• Nenhum resultado encontrado

5. IMPLEMENTAÇÃO DO REGISTRO DE PREÇOS

5.4 Figuras estruturantes do registro de preços e atribuições principais

A palavra estrutura é definida pelo dicionário Houaiss como “organização, disposição e ordem dos elementos essenciais que compõem um corpo (concreto ou abstrato) (e. de uma empresa) (e. da célula); aquilo que dá sustentação a alguma coisa; armação, arcabouço (e. de um prédio) (e. do corpo humano)”.131

O registro de preços é bastante complexo quanto aos procedimentos necessários para sua implementação, exigindo uma estrutura organizacional não prevista em nível nacional, havendo disposição a respeito apenas no plano regulamentar.

No âmbito da União, o Decreto nº 2.743/98, já revogado, previa uma incipiente estrutura organizacional. O assunto mereceu um tratamento mais adequado no regulamento editado pelo Decreto nº 3.931/01, alterado pelo Decreto nº 4.342/02.132

129 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14. ed. São Paulo:

Dialética, 2010, p. 194.

130 Ibidem, p. 194.

131 HOUAISS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 844. 132 Art. 1º, incs. I e II, e art.3º, §§2º, 3º e 4º.

Tal regulamento prevê que a condução dos procedimentos destinados à implantação e administração do registro de preços caberá ao órgão gerenciador, mas sem definir quem exercerá essa função, porque a União não optou por um órgão central responsável pela efetivação dos registros de preços, diversamente do regulamento do Município de São Paulo, conforme será visto.

Além do órgão gerenciador, o regulamento federal prevê as figuras do órgão participante e do gestor do contrato, formando um tripé de figuras que estruturam o registro de preços. Em linhas gerais, esse é o padrão de organização adotado pelo Estado de São Paulo e pelo Município de São Paulo, com pequenas variações no que concerne às atribuições das figuras estruturantes do registro de preços.

O órgão gerenciador é uma figura com atribuições relevantes, competindo-lhe identificar a necessidade de deflagração do registro de preços e preparar e realizar o processo licitatório, bem como administrar e controlar os preços registrados, devendo agir de forma integrada e coordenada com as demais figuras estruturantes do sistema.

O regulamento federal relaciona atribuições específicas do órgão gerenciador na fase que antecede a instauração da licitação, consistindo em: (i) convidar os órgãos e entidades para participarem do registro de preços; (ii) consolidar as informações relativas à estimativa individual e total de consumo, promovendo a adequação dos projetos básicos para atender aos requisitos de padronização e racionalização; (iii) promover os atos necessários à instrução processual para a realização do procedimento licitatório; (iv) realizar a pesquisa de mercado; (v) confirmar junto aos órgãos participantes a sua concordância com o objeto a ser licitado, inclusive quanto aos quantitativos e projeto básico.

Reunidos esses elementos, compete-lhe realizar o processo licitatório, bem como os atos dele decorrentes, tais como a assinatura da Ata e o encaminhamento de sua cópia aos demais órgãos participantes. Cabe-lhe também gerenciar a Ata de Registro de Preços, conduzir eventuais renegociações dos preços registrados, aplicar penalidades por descumprimento do pactuado na Ata e coordenar, com os órgãos participantes, a qualificação mínima dos respectivos gestores indicados.

Ademais, presumindo pouca familiaridade do mercado com o instituto, o regulamento federal incumbiu o órgão gerenciador de realizar, quando necessário, prévia reunião com os licitantes, para informá-los das peculiaridades do sistema de registro de preços, o que constitui medida salutar, desde que realizada com a máxima transparência.

O gerenciamento dos preços registrados permite o controle das contratações públicas, evitando desperdícios.

O órgão participante, de sua parte, deve: (i) garantir que todos os atos inerentes ao procedimento para sua inclusão no registro de preços a ser realizado estejam devidamente formalizados e aprovados pela autoridade competente; (ii) manifestar seu interesse em participar do registro de preços, com o encaminhamento, ao órgão gerenciador, de sua estimativa de consumo, cronograma de contratação e respectivas especificações ou projeto básico; (iii) manifestar sua concordância com o objeto a ser licitado, antes da realização do procedimento licitatório. Depois de concluída a licitação, deve tomar conhecimento da Ata de Registro de Preços e das respectivas alterações, com o objetivo de assegurar, quando de seu uso, o correto cumprimento de suas disposições, competindo-lhe ainda indicar o gestor do contrato.

Ao gestor do contrato compete: (i) promover consulta prévia ao órgão gerenciador, quando da necessidade de contratação, a fim de obter a indicação do fornecedor, os respectivos quantitativos e os valores a serem praticados, encaminhando, posteriormente, as informações sobre a contratação efetivamente realizada; (ii) assegurar-se que a contratação a ser procedida atenda aos seus interesses, sobretudo quanto aos valores praticados, informando ao órgão gerenciador eventual desvantagem quanto à sua utilização; (iii) fiscalizar o cumprimento do contrato e, em coordenação com o órgão gerenciando, aplicar eventuais penalidades ao contratado; (iv) informar ao órgão gerenciador a recusa do fornecedor em atender as condições estabelecidas em edital, bem como as divergências relativas à entrega, às características e à origem dos bens licitados e a recusa do mesmo em assinar o contrato para fornecimento ou prestação de serviços.

Analisando as atribuições conferidas às figuras que compõem o tripé estrutural do registro de preços, verifica-se que elas agem de forma interdependente, desempenhando cada qual sua função em coordenação com as demais.

Apontou-se que a noção de sistema atribuída ao registro de preços reside exatamente nessa ação integrada e coordenada entre os órgãos gerenciador, participante e gestor do contrato, formando um todo unitário.

Mostra-se pertinente a observação feita por Marcos Juruena Villela Souto de que essa “metodologia de funcionamento”,133 que impõe organização e planejamento para a implementação do registro de preços, torna o registro de preços mais confiável e dá segurança

133 SOUTO, Marcos Juruena Villela. Direito administrativo em debate. 2. série. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

aos interessados em participar do certame de que podem ofertar preços mais competitivos, resultando em economicidade nas contratações públicas.134