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Fomento a Finanças Solidárias com Base em Bancos Comunitários e Fundos Solidários

Capítulo 4 – A Política Pública de Economia Solidária: estrutura formal e material

4.1 Estrutura Formal

4.1.8 Fomento a Finanças Solidárias com Base em Bancos Comunitários e Fundos Solidários

A falta de acesso ao crédito é a segunda maior dificuldade manifestada pelos EES segundo o Atlas da Economia Solidária (ANTEAG, 2009). O mercado bancário tradicional possui grandes restrições de dar crédito aos empreendimentos da economia popular e solidária, por acreditar que existe um risco muito grande de calote pois são empreendimentos geralmente informais e que necessitam de créditos em valores pequenos para os bancos operarem. Os bancos tradicionais no Brasil possuem dificuldade em lidar com o microcrédito por este também ser muito pequeno, apesar que nos últimos anos os bancos têm ampliado esta linha de crédito por perceber a lucratividade, mesmo que baixa, nestes empréstimos.

Sabendo da demanda por crédito dos EES, a SENAES estruturou uma política de acesso a crédito através do fomento às finanças solidárias articulada com desenvolvimento territorial de comunidades pobres. São iniciativas de economia solidária no campo das finanças solidárias os bancos comunitários de desenvolvimento48, fundos rotativos solidários e cooperativas de crédito por exemplo. Toda a discussão para implantação das políticas de finanças solidárias foram realizadas dentro de um Grupo de Trabalho (GT) de finanças solidárias em que participam representantes da SENAES e das entidades da sociedade civil.

Foram apoiados projetos específicos de fomento à fundos rotativos solidários e de microcrédito no nordeste, com parceria do Banco do Nordeste do Brasil. O Ministério do

48 São bancos geridos pela comunidade que combinam a emissão de uma moeda social circulante local para induzir o

consumo na localidade com microcrédito para fomentar a produção popular e solidária local. Estes bancos são instrumentos de desenvolvimento territorial de comunidades pobres e de maior organização política e comunitária.

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Desenvolvimento Social (MDS) também apoiou com recursos financeiros o projeto de fundos no nordeste.

Em 2005 existiu uma parceria com a Fundação Banco do Brasil e o Instituto Palmas para a expansão de Bancos Comunitários, o que possibilitou o avanço e constituição de uma Rede Nacional de Bancos Comunitários de Desenvolvimento. O Banco do Brasil também apoiou com recursos para microcrédito e linhas de crédito para o Instituto Palmas e a SENAES com colaboração técnica na organização e gestão destes bancos (BRASIL, 2011). Em 2010 foi feita uma chamada pública nacional para fomento a Bancos Comunitários e Fundos Rotativos Solidários. No caso dos Bancos, a chamada foi dentro do PRONASCI em parceria com o Ministério da Justiça (MJ) para criar mais 115 novos bancos comunitários de desenvolvimento nos chamados Territórios da Paz.

Todo este apoio permitiu que durante o período de existência da SENAES fossem criados 63 bancos comunitários em todo o Brasil. Desta forma, com exceção do Banco Palmas, pioneiro desta metodologia (criado em 1998), todos os demais foram criados após 2004. Embora a maioria dos bancos comunitários ainda se concentre no estado do Ceará (35), já existe uma distribuição regional destas experiências: Amazonas (1), Bahia (4), Espírito Santo (4), Maranhão (1), Mato do Grosso do Sul (1), Pará (2), Piauí (3), Paraíba (1), Rio de Janeiro (4), Rio Grande do Sul (1) e São Paulo (5). (BRASIL, 2011: 180)

Para cada projeto executado ou dialogado pela secretaria foi criado um comitê gestor em que representantes da sociedade civil faziam parte. Os espaços de participação e articulação para Finanças Solidárias e Microcrédito foram:

 Comitê Gestor do Projeto Produtivo Solidário PAPPS, do convênio SENAES-BNB (2005 - 2011);

 Comitê Gestor do Fundo de Apoio Social – FAS (2005 -2006);

 Comitê Gestor ampliado para a Política Nacional de Fundos Solidários (2005 - 2011);

 Grupo Interministerial de Microfinanças, Microcrédito e Cooperativismo de Crédito que criou entre outros atos normativos, a Lei 11.110/2005, que trata do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (2005 - 2006);

 GT Interministerial para o Ano Internacional do Microcrédito (2005);

 Comitê Gestor do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, na função de secretaria executiva do referido comitê (2006 – 2009);

 Comitê Temático de Finanças Solidárias e Crédito do CNES;

 Sub-Grupo de Apoio aos Fundos Solidários do Comitê Temático de Finanças Solidárias e Crédito do CNES; e

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 Comitês Gestores específicos das finanças solidárias com base em Bancos Comunitários e em Fundos Solidários (2010 – 2011). (BRASIL, 2011: 169)

Além dos parceiros já citados como a FBB, o BB, o BNB, o Instituto Palmas, o MDS e o MJ, os projetos de finanças solidárias também tiveram como parceiros a ABCRED, a Cáritas Brasileira, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na área do microcrédito, a parceria principal se deu com o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), executado pelo MTE. Já foi exposto como funciona tal programa no capítulo 2 e no próximo item sobre as relações com os ministérios, será aprofundado como se deu a relação deste projeto com a economia solidária.

4.1.9 Promoção do Desenvolvimento Local e da Economia Solidária por meio da Atuação de Agentes de Desenvolvimento Solidário

Em 2005, a SENAES iniciou um Projeto de Etnodesenvolvimento Econômico Solidário em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) em comunidades remanescentes de quilombos para fomento à geração de renda e organização coletiva do trabalho. Como estratégia adotada, o projeto contratou Agentes de Desenvolvimento Solidário nestas localidades.

Com a experiência exitosa deste projeto, a secretaria desenvolveu em 2006 o Projeto Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária (PPDLES) com o intuito de ampliar para outras comunidades a experiência do projeto de Etnodesenvolvimento. Os objetivos deste projeto era fomentar o desenvolvimento local de comunidades pobres, com a geração de trabalho e renda e de iniciativas da Economia Solidária. Assim, realizou cursos de capacitação para os agentes de desenvolvimento solidário e coordenadores, que geralmente faziam parte da própria comunidade beneficiada pelo projeto. Foram investidos R$ 8.400.000,00 (oito milhões e quatrocentros mil reais) nas ações do PPDLES nos anos de 2006 e 2007 (BRASIL, 2011).

A partir de 2008 o programa passa a se chamar Programa Brasil Local – Desenvolvimento e Economia Solidária por questão de reformulação das estratégias do projeto anterior, “buscando dar foco cada vez maior na participação das comunidades nos processos de

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promoção do desenvolvimento local solidário e sustentável” (IDEM: 72). As modalidades do projeto eram:

 Modalidade A: Projeto Brasil Local – Desenvolvimento e Economia Solidária;

 Modalidade B: Projeto Brasil Local – Etnodesenvolvimento e Economia Solidária;

 Modalidade C: Projeto Brasil Local – Economia Solidária e Economia Feminista;

 Modalidade D: Projeto Brasil Local – Articulação Nacional das Ações.

Neste primeiro ano, o Brasil Local possuía 510 agentes, de todos os estados brasileiros.