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Síntese do capítulo

2. A participação em atividades de lazer e a ocupação do tempo livre dos jovens: contribuições da educação não formal e

2.2. Finalidades e direitos da educação

Saviani (2002) infere que a educação só tem sentido se estiver voltada para promover o ser humano, tornando-o cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela, transformando-a no sentido de ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre as pessoas. Assim, o processo educacional é visto por alguns teóricos como um instrumento de libertação uma vez que demanda possibilidades de transformação social (Libâneo, 1990; Gadotti, 1984).

Ora, hoje em dia a educação vive um tempo de grandes incertezas e de muitas perplexidades. Sente-se a necessidade da mudança, mas nem sempre se consegue definir-lhe o rumo. Há um excesso de discursos, redundantes e repetitivos, que se traduz numa pobreza de práticas (Novoa, 2009).

Nóvoa (2009: 22) defende uma educação integral que “é o corolário legítimo da dignidade humana”, sublinhando-se a importância de um “itinerário que respeita e privilegia o educando como protagonista principal em todo o processo educativo”.

Para cumprir a sua missão de educar para a cidadania, os projectos e as comunidades educativas têm de contemplar o aprender a conhecer, o

aprender a fazer, o aprender a viver juntos, mas também o aprender a ser.

Sem esta consciência personalista, sem o crescimento pessoal de uma verdadeira estrutura autónoma vertebrada por valores e convicções, os cidadãos não ultrapassarão o limiar de indivíduos enquadrados nas estruturas cívicas como consumidores passivos dos esquemas sociais apresentados. (Nóvoa, 2009: 22)

A abrangência do termo educação alcança um universo que vai além dos muros da escola, instituição com papel central na formação das pessoas. Isso nos remete a afirmação de Freire (1981: 79): “ninguém educa ninguém,

ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Perrenoud (2002) infere que se a cidadania está em crise é porque a justiça está em crise, porque as desigualdades aumentam, porque o conhecimento é desigual, porque há sofrimentos insuportáveis e incompreensíveis. Para ele, uma educação para a cidadania implica um alargamento importante da educação cívica, a que visa formar um bom cidadão capaz de compreender a Constituição, de votar, de desempenhar um papel activo e responsável na sociedade. Diz ainda que a educação para a cidadania não é uma cura espiritual, nem um apelo aos bons sentimentos, à razão de uma hora por semana, enquanto que, nas outras horas, se “dá o programa”. Não resulta se não estiver no cerne do programa, ligada ao conjunto das competências e dos conhecimentos.

O direito a educação, como parte do direito propriamente dito, baseia-se nas experiências dos direitos civis da Inglaterra que datam do século XVIII, dos direitos políticos do século XIX e dos direitos sociais do século XX, (Marshall, 1997) assim como, na existência de direitos de cunho específico, voltados para as diferenças étnicas, de gênero, faixa etária, entre outras, além da luta travada pela classe operária europeia pelos direitos sociais, a partir dos direitos civis e políticos. Dentre os direitos sociais, o direito à educação, assumiu destaque prioritário, enquanto condição da própria cidadania (Bobbio, 1992; Przeworski, 1989). Ora, no Brasil o direito a educação está garantido em primeiro lugar pela Constituição Federal que dispõe no artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

E ainda pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96 em seus artigos 1º e 2º:

Artigo 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem navida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Artigo 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade

humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Para além disso, dispõe o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

É dever da família, da comunidade, da sociedade, em geral, e do Poder Público, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

A Constituição Federal, em diversos artigos, reconhece a educação como a fonte primeira para a formação da pessoa humana e seu preparo para a cidadania e a própria LDB, em seu Título II, dispõe sobre os seus fins e princípios subjacentes, os quais constituem os mesmos dispostos na Constituição Federal, acrescidos de dois princípios que dizem respeito aos cidadãos que não tiveram acesso à escola, na idade própria, ou seja, a valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais (artigo 3º, XI).

As contribuições de Afonso (1989) Sacristan (2001) e Giroux (1997), Von Simson (2000), Gohn (2001) e Freire (2006) acerca da ampliação do conceito de educação, onde se apresenta entre outros parâmetros para a prática de uma pedagogia inclusiva, trouxeram à tona um novo espaço educativo o da educação não formal. Gohn (2008) revela que, até os anos 1980, a educação não-formal foi um campo de pouca importância no Brasil, no que tange às políticas públicas e também entre os educadores. A partir dos anos 1990, em função das mudanças na economia, sociedade e trabalho, a articulação de novas ações e valores culturais, a educação não-formal passa a ter mais destaque. “Passou-se ainda a falar de uma nova cultura organizacional que, em geral, exige a aprendizagem de habilidades extra-escolares” (Gohn, 2008: 92).

2.3. Educação não formal e informal: relação com o lazer e a