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Fiscalização preventiva do Código do Trabalho

também V. Barros Moura, A Convenção Colectiva entre as Fontes de Direito de Trabalho Coimbra 1984; As Relações Colectivas de Trabalho pág 8, ponto 113.

2. A Proposta do Código do Trabalho

2.1 Fiscalização preventiva do Código do Trabalho

O Presidente da Republica, no exercício das suas competências e nos termos dos artigos 278.º, nº.1 e n.º 3, da CRP, e artigo n.º 51.º, nº.1, e artigo 57.º, nº.1, da Lei de Organização, Funcionamento de Processo do Tribunal Constitucional, entendeu solicitara apreciação preventiva da constitucionalidade de algumas normas ligadas aos princípios fundamentais transcritos na CRP, atrás referidos.38

Transcreve-se de seguida os preceitos e normas do decreto da Assembleia da República que aprovou o Código do Trabalho bem como os artigos, que segundo o entendimento do senhor Presidente da República poderiam estar a violar, os princípios plasmados nos direitos liberdades e garantias dos trabalhadores, artigo 56º, da Constituição.

38Constituição da República Portuguesa. ref. aos artigos sobre o pedido de fiscalização preventiva por

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Assembleia da Republica nº. 51/IX, que aprova o Código do Trabalho, por eventual violação dos nº. 1, e 3, do artigo 56º., da CRP.

2) Norma resultante da interpretação conjugada dos números 2, 3, e 4, do artigo 557.º, do mesmo Código, por eventual violação dos nº.(s) 3, e 4, do artigo 56.º, da CRP.

No que concerne à matéria e aos artigos directamente estão ligados ao objecto do nosso trabalho, transcrevemos a seguir os fundamentos do pedido de fiscalização

preventiva sobre a eventual violação da CRP, no que a esses artigos diz respeito.

2.1.1 Fundamentos do pedido de fiscalização preventiva

1) Quanto ao artigo 15.º, do Decreto da Assembleia da República nº. 51/IX, que regula o regime transitório de uniformização dos instrumentos de regulamentação colectiva negociais aplicáveis nas empresas e sectores de actividade nos quais se encontrem em vigor um ou mais instrumentos outorgados antes da entrada em vigor do Código do Trabalho.

- As soluções previstas na alínea a) do n.º1, ao atribuir o direito de adesão individual dos trabalhadores a convenção outorgada por sindicatos de que não são filiados, e nas alíneas b) e c) do mesmo numero, ao fazer cessar, logo que verificada a adesão da maioria dos trabalhadores da empresa ou do sector a novo instrumento de regulamentação, os efeitos das anteriores convenções, independentemente da vontade das associações sindicais que as outorgaram ou da vontade dos trabalhadores que pretendessem continuar por elas abrangidos, não apenas podem constituir um desincentivo sério à filiação e participação sindicais, como podem contribuir para a desestruturação das tradicionais relações de representatividade sindical, num sentido que é muito dificilmente compatível com a relevância que a Constituição dá às associações sindicais, e a

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representatividade sindical (artigo 56.º, nº.1), esvaziando, de forma que para algumas associações sindicais pode ser decisiva, o seu direito constitucional à contratação colectiva (artigo 56.º., n.º 3 e 4 da CRP) e à representação dos associados;

2) Quanto ao artigo 4.º, do Código do Trabalho, cujo nº. 1, permite o afastamento das normas do Código, desde que delas não resulte o contrário, por instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, sem explicitar que esse afastamento só é consentido quando se estabeleçam condições mais favoráveis para o

3) trabalhador, como o subsequente nº. 2 faz relativamente ao afastamento de normas do Código por força de cláusulas constantes do contrato de trabalho:

- A possibilidade de actos de natureza não legislativa derrogarem preceitos legais, quer num sentido mais favorável quer num sentido menos favorável ao trabalhador, parece vilar a hierarquia constitucional dos actos normativos e o princípio da tipicidade dos actos legislativos, consagrados no artigo 112.º, nº. 1 e n.º 6, da CRP.

(Ponto 6) Quanto ao artigo 557.º do Código do Trabalho, de cujos nº. 2, 3 e 4 resulta que, decorrido o prazo da chamada Sobrevigência sem que se tenha celebrado nova convenção o sem que se tenha iniciado a arbitragem, a convenção colectiva em vigor cessa os seus efeitos.

- Assumindo a contratação colectiva e a regulação convencional das relações de trabalho a natureza constitucional objectiva e garantias, o legislador, embora constitucionalmente habilitado a densificar o respectivo conteúdo, não pode faze-lo de tal sorte que resulte, ou possa resultar na prática, esvaziado o seu alcance essencial;

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esteja assegurada a entrada em vigor das novas, o legislador ordinário pode estar a determinar a criação, a curto prazo, de um extenso vazio contratual, assim afectando o próprio conteúdo essencial da garantia institucional da contratação colectiva e da regulação convencional das relações de trabalho.

Na nossa modesta opinião, a fundamentação do pedido de fiscalização preventiva do Código do Trabalho no que ao nosso tema diz respeito, abordava e levantava duvidas pertinentes sobre questões importantes ligadas a autonomia colectiva ao direito dos sindicatos, matéria que a CRP considera essencial no exercício à Contratação Colectiva, e também no que concerne a adesão individual dos trabalhadores que em nossa opinião colide com a representatividade dos sindicatos enquanto interlocutores privilegiados como parte activa e representativa dos seus filiados, enquanto comparticipantes financeiros para defesa dos seus direitos e interesses legítimos. Estes pensamentos e duvidas que assaltaram o órgão de soberania presidente da república, provavelmente também assaltaram as consciências de muitos juristas, sindicatos e sindicalistas, trabalhadores e outros agentes envolvidos num processo largamente abrangente, a Contratação Colectiva.

Estas e outras questões foram analisadas pelo Tribunal Constitucional, que decidiu desta forma.

2.1.2 Decisão do Tribunal Constitucional

Como é do conhecimento público, o Tribunal Constitucional pronunciou-se sobre todas as duvidas de inconstitucionalidade ou não, que lhe foram colocadas pelo senhor Presidente da República, e no que concerne à matéria e aos artigos que ao nosso tema dizem respeito,39 a sua decisão foi a de:

1. Não se pronunciar pela inconstitucionalidade da norma resultante da conjugação dos nºs. 2, 3 e 4 do artigo 557.º do Código do Trabalho,40 que prevê que,

39Vide p. 33, da dissertação “A caducidade na contratação colectiva/convenções colectivas e os

Sindicatos”, Lisboa 2012.

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Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 306/2003, Disponivel em www.tribunalconstitucional.pt/tc/acórdãos.

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contractos individuais de trabalho anteriormente celebrados e às respectivas renovações;41

2. Não se pronunciar pela inconstitucionalidade da norma constante da alínea a) do n.º 1 do artigo 15.º do decreto da Assembleia da República n.º 51/IX;

3. Pronunciar-se pela inconstitucionalidade das normas constantes das alíneas b) e c) do n.º 1 do mesmo artigo 15.º, por violação dos n.º 1 e n.º3 do artigo 56.º da CRP:

Em conclusão:

Podemos dizer que a decisão do Tribunal Constitucional não foi unânime quanto às questões levantadas, no entanto o TC decidindo não se pronunciar pela inconstitucionalidade de diversas questões.

O diploma após o retorno à Assembleia da República com a decisão do Tribunal Constitucional em relação às normas que este considerou estarem a violar a Constituição, situação que levou o legislador a corrigir o conteúdo normativo do diploma, tendo feito as correcções e rectificações necessárias das normas, aprovando novamente o diploma enviando-o novamente ao senhor Presidente da República, o qual o promulgou tendo-o enviado para publicação no Diário da República, tendo entrado em vigor na data prevista.