceptível de proporcionar uma indicação
forte de recompra que a atitude em relação a uma marca determinada de forma isolada. Com
isso, Dick e Basu (1994) fizeram uma classificação cruzada dos conceitos de atitude relativa e
recompra (em dois níveis, alto e baixo), o que os levou a quatro condições específicas
relacionadas à fidelidade, conforme figura abaixo:
Figura 1 Classificação de Fidelidade em relação a recompra e atitude relativa
Fonte: Elaborado a partir de Dick e Basu (1994)
Estas quatro classificações de fidelidade são explicadas abaixo:
Tipo Características Exemplos Desafio gerencial
Sem
fidelidade
Baixa atitude
relativa
combinada com
baixa recompra
Novos produtos no mercado,
ou quando marcas
competidoras parecem ser
similares
Aumentar a conscientização ou
preferência das marcas, fazer
promoções mais agressivas.
Falsa
Fidelidade
Baixa atitude
relativa
combinada com
alta recompra
Pouco envolvimento com a
categoria, compra por
familiaridade ou por influencia
social
Aumentar a diferenciação entre
marcas, melhorar relacionamento
interpessoal entre os responsáveis
por compras e vendas e fortalecer o
valor percebido da ligação social,
contribuindo para repetir os
pedidos de compra.
Fidelidade
Latente
Alta atitude
relativa, baixa
recompra
Um ambiente de mercado onde
as influências não-atitudinais
como normas subjetivas e
efeitos situacionais são pelo
menos tão ou mais influente do
que atitudes na determinação
do comportamento de
recompra.
Abordar as restrições
normativas/situacionais
diretamente e remove-las de forma
eficaz
Fidelidade
Correspondência
favorável entre
atitude relativa e
recompra
O consumidor-alvo percebe
diferenças significativas entre
as marcas concorrentes. Seria
benéfica para aumentar a força
da atitude e consequentemente
a atitude relativa, desde que as
condições de mercado possam
tornar tais esforços viáveis.
Manter a fidelidade dos clientes
cuidando da concorrência, já que
os concorrentes tentarão: diminuir
a diferenciação percebida com a
marca líder ao reduzir a atitude
relativa (estratégia “eu também”),
na falta de vantagem competitiva;
aumentar diferenciação percebida
em seu favor através de
reivindicações de superioridade,
e/ou induzir a falsa fidelidade,
através de manipulação de fatores
situacionais quando melhorar a
atitude relativa é inviável
Figura 2 Descrição das classificações de fidelidade
Portanto, Dick e Basu (1994) definem fidelidade como o relacionamento entre a atitude
relativa e a recompra. Eles também relacionam as consequências motivacionais, perceptuais e
de comportamento da fidelidade do consumidor, que são: motivação de procura de
informações sobre o produto, resistência à persuasão contra e informações passadas
boca-a-boca (word of mouth).
O estudo de Oliver (1999) mostra que um cliente satisfeito não é suficiente para que ele seja
fiel a uma empresa ou marca como antes era estudado pela literatura. De acordo com Oliver
(1999), fidelidade é um compromisso profundo de recompra consistente de um
produto/serviço no futuro, causando aquisições da mesma marca ou mesmo grupo de marcas,
apesar de influências situacionais e esforços de marketing que possuam o potencial de causar
mudanças no comportamento.
Oliver (1999) argumenta que o consumidor pode se tornar fiel através de várias fases
atitudinais. Primeiramente, o consumidor se torna fiel de forma cognitiva, depois de forma
afetiva, em seguida de maneira conativa e por ultimo de maneira comportamental, referido
como “ação inercial” (action inertia).
Fidelidade cognitiva é descrita como a fidelidade baseada na crença de marca,
baseada em conhecimento prévio ou em recente experiência. Se a compra é de
rotina, e não há satisfação envolvida, não há profundidade nesta fidelidade, é
uma fidelidade superficial. Se há satisfação envolvida, se tornará parte da
experiência do consumidor e começa a se tornar afetiva.
Fidelidade afetiva: desenvolvimento de atitude em relação à marca pela
satisfação acumulada nas ocasiões de uso. A fidelidade à marca possui um grau
de afeto à marca, porém esta forma de fidelidade está sujeita a mudança, não
há muito profundidade na fidelidade.
Fidelidade conativa: repetidos episódios de efeitos positivos pela marca. Há
um comprometimento pela compra da marca, com a intenção motivacional de
recompra da marca. O consumidor tem o desejo de recompra, porém, o desejo
pode ser antecipado, porém uma ação não realizada.
Fidelidade de ação: A intenção motivacional do estágio anterior é
acompanhado por desejo adicional de superar obstáculos que podem prevenir a
ação. Se este engajamento é repetido (intenção motivacional e ação), uma ação
inercial é desenvolvida, facilitando a recompra.
Através de estudos da Bain & Company, Oliver (1999) sugere que o retorno pela fidelidade
dos clientes pode chegar a dois dígitos para as empresas. Porém, está mais relacionado à
retenção do que aos estados psicológicos da fidelidade. Isto porque, por mais que estes dois
termos estejam relacionados, há algumas situações que o consumidor não tem a oportunidade
ou necessidade de recompra, porém permanece fiel independentemente.
O estudo de Davis-Šrámek et al. (2009) aborda a perspectiva de B2B (Business to Business)
do conceito de fidelidade entre o pequeno varejista e o fornecedor de bens duráveis.
Davis-Šrámek et al. (2009) verificou que diversos estudos de B2C (Business to Consumer) e B2B
utilizam como constructos de fidelidade as medidas de comprometimento afetivo e
comportamento de fidelidade, e alguns utilizam também o comprometimento calculativo. Em
que o comprometimento afetivo ocorre quando o varejista pode gostar de manter um
relacionamento com o fornecedor, o comprometimento calculativo ocorre quando o varejista
necessita mantê-lo por rações racionais ou econômicas, e o comportamento de fidelidade foca
na repetição da compra.
Davis-Šrámek et al. (2009) verificaram que o comprometimento calculativo impacta no
comprometimento afetivo quando todos os varejistas são analisados, porém este
relacionamento é moderado pela “participação de compra” (share of wallet), quanto maior a
participação, maior o impacto neste relacionamento. Para os varejistas com baixa
participação, o comprometimento calculativo não afeta nem o comprometimento afetivo nem
o comportamento de fidelidade, o que significa que, se o comportamento de fidelidade ocorre
através do comprometimento afetivo, o comprometimento calculativo não há maneiras
indiretas para afetar o comportamento de fidelidade. Porém, para os varejistas de alta
participação de compra, a relação positiva entre comprometimento calculativo e afetivo cria
uma maneira indireta para o comprometimento calculativo afetar o comportamento de
fidelidade através do comprometimento afetivo (DAVIS-ŠRÁMEK et al. (2009).
A partir destes resultados, verifica-se que a satisfação pode criar comportamento de fidelidade
através de comprometimento afetivo ou através de comprometimento calculativo e afetivo,
nesta ordem. Portanto, de acordo com Davis-Šrámek et al. (2009), segmentar os clientes pelo
nível de comprometimento e subsequente comportamento de compra pode ser útil para
entender os tipos de clientes. Os varejistas que são comprometidos afetivamente e repetem as
compras são diferentes dos que compram por hábito ou por falta de alternativas. Já os
varejistas cativos, que compram produtos somente de um fornecedor, podem possuir formas
diferentes de comprometimento, e devem ser entendidos pelos fornecedores, porque estes
clientes não são cativos no longo prazo.
Porém, os fabricantes devem entender que os clientes que não são fiéis e não possuem
comprometimento também são importantes para o negócio, e normalmente são grande parte
desse volume de clientes. Os fabricantes devem aumentar a participação do volume rentável
disponível, porém utilizar o mesmo nível de serviços e a satisfação para sustentar os níveis de
comprometimento e fidelidade para todos os clientes pode não ser efetivo em termos de
rentabilidade. Dessa forma, os fabricantes devem ser seletivos em relação a quais varejistas
vão desenvolver estratégias para fortalecer o seu relacionamento (DAVIS-ŠRÁMEK et al.
(2009).
No documento
Profª. Drª. Sonia Valle Walter Borges de Oliveira Chefe do Departamento de Administração
(páginas 41-46)