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Fontes do Direito Parlamentar

No documento Atos parlamentares e costume constitucional (páginas 47-51)

PARTE I – O PARLAMENTO E OS ATOS JURÍDICO-PÚBLICOS

5. Fontes do Direito Parlamentar

O direito parlamentar, como micro sistema jurídico, possui diversas fontes de criação. Isto se dá pela sua complexidade, pois abarca várias questões como reflexo da complexa atividade do parlamento e de suas relações com os demais poderes e órgãos estatais121.

Diante do que foi dito acima, as fontes de criação do direito parlamentar, são divididas em dois grupos, segundo a lição de Jorge Miranda: normas em sentido estrito (pois relativas diretamente ao parlamento), e normas que, embora não digam respeito apenas ao parlamento, são também fontes em face de sua importância prática122.

Como fontes do primeiro grupo, continua a lição do mestre ao indicar a constituição, as leis ordinárias relativas ao parlamento, o regimento do parlamento, os costumes e a jurisprudência123.

119

JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL, 2003. p. 18.

120JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL,

2003. p. 15.

121JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL,

2003. p. 214.

122

JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL, 2003. p. 215-216.

123JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL,

E, respeitante ao regimento, podem existir mais de um regimento, a acentuar ainda mais a complexidade caracterizadora do direito parlamentar.

Exemplificando, em Portugal, a Assembléia da República Portuguesa possui apenas um regimento, uma vez que o Parlamento nacional é unicameral (art. 110º, nº 1, e art. 147º, da Constituição da República Portuguesa).

O Brasil por sua vez já possui uma caracterização diferente, consistindo em um Poder Legislativo bicameral, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, sendo que a reunião de ambos configura o Congresso Nacional. Dessa forma, possui o Brasil em matéria de regimentos parlamentares três distintos, um para cada casa legislativa citada e um para o Congresso Nacional.

Para o segundo grupo de fontes são elencadas as normas internas dos partidos políticos com representação no parlamento, os acordos políticos entre partidos ou entre o Governo e estes ou aqueles partidos, as normas de cortesia constitucional e as praxes e as convenções parlamentares124.

Note-se que tal profusão de normas criadoras do direito parlamentar, como já dito acima, decorre justamente de sua complexidade. Com efeito, o direito parlamentar abarca “normas substantivas sobre a estrutura do parlamento, os sujeitos de ação parlamentar e as relações com os cidadãos”. Além destas, as organizatórias e as procedimentais125.

Conforme a lição do Autor, é possível a existência do costume jurisprudencial constitucional como fonte do direito constitucional. Isto porque, considera-se viável que o conjunto de decisões emitidas pelo tribunal possam consolidar, diante desta repetição, um costume, como por exemplo nas ações declaratórias de inconstitucionalidade. Inclusive, tal entendimento se aplicaria no sistema do tipo francês, considerando ainda que haveria a possibilidade de tal costume jurisprudencial existir em Portugal nos termos do art. 119, nº 1, alínea g, da Constituição Portuguesa126.

Na esteira deste entendimento, na lição do Autor, dos tribunais é possível emanarem normas jurídicas constitucionais, na medida em que sua jurisprudência

124JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL,

2003. p. 216.

125JORGE MIRANDA. Direito constitucional III, direito eleitoral e direito parlamentar. Lisboa: AAFDL,

2003. p. 214.

126JORGE MIRANDA. Manual de direito constitucional, tomo II, 7ª edição. Coimbra: Coimbra, 2013,

concretiza o direito e, quando tal jurisprudência se dá de maneira generalizante pode nascer a norma constitucional. Assim, em qualquer sistema constitucional são fontes normativas a lei, o costume e a jurisprudência, pois a variedade se dá apenas quanto ao grau delas127.

Tal entendimento é seguido pela doutrina francesa, pois, segundo Pierre Avril e Jean Gicquel, no rol das fontes escritas do direito parlamentar pode ser citada a jurisprudência emanada dos tribunais.

Na França, segundo o entendimento dos citados Autores, a jurisprudência do Conselho Constitucional francês pode ser considerada como uma fonte do direito constitucional, pois como o Conselho justamente é considerado o intérprete autêntico da constituição, ao realizar tal interpretação ele extrai o conteúdo constitucional das normas constitucionais, fazendo com que haja o caráter criador do direito em suas decisões, fazendo com que estas se tornem uma “fonte secundária” do direito parlamentar128.

Mas os próprios Autores reconhecem ter mudado seus entendimentos, pois antes faziam parte daqueles que negavam o caráter de fonte do direito à jurisprudência. Na visão anterior, sustentavam que não podia a jurisprudência ser considerada fonte do direito constitucional porque uma regra constitucional é imposta a todos e cumprida pelo legislador ou pelo juiz. E que, por isso, as decisões judiciais podem ser modificadas a qualquer momento e, portanto, o juiz sairia da condição de cumpridor para a de criador da lei, somado ao fato de que a competência judicial deve ser conforme à constituição e não para criar norma constitucional a cada decisão129.

Alegam os Autores que mudaram sua posição quanto ao tema, pois entendem que o desenvolvimento da jurisprudência constitucional deve ser encarado de uma forma “menos dogmática”, o que resultou no entendimento atual acima exposto aceitando a jurisprudência como fonte pelas razões ali expostas pelos próprios Autores130.

127JORGE MIRANDA. Manual de direito constitucional, tomo II, 7ª edição. Coimbra: Coimbra, 2013,

p. 147-148.

128PIERRE AVRIL; JEAN GICQUEL, Droit parlementaire, 3ª édition, Paris: Montchrestien, s/d, p. 13. 129PIERRE AVRIL; JEAN GICQUEL, Droit parlementaire, 3ª édition, Paris: Montchrestien, s/d, p. 13. 130PIERRE AVRIL; JEAN GICQUEL, Droit parlementaire, 3ª édition, Paris: Montchrestien, s/d, p. 13.

E na defesa do caráter criador da jurisprudência alegam ser esta uma “fonte derivada”131, pois emanada de um órgão constituído e assim suas decisões serviriam como exercício de um poder constituinte derivado.

Mas os Autores não se limitam a expor que a jurisprudência criaria normas constitucionais como fontes secundárias. Vão mais além e afirmam que o Conselho Constitucional da França cria normas constitucionais também como fontes originárias, citando como exemplo a decisão que reconheceu limites inerentes ao exercício do direito de revisão constitucional por parte do governo132.

131PIERRE AVRIL; JEAN GICQUEL, Droit parlementaire, 3ª édition, Paris: Montchrestien, s/d, p. 14. 132PIERRE AVRIL; JEAN GICQUEL, Droit parlementaire, 3ª édition, Paris: Montchrestien, s/d, p. 15.

No documento Atos parlamentares e costume constitucional (páginas 47-51)