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3. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (ETEPS)

3.3. Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS)

3.3.3. Floresta Nacional (FLONA)

A primeira menção à Floresta de domínio da União, dos Estados ou Municípios, constou do art. 5°, alínea b, do Código Florestal, instituído pela Lei Federal n°

4.771/196519, que previu a possibilidade de virem a ser criadas Florestas Públicas com fins econômicos, técnicos ou sociais, inclusive reservando áreas ainda não florestadas e destinadas a atingir aquele fim.

Regulamentando o dispositivo, foi editado o Decreto Federal n° 1.298, de 17 de outubro de 1994, estabelecendo que, para os fins a que se destina o regulamento em referência, eram consideradas Florestas Nacionais “as áreas assim delimitadas pelo Governo Federal, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilidade, em parte ou no todo, constituindo-se bens da União, administradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, sob a supervisão do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal” (art. 1°, § 1°).

De acordo com o aludido Decreto, as Florestas Nacionais constituíam áreas de domínio público, providas de cobertura vegetal nativa ou plantada, estabelecidas com os seguintes objetivos, a serem contemplados no Plano de Manejo20: (i) promover o manejo dos recursos naturais, com ênfase na produção de madeira e outros produtos vegetais; (ii) garantir a proteção dos recursos hídricos, das belezas cênicas, e dos sítios históricos e arqueológicos; (iii) fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica básica e aplicada, da educação ambiental e das atividades de recreação, lazer e turismo (art. 1°).21

19 Redação original do Código Florestal:

“Art. 5° O Poder Público criará: [...]

b) Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, com fins econômicos, técnicos ou sociais, inclusive reservando áreas ainda não florestadas e destinadas a atingir aquele fim.

Parágrafo único. Fica proibida qualquer forma de exploração dos recursos naturais nos Parques Nacionais, Estaduais e Municipais.”

20

Observe-se, a esse respeito, o Decreto Federal n° 1.298/1994:

“Art. 3° A preservação e o uso racional e sustentável das FLONAS, consentâneas com a destinação e os objetivos mencionados no art. 1° deste Decreto, far-se-ão, em cada caso, de acordo com o respectivo plano de manejo. Parágrafo único. O Plano de Manejo de que trata este artigo conterá, além de programas de ação e de zoneamento ecológico-econômico, diretrizes e metas válidas por um período mínimo de cinco anos, passíveis de revisão a cada dois anos, pelo IBAMA.”

21 “Art. 1° As Florestas Nacionais FLONAS são áreas de domínio público, provida de cobertura vegetal nativa

ou plantada, estabelecidas com os seguintes objetivos:

Por ser de domínio público, havia, desde sempre, a necessidade de regularização fundiária das áreas da Floresta Nacional, por meio de desapropriação e indenização das áreas privadas inseridas em seus limites (art. 7°).

Para cumprimento de seus objetivos, as Florestas Nacionais deviam ser administradas visando a (i) demonstrar a viabilidade de usos múltiplos e sustentável dos recursos florestais e desenvolver técnicas de produção correspondente; (ii) recuperar áreas degradadas e combater a erosão e sedimentação; (iii) preservar recursos genéricos in situ e a diversidade biológica; e (iv) assegurar o controle ambiental nas áreas contíguas (art. 1°, § 2°).

É de se destacar a existência de previsão expressa determinando que a criação de Florestas Nacionais deveria decorrer de proposta devidamente justificada a partir de estudos de levantamentos realizados pelo IBAMA (art. 2°). Caberia ao IBAMA autorizar, caso não fosse hipótese de licenciamento nos termos da Lei Federal n° 7.805, de 18 de julho de 198922, a realização de quaisquer atividades no interior das Florestas Nacionais, especialmente de pesquisas (art. 4°).

O aludido Decreto também estabeleceu que as Florestas Nacionais teriam regimentos internos aprovados pelo IBAMA, os quais deveriam observar as seguintes premissas: (i) toda e qualquer infraestrutura a ser implantada em quaisquer

II - garantir a proteção dos recursos hídricos, das belezas cênicas, e dos sítios históricos e arqueológicos;

III - fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica básica e aplicada, da educação ambiental e das atividades de recreação, lazer e turismo.

§ 1° Para efeito deste Decreto consideram-se FLONAS as áreas assim delimitadas pelo Governo Federal, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilidade, em parte ou no todo, constituindo-se bens da União, administradas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, sob a supervisão do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal.

§ 2° No cumprimento dos objetivos referidos no caput deste artigo, as FLONAS serão administradas visando: a) demonstrar a viabilidade do uso múltiplos e sustentável dos recursos florestais e desenvolver técnicas de produção correspondente;

b) recuperar áreas degradadas e combater a erosão e sedimentação; c) preservar recursos genéricos in-situ e a diversidade biológica. d) assegurar o controle ambiental nas áreas contíguas”.

22 “Art. 16. A concessão de lavras depende de prévio licenciamento do órgão ambiental competente.”

“Art. 17. A realização de trabalhos de pesquisa e lavra em áreas de conservação dependerá de prévia autorização do órgão ambiental que as administre.”

das Florestas Nacionais deverá constar do respectivo Plano de Manejo, e limitar-se-á ao estritamente necessário, com um mínimo impacto sobre a paisagem e os ecossistemas; (ii) é vedado o armazenamento, ainda que provisório, de lixo, detritos e outros materiais que possam causar degradação ambiental, nas dependências das Florestas Nacionais; e (iii) os resíduos originários de atividades permitidas nas Florestas Nacionais serão tratados de acordo com normas aprovadas pelo IBAMA (art. 6°).

O Decreto ainda estabeleceu que a cota da compensação financeira de que trata a Lei Federal n° 8.001, de 13 de março de 199023, provenientes da exploração de recurso mineral no interior da Floresta Nacional a ser aplicada em proteção ambiental, seria destinada ao suporte financeiro da Floresta Nacional em que for explorado o recurso mineral (art. 5°).

Merece especial destaque o fato de o Decreto em referência ter estabelecido, em seu art. 8°, que caberia ao Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal regulamentar a forma pela qual poderia ser autorizada a permanência, no interior das Florestas Nacionais, de populações tradicionais que comprovadamente habitavam a área antes da data de publicação do respectivo decreto de criação.

Segundo Rodrigues (2005, p. 174), a Floresta Nacional foi “a categoria pioneira na abordagem da questão da permanência em seu interior de populações tradicionais”, embora, “na prática, porém, sua finalidade sempre esteve mais voltada à produção de produtos e subprodutos florestais, com pouco destaque para a proteção de outros valores ambientais”.

23 Lei Federal n° 8.001/1990: “Define os percentuais da distribuição da compensação financeira de que trata a Lei

nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e dá outras providências.”

Lei Federal n° 7.990, de 29 de dezembro 1989: “Institui, para os Estados, Distrito Federal e Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, e dá outras providências (Art. 21, XIX da CF)”

Tal como ocorreu com as demais Unidades de Conservação, as normas que dispunham sobre a Floresta Nacional foram revogadas com o advento da Lei Federal n° 9.985/2000.

Atualmente, o art. 17 da Lei Federal n° 9.985/2000 define a Floresta Nacional como “uma área com cobertura vegetal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas”.

A lei ainda estabelece que as áreas que compõem a Floresta Nacional devem ser de posse e de domínio públicos, devendo ser desapropriadas as propriedades de particulares eventualmente inseridas em seus limites (art. 17, § 1°).

Não obstante, se restar constatado no processo de criação da Unidade que a área é habitada por populações tradicionais, sua permanência será admitida, conforme vier a ser estabelecido no regulamento da lei e no Plano de Manejo (art. 17, § 2°).

A visitação pública é permitida; está, contudo, condicionada às normas estabelecidas em regulamento pelo órgão responsável por sua administração (art. 17, § 3°). A pesquisa, por sua vez, é permitida e incentivada, mas dependerá de prévia autorização do órgão responsável pela administração da Unidade, além das condições e das restrições por ele estabelecidas, além daquelas previstas em regulamento (art. 17, § 4°).

A Lei Federal n° 9.985/2000 previu também que a Floresta Nacional terá um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes (art. 17, § 5°). Por fim, quando a Floresta Pública for instituída pelo Estado ou por Município, será denominada, respectivamente, de Floresta Estadual e Floresta Municipal (art. 17, § 6°).

Cabe destacar que a Lei de Gestão de Florestas Públicas (LGFP), objeto do presente estudo, instituiu mecanismos para o fomento da gestão sustentável desse tipo de Unidade de Conservação, conforme será abordado mais adiante em tópico específico.