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3 ANÁLISE DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS DA

3.1 Falhas dos aspectos estruturais da recuperação judicial que

3.1.6 Microempresa e empresa de pequeno porte

A microempresa e empresa de pequeno porte possui proteção constitucional, consoante se verifica no art. 170, inciso IVX, da Constituição Federal, o qual dispõe que ocorrerá o “tratamento favorecido para a microempresa e empresa de pequeno porte”.

As empresas90 que se enquadram como microempresa e empresa de pequeno porte, segundo o Sebrae, atingem 99% do total das empresas brasileiras, o que demostram sua importância para o mercado91.

90 Enquadra-se como microempresa e empresa de pequeno as empresas que estejam em

Com a finalidade de criar um procedimento especial para a microempresa e empresa de pequeno porte, a LREF criou plano especial, estabelecido no art. 70 e seguintes da lei.

O plano especial simplifica o procedimento ao: a) dispensar a Assembleia Geral de Credores, de modo que o plano resta aprovado se não houver objeção do plano por credores que represente mais da metade do total do crédito; b) redução dos honorários do Administrador Judicial para o percentual no máximo de 2% (dois por cento).

Destaca-se que antes do advento da Lei Complementar nº 147 de 2014, ou seja, na edição da LREF em 2005 até a vigência da referida lei complementar, somente o crédito quirografário era submetido aos efeitos do plano especial, o que, com certeza, ensejou na sua inutilização.

Entendeu o legislador, ainda, criar limitação nas condições de pagamento aos credores, atualmente, com o advento da lei complementar, o plano especial da microempresa e empresa de pequeno porte não pode ultrapassar de 36 (trinta e seis) parcelas, atualizadas pela taxa Selic, permitindo deságio e inserir todos os credores, como trabalhista, real e quirografário na condição pré-estabelecida, bem como deverá o pagamento da primeira parcela ser efetuado em até 180 dias da pedido da recuperação judicial.

Outro ponto que consta no plano especial da microempresa e empresa de pequeno porte é a necessidade de autorização para aumento de despesas e contratação de empregados, cuja provocação compete ao comitê de credores.

cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

91Disponível em https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sp/sebraeaz/pequenos-negocios-

em-numeros,12e8794363447510VgnVCM1000004c00210aRCRD Acesso em: 04 de dezembro de 2019.

Ivan Vitale Junior (2017) defende a utilização do plano especial da microempresa e empresa de pequeno porte após a alteração legislativa da LREF, destacando a vantagem para o saldo trabalhista, vez que na recuperação judicial clássica tal crédito deve ser pago em 12 meses, enquanto no plano especial, entende que, desde que os credores tenham sido demitidos antes do ingresso da recuperação judicial, poderão ser pagos no prazo de 36 meses.

Embora, de fato, deve ser mantido um procedimento especial para as empresas que se enquadram como microempresa e empresa de pequeno porte diante da sua importância no mercado, entende-se que a limitação das condições de pagamento, como disciplinado na lei, é uma falha, pois, da mesma forma que ocorria na concordata, não permite que a empresa possa apresentar um plano com base na sua real condição econômica. Nesse sentido, como alerta Paulo Fernando Campos Salles de Toledo (2016, p. 174), o plano especial da micro e pequena empresa “trata-se, basicamente, de simples moratória, sem cunho reorganizacional”.

As condições pré-estabelecidas na LREF acaba acarretando a empresa optar por ingressar com o pedido de recuperação judicial clássica, vez que não é obrigatório a adoção do plano especial, ou, muitas vezes, sequer ingressar com o pedido de recuperação judicial diante do seu complexo procedimento e custo.

Nessa seara, entende-se que deve permanecer o procedimento especial da microempresa e empresa de pequeno porte, porém, sem a limitação de parcelas, a fim de permitir que a empresa possa apresentar uma proposta que se adeque a sua necessidade.

Não obstante a dispensa DA Assembleia Geral de Credores seja uma simplificação no procedimento, deve ser criada uma segunda chamada para objeção do plano, pois a decretação de falência direta da empresa é uma medida grave, o que inibe as empresas optarem pelo procedimento especial.

Sobre o tema, Manoel Justino Bezerra Filho (2019, p. 251) assevera que tal disposição é “desvantagens para o pequeno empresário, pois, para os outros casos de recuperação judicial normal, se houver objeção dos credores, sempre poderá ser afastada pela assembleia geral".

Nessa linha, em que pese defenda-se que, na LREF atual, o juiz pode afastar a objeção abusiva de credor (VITALE, 2017), com base no princípio da preservação da empresa, tal situação não gera segurança jurídica para as empresas, o que leva ao desuso do procedimento especial.

Outro ponto da LREF que parece desarrazoado é a determinação de autorização para contratação de empregado e aumento de custos, a empresa deve manter suas atividades normalmente, a necessidade de aprovação pode engessar a atividade, o que não se justifica diante da dinâmica da empresa.

3.2 Possíveis intepretações sobre os aspectos estruturais da recuperação judicial que contribuem com a preservação da empresa

Conquanto as falhas apontadas na LREF, o aplicador de direito deve buscar atingir a finalidade da lei, no caso: a preservação da empresa, com base no disposto na lei atual.

Para tanto, à luz da segurança jurídica, não se pode contrariar o disposto expresso em lei, cujas consequências podem agravar a utilização do instituto diante dos efeitos no mercado, muito mais do que as próprias falhas da LREF.

Assim, cabe aos aplicadores de direito, como ensinava José Pacheco (1998, p. 07), na vigência da lei anterior, mas ora aplicado na LREF, a busca da finalidade da lei, por meio de intepretação, integração e aplicação das normas:

Assim, tanto os advogados, juristas, membros do MP, quanto juízes e tribunais devem encaminhar, preconizar e efetivar soluções, mediante interpretação, integração e aplicação desses dispositivos, com vista ao soerguimento das empresas, manutenção do seu patrimônio, com o atendimento da produção e da preservação do trabalho, o que conflui para os fins sociais e o bem comum.

Tendo em vista que a LREF deve ser interpretada e aplicada com vista ao princípio da preservação da empresa, apresenta-se as possíveis interpretações de alguns pontos da LREF que podem influenciar o resultado da recuperação judicial.