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As fieiras são pequenas barras rectangulares de ferro ou aço, de tamanhos diversos, com pequenos orifícios graduados dispostos em ordem decrescente ( Fig. 10 ). As placas apresentam uma escala em décimas de milímetro e a cada um dos buracos é atribuído o número correspondente ao seu diâmetro. As fieiras são de uso colectivo e servem para estirar ou puxar fio.

Os orifícios podem ter diferentes perfis, consoante o tipo de fio que se pretenda obter, embora os mais utilizados sejam os redondos, quadrados, triangulares de meia cana e ovais. No caso específico das peças ocas, usa-se preferencialmente o fio redondo para o fabrico dos sistemas de suspensão das peças, nomeadamente de brincos e pendentes.

Fig. 10 - Fieiras

Fig. 11 - Proto-fieiras (Idade do Bronze)

Alguns utensílios perfurados, da Idade do Bronze, permitem evocar a hipótese de se tratarem de proto-fieiras (Fig. 11)' 03. Inicialmente seriam feitas de uma placa de pedra, 101 DIDEROT; D'ALEMBERT - Ob. cit., planche VII, figs. 15, 18 e 19.

1 0 2 SILVA, António de Morais - Ob. cit., I, p. 563.

talvez de xisto, e só mais tarde de cobre ou de bronze, contendo furos de diversos calibres onde o ouro era puxado e reduzido a fios104.

A diferença entre fieira e damasquilho, reside no tamanho dos orifícios, maiores para a fieira, mais pequenos para o damasquilho. A distinção é conhecida na Póvoa de Lanhoso onde, em ordem decrescente, pelo tamanho destes orifícios, o fio é passado por

duas barras de aço .-fieira e damasquilho105. 1.2.11. FORNO DE FUNDIÇÃO

E nos processos de fundição que se têm registado as maiores transformações na última centúria. A velha forja, regulada do exterior através de foles, desapareceu. Os ourives mais velhos ainda os recordam, memória documentada por alguns destes objectos que, transformados em relíquias, adornam agora os cantos de algumas oficinas.

São conhecidos fornos activados por foles desde a Proto-História. O tipo de forno mais comum, de forma côncava e circular, era forrado por uma camada de argila. No seu interior era colocado carvão vegetal e os cadinhos com os metais a fundir, cobrindo-se tudo com argila. Do seu interior partia, igualmente, uma tubeira que ligava directamente ao fole, colocado no exterior, onde era trabalhado pelo artífice106. Foles em pele de bode,

existiam na Mesopotâmia por volta de 2500 e no Egipto em meados do segundo milénio107.

O engenho, continuado pelos ourives greco-romanos que usavam um sistema de

sopro, por meio de foles, para atear o fogo na forja108, manteve-se em uso contínuo até ao século XX, pelo menos em Portugal. Provam-no, para os Tempos Medievais e Modernos, a documentação escrita e iconográfica conhecidas. A descrição elaborada por Alexander Neckham, em finais do século XII, é bastante rigorosa relativamente ao funcionamento do forno de fundição: the goldsmith shoud have a furnace with a hole at

the top so that the smoke can get out. One hand shoud govern the bellows with light pressure and with the greatest care so that the air pressed through the nozzle may blow

upon the coals and feed the fire109.

O seu uso está cuidadosamente documentado nos finais do século XV e por toda a centúria seguinte, em quatro gravuras que apresentam não só o aspecto mas também o manejamento da forja e respectivos foles. Na gravura do Mestre de Bailam, dos finais do

1 0 4 CARDOSO, Mário - Das origens e técnica (....), p. 41-42. 105 SOUSA, Maria José Carvalho e - ob. cit., p. 21.

1 0 6 MARTINS, Carla Maria Braz - Ob. cit., p. 82. 1 0 7 NICOLINI, Gérard - Ob, cit., p. 170.

1 0 8 CARDOSO, Mário - Das origens e técnicas (...) p. 41 1 0 9 CHERRY, John - Ob. cit., p. 24.

século XV, o forno encontra-se à esquerda e aparenta estar apagado ( vd. Fig. VII )H0. Q mesmo não acontece na gravura de Toost Amman (vd. Fig. Ill), do primeiro terço do século XVI, onde um artífice, que segura qualquer objecto com tenazes, talvez para o

recozer, dá com a mão direita ao fole* » '. Semelhantes a esta, mas mais completas, as

duas gravuras de Etienne Delaune, de 1576, descrevem pormenorizadamente todo o interior de uma oficina. Numa delas, o forno está à esquerda e um artífice aviva o fogo

com um fole de mão, ao passo que o ajudante dá a outro fole fixado na parede" 2 (vd.

Fig. IV) e na outra, encontra-se à direita, observando-se um ourives a manejar uma peça no interior do forno, com uma tenaz comprida (vd. Fig. V). A Enciclopédie inclui algumas gravuras de oficinas modelo, onde a descrição do trabalho da forja não é descurado (vd. Fig. VI).

A descoberta de novos combustíveis no século XIX, consequência da Segunda

Revolução Industrial, inutilizou este sistema velho de séculos; o grande forno foi

substituído por outros mais pequenos (em Gondomar conhecidos como vasos de

fundição), primeiro a petróleo, depois a gás butano e actualmente a electricidade, fornos

eléctricos escolhidos pela rapidez, eficácia e limpeza que proporcionam. 1.2.12. LIMAS E LIMATÕES

As limas são ferramentas de uso individual, com um corpo estreito e oblongo de ferro ou aço e uma haste do mesmo metal (Fig.

12). Dependendo do tamanho e do esforço despendido durante a utilização do objecto, algumas limas são revestidas com um cabo de madeira na zona da pega, de forma mais regular e menos agressivo para a mão.

Estes instrumentos servem para desbastar ou polir metais, acção levada a cabo por meio das asperezas ou pequenos picos dispostos em fila e de forma ordenada, ao longo do corpo de intervenção. As limas podem ter várias formas, embora as mais utilizadas em ourivesaria sejam as redondas, quadradas e planas, de Fig meia cana e triangulares. O seu destino e aplicação dependem do

tamanho dos picos que podem ser finos, semifinos ou grossos.

12 - Limas

1 1 0 Idem, ibidem, p. 26.

1 »l COUTO, João - Ob. cit., p. 52. 1 '2 Idem, ibidem, p. 52.

De todas as limas existentes numa oficina destaca-se a "lima de solda", de grandes dimensões e picadura muito grossa, usada para desbastar e consequentemente reduzir a pequenas partículas a barra de metal especialmente preparada para a solda.

Os limatões diferem das limas apenas no tamanho (Fig. 13). São instrumentos pequenos, de ferro ou aço, com um braço redondo do mesmo metal. Tal como as limas, apresentam perfis variados (redondos, quadrados, triangulares, meia cana) e distintos graus de aspereza. Têm a mesma função das limas, utilizados preferencialmente em peças pequenas e delicadas. São os que se empregam nas peças

ocas, especialmente para limar os rebordos após a soldadura das duas FiS- 13 - Limatões

faces que constituem a jóia.

A presença das limas é evidente nas gravuras quinhentistas e seiscentistas já referidas e na Enciclopédie onde aparecem representadas numa grande variedade de tamanhos e formas que se adaptam à função específica de cada uma.