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FOGO EM RORAIMA: QUESTÕES E ATUAÇÃO GOVERNAMENTAL 1 Breve histórico e localização

FOGO: UM CONTRAPONTO DE PERCEPÇÃO

2.2 “USO DO FOGO POR AGRICULTORES FAMILIARES EM RORAIMA: CONFLITOS E INTERVENÇÕES SOCIOAMBIENTAIS”

2.3 FOGO EM RORAIMA: QUESTÕES E ATUAÇÃO GOVERNAMENTAL 1 Breve histórico e localização

Desde o século XIV que estrangeiros aventuram-se pela Amazônia. Em 1542, Francisco Orellana, desceu o Rio Amazonas de Quito até a sua foz, relatos registrados na obra Descubrimiento del Rio de las Amazonas.

Coube ao português Pedro Teixeira, um dos grandes heróis da Amazônia, o batismo do principal rio de Roraima, o rio Branco. Em relatos do século XVII, são disponibilizadas informações que vários religiosos conheciam e administravam povoados por aquelas bandas do rio citado, conforme alegado no Perfil Territorial do Estado de Roraima (GTE/RR, 2003).

Com o objetivo de aprisionar indígenas (para serem vendidos como escravos), as tropas de resgate e as expedições de descimento intensificaram-se na região por volta de 1727. Período em que os holandeses começaram a invadir aquelas plagas e foram seguidos por espanhóis. Em 1752, os portugueses, seguidores da geopolítica pombalina, iniciaram a construção do Forte de São Joaquim do Rio Branco, o qual foi concluído em 1788. Esse Forte foi o grande marco da colonização e defesa do território brasileiro mais ao norte do país.

Em termos de colonização da região do rio Branco, ela iniciou-se com a Fazenda São Bento (onde foi introduzido o gado na região, o que foi determinante na ocupação, na conquista e na preservação de todo o vale do rio Branco, para Portugal e para o Brasil), fundada por Lobo D’Almada, em 1789, seguidas pelas Fazendas São José e São Marcos, respectivamente fundadas em 1794 e 1799. Esta última deu origem à Terra Indígena São Marcos, localizada na Roraima setentrional (Miranda, 2003, p.11-18).

Em torno de 1830, nasceu a primeira fazenda particular do vale do rio Branco: a Fazenda Boa Vista, que passou a ser referência na região. Mais tarde, em 1958, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco, com sede no lugar denominado Boa Vista – essa

freguesia compreendia território desde as corredeiras do rio Branco até Boa Vista. Em 9 de julho de 1890, foi criado o município de Boa Vista do Rio Branco, desmembrando-se de Moura, município do Amazonas. Getúlio Vargas, em 1943, transformou o município em Território Federal de Rio Branco, que teve a denominação modificada em 13 de dezembro de 1962 para Território Federal de Roraima2 (Miranda, 2003, p. 19-23).

A criação do território teve como objetivo alavancar o desenvolvimento local e cuidar melhor dessa área considerada estratégica. O crescimento continuou muito lento, mesmo com os recursos e incentivos dos governos militares nos anos 60 e 70. Esses investimentos melhoram a infra-estrutura, atraíram empresários e trabalhadores, sobretudo para a pecuária (gado de corte) e o extrativismo vegetal (madeira e castanha) e mineral (ouro e cassiterita). O rápido crescimento populacional, de 28 mil habitantes em 1960 para 260 mil em 1995, e a aceleração da atividade econômica levam o estado a conviver com agudos problemas sociais, como as disputas de terras não-legalizadas e os conflitos entre fazendeiros, garimpeiros e as populações nativas. Há um sério conflito, por exemplo, cercando a reserva dos Yanomamis, de 9,4 milhões de ha. Ela é vista por muitos como impedimento à exploração das riquezas do estado (HISTÓRIA DE RORAIMA, mídia nos estados, em www.dicas.com.br, , 24 set 2005).

Com a promulgação da Constituição Federal da República de 1988, Roraima foi elevada a categoria de estado, herdando todos os problemas fundiários, indígenas e socioambientais.

Importante frisar que a política de ocupação do vale do rio Branco não nasceu por acaso. É apontado nos registros do Centro de Informações da Diocese de Roraima (Índios de Roraima, Coleção histórico-antropológica nº 1, do CIDR) fato elucidador. Em 1741, o holandês Nicolau Hostman largou seus compatriotas na Guyana e foi a Belém do Pará. Lá chegando, foi preso e longamente interrogado. Uma notícia surpreendeu aos seus inquisidores: a de que os espanhóis estavam conquistando o norte do rio Branco. Mas, apesar da surpresa, não deram, os portugueses, a devida atenção para o fato. Passaram-se 30 anos para que os portugueses ocupassem o rio Branco. Um fato, porém, foi determinante para que isto acontecesse: enquanto espanhóis, holandeses e ingleses acreditavam no mito do ELDORADO, que por aqui existiria, os portugueses jamais acreditaram. Não demonstraram, todavia, grande interesse pelo extremo norte (HISTÓRIA DE RORAIMA, em www.bvroraima.com.br/qindigena6.htm, 24 set 2005).

Parece que hoje se vive algo semelhante, só que os portugueses de outrora são os brasileiros de hoje e os estrangeiros são aqueles e outros. Um breve cruzamento entre áreas indígenas e localização do mapa de minérios de Roraima evidenciará que a riqueza mineral está depositada em solo de Terra Indígena - TI, delimitado pelo Governo Federal e povoado pelos

2 A palavra Roraima vem de Roro-imã, que significa monte verde, na língua indígena pémon (ingarikó), mas o nome do Estado é uma referência ao Monte Roraima, uma formação pré-cambriana, de 2.875 metros de altitude.

próprios indígenas e estrangeiros de diferentes matizes (oriundos de organizações não- governamentais e outras entidades), sendo vedada a entrada de brasileiros nessas áreas. ONGs internacionais balizam e estimulam as homologações de TI e impõem soluções aos problemas nacionais. A história segue o seu curso. Hoje há uma grande polêmica sobre a homologação da TI Raposa Serra do Sol, palco de grandes conflitos entre fazendeiros, indígenas, órgãos federais e estaduais.

Segundo o Perfil Territorial do Estado de Roraima (GTE/RR, 2003), o estado está integrado na Amazônia Legal (AL), tem área total de 225.116 km2, possui quinze municípios e corresponde a 4% da AL e a 2,6% do território nacional. Situa-se no extremo norte do Brasil e suas terras estão no Hemisfério Norte (95%) e Sul. Seus limites internos são com o Amazonas, ao leste, e com o Pará, a oeste. Os limites internacionais são com a República da Guiana, ao norte e a oeste, e com a Venezuela, ao norte (Fig 2.1). Sua população é de 324.397 habitantes (censo 2000), com 214.659 eleitores (2002). Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2000, foi de 0,749 e a sua capital é Boa Vista (IDH de 0,779), com 214.541habitantes (censo 2000), com uma densidade demográfica de 37,57 hab/km2.

Fig 2.1: Amazônia Legal e Mapa Político de Roraima Fonte: Agencia de Desenvolvimento da Amazônia/Iteraima-RR, 2005

A localização geográfica favorece ao escoamento da produção local e a do vizinho estado do Amazonas por intermédio de Puerto Ordaz, na Venezuela, a 700 Km de distância, alcançando, assim, os principais mercados internacionais - Europa, Estados Unidos e América Central – economizando em frete cerca de 6.000 km, se comparado com as regiões Sul, Sudeste

e Centro-Oeste do Brasil. Por outro lado, o acesso ao mercado internacional poderá ser efetivado através do Porto de Itacoatiara, localizado no Estado do Amazonas, distando 1.012 km de Boa Vista.

2.3.2 Atuação governamental e gestão do fogo em Roraima

Após o IF de 1998, os governantes roraimenses, assustados com a dimensão e repercussão do fogo no Brasil e no exterior, e com as externalidades socioeconômicas e de saúde causadas pelo próprio fogo e pela fumaça, adotaram medidas corretivas imediatas para combater potenciais descontroles de queimadas e os famigerados IF. Criaram o Comitê Estadual de Prevenção e Controle de Queimadas e Combate a Incêndios Florestais e as Brigadas Municipais,

treinadas para o combate aos IF, assim como para realizarem queima controlada junto à comunidade. Hoje, essas brigadas estão localizadas em nove municípios e têm entre vinte e trinta brigadistas cada uma. O Quadro 2.1 expõe a localidade e suas respectivas brigadas, bem como as Bases Avanças do CBMil.

O Comitê Estadual de Prevenção, Controle de Queimadas e Combate a Incêndios Florestais (Cpcif)3, teve como fato gerador a celebração de convênio entre a Seplan/RR e o Ibama, para desenvolver as ações do Programa de Monitoramento e Controle de Queimadas Florestais no Arco do Desflorestamento na Amazônia Legal, no Estado de Roraima. Seus membros efetivos eram: Seplan, Ibama/RR, Incra/RR, Defesa Civil, A Policia Militar, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seaab). Como membros convidados, poderiam participar: Funai, Exército, Prefeituras Municipais, departamento Estadual de Estradas e Rodagem (DER), Ministério Públicos Federal (MPF) e Aeronáutica.

Tabela 2.1: Brigadas Municipais e Bases Avançadas do CBMil existentes em RR.

Município Quantidade de Brigadas/Localidade Bases Avançadas - CBMil Pacaraima 01 – maloca Sorocaima II Maloca Boca da Mata

Amajarí 02 – na sede (Vila Brasil) e Vila