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FONTES DAS OBRIGAÇÕES BASEADAS NO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

No documento direito-das-obrigacoes-II-lara-geraldes.pdf (páginas 40-53)

O CONTRATO

Negócios Jurídicos

§1: NEGÓCIO JURÍDICO. Cumpre reter a seguinte distinção tradicional: • Negócios jurídicos unilaterais: possuem apenas uma parte

• Negócios jurídicos multilaterais: possuem duas ou mais partes

o Negócios bilaterais ou contratos: possuem apenas duas partes

Por parte entende-se, nesta sede, o titular de um interesse, e não uma pessoa individualmente considerada. Esta acepção, por isso, implica que duas ou mais pessoas constituam uma única parte, desde que ligadas por um interesse comum. Nos contratos, por

A referência a “interesse” é, como sabemos, discutida pela doutrina: MENEZES

CORDEIRO critica aquilo a que apelida de verdadeira “jurisprudência dos interesses”, já que

os intervenientes num negócio jurídico unilateral podem ter interesses diversos, sem prejuízo de uma posição comum.

MENEZES CORDEIRO propõe, deste modo, a seguinte classificação:

• Negócios jurídicos unilaterais: os efeitos desencadeados não diferenciam as pessoas que intervieram.

o Tende a existir apenas uma pessoa, uma declaração e um interesse.

• Contratos: os efeitos desencadeados diferenciam duas ou mais pessoas. o Tende a existir várias pessoas, várias declarações e vários

interesses.

MENEZES LEITÃO critica esta acepção, propugnando antes o critério da necessidade

de uma declaração negocial ou de duas ou mais, como critério delimitador de negócios jurídicos unilaterais e bi/multilaterais. Atenta-se, aqui, ao modo da formação do negócio, e não já aos “interesses” subjacentes ou aos “efeitos” desencadeados.

Face a esta primeira abordagem, podemos concluir o seguinte:

• A doação é um contrato: exige duas declarações negociais [art. 940º].

• A doação pura a um incapaz é um negócio jurídico unilateral: produz efeitos independentemente de aceitação [art. 951º-2].

• Os efeitos da doação são sempre os mesmos, seja ela um contrato ou um negócio unilateral: art. 954º.

O contrato é, enfim, o resultado de duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente concordantes entre si, de onde resulta uma estipulação unitária de efeitos jurídicos.

§1: QUANTO À FORMA. O princípio do consensualismo [art. 219º] determina que,

salvo casos excepcionais, o simples consenso das partes deve ser operativo em relação à constituição do contrato. Daqui se extrai que:

• As declarações podem ser exteriorizadas por qualquer meio.

Excepcionalmente, existem disposições que exigem forma especial que, a não ser observada, redunda em nulidade [art. 220º] – normas excepcionais, insusceptíveis de aplicação analógica [art. 11º].

Quanto à forma, os contratos podem ser:

• Contratos formais: a forma da declaração negocial encontra-se especialmente prevista [vg arts. 875º, 947º-1 e 1143º].

• Contratos não formais: a exteriorização da declaração negocial pode ser feita por qualquer meio [vg oralidade].

Em concluir, importa recordar a seguinte distinção fundamental da Teoria Geral do Direito Civil:

• Forma: maneira como o contrato se revela e como se exteriorizam as declarações de vontade.

o Ad substantiam o Ad probationem

• Formalidade: exterior ao próprio negócio, servindo para complementá-lo.

§2: QUANTO AO MODO DE FORMAÇÃO. Quanto ao modo de formação, os contratos

podem ser:

Contratos reais quoad constitutionem: para a sua celebração exige-se tradição ou entrega da coisa objecto. São exemplos o penhor, comodato, mútuo e depósito [contratos pelos quais “uma das partes entrega”…] ou a doação verbal de coisas móveis, art. 947º-2.

o Razões:

 Históricas: comodato, mútuo e depósito  De ponderação: doação

 De publicidade: penhor

• Contratos consensuais: para a sua celebração a entrega da coisa é dispensada. Neste âmbito, uma significativa doutrina portuguesa seguiu a concepção germânica de que as partes, ao abrigo da autonomia privada, poderiam dispensar o requisito de tradição da coisa, excepto tratando-se de penhor de coisas [art. 669º], cuja tradição tem efeito constitutivo [VAZ SERRA, MOTA PINTO, ALMEIDA COSTA, MENEZES CORDEIRO e CARVALHO

FERNANDES]. Contra este entendimento, pronunciaram-se PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA.

MENEZES LEITÃO defende que quando a lei exige imperativamente a tradição para a

constituição do contrato [vg arts. 669º e 947º-2 – “só produz efeitos” e “só pode ser feita”], esta não pode ser dispensada pelas partes. O mesmo se verifica nos restantes casos [arts. 1129º, 1142º e 1185º], já que a exigência da tradição tem a utilidade de não permitir que a execução do contrato ocorra numa fase posterior à da declaração negocial [contra MENEZES

CORDEIRO]. Admitir-se alterações decorrentes da autonomia privada permitiria a

coexistência de um comodato real com um comodato consensual, etc, implicando defender dois regimes contraditórios entre si para um mesmo contrato.

§3: QUANTO AOS EFEITOS. Quanto aos efeitos, os contratos podem ser:

• Contratos constitutivos, modificativos, transmissivos ou extintivos de direitos e de obrigações

• Contratos reais: originam uma situação jurídica que se reconduz a um direito real.

• Contratos obrigacionais: originam uma situação jurídica que se reconduz a direitos de crédito e a obrigações.

Cumpre atender ao disposto no art. 408º-1, que determina que a transmissão dos direitos reais sobre coisas ocorre por mero efeito do contrato [regra geral – quoad effectum]: para tal, as coisas têm que ser presentes, determinadas e autónomas de outras coisas [art. 408º-2: transferência da propriedade diferida para momento posterior]. A regra geral corresponde, assim, ao denominado sistema do título [admitindo-se a dissociação entre posse e direito real]: a transmissão do direito real não depende de qualquer acto posterior, como a

tradição da coisa ou o registo. Nestes termos, o adquirente da coisa é seu proprietário desde o momento da celebração do contrato, correndo o risco da perda ou deterioração da coisa a partir desse momento [art. 796º-1].

Indiciámos já algumas excepções a esta regra, que ora cumpre apreciar [art. 408º-2] – excepções legais ao princípio geral da transferência imediata:

Coisas futuras: o momento da transferência da propriedade é o da aquisição da coisa pelo alienante [vg A promete doar um anel a B a 11 de Outubro. Entretanto, B promete vendê-lo a C, em Dezembro do mesmo ano. A propriedade do anel transmite-se para C a 11 de Outubro, quando o anel é doado ao alienante, B]. Ressalva: regime aplicável à compra e venda, e não à doação ou à empreitada [arts. 880º e 942º-1].

o

Coisas relativamente futuras: art. 211º. O efeito translativo depende da constituição da propriedade [ou de outro direito real] sobre essa coisa por parte do alienante.

o

Coisas absolutamente futuras: não existem ainda na realidade jurídica e fáctica. O direito só será adquirido a partir do momento em que a coisa tiver existência [tornar-se numa coisa presente], transferindo-se por mero efeito do contrato.

Coisas indeterminadas: a transferência da propriedade verifica-se no momento em que a coisa é determinada com conhecimento de ambas as partes. Regime aplicável às obrigações alternativas [art. 543º] – o efeito translativo está associado com a escolha da prestação, desde que conhecida das partes [normalmente, do devedor]. Ressalva: regra não abrange as obrigações genéricas [arts. 539º e 540º] – o efeito translativo dá-se com a concentração [normalmente, com o cumprimento], salvo o disposto no art. 541º.

Frutos naturais e partes componentes ou integrantes: a transferência da propriedade verifica-se no momento da colheita ou da separação [obrigação de entrega do devedor, art. 880º].

Excepções convencionais ao princípio geral da transferência imediata [art. 408º-1]: a transmissão do direito real pode ser diferida mediante acordo de termo [art. 796º-2] ou condição [art. 796º-3], apostos ao contrato.

Em qualquer caso, a transmissão da propriedade continua a realizar-se por efeito do contrato, e é consequência directa deste.

§4: RESERVA DE PROPRIEDADE. Como consequência lógica do que supra §3 foi

referido, o comprador torna-se imediatamente proprietário da coisa vendida no momento de celebração do contrato de compra e venda, vg, podendo aliená-la de imediato, mesmo que esta ainda não lhe tenha sido entregue ou que o preço ainda não tenha sido pago [na totalidade] – cfr. art. 408º-1. O vendedor, esse, tem o direito de crédito de cobrar o preço: quando não tenha qualquer preferência no pagamento, concorre com todos os credores comuns do comprador sobre o património deste [art. 604º-2]. Acresce o facto de que o vendedor não pode resolver o contrato por incumprimento da outra parte a partir do momento em que ocorra a transmissão da propriedade e a entrega da coisa [arts. 801º-2 e 886º]. Esta realidade é ilustrada pelos inconvenientes e riscos da compra e venda a crédito [com espera do preço, enfim].

À convenção entre o vendedor e o comprador pela qual o alienante reserva para si a propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte, ou até à verificação de qualquer outro evento, designa-se cláusula de reserva de propriedade [art. 409º - pactum reservati domini]. Neste caso, a transmissão da propriedade é diferida para o momento do pagamento [integral] do preço, sem exigência de qualquer publicidade, dependendo a transferência desse facto futuro e incerto [o pagamento]. Esta convenção pode ser celebrada em relação a quaisquer bens, sendo que quando respeite a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a cláusula de reserva de propriedade constante do registo é oponível a terceiros [art. 409º-2]. Tratando-se de uma coisa móvel não sujeita a registo, a eficácia da cláusula é meramente inter partes, em face do princípio da relatividade dos contratos [art. 406º-2]. Extinguir-se-á, todavia, se o terceiro adquirir a propriedade a título originário [vg usucapião ou acessão].

A cláusula de reserva de propriedade defenderá o vendedor das eventuais consequências do incumprimento do contrato pelo comprador, sendo que a conservação da propriedade no vendedor até ao pagamento impede outros credores de executarem o bem [vs art. 604º-2]. Verificado o incumprimento definitivo por parte do comprador, o vendedor pode resolver o contrato, já que ainda não transmitiu a propriedade da coisa [cfr. arts. 801º-2 e 886º].

Em caso de venda a prestações em que haja tradição da coisa, o vendedor não pode resolver o contrato se o comprador faltar ao pagamento de uma única prestação que não exceda 1/8 do preço [inferior à oitava parte do preço]. Pode, sim, resolver o contrato se o comprador faltar a mais do que uma prestação, independentemente da proporção da mesma na quantia total em dívida, ou a apenas uma, superior à oitava parte do preço [art. 934º]. Esta norma data de 1966 [versão originária do CC]: o legislador concebia já o consumidor como a parte mais fraca, que merece tutela do Direito.

§5: NATUREZA JURÍDICA DA RESERVA DE PROPRIEDADE. Face à configuração

dogmática desta figura, pronunciaram-se GALVÃO TELLES, ANTUNES VARELA e ALMEIDA

COSTA no sentido de que seria equiparável a uma condição suspensiva: a transmissão da

propriedade ficaria subordinada a um facto futuro e incerto, o pagamento do preço. O comprador seria, nestes termos, um adquirente condicional [arts. 273º, 274º e 796º-3, 2ª parte].

MENEZES LEITÃO considera inaceitável que o vendedor suporte o risco pela perda ou

deterioração da coisa [art. 796º-3, 2ª parte], mesmo após entrega ao comprado, conforme a solução supra propugna. A partir da tradição, é o comprador quem está investido nos poderes de uso e fruição da coisa, enquanto que a reserva da propriedade na esfera do vendedor apenas assegura a recuperação do bem, em caso de não pagamento do preço. O risco deve, por isso, correr por conta de quem beneficia do direito: por conta do comprador, enfim, e a partir da entrega da coisa [brocardo ubi commoda, ibi incommoda].

CUNHA GONÇALVES concebe a teoria inversa: a cláusula de reserva de propriedade

seria equiparável a uma condição resolutiva, já que a propriedade seria logo transmitida para o comprador mas, verificado o incumprimento do pagamento do preço, ocorreria a resolução

dos efeitos do negócio jurídico, com eficácia retroactiva, sendo a propriedade “recuperada” pelo vendedor [art. 886º].

MENEZES LEITÃO dirige uma vez mais críticas a esta teoria: este entendimento

entraria em contradição com o disposto nos arts. 409º-1 e 304º-3: “é lícito ao alienante reservar para si a propriedade da coisa até ao cumprimento” e “se prescrever o crédito ao preço, pode o vendedor, não obstante a prescrição, exigir a restituição da coisa quando o preço não seja pago”.

Qualquer dos entendimentos supra padece do vício de classificar a cláusula de reserva de propriedade enquanto uma condição, seja ela suspensiva ou resolutiva, já que a condição é a cláusula acessória do negócio jurídico que determina a subordinação dos seus efeitos a um acontecimento futuro e incerto [art. 270º]. Trata-se, sim, de uma alteração da ordem de produção dos efeitos negociais:

• Sem a reserva, a transmissão da propriedade ocorre antes do pagamento do preço [por mero efeito do contrato, enfim: art. 408º-1].

Com a reserva, a transmissão da propriedade ocorre depois do pagamento [é diferida para momento póstumo, enfim].

Em conclusão, MENEZES LEITÃO considera que uma vez que o negócio translativo já foi celebrado, o comprador já tem uma expectativa jurídica de aquisição do bem. A natureza jurídica da reserva de propriedade relaciona-se, assim, com a expectativa real de aquisição do direito real, expectativa oponível a terceiros.

ROMANO MARTINEZ entende que sempre que tenha havido entrega da coisa, o risco

tem-se por transferido, servindo-se de quatro argumentos:

• O princípio do cumprimento

O perecimento da coisa por causa não imputável ao alienante corre por conta do adquirente/proprietário [art. 796º-1]

O risco do perecimento da coisa, em virtude de contrato que dependa de condição resolutiva, corre por conta do adquirente/proprietário se a coisa lhe tiver sido entregue [art. 796º-3]

A reserva de propriedade é a condição resolutiva que obsta à resolução do contrato, pelo devedor, com fundamento na falta de pagamento do preço [art. 886º].

Nestes termos, o adquirente com reserva de propriedade beneficia do direito de retenção previsto no art. 754º, segundo ROMANO MARTINEZ.

§6: QUANTO À RECIPROCIDADE DAS OBRIGAÇÕES. Quanto à reciprocidade das

obrigações, os contratos podem ser:

Contratos sinalagmáticos: contratos que originam obrigações recíprocas para as partes, ficando ambas simultaneamente na posição de credores e de devedores [art. 879º b) e c), vg]. Emergem para ambas as partes direitos e deveres, recíprocos e interdependentes.

• Contratos não sinalagmáticos:

o Unilaterais: apenas uma das partes assume uma obrigação

o Bilaterais imperfeitos: uma das partes assume uma obrigação, mas a outra realiza a prestação – vg mandato].

MENEZES CORDEIRO propõe uma classificação autónoma:

• Contratos monovinculantes: apenas uma das partes fica vinculada ao cumprimento da obrigação.

• Contratos bivinculantes: a vinculação à obrigação existe em relação a ambas as partes.

O contrato-promessa unilateral [assim apelidado pelo art. 411º] seria, segundo este entendimento, um contrato sinalagmático, já que implica prestações correlativas [as declarações de ambas as partes], ainda que monovinculante [apenas uma das partes se vincula a prestar].

Contra este entendimento, MENEZES LEITÃO considera que não há qualquer sinalagma no contrato-promessa unilateral, já que só uma das partes está obrigada/vinculada a celebrar o contrato definitivo. A declaração negocial não pode ser vista como uma obrigação nem pode ser exigida.

Regressemos, por isso, à primeira classificação deste âmbito: a classificação de contratos quanto à existência de obrigações recíprocas [maxime os contratos sinalagmáticos]. O surgimento de uma prestação está ligado ao surgimento de uma contraprestação: o denominado sinalagma genético [nexo final]. Como consequência lógica deste nexo final, as prestações surgem interdependentes e uma não deve ser executada sem a outra.

Este sinalagma, também designado sinalagma funcional, tem manifestações em diversos institutos do Direito das Obrigações:

Excepção do não cumprimento: art. 428º [vg A, dealer de droga, combina com B entregar uma mala com cocaína num local público, em troca de uma mala com o preço acordado, a efectuar em simultâneo].

Resolução por incumprimento: art. 801º-2.

• Extinção do contrato sinalagmático por impossibilidade de uma das prestações: art. 795º-1.

Na base desta concepção encontram-se exigências de justiça comutativa e de equilíbrio contratual.

§7: QUANTO ÀS ATRIBUIÇÕES PATRIMONIAIS. Quanto às atribuições patrimoniais, os

contratos podem ser:

• Contratos onerosos: implicam atribuições patrimoniais para ambas as partes [vg contrato de compra e venda: o vendedor abdica da coisa e o comprador do preço, art. 874º].

Contratos gratuitos: implicam atribuições patrimoniais para apenas uma das partes [vg doação e comodato, arts. 940º e 1129º].

• Contratos onerosos ou gratuitos, dependendo: mútuo, mandato e depósito, arts. 1145º, 1158º e 1186º.

o

Mútuo: quando oneroso [art. 1145º-1], não é sinalagmático – todos os contratos reais quoad constitutionem, mesmo que onerosos, nunca são sinalagmáticos.

Contratos onerosos e gratuitos, simultaneamente: contrato a favor de terceiro, vg [art. 443º] – relação triangular.

Neste âmbito, cumpre ainda apreciar a seguinte distinção:

Contratos comutativos: ambas as atribuições patrimoniais se apresentam como certas.

• Contratos aleatórios: pelo menos uma das atribuições patrimoniais se apresenta como incerta

o Quanto à sua existência o Quanto ao seu conteúdo

o Exemplo: contrato de jogo e aposta [art. 1245º], contrato de renda vitalícia [art. 1238º] e contrato de seguro.

Esta distinção só é possível quanto aos contratos onerosos.

§8: OUTRAS CLASSIFICAÇÕES. Cumpre ainda reter as seguintes classificações de

contratos:

• Quanto à previsão do regime legal:

o Contratos típicos: o regime está previsto na lei.

o

Contratos atípicos: o regime é imposto pela prática comum, falando- se a esse propósito de uma “tipicidade social” ou de um “tipo social” [vg contrato de franquia ou franchising].

Quanto ao nomen iuris:

o

Contratos nominados: reconhecidos pela lei através de um nomen iuris. Podem, por sua vez, ser típicos ou atípicos.

 Atípico: contrato de hospedagem [art. 755º b]

o

Contratos inominados: a lei não os designa através de um nomen iuris. São sempre atípicos.

§9: CONTRATOS MISTOS. Os contratos mistos reúnem em si regras de dois contratos

total ou parcialmente típicos. Assumem-se como contratos atípicos, já que não correspondem integralmente a nenhum tipo contratual regulado por lei.

Paradoxalmente, a sua atipicidade resulta da adopção de dois ou mais contratos que são, per se, típicos, suscitando conflitos dos regimes a aplicar.

Constituem categorias de contratos mistos:

1. Contratos múltiplos ou combinados: contratos nos quais as partes estipulam que uma delas deve realizar prestações correspondentes a dois contratos típicos distintos, enquanto que a outra realiza uma única contra- prestação comum.

o

Exemplo: venda de automóvel + prestação de serviços de conduzi-lo.

2. Contratos geminados ou de tipo duplo: contratos nos quais uma parte se encontra obrigada a uma prestação típica de certo tipo contratual e a outra se encontra obrigada a uma contra-prestação, de outro tipo contratual.

o Exemplo: arrendamento + prestação de serviços de limpeza do prédio.

Para estes tipos de contratos [1. e 2.], GALVÃO TELLES propõe a aplicação da teoria da combinação: aplicação combinada dos vários regimes em causa. MENEZES LEITÃO considera que esta será a solução tendencial para os dois tipos de contratos em apreço, de modo menos rígido quanto propugna GALVÃO TELLES.

3. Contratos indirectos, mistos stricto sensu ou cumulativos: contratos nos quais é usada uma estrutura própria de um tipo contratual para preencher uma função típica de outro tipo contratual.

o

Exemplo: venda de um imóvel a preço residual, meramente simbólico, a título de liberalidade/doação.

4. Contratos complementares: contratos em que são adoptados os elementos essenciais de um determinado contrato mas aparecem acessoriamente elementos típicos de outro(s) contrato(s).

o Exemplo: venda de automóvel + prestação de serviços acessória de manutenção do veículo.

Para estes tipos de contratos [3. e 4.], GALVÃO TELLES propõe a aplicação da teoria da absorção: deve-se optar a favor de um único regime contratual. MENEZES LEITÃO considera que esta é a teoria que tendencialmente se aplicará aos dois tipos de contratos em apreço, de modo menos rígido quanto propugna GALVÃO TELLES.

ALMEIDA COSTA discordou de ambos os entendimentos, sustentando, na teoria da

analogia, a não aplicação de nenhum dos regimes, tratando-se de contratos integralmente atípicos que devem obedecer à Parte Geral do Direito das Obrigações. Perante lacunas de regime, a integração deveria ser feita com recurso à analogia. MENEZES LEITÃO considera que esta teoria merece um afastamento liminar, já que a integral atipicidade dos contratos mistos não corresponde à sua natureza.

MENEZES CORDEIRO e ANTUNES VARELA pronunciaram-se no sentido da ponderação

caso a caso, entre as duas primeiras teorias apresentadas por GALVÃO TELLES.

§10: UNIÃO DE CONTRATOS. Ao contrário dos contratos mistos conforme enunciados

supra §9, na união de contratos não existe um contrato apenas, já que os vários elementos dos tipos contratuais não se dissolvem para formar um único contrato.

Na união de contratos verifica-se, sim, a celebração conjunta de diversos contratos, unidos entre si. Cada contrato mantém a sua autonomia e pode ser individualizado em face do conjunto.

Cumpre reter as seguintes modalidades de união de contratos:

União externa: a ligação entre os vários contratos resulta apenas de serem celebrados ao mesmo tempo [vg ir a um café e pedir um bolo e um maço de cigarros] – art. 417º-1, 1ª parte.

União interna: os contratos apresentam-se ligados entre si por uma relação de dependência, unilateral ou bilateral [vg só comprar um computador se for vendida uma impressora, conjuntamente] – art. 417º-1, 2ª parte.

a produção de efeitos de um dos contratos e excluindo a produção de efeitos do outro [vg celebração de dois contratos de arrendamento, em cidades diferentes, com a condição de só vigorar aquele respeitante à cidade onde o sujeito for colocado pela sua empresa].

§11: SUBCONTRATO. O subcontrato é um negócio jurídico bilateral sujeito à

disciplina geral dos contratos.

Com efeito, uma das partes no subcontrato terá que ser parte noutro negócio jurídico, enquanto que o subcontraente é, em regra, estranho à relação contratual base. O negócio base tem necessariamente que ser um contrato duradouro e celebrado sem intuitu personae. O intermediário é parte nos dois contratos, pelo que não se desvincula da

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