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Fim das Cidades-Estados

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2.2 O CONTEXTO HISTÓRICO DA TRADUÇÃO

2.2.1 Fim das Cidades-Estados

Quando pensamos na Grécia antiga, pensamos em sua estrutura, nos lembramos de Esparta e seu processo educacional militar e de Atenas com sua estrutura democrática. O confronto entre essas duas acrópoles gerou uma unificação dos povos gregos, que foram dominados pelos espartanos, porém os povos assimilaram a cultura ateniense. Mesmo havendo uma unificação, as cidades possuíam autonomia política que posteriormente se concentrou na Macedônia reino de Filipe II.

A Grécia antiga estava dividida em cidades-estados. Sem coesão política-administrativa, esses pequenos e até diminutos países estavam em constantes alterações. Haja vista as repetidas escaramuças entre Esparta e Atenas. Os gregos eram unidos somente por laços culturais e religiosos. Quando o perigo os ameaçava, firmavam, porém, alianças provisórias (ANDRADE, 2000, p.62).

Na Grécia existiam várias instâncias de poder, como os grupos familiares conhecidos como genos, grupos organizados como as fátrias, que acabavam se fundindo na polis, cidade em si, essa maneira de se organizar proporcionava uma diversidade de maneiras de agir, mas mantendo uma estrutura religiosa. Gallazzi (1992, p. 2) relata que a formação do mundo grego não consiste em um grande reino, no entanto havia uma articulação entre as cidades que supostamente eram livres, porque as cidades possuíam uma autonomia na sua organização política e econômica. Devido a essa individualidade surgiram vários conflitos na busca de uma hegemonia comercial. As diferenças políticas eram muito distintas, pois, em algumas a administração era feita por conselhos, outras por aristocracia, outras por reis e assim por diante, e por serem tão distintas defendiam sua autonomia. Esse foi o berço de uma construção de pensamentos e é por isso que o pensamento filosófico possuiu muito espaço nessa sociedade. A cidade em si poderia sofrer transformações e por esse motivo se discutia as questões sobre a vida, religião, o ser humano e a política. Antes do nascimento de Sócrates, Platão e Aristóteles se discutia “o que é?” e “como as coisas eram formadas?”. Porém a filosofia pós- socrática percebeu que a vida poderia ser alterada. Mediante a autonomia da polis a filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles buscou relativizar a vida, a religião, o ser humano e a política.

A relativização das cidades-estados grega foi possível porque as mesmas possuíam algumas características particulares. Cardoso (1987, p. 7) afirma que as cidades-estados clássicas possuíam três características comuns: a) a existência de um ou mais concelhos administrativos; b) a participação de cidadãos nas decisões da cidade, neste caso o cidadão eram pessoas de posses; c) e a união entre a religião e o Estado. Esse era o cenário em que se configurou todo o início da filosofia pós-socrática. Porém, as cidades-estados que não eram gregas, possuíam outras características. Geralmente eram governos monárquicos, autoritários e

teocráticos, cada cidade possui um conceito religioso distinto onde as disputas entre povos consistem na soberania de sua divindade. A classe sacerdotal possui grande importância nas estruturas políticas e o processo de domínio entre um povo para com outro possibilita um sincretismo religioso a ponto de não haver problemas de inserção de outras divindades no meio da crença popular. Porém a mesma estrutura favorecia os hebreus que viviam em uma luta constante na manutenção da fidelidade à sua divindade, ora pelos sacerdotes, ora pelos juízes, ora pela monarquia ou ora pelos profetas. Mesmo tendo que se submeter a outros povos mantinha sua autonomia religiosa e quando isso era ameaçado havia um processo de resistência, para a manutenção da identidade religiosa.

Retornando para a Grécia, o que precisamos entender é que os projetos filosóficos estabelecidos por Sócrates, Platão e Aristóteles deslumbravam as diferenças e as mudanças, mesmo que em geral buscassem uma unidade, “os Estados ideais vislumbrados por Platão e Aristóteles eram polis. Alguns já viam a solução numa união dos gregos, federando as cidades-estados em associação mais vasta” (CARDOSO, 1987, p. 39). Quando Alexandre saiu em sua jornada de conquista ele levou consigo a Grécia como nação, quando se viu em um processo de domínio, iniciou a destruição das estruturas de cidades autônomas e independentes. Gallazzi (1992, p. 3) relata que a implantação do império grego se dá exatamente em uma reação a autonomia política e econômica das cidades gregas e suas colônias da Ásia Menor que eram ameaçadas pelos persas. Após o domínio grego não conseguiram manter uma estrutura política estável e foi substituída pelo modelo imperial-monárquico, que foi mais favorável a um controle do mercado "universal", é a partir daí que as cidades e o império geraram um mundo helenístico.

A helenização dos povos dominados foi fundamental para a hegemonia grega, por outro lado padrões da própria estrutura grega se perderam. Sousa (2013- 2, p. 233) afirma que o helenismo foi um processo de decadência do povo grego, por três motivos: a) devido a perda da cultura grega pura, por se relacionar como os povos do oriente; b) o fim da polis e a passagem de uma estrutura democrática, para uma estrutura monárquica; c) e o abandono da filosofia Platônica e Aristotélica que possuía uma filosofia especulativa a ponto de fazer com que os cidadãos mudassem a polis.

O helenismo não implanta a cultura grega como essência, pois o pensamento grego gerava a ideia do homem integrante da polis, assim como, na Palestina a nação era povo, a invocação de Deuteronômio 6,4 e de Josué 24,15 busca uma posição do povo e não do indivíduo, o desejo individual se concentra na coletividade, se o povo muda, o indivíduo muda automaticamente. Neste debate estamos nos referindo à análise Deuteronomista do texto nos originais em hebraico, pois apesar da tradução dos LXX manter a intenção coletiva, acaba sendo influenciada pelas ideias individuais geradas pelo fim das cidades-estados. Sousa (2013, p. 242) afirma que a nova forma helênica de se viver gerou uma mudança de pensamento, proporcionando um olhar “individualista”, o indivíduo não se sente mais integrante da

polis, ele passa a olhar para si mesmo, buscando em si sentidos e alvos a ser

atingidos. Sousa (2013, p. 233) faz uma análise de Giordanni Reale, e relata o seguinte: “[...] é neste período que há uma ruptura da identificação do homem e cidadão, quando sua afirmação identitária deixa de ser o cidadão, o partícipe da

polis, e passa a ser o ‘indivíduo’”. Essa nova forma de pensar gera uma perspectiva

diferente nesse processo.

Com a perda da autonomia das cidades, o novo estado helênico gerava inúmeras possibilidades de locomoção. O relato de Toynbee (1969, p. 120) diz que apesar dos cidadãos das cidades-estados lutarem para manter sua soberania, passaram a ter a possibilidade de emigrar para Alexandria e para qualquer outra cidade helênica, que possuíam rigores mais suaves. Caso ocorrido com parte dos hebreus que migraram para vários locais, especialmente para Alexandria, gerando uma nova categoria de judeus, totalmente helenizados e sem o conhecimento do hebraico e distante da tradição religiosa. Essa situação faz os tradutores pensarem não só em um novo contexto de cidade, mas numa nova realidade de judeu.

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