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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA POR EUTROFIZAÇÃO

2.3.2 Floração de cianobactérias

As cianobactérias são em geral micro-organismos aeróbios fotoautotróficos. A fotossíntese é o principal modo de obtenção de energia para o seu metabolismo, entretanto, na organização celular são procariontes e, portanto, muito semelhantes bioquímica e estruturalmente às bactérias (GONÇALVES, 2011). Constituem um grupo de organismos encontrados nos mais variados tipos de ambientes, tais como, marinhos, estuarinos, neve, solo, aéreos, rios, lagos, reservatórios e em águas que estão em bromélias. No entanto, tais organismos se desenvolvem principalmente em águas continentais e marinhas podendo causar sérios problemas à saúde humana e animal (MOURA et al. 2010).

Nos últimos anos tem ocorrido uma grande incidência de florações de algas em todo o mundo o que frequentemente vem sendo associada às condições tróficas da água, sendo a eutrofização cultural, apontada como a principal causa deste fenômeno (MOURA et al. 2010).

Nailza Arruda, 2012 Nailza Arruda, 2012

No entanto, as espécies que fixam nitrogênio atmosférico, como Anabaena spp e

Aphanizomenon spp, podem dominar águas pouco ricas em nutrientes (TUNDISI, 2008).

A crescente preocupação com a presença de florações de cianobactérias deve-se ao fato de que as mesmas são capazes de produzirem e liberarem para o meio líquido toxinas, denominadas também de cianotoxinas, que podem afetar a vida de humanos e de outros vertebrados. Essas toxinas somente são liberadas para o meio externo por meio do rompimento da parede celular de cianobactérias. Tal rompimento ocorre quando há morte celular natural ou pela ação de algicidas como o sulfato de cobre.

A intoxicação ocorre pela ingestão de água, pelo contato, ou ainda, pelo consumo de pescado contaminado com cianotoxinas (SANT’ANNA et al., 2006). Os ambientes de água doce são os mais favoráveis ao seu desenvolvimento com pH entre 6 e 9, temperatura entre 15 e 30 °C e alta concentração de nutrientes. Quando ocorre eutrofização em um corpo hídrico, observa- se que a diversidade do fitoplâncton diminui, todavia ocorre um aumento significativo da biomassa presente. Estes fenômenos são conhecidos como florações (GONÇALVES, 2011). Um caso conhecido com a “Tragédia de Caruaru”, onde quarenta pessoas morreram após tratamento de hemodiálise em uma clínica que utilizou água contaminada por cianotoxinas na cidade de Caruaru, em Pernambuco, no ano de 1996 (QUEVEDO; PAGANINI, 2011).

Esse grupo de organismos especialmente problemático, que pode ser responsável também pela má aparência nos corpos d’água, pode causar grande depleção de oxigênio e mortalidade de peixes e levar à morte o gado e outros animais devido à ingestão dessas toxinas. Diversos distúrbios gastrointestinais humanos podem ser atribuídos ao consumo de água na qual ocorreu florescimento de cianobactérias. Algumas pessoas, em contato com essa água ou com aerossóis emitidos durante os florescimentos de cianobactérias, têm reações alérgicas. As cianobactérias e algumas espécies de clorofitas, ou algas verdes, podem alterar o sabor e o odor da água e dos peixes, e também entopem filtros das unidades industriais ou de tratamento de águas. A biomassa oriunda das florações aumenta o teor de carbono orgânico dissolvido na água e quando essa água passa por tratamento de desinfeção por meio de cloração, podem ser formadas as trialometanos, que são compostos com propriedades potencialmente carcinogênicas e mutagênicas (UNEP-IETC, 2001).

O fenômeno da floração de cianobactérias pode ser favorecido em função da temperatura das águas nas regiões tropicais do planeta. Baptista et al., (2013), comparou dados de lagos brasileiros dominados por cianobactérias, com amostras de água de quatro lagos da Alemanha a fim de investigar o papel do clima tropical sobre a sucessão do fitoplâncton e sua diversidade. Cianobactérias tóxicas foram mais comuns em temperatura acima de 20ºC. Observou-se também uma correlação positiva entre a riqueza e biovolume em lagos em função da temperatura. Ao contrário das regiões tropicais, a diversidade foi muito maior nos

lagos alemães, com uma média anual de biovolume 10 a 18 mm³.L-1. Já a diversidade

encontrada nos lagos brasileiros foi menor, mas com ocorrência de alto biovolume de até 70

mm³.L-1. As variações nas condições climáticas do país europeu foram apontadas pelos

autores como explicação plausível para as mudanças em grupos de plâncton e sua diversidade. No Estado de Pernambuco, os trabalhos que tratam sobre as cianobactérias, reportam à ocorrência de florações, sendo estas compostas principalmente por espécies potencialmente tóxicas, a exemplo das espécies encontradas por Moura et al., (2010) no reservatório de Carpina na zona da mata do Estado e classificado como eutrófico, onde foram identificadas dezoito espécies, das quais cinco são comprovadamente tóxicas.

O monitoramento realizado em 2008 pelo Laboratório de Cianobactérias do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (LACEN/PE) nos reservatórios do Estado, indicou a floração excessiva de cianobactérias, colocando em risco o abastecimento público, sendo constante a ocorrência de altas concentrações desses organismos nos reservatórios da região semiárida do Estado, o que induz a condição do risco da população ser acometida por doenças hepáticas, do sistema nervoso central e outras descritas na literatura (SAÚDE, 2011)

A soma das pesquisas realizadas sobre a evolução, história, ecofisiologia e dinâmica de cianobactérias, sugere seu crescimento sob as condições previstas para mudanças climáticas globais. Muito embora que os detalhes sobre como e quais gêneros responderão a mudança climática sejam menos claros, a causa incidirá sobre os efeitos específicos de mudanças de temperatura e concomitantes de estratificação dos corpos hídricos, bem como, do efeito do

CO2 e do pH da água (O’NEIL et al, 2012).

O Guia da Organização Mundial da Saúde sobre as consequências para a saúde pública da floração de cianobactérias tóxicas, indica, que uma relação ótima N:P (nitrogênio:fósforo) para a floração de algas eucarióticas se encontra na faixa de 16-23, enquanto que a relação

ótima para a floração de cianobactérias se encontra na faixa de 10-16, ou seja, se houver um controle do aporte de fósforo, é possível favorecer a floração de algas eucarióticas em detrimento da floração de cianobactérias (WHO, 1999).