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4. CONSEQUÊNCIAS DA OCUPAÇÃO

4.2 FLUXO DE REFUGIADOS

Um dos maiores problemas causados pela Guerra Civil afegã foi o grande fluxo de pessoas saindo do país para fugir do Talibã. Para entender a proporção da situação, é importante mencionar que, em 2007, havia, no mundo, 8 milhões de refugiados afegãos, sendo que maioria se localizava no Iraque e no Paquistão (MARGESSON, 2007, p. 2).

Segundo o relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) realizado em 2019, no século XXI os Afegão representam um dos maiores contingentes de refugiados conforme pode-se de observar na Figura 12.

Figura 12: Número absoluto de Refugiados segundo o relatório do ACNUR

Fonte: UNHCR, 2019.

A repatriação dessas pessoas, portanto, foi uma meta importante para o governo estadunidense – não apenas para promover um alívio para a União Europeia, destino de muitos afegãos, mas também para ser coeso com o discurso apresentado até então. Na figura 13, é possível ver quantos refugiados Afegãos foram repatriados desde 2002.

Figura 13: Número de afegãos repatriados desde 2002, separados de acordo com país em que se localizavam e se possuíram ajuda da Agência da ONU para Refugiados (UNHCR ou

ACNUR) ou não

Fonte: UNHCR, 2006.

Como é possível ver na Figura 13, mais pessoas foram assistidas pela ACNUR no período entre 2002 e 2006. Não só isso, mas, mais pessoas buscaram refúgio no Paquistão, país sob forte influência pelo seu ramo do Talibã, do que no Irã. Tal decisão pode decorrer da diferença entre as práticas religiosas; enquanto maioria dos iranianos.

Figura 14: Síntese dos dados quanto a questão dos Refugiados em 2019

Fonte: UNHCR, 2019.

Figura 15: Síntese dos dados quanto a questão dos Refugiados em 2019

Fonte: UNHCR, 2019.

Com base na Figura 14 e 15, e focando principalmente na condição Afegã, percebe-se o fracasso da promessa estadunidense de estabilizar a democracia pós Talibã, bem como a garantia das liberdades individuais, pois com base nos dados da Figura 14 e 15, apenas em 2019, cerca de 2,9 milhões de Afegãos e Afegãs se refugiaram principalmente em território Paquistanês devido a perseguição política e religiosa no Afeganistão.

É mais importante, no entanto, notar a drástica redução no número de repatriados anualmente entre 2002 e 2006. Com a rápida reinserção de pessoas no Afeganistão, o qual não possuía estrutura suficiente para receber todos eles, a pobreza entre a população do Estado, que já se encontrava entre os mais pobres do mundo, se agravou muito rapidamente, deixando milhares de pessoas em situações decadentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intuito inicial do presente trabalho foi analisar os eventos que resultaram no returno do Talibã ao poder no Afeganistão, e consequentemente, de um dos maiores fracassos militares dos Estados Unidos da América. Foi possível, no entanto, também compreender os diversos fatores geográficos e históricos que tornam o território afegão atraente para potências mundiais e regionais, além de uma avaliação profunda da ocupação estadunidense ocorrida de 2001 até 2021.

O estudo procurou garantir a compreensão do cenário geopolítico afegão ao longo do século XX e XXI, em especial a ocupação soviética, a criação do grupo jihadista Talibã e a Guerra Civil que se alastrou até o início do século seguinte.

Ademais, foi compreendido o interesse estadunidense em um Estado soberano localizado em um continente completamente diferente, a relação com o interesse da União Soviética e as consequências geradas por tal.

Por meio do uso de metodologias como a Pesquisa Exploratória e a Revisão Sistemática de Literatura (que implica a análise de obras de diversos autores e sua posterior categorização), foi possível concluir que há um consenso entre pesquisadores, nos quais a autora se inclui, de que o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, não foi o motivo pelo qual os Estados Unidos iniciaram a Guerra ao Terror, mas sim aquele que se tornou o estopim.

Por mais que George W. Bush tenha apresentado a ação contra o Afeganistão conseguiu mostrar ao mundo de uma vez por todas o motivo pelo qual ele é chamado de Cemitério de Impérios. Por mais que os Estados Unidos certamente não estejam felizes com a maior falha militar de sua história, seu governo deveria parar de intervir em Estados estrangeiros e respeitar a tal

“soberania nacional” que aparenta valorizar tanto.

Os objetivos desse artigo foram atingidos, pois, por meio de diferentes estratégias metodológicas, foi possível comprovar que os objetivos Estadunidenses na ocupação do território Afegão, não teve como finalidade em momento algum a garantia de respeito aos direitos humanos da população afegã, ao contrário do que foi afirmado em 2004 pelo então presidente George W. Bush. Os motivos por trás da ocupação foram única e exclusivamente a retaliação dos ataques terroristas e o controle das reservas de petróleo e gás natural presentes no Afeganistão – todas as outras ações foram apenas discursos para apaziguar a comunidade internacional ou efeitos colaterais da decisão estadunidense.

Nessa perspectiva, acredito que esse trabalho seja extremamente importante para comprovar a necessidade de mudanças no cenário geopolítico de um paradigma imperialista no sistema internacional para um modelo baseado na colaboração, democracia e na solidariedade global, visando construir um mundo justo, sustentável e inclusivo.

É necessário também verificar lacunas que se mostram urgentes referentes ao desenvolvimento do presente estudo, como a dificuldade de acesso a informações oficiais dos Estados envolvidos no conflito, bem como também acesso gratuito a artigos, tese e dissertações que abordem a questão Afegã sem estar condicionando ao pagamento para uso das fontes, o que implica no compartilhamento de textos e imagens sobre o tema.

Dessa forma, refletindo sobre as possibilidades futuras desencadeadas pela presente pesquisa, é importante a realização de estudos que consolidem dados objetivos sobre os impactos da ocupação estadunidense em território afegão, como a estagnação econômica, a fragilização de instituições democráticas e o desrespeito aos direitos humanos, contrariando o discurso hegemônico estadunidense imperialista, que justifica a presença em outros Estados para assegurar a liberdade e a democracia em países com forte instabilidade política.

Ainda sobre as possibilidades de indicações futuras para o encaminhamento de pesquisas relacionadas aos impactos da ocupação estadunidense em território afegão, são necessários a reflexão e o aprofundamento sobre conceitos como imperialismo e poder, e também buscar compreender os interesses chineses e russos sobre o território Afegão, além de investigar casos de Estados que passaram por forte instabilidade política econômica objetivando compreender suas estratégias

para a superação das dificuldades imputadas por um processo de ocupação perverso e desumano.

Por fim, é necessário pautar os estudos em geopolítica fundamentalmente para acolher e ajudar os países do sul, a combater suas principais mazelas e construir estratégias em âmbito global, visando a superação dos problemas crônicos que afetam a humanidade. Essa pesquisa defende que os direitos humanos sejam considerados valores universais e que possam sobrepor os interesses econômicos e políticos de qualquer Estado Nacional.

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