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Técnicas de fertilização e controle do uso de fertilizantes químicos

LP 02.11.11.000094-7 08/11/2014 70 1.078,0 13 Associação dos Aquicultores

5.5 AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS AGRICULTORES E DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS

5.5.3 Técnicas de fertilização e controle do uso de fertilizantes químicos

A necessidade de nutrientes para as plantas podem ser atendida de forma mais adequada com o manejo integrado de nutrientes, considerando os sistemas de produção e características

locais e combinando, adequadamente, nutrientes minerais e biofertilizantes para otimizar as condições de produção, com maior viabilidade econômica, ambiental e social (ROY, 2006). O manejo integrado de nutrientes tem sido muito difundido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e exigidos para empreendimentos agrícolas financiados com recursos do Banco Mundial (IFC, 2007).

Segundo Roy (2006), tais estratégias estão distribuídas em três eixos principais: i) a avaliação da necessidade de aplicação de fertilizantes; ii) as técnicas de aplicação em função da demanda específica de cada cultura; e iii) a manipulação e armazenagem dos produtos para minimizar as perdas e os riscos de contaminação ambiental causadas por vazamentos.

A avaliação da necessidade de aplicação de adubação passa pelo balanço de nutrientes, realizado a partir dos resultados de análises agronômicas do solo. De acordo com Roy (2006), nos países com vocação agrícola apenas 48% dos agricultores constuma efetivamente fazer análises agronômicas sistemáticas, apesar se sua grande importância para racionalizar o consumo de fertilizantes. Em Icó-Mandantes a prática é ainda menos comum, apenas 22% dos agricultores pesquisados realizam anualmente análises agronômicas para dimensionar dosagem de agroquímicos específicos para cada cultura. A grande maioria, 60%, afirmou que não faz a análise do solo de seus lotes pelos seguintes motivos:

− o custo da análise é alto;

− é difícil solicitar e só tem laboratórios no centro de Petrolândia; − nunca precisou fazer;

− não adianta fazer; − esquece de fazer;

− não sabe solicitar nem entende sobre isso;

− quando fez não teve acesso ao resultado e por isso não faz mais.

Dos agricultores que afirmaram realizar análise agronômica, mas sem nenhum critério de frequência estabelecido, a maioria relaciona os laudos às condições de fertilidade, pH e salinização do solo. No entanto, parte deles fez a análise apenas eventualmente, por solicitação da cooperativa, ATER ou por instituições financeiras para concessão de empréstimos, ou ainda porque os custos foram da CHESF. O Gráfico 5.8 mostra a frequência de realização das análises informada pelos agricultores.

Gráfico 5.8 – Frequência informada para realização de análises agronômicas

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

A estimativa de dosagem dos agroquímicos é realizada com base na experiência de aplicações anteriores ou em recomendações fornecidas por técnicos da ATER, ou mais recentemente pelos técnicos e vendedores das lojas de agroquímicos distribuídas no Perímetro.

Em relação ao tamanho dos lotes: i) 59% têm 3 hectares; ii) 20% têm 4,5 hectares; iii) 15% têm 6,0 hectares; iv) 1% têm lotes com apenas 1,5 hectares; e v) 5% dos agricultores dispõem de lotes maiores devido a aquisição ou empréstimos realizados para outros lotes próximos. Dentre as culturas plantadas na região, predominou o cultivo de ciclo curto, principalmente melancia (26%) e abóbora (15%) (Gráfico 5.9). A plantação de coco se destaca entre as espécies típicas de fruticultura, cultivado por 13% dos pesquisados.

A escolha da cultura é fortemente influenciada por fatores como a experiência do agricultor com o cultivo, o preço praticado no mercado ou pelo incentivo de programas institucionais de pesquisa e fomento, como é o caso do plantio de amendoim, que começou 2009 como base experimental para testar variedades desenvolvidas pela EMBRAPA e que contou com a parceria com a CODEVASF e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Gráfico 5.9 – Plantas cultivadas nos lotes irrigados em janeiro de 2014

Em relação à adubação do solo, 68% dos agricultores adotam o uso combinado de fertilizantes naturais (esterco) e químicos. Embora reconheçam os benefícios da adubação natural, 32% aplicam somente fertilizantes químicos. O preço praticado para carga de esterco na região foi apontado como o principal motivo que inviabiliza o uso de adubo natural.

A rotação de cultura, outra técnica recomendada para aumentar a fertilidade natural do solo, não é uma prática muito comum e a incorporação de matéria orgânica para melhorar a estrutura do solo é pouco difundida, muito embora, muitos agricultores adotem a prática de colocar animais, principalmente caprinos e ovinos, para comer a folhagem após a colheita, principalmente, para as culturas de ciclo curto.

Em relação às recomendações e técnicas para aplicação do fertilizante, 35% afirmaram que já receberam orientação dos técnicos da ATER, 25% não receberam e 6% dos agricultores pesquisados disseram que recebem recomendações técnicas quanto à adubação do solo da ATER apenas às vezes. Porém, quando perguntados se aplicavam as recomendações técnicas recebidas, as respostas ficaram divididas: 35% aplicam. 39% não aplicam e 26% dos agricultores aplicam as recomendações apenas às vezes.

Os métodos de aplicação de fertilizantes químicos variam, sendo que, 48% dos agricultores adotam a aplicação manual logo após a abertura de sulcos, que pode ser feitos com a utilização de animais ou tratores. Outros vem usando a fertirrigação ou o uso de aplicadores (Gráfico 5.10). Foi observado também que alguns agricultores utilizam enterrar porções de fertilizantes, preparar misturas com o solo antes de distribuir no lote ou apenas adicionar uma medida de dosagem aplicada próximo à raiz da planta, ou seja, no “pé” da planta.

Gráfico 5.10 – Técnicas adotadas para aplicação de fertilizantes químicos

Quanto à dosagem de produto por hectare, apenas 29% dos agricultores afirmou fazer alguma anotação ou registro sobre a quantidade aplicada de fertilizante. Em geral, o controle de dosagem é feito com base no número de sacos de produtos comprados e serve mais para saber os custos do plantio do que a condição de nutrição das plantas.

A escolha do fertilizante químico ocorre principalmente em função da experiência de uso pelo agricultor, por indicação ou pelo custo do produto. Os agroquímicos comumente adquiridos estão apresentados no Gráfico 5.11.

A formulação comercial 06:24:12 foi a mais citada pelos agricultores, sua designação indica a proporção nitrogênio-fósforo-Potássio (NPK). Ao contrário dos produtos multinutricionais, esse é um adubo simples com nutrientes elementares, embora na formulação de muitos deles também haja outros nutrientes essenciais como o Enxofre (ROY, 2006).

O segundo produto mais citado foi o Mono-Amônio-Fosfato (MAP), que é um fertilizante sólido, fabricado pela reação de amônia com ácido fosfórico e contêm cerca de 11% de nitrogênio e 52% de fosfato. Já o Di-Amônio-Fosfato (DAP), pouco citado pelos agricultores, também pertence a esse grupo de adubos químicos e tem tipicamente 18% de nitrogênio e 46% de fosfato.

Gráfico 5.11 – Produtos utilizados pelos agricultores para fertilização do solo

Um produto relativamente novo para os produtores de Icó-Mandantes e que vem trazendo bons resultados, apesar do custo mais elevado do que os fertilizantes tradicionais, é o Top- Phos. Segundo o fabricante, este produto incorpora um polímero orgânico que protege o

fósforo, impedindo reação com metais e outros componentes do solo (TIMAC AGRO, 2014).

Além dos fertilizantes químicos, os agricultores destacam outras formas de melhorar a fertilidade do solo, práticas como: i) colocar animais para pastar logo após a colheita, usada por 32,4%; ii) incorporação da matéria orgânica, citada por 29,5%; e iii) aplicação de calcário no solo para 19,0% dos os agricultores pesquisados (Gráfico 5.12).

Para os agricultores que adotam a prática de fornecer a vegetação remanescente das culturas de ciclo curto como pastagem (Foto 5.12), foi observado que o proprietário dos animais é comumente um parente ou amigo próximo do agricultor.

A incorporação no solo de ácidos húmicos como técnica de melhoramento do solo foi citada apenas por 1% dos agricultores. Esse resultado reflete a indicação de baixo conhecimento sobre tecnologia de aprimoramento das condições de fertilidade e do uso de fertilizantes. As substâncias húmicas originam-se da degradação matéria orgânica e são importantes condicionadores de solo. Segundo Borsari (2013), esses compostos, contribuem para melhoria da capacidade de troca catiônica dos solos, possuem a habilidade de formar complexos com vários íons metálicos e agem como tamponantes da reação do solo em ampla faixa de pH.

Gráfico 5.12 – Práticas alternativas empregadas pelos agricultores para melhoria das condições de fertilidade do solo

Foto 5.12 – Prática adotada após colheita com folhagem utilizada para pastagem de animais

Tais características as tornam um dos principais fatores que governam a dinâmica e disponibilidade dos nutrientes no solo, sobretudo para a disponibilização do fósforo adsorvido na fração argila, ou complexado com íons, como cálcio, formando o precipitado fosfato cálcico, indisponíveis para a maioria dos vegetais, pois os ácidos húmicos complexam (sequestram) o cálcio solúvel e protegem os fosfatos da interação cálcio-fosfato.

De forma geral, os fertilizantes químicos não são classificados como perigosos. Porém, alguns desses produtos têm em sua formulação, componentes oxidantes e reativos que podem ser potencialmente perigosos em condições inadequadas de manuseio, uso ou armazenagem. Por exemplo, os fertilizantes a base de nitrato de amônio ou outros nitratos, em decomposição por altas temperaturas podem e liberar gases tóxicos, ou erroneamente, podem ser usados para fabricar explosivos. Outros desses produtos têm propriedades corrosivas que podem causar queimaduras na pele e lesões oculares, como é o caso do fosfato de ureia, nitrato de cálcio e superfosfato triplo, ou ainda apresentam incompatibilidade química com outros produtos, como é o caso da ureia com fertilizantes à base de nitrato de amônio.

Outros aspectos do manuseio e armazenagem inadequados dos fertilizantes estão relacionados à perda e rendimento e qualidade dos produtos, em muitos casos por absorção de umidade, que podem deixar as partículas mais moles e pegajosas, dificultar o espalhamento ou obstruir equipamentos de dosagem, além de aumentar as perdas por empedramento (ROY, 2006). Condições inadequadas de armazenagem também aumentam os riscos de contaminação do solo, águas superficiais e subterrâneas em decorrência de derramamentos acidentais.

Em Icó-Mandantes, não foram previstas estruturas construtivas para estocagem de produtos ou equipamentos dentro dos lotes irrigados. Conforme apresentado no Gráfico 5.13. A

Nailza Arruda, 2014 Nailza Arruda, 2014

estocagem de fertilizantes químicos é realizada dentro dos lotes agrícolas para 58,4% dos agricultores pesquisados, sendo que as práticas adotadas para armazenagem são distintas: 25% deles improvisaram pequenas instalações com cobertura para manter os produtos e 33,3% fazem a armazenagem utilizando áreas embaixo de árvores com ou sem a utilização de lonas plásticas para cobrir os produtos. (Foto 5.13).

Para 35,7% dos agricultores, a armazenagem temporária dos fertilizantes químicos fica localizada dentro de suas casas e depois é transportado pelo agricultor para o lote à medida que ele for realizando a aplicação ou realizar preparação de solução quando a aplicação ocorre por fertirrigação. Apenas 6% dos agricultores afirmaram que compram quantidades reduzidas para evitar a armazenagem e realizam a aplicação no mesmo dia que recebem o produto.

Gráfico 5.13 – Práticas de armazenagem de fertilizantes químicos

Fonte: Elaborado pela autora, 2014.

Foto 5.13 – Condições de armazenamento dos agroquímicos e a aplicação de fertirrigação

Nailza Arruda, 2014 Nailza Arruda, 2014

Em geral a armazenagem de fertilizante nos lotes é precária e aumentam os riscos de contaminação e absorção de umidade e consequente perda de rendimento dos produtos. O uso de Equipamentos Individual de Proteção (EPI) não é frequente por parte dos agricultores. Cerca de 46% afirmaram que usam os equipamentos, 31% não utilizam e 23% usam apenas às vezes. Sendo que, a necessidade de utilização dos equipamentos de proteção é sempre relacionada à aplicação de defensivos agrícolas e não para aplicação de fertilizantes. A armazenagem, uso e manipulação dos fertilizantes químicos deve ser realizada de forma a manter a qualidade do produto, prevenir danos à saúde dos agricultores e suas famílias, bem como, reduzir riscos de vazamentos e contaminações ambientais. No entanto, essa realidade ainda não está difundida entre os agricultores do Icó-Mandantes.