3. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (ETEPS)
3.4. Outros aspectos de interesse previstos na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)
3.4.1. Regras gerais para criação e gestão de Unidades de Conservação
O art. 22 da Lei Federal em comento estabelece as regras para a criação de Unidades de Conservação.
Nos termos da lei, as Unidades de Conservação devem ser criadas por ato do Poder Público e precedidas de estudos técnicos e de consulta pública, com vistas à identificação da localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a
"O comando inserto na disposição, ao permitir a extração de recursos naturais em Reservas Particulares do Patrimônio Natural, com a única exceção aos recursos madeireiros, desvirtua completamente os objetivos dessa unidade de conservação, como, também, dos propósitos do seu instituidor. Por outro lado, tal permissão alcançaria a extração de minérios em área isenta de ITR e, certamente, o titular da extração, em tese, estaria amparado pelo benefício. Justifica-se, pois, o veto ao inciso III do § 2o do art. 21, certo que contrário ao interesse público".
Unidade (art. 22, § 2°) e, bem assim do grupo e da categoria mais adequadas à preservação e à conservação dos atributos naturais que justificam a sua criação.
O Decreto Federal n° 4.340, de 22 de agosto de 2002, se ocupou de regulamentar parte substancial da lei, estabelecendo, a respeito do ato de criação de Unidade de Conservação, a obrigatoriedade de constar (i) a denominação – que deve observar a sua característica natural mais significativa, a sua denominação mais antiga, especialmente as referentes às designações indígenas ancestrais (art. 3°) – a categoria de manejo, os objetivos específicos, os limites, a área da unidade, o órgão responsável por sua administração, (ii) a população tradicional beneficiária, nos casos das Reservas Extrativistas e das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, (iii) a população tradicional residente, quando couber, no caso das Florestas Nacionais, Estaduais ou Municipais, (iv) as atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional envolvidas (art. 2°).
No ato da consulta pública, dispensável para a Estação Ecológica e para a Reserva Biológica (Lei Federal n° 9.985/2000, art. 22, § 4°), o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e aos demais interessados no assunto (Lei Federal n° 9.985/2000, art. 22, § 3°, e Decreto Federal n° 4.340/2002, art. 5°, § 2°). Do contrário, o procedimento restará viciado e poderá ensejar a nulidade do ato que criou a Unidade de Conservação.
Nos termos do art. 4° do Decreto Federal n° 4.340/2002, competem ao órgão executor proponente a elaboração dos estudos técnicos preliminares e a realização, quando for o caso, de consulta pública e dos demais procedimentos necessários à criação da Unidade.
A consulta pública tem por finalidade subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a unidade. Ela é materializada por meio de reuniões públicas ou por outras formas definidas pelo órgão executor proponente para oitiva da população local e das partes interessadas (art. 5°. § 1°).
A legislação ainda estabelece a possibilidade de as Unidades de Conservação de Uso Sustentável serem convertidas, total ou parcialmente, em categorias do grupo de Proteção Integral. Para tanto, é preciso que a alteração seja procedida por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico daquele que criou a Unidade (lei ou decreto), observados os procedimentos de consulta pública (art. 22, §5°). No mesmo sentido deve ser procedida a ampliação dos limites da Unidade de Conservação, quando não houver alteração dos limites originais, exceto pelo acréscimo proposto (art. 22, § 6°).
A desafetação28 ou a redução dos limites de Unidade de Conservação, por sua vez, só poderá ser procedida mediante lei ou decreto específicos (art. 22, § 7°).
Sobreleva notar, ainda, que o art. 22-A da Lei Federal n° 9.985/2000, inserido pela Lei Federal n° 11.132, de 4 de julho de 2005, previu a possibilidade de se decretar limitações administrativas provisórias ao exercício de atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento e obras públicas licenciadas, não sendo permitidas atividades que importem em exploração a corte raso da floresta e demais formas de vegetação nativa (art. 22-A, § 1°).
Tal providência, similar a ideia de tombamento provisório contida no Decreto Lei n° 25, de 30 de novembro de 193729, visa a garantir a realização dos estudos ambientais necessários à criação das Unidades de Conservação, quando restar caracterizado, após avaliação do órgão ambiental competente por sua realização, a existência de risco aos recursos naturais existentes na área objeto de estudo.
28
“Afetação é a preposição de um bem a um dado destino categorial de uso comum ou especial, assim como a desafetação é sua retirada do referido destino” (BANDEIRA DE MELLO, 2010. p. 915).
29 “Art. 10. O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será considerado provisório ou definitivo,
conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo”
A limitação administrativa prevista no art. 22-A da Lei do SNUC tem prazo de validade, ou seja, a conclusão dos trabalhos previstos, com a definição quanto à destinação final da área, deverá ser feita no prazo de sete meses, improrrogáveis, ao cabo do qual será extinta.
A lei ainda prevê ser proibida a introdução de espécies não autóctones nas Unidades de Conservação, com exceção às Áreas de Proteção Ambiental, das Florestas Nacionais, das Reservas Extrativistas e das Reservas de Desenvolvimento Sustentável. Também é permitida a permanência de animais e plantas necessários à administração e às atividades das demais categorias de Unidades de Conservação, de acordo com o que se dispuser em regulamento e no seu Plano de Manejo. Em adição, nas áreas particulares localizadas em Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais permitem-se a criação de animais domésticos e o cultivo de plantas, desde que considerados compatíveis com as finalidades da unidade, de acordo com o que dispuser o seu Plano de Manejo (art. 31).
Observe-se, ainda, a existência de previsão legal que estabelece integrar o limite das Unidades de Conservação o subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na estabilidade do ecossistema protegido (vide regulamentação contida nos arts. 6° e 7° do Decreto Federal n° 4.340/2002).
3.4.2. Órgãos integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da