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3 ANÁLISE DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA

3.1 Falhas dos aspectos estruturais da recuperação judicial que

3.1.5 Financiamento da empresa em crise

A recuperação judicial da empresa para que obtenha êxito não depende apenas de medidas impositivas da lei (exemplo submissão e novação do crédito), mas se faz necessário medidas incentivas e benéficas.

O soerguimento financeiro e econômico de uma empresa decorre de diversos aspectos, desde o interno que está voltado na restruturação da organização e decisões dos dirigentes, como o externo que seria a recepção do mercado frente a empresa e sua atividade.

Destaca-se o ensinamento de Paula A. Forgioni (2012, p. 82) que “um novo período de evolução do direito comercial, em que se supera a visão estática da

88 Nesse sentido: AI 2047000-40.2015.8.26.0000, relatoria do Des. Ricardo Negrão, TJSP; AI

empresa para encará-la, também, em sua dinâmica”, ou seja, a empresa deve ser vista na sua atuação no mercado.

Bem por isso, pode se afirmar que não há empresa sem mercado, visto que para a existência da empresa se faz necessário que esta contrate com os agentes econômicos, o que a torna um feixe de relações.

O mercado engloba diversas categorias de agentes econômicos, como os consumidores, Estado, trabalhadores, consumidores fornecedores, financiadores, dificilmente, uma empresa conseguira manter as suas atividades caso um dos componentes do mercado não contratar com a empresa.

Dessa maneira, para que haja eficácia no instituto da recuperação judicial se faz essencial criar normas incentivadores para que o mercado continue a contratar com a empresa.

No caso, a LREF falha ao não criar normas de incentivos ao mercado no tocante aos agentes financiadores, isto é, aqueles que podem ejetar valores na empresa para fins de sua reestruturação, como bancos, fundo de investimentos entre outros e para os fornecedores no sentido de manterem seus negócios com a empresa em recuperação.

A LREF criou apenas três incentivos ao mercado, o primeiro está voltado na alienação do bem da empresa ser adquirido sem ônus e sucessão das dívidas vinculadas a unidade produtiva isolada prevista expressamente no plano judicial desde que adquiridas por leilão, proposta fechada e pregão (art. 60, parágrafo único e art. 142 da LREF), o segundo é que os créditos decorrentes de obrigações contraídas pela empresa durante a recuperação judicial89, inclusive aqueles relativos

89 Para o STJ, “nos termos dos arts. 67, caput, e 84, V, da Lei 11.101/2005, em caso de decretação

de falência, serão considerados extraconcursais os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor entre a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a data da decretação da falência, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo. Isso porque a expressão "durante a recuperação judicial" gravada nos arts. 67, caput, e 84, V, da Lei 11.101/2005 abrange o período compreendido entre a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a decretação da falência. (REsp 1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 10/2/2015, DJe 13/3/2015).

a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais, em caso de decretação de falência (art. 67 e art. 84, V da LREF), o terceiro é que os créditos quirografários sujeitos à recuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê- los normalmente após o pedido de recuperação judicial terão privilégio geral de recebimento em caso de decretação de falência, no limite do valor dos bens ou serviços fornecidos durante o período da recuperação (art. 67, parágrafo único da LREF).

Em que pese a LREF tenha previsto a extraconcursariedade do crédito para os atos jurídicos praticados no decorrer da recuperação judicial e ausência de sucessão na aquisição de bens da empresa tal regramento não é o suficiente para dar segurança jurídica no mercado e de sorte incentivar o financiamento da empresa em recuperação judicial.

Observa Renato Azevedo Dántes dos Reis (2015), em estudo realizado nos Estados Unidos, a respeito do financiamento DIP, que é a possibilidade de o juiz permitir que a empresa obtenha investimentos dando em garantia de bens que ainda estão disponíveis, obtiveram os seguintes resultados: 1) as empresas maiores têm mais facilidade para conseguir o financiamento; 2) os devedores que conseguem o financiamento têm maior probabilidade de sair da recuperação judicial; 3) o índice de sucesso da recuperação judicial que obtiveram financiamento de credor preexistente ou de novos credores é o mesmo; e 4) o tempo gasto na recuperação judicial é menor quando a empresa consegue o financiamento.

No Brasil, verifica-se que deveria haver alteração de diversos setores (bancário, público entre outros) a fim de possibilitar financiamento da empresa em crise, por exemplo, diante de empréstimos bancários, sem grandes ônus para os bancos, já que o perfil da empresa em recuperação é enquadrado na Resolução CMN nº 2.682/99, a qual estabelece que com mais de 06 (seis) meses de inadimplemento, a empresa deve ser classificada como “H”, isto é, empresa de alto risco, implicando na necessidade do banco provisionar 100% (cem por cento) do valor do crédito, o que geralmente ocorre com a empresa que ingressa em recuperação judicial; no tocante ao setor público, caberia ao Estado, o qual deveria

buscar maiores incentivos a preservação da empresa, a criação de financiamento especial para empresas em crise em seus bancos de investimento.

A LREF poderia prever melhor regramento para financiamento da empresa em crise, apresentamos algumas sugestões defendidas por Leonardo Adriano Ribeiro Dias (2014): a) extraconcursariedade absoluta na falência, vez que a LREF embora tenha considerado crédito extraconcursal, o pagamento do credor é realizado após as remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência, quantias fornecidas à massa pelos credores, despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência e custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida (art. 84 da LREF); b) expressa ausência de sucessão na outorga das garantias a novos financiamentos, isto é, a LREF deveria prever que a oneração de quaisquer bens da empresa em recuperação para fins de captação de recurso deveriam ser liberados da sucessão, e não somente os bens previstos no plano adquiridos por meio de leilão, pregão ou proposta fechada; c) indicação de um Chief Restructuring Officer (CRO), no caso, seria a possibilidade do credor condicionar o financiamento à indicação de um membro na administração especializado em recuperação de empresa.