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CAPÍTULO IV: RESULTADOS DO ESTUDO EMPÍRICO QUALITATIVO 107 4 ESTUDO QUALITATIVO

Í NDICE DE TABELAS

1. Juventude e participação: de que juventude estamos falando?

1.8. Política Nacional de Juventude: dimensões, diretrizes, eixos e programas

Após os eventos registrados em relação à agenda juvenil, com a criação da Secretaria Nacional de Juventude, do Conselho Nacional de Juventude e da realização das Conferências Nacionais de Juventude, foi estabelecida a Política Nacional de Juventude. Esta política está alicerçada em dimensões, directrizes e eixos que foram construídos ao longo da sua trajectória. A dimensão Institucional diz respeito a parceria entre o Conselho e a Secretaria Nacional de Juventude e permitiu a criação de órgãos de gestão da juventude nos diversos municípios brasileiros, além da criação de Fóruns Nacionais de Gestores Municipais e Estaduais de Juventude, que vieram a fortalecer ainda mais a política juvenil. A dimensão internacional, no tocante a manutenção permanente do intercâmbio com outros países, sobretudo a América Latina. A Dimensão Legal que se constitui no marco legal integrado pela emenda constitucional 65, que inseriu o termo “jovem” no texto constitucional, no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais, pelo Estatuto da Juventude que estabelece a responsabilidade das três esferas governamentais na

execução das políticas juvenis e pelo Plano Nacional de Juventude, que estabelece um conjunto de metas que os governos – federal, estadual e municipal – deverão cumprir em relação à política juvenil em um período de dez anos.

Como directrizes da política nacional de juventude, são apontadas a Singularidade da juventude, que diz respeito ao tratamento que deve ser dado à condição juvenil, no sentido de que os jovens são sujeitos com necessidades, potencialidades e demandas singulares em relação a outras faixas etárias; os jovens como sujeitos de direitos, ou seja, ao invés de serem controlados, devem ser emancipados; a valorização da diversidade juvenil através do reconhecimento de que o Brasil é um país continental e multicultural e que ao invés de se colocar rótulos e estereótipos, deve-se reconhecer e valorizar essa diversidade; a transversalidade das políticas em que se reivindica tratar a educação, o meio ambiente, o trabalho, a saúde, o esporte, a cultura e o meio ambiente como capítulos que não são separados, e finalmente, a participação juvenil que enfatiza que o governo deve ouvir, principalmente aqueles que não estão organizados colectivamente.

A Política Nacional de Juventude estabelece para o cumprimento das propostas aprovadas, eixos que visam consolidar as políticas de educação integral com a inclusão de políticas de ações afirmativas, que garantam o acesso e permanência de todos os segmentos jovens no ensino superior e outras garantias como qualificação profissional, participação e fortalecimento em programas destinados a iniciativas de grupos e movimentos culturais juvenis e populares. Deve ser garantido, ainda, o direito a moradia, incluindo os jovens de favelas e os de comunidades tradicionais, além do direito à diversidade e à vida segura, para a melhor qualidade de vida. Outro aspecto a ser considerados dentro dos eixos estabelecidos, reporta-se a garantia da participação dos diversos movimentos e entidades civis na representação do Conselho Nacional de Juventude com caráter deliberativo e fiscalizador, assim como da alocação de recursos do tesouro nacional que deverão ser destinados às diversas entidades federadas.

Para a execução da Política Nacional de Juventude, com base nas dimensões da política e seus eixos estruturantes, encontra-se o desafio da inclusão social para o que o governo através da Secretaria Nacional de

Juventude, elaborou, em 2011, o Programa Autonomia e Emancipação da Juventude, uma iniciativa inovadora que inclui conteúdos, metas e dotação orçamentária para várias ações no Plano Plurianual 2012-2015 (PPA) e está composto por uma série de programas.

Entretanto, vale a pena inferir que no período compreendido entre a discussão do tema, até a presente data, muitos foram os programas e projectos desenvolvidos, porém, uma grande parte não teve continuidade e nem avaliação dos motivos pelos quais foram desativados, o que ratifica as afirmações de Spósito e Carrochano (2005) de que os jovens são alvo de programas definidos em função de sua condição de vulnerabilidade e aqueles que estão entre os excluídos da escola em razão da distorção idade/série e com importantes dificuldades já consolidadas. Os dados apresentados a seguir, relativamente aos programas federais, foram coletados do site do Conselho Nacional de Juventude e de consultas aos sites dos Ministérios referenciados abaixo como executores dos diversos programas que compõem o Plano Nacional de Juventude.

Pode-se inferir que o PROJOVEM que visa ampliar o atendimento aos jovens entre 15 e 29 anos, que estão fora da escola e sem formação profissional, criado a partir da integração de seis programas já existentes - Agente Jovem, Saberes da Terra, ProJovem, Consórcio Social da Juventude, Juventude Cidadã e Escola de, constitui-se no maior programa desenvolvido pelo governo federal, junto com os estados e municípios brasileiros. Está constituído de quatro modalidades entre elas, o ProJovem Adolescente, cujo público-alvo são jovens de 15 a 17 anos em sua maioria oriundos de famílias beneficiárias do programa bolsa família. Suas ações têm como foco o fortalecimento da convivência familiar e comunitária e o retorno à escola e a sua permanência no sistema. O ProJovem Urbano, constituído por jovens de 18 a 29 anos que não tenham concluído o ensino fundamental cujos objetivos são a elevação de escolaridade, a qualificação profissional e o desenvolvimento de ações comunitárias. O ProJovem Campo destinado a jovens agricultores entre 18 e 29 anos e o ProJovem Trabalhador, direcionado a jovens entre 18 e 29 anos, desempregados e membros de famílias com renda per capita de até meio salário mínimo e que tem como objetivo a preparação para o mercado de trabalho. Os jovens recebem auxílio financeiro

mensal, cada modalidade tem um valor, cujo recebimento da renda permaneceu atrelado tanto ao retorno aos estudos ou à continuidade deles quanto à realização de atividades de formação, tidas como obrigatórias.

Outro programa considerado relevante no desenvolvimento da PNJ é o ProUni, Programa Universidade para Todos considerado o maior programa de concessão de bolsas de estudo da história brasileira. Em um ano e meio, ofereceu a 203 mil jovens de baixa renda o acesso em mais de 1.100 instituições de ensino superior em todo o país. Este programa é desenvolvido pelo Ministério da Educação, a exemplo do Programa Livro Didático para Ensino Médio que distribui materiais educativos para estudantes, do Proeja, programa de educação profissional integrado ao Ensino Médio que tem como finalidade ampliar a oferta de vagas nos cursos de educação profissional a jovens e adultos que não tiveram acesso ao ensino regular, do Programa Brasil Alfabetizado que promove alfabetização para jovens acima de 15 anos e do programa Escola Aberta que oferece atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer em escolas públicas do Ensino Médio e Fundamental, que são abertas nos fins-de-semana exclusivamente para atender a comunidade. Ainda é oferecido um projeto de integração social que envolve a participação voluntária de estudantes universitários denominado Projeto Rondon. A idéia desse projecto, é oferecer aos estudantes durante as férias, a oportunidade de conhecer a realidade e contribuir para o desenvolvimento social e econômico do Brasil.

No âmbito do Ministério dos Esportes, são oferecidos os programas segundo tempo, que visa democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte e melhoria da cidadania e qualidade de vida, o bolsa atleta que concede bolsa aos atletas representantes das seleções esportivas a nível estadual e federal e o programa esporte e lazer na cidade que tem a finalidade de oferecer a prática de atividades físicas, culturais e de lazer envolvendo todas as faixas etárias e as pessoas com deficiência.

Como se pode observar, a política nacional de juventude, é contemplada por programas bem diversificados, pois além destes já citados, existem ainda no âmbito do Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação e do meio ambiente, os programas saúde e prevenção nas escolas, desenvolvidos com apoio da UNICEF e UNESCO, direcionados a jovens de 14

a 19 anos, cujo objetivo é promover ações de prevenção, promoção e atenção a saúde, o programa juventude e meio ambiente que visa contribuir para o fortalecimento e expansão dos coletivos jovens de meio ambiente nos estados. Para suprir a problemática do jovem que é incorporado ao serviço militar obrigatório e que na sua maioria ao terminar seu tempo nas forças armadas fica desempregado, foi criado o projeto Soldado Cidadão. Este projeto objetiva oferecer cursos de capacitação e formação profissional para inserção dos jovens recrutas no mercado de trabalho. Coordenados pelo Ministério da Cultura, com o objetivo de incentivar ações que despertem a arte, a cultura, a cidadania e a economia solidária nas comunidades, os programas Cultura Viva e Pontos de Cultura, implantam e modernizam espaços culturais, permanentes ou itinerantes destinados aos jovens.

A Política Nacional de Juventude também contempla o jovem que vive fora do perímetro urbano das cidades através dos programas Nossa Primeira Terra que tem como objetivo atender a demanda de jovens sem terra ou filhos de agricultores familiares que queiram permancer no meio rural e que objetiva fomentar o futuro da agricultura, através da oferta de um crédito especial de investimento. E, finalmente, com o objetivo de articular políticas de segurança com ações sociais para a prevenção, existe o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, com a clara finalidade de tentar reduzir os índices de mortes violentas entre os jovens.

Como já referenciamos neste trabalho, todos os programas destinados à juventude municipal e estadual, segundo informações obtidas dos dirigentes, municipal e estadual de juventude do Estado do Acre, são programas oriundos do governo federal que disponibiliza os recursos necessários para as secretarias correspondentes aos ministérios federais gestores das referidas acções. De sorte que em recente busca, junto a esses órgãos, identificamos os programas destinados aos jovens e sua abrangência, cujos dados dizem respeito apenas aos programas que estão sendo executados no presente exercício ou se encerraram em 2012. É fato que, muitos programas foram desativados e não se tem uma avaliação dos motivos da sua descontinuidade. Desse modo, estão sendo desenvolvidos o Projovem adolescente com 2.300 atendimentos, o Projovem urbano com 800 a nível estadual e 1.200 a nível municipal e o Projovem campo com 1000 atendimentos, cujos programas estão

sob a responsabilidade das secretarias de Ação Social e de Educação. Dos programas oriundos do Ministério dos Esportes, a nível municipal foi desenvolvido em 2012 o Programa Esporte e Lazer na Cidade (PELC) atendendo 3.200 jovens e o Programa Bolsa Atleta, a nível estadual com 116 beneficiários. Dos programas oriundos dos Ministérios da Saúde e da Educação, vem sendo desenvolvido a nível estadual o programa Saúde na Escola com 3.293 atendimentos na área de fonoaudiologia, 4.152 atendimentos psicológicos, 4.095 atendimentos em serviço social e 15.773 na área da saúde bucal. Em funcionamento também encontra-se o PROUNI atendendo a 1.293 jovens universitários e o Programa Jovem aprendiz coordenado pelo SENAC E SENAI com 1.365 beneficiários. A partir deste ano de 2013, está sendo implantado o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), que abrigará diversos outros programas, cuja previsão de atendimentos é de 19.522 vagas para todo o Estado do Acre. Os demais programas do governo federal não vêem sendo executados, por razões que desconhecemos. A bem da verdade, a questão da descontinuidade dos programas e a fragmentação de acções, ainda estão a suscitar a necessidade de se proceder a estudos avaliativos sobre os motivos desse acontecimento. Infelizmente são muito poucos os estudos institucionais e os poucos que encontramos divulgados, são pontuais, como por exemplo o realizado por Silva (2012) que avaliou a execução do programa Escola Aberta, desenvolvido em quase todas as escolas de Recife, o estudo de Briguglio, Hosokawa, e Schalch (2010) que avaliou o programa Jovem Cidadão, concretizado em 39 municípios da região metropolitana de São Paulo e o estudo de Oliveira, Silva, Gomes, e Moraes (2010) que avaliou o processo de implementação do Projovem Trabalhador concretizado em 68 municípios da Paraíba. Para além destes, em 2007, a Universidade Federal Fluminense, por solicitação do Ministério do Desenvolvimento Social, realizou pesquisa de avaliação de impacto sobre o Programa Agente Jovem cujo resultado apontou para vários entraves como a permanência dos jovens no programa, carga horária aquém da estabelecida, baixo percentual de participação dos jovens na comunidade, falta de maior estímulo à participação das famílias nas actividades desenvolvidas, só para citar alguns. Entretanto, de nada adiantou tal avaliação, uma vez que o Programa Agente Jovem foi desativado, embora apresentasse muitos pontos

positivos. Relativamente ao estado do Acre, a única avaliação que se tem conhecimento sobre os programas de juventude, foi o realizado por Silva (2012) em estudo conjunto com pesquisadores da UNIRIO, que avaliaram o segmento do Projovem urbano, modalidade prisional, implantado em carácter experimental em apenas três estados brasileiros, Acre, Pará e Rio de Janeiro, cujas conclusões não se encontram ainda disponíveis.