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O registro de preços não é modalidade licitatória; não é banco de preços e não

3.3 Registro de preços como contrato

3.3.1 O registro de preços não é modalidade licitatória; não é banco de preços e não

É comum identificar-se o sistema de registro de preços como uma das modalidades licitatórias previstas em lei, o que constitui um grande equívoco. As modalidades licitatórias são definidas em lei em categorias ou espécies distintas, cada qual apresentando uma estrutura procedimental própria.

Segundo Marçal Justen Filho, “modalidade de licitação consiste em um procedimento ordenado segundo certos princípios e finalidades. O que diferencia uma modalidade da outra é a estruturação procedimental, a forma de elaboração de propostas e o universo de possíveis participantes”.61

58 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14. ed. São Paulo:

Dialética, 2010, p. 191.

59 Ibidem, p. 214.

60 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: contratos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 106. v. 3. 61 Extraído do artigo “Pregão: nova modalidade de licitação”, disponível em:

A Lei nº 8.666/9362 prevê cinco modalidades: concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão. Já a Lei nº 10.520/02 criou a modalidade pregão, na forma presencial e eletrônica.63

Na legislação de regência, portanto, são apenas essas as modalidades licitatórias existentes, constituindo um elenco exaustivo, conforme atesta Marçal Justen Filho:

A Lei proíbe a adoção de outras modalidades de licitação ou a combinação de regras procedimentais para produzir novas figuras. Significa que o elenco do art. 22 é exaustivo, ressalvada a possibilidade de lei federal específica dispor sobre tema, tal como se passou com a figura do pregão (que se subordina à disciplina da Lei nº 10.520). Essa norma geral deverá ser observada pelas demais entidades da Federação.64

A lei não definiu o sistema de registro de preços como modalidade licitatória. Tivesse definido, não haveria sentido na eleição das modalidades concorrência e pregão para sua implementação.

Equivocado, igualmente, pensar o sistema de registro de preços como um banco de preços.

O banco de preços vem ganhando importância enquanto ferramenta administrativa. Não se subordina ao princípio da licitação e, em geral, é formado mediante preços coletados de fontes diversas e levando em conta as tendências de mercado.

Destina-se, precipuamente, a fornecer elementos para a geração de orçamentos e preços referenciais, que servem de base para o julgamento das propostas apresentadas nas licitações.

Pressupõe a padronização do objeto, medida fundamental para a coleta de preços ou apuração de custos unitários, conforme o caso.

Também pode ser criado a partir dos preços contratados pela Administração. Esse é o critério menos recomendável, pois as prerrogativas tituladas pelo Poder Público, nas relações contratuais com os particulares, associadas a um planejamento por vezes deficiente são fatores

62 “Art. 22. São modalidades de licitação: I – concorrência; II – tomada de preços; III – convite; IV – concurso;

V – leilão.”

63 O pregão surgiu no sistema brasileiro no ano de 1997, na chamada Lei Geral de Telecomunicações (LGT) –

Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, e depois foi estendida sua aplicação aos órgãos da Administração Federal através da Medida Provisória nº 2.026, editada em 4 de maio de 2000, e reeditada por 18 vezes consecutivas até sua transformação na Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que possibilitou a adoção dessa modalidade por todos os entes federativos. SCARPINELLA, Vera. Licitação na modalidade de pregão: Lei 10.520, de 17 de julho de 2002. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 26, 36-39.

64 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14. ed. São Paulo:

de risco e, eventualmente, os custos adicionais podem ser repassados aos preços.65 Nesse caso, há risco de o preço corresponder a objeto diverso daquele do que se pretende contratar, com sérios prejuízos à formação do preço referencial, com eventual comprometimento do julgamento das propostas apresentadas no certame. No Estado de São Paulo, esse tipo de banco de preços existe,66 mas é pouco utilizado, em razão dos motivos apontados.

Com relação aos serviços, notadamente os de caráter contínuo, a criação de um banco de preços pressupõe, além da padronização do objeto, a apuração detalhada dos custos envolvidos na sua execução. Os preços de referência constituídos, ficam, de regra, disponíveis à sociedade, que pode acessá-los através de sites específicos dos governos, o que representa fator positivo de transparência nas contratações públicas.

O Estado de São Paulo67 possui um banco de preços para serviços, que serve de referência para entes federativos menos estruturados administrativamente e até mesmo para a iniciativa privada. Alguns Estados68 têm optado pela contratação de empresas ou entidades especializadas para a criação e gestão de seus bancos de preços de bens de consumo.

O banco de preços, conforme já assinalado, não se sujeita ao princípio da licitação para sua constituição e não define parceiros para futuras e eventuais contratações, diferentemente do que ocorre no sistema de registro de preços.

Inexistem igualmente semelhanças entre o registro de preços e o registro cadastral, exceto quanto ao emprego da palavra “registro”. O primeiro se relaciona a um ciclo completo de licitação, enquanto o segundo visa apenas à fase de habilitação.

65 A disparidade entre os preços de mercado e os preços pagos pela Administração já foi maior no passado. A Lei

de Responsabilidade Fiscal impôs um planejamento financeiro mais rigoroso às despesas públicas e mais transparência aos atos praticados, o que tem propiciado controle maior sobre os gastos públicos, com reflexos positivos nas contratações realizadas pelo Poder Público. Diversos entes federativos, dentre os quais a União, têm se preocupado em orçar os gastos mais frequentes, com a fixação de preços referenciais máximos, estimulando negociações com vistas à redução dos preços nas licitações, o que se tornou possível com a criação da modalidade pregão, pela Lei nº 10.520/02. Porém, há situações que fogem ao planejamento estabelecido e que necessitam de correção de rumos para atendimento do interesse público, o que pode ser feito por ato unilateral da Administração. Assim, assentimos, com Fábio Ulhoa Coelho, no sentido de que essa prerrogativa titulada pelo Poder Público é necessária, mas pode acarretar elevação dos preços de bens e serviços por ele adquiridos. (cf. COELHO. Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: contratos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 77-78).

66 Esse banco de preços é o SIAFÍSICO – Sistema Integrado de Informações Físico-Financeiras; detalha os

valores empenhados adicionando à execução orçamentária os cadastros de materiais, serviços e fornecedores, permitindo o acompanhamento das aquisições, dos contratos de serviços e seus respectivos valores. Disponível em <www.fazenda.sp.gov.br/cge2/siafisico.shtm>. Acesso em 01 set 2010.

67 ESTADO DE SÃO PAULO. Cadernos de Serviços Terceirizados. Disponível em:

<www.cadterc.sp.gov.br/portal.php/cadastro-o_e_o_cadastro>. Acesso em: 01 set 2010.

68 O Governo do Estado do Sergipe noticiou a criação de um banco de preços referenciais para orientar os

processos de compras e contratações públicas, informando que esse instrumento de gestão decorreu da contratação da Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/politica/3596572/sergipe- torna-se-1-estado-do-nordeste-a-usar-banco-de-precos-referenciais. Acesso em: 21 nov. 2009. Também a empresa Eletrobrás noticia em seu site a existência de um Banco de Preços de acesso restrito, controlado através de senha. Disponível em: <www.eletrobras.gov.br/ELB/data/Pages/LUMISBOBC3124PTBRIE.htm>. Acesso em: 21 nov. 2009.

Hely Lopes Meirelles corrobora esse posicionamento e afirma: “Não se confunda o SRP com os registrados cadastrais”.69 Estes “são assentamentos que se fazem nas repartições administrativas que realizam licitações, para fins de qualificação dos interessados em contratar com a Administração, no ramo de suas atividades (arts. 34 a 37 e 51)”.70

O credenciamento é outro instituto que poderia, eventualmente, ser confundido com o sistema de registro de preços. É tratado de modo superficial na Lei nº 8.666/93, mas, na prática, tem se mostrado bastante útil, especialmente na contratação de serviços médicos.

Tem aplicação nas hipóteses de inviabilidade de licitação, quando é possível contratar todos os que tenham interesse e que satisfaçam os requisitos estabelecidos, mediante preço fixado pela Administração.

Difere essencialmente do sistema de registro de preços em relação à fixação do preço; no SRP, quem define o preço é o licitante em processo competitivo; no credenciamento, o preço é fixado pela Administração. Ademais, no sistema de registro de preços, de regra, a contratação recai sobre um licitante; no credenciamento, são contratados todos os que atendem às condições estabelecidas pela Administração.