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CAPÍTULO II – Campo do Desporto e Jornalismo Desportivo

2.5. Fontes do jornalismo desportivo

O desporto, pela dimensão do seu ecossistema, é fonte abundante de notícias. Notícias essas que podem ser, não só sobre um jogo em si ou sobre os seus intervenientes, mas também sobre tudo o que envolve esse jogo e todos os que dele fazem parte. “No desporto, a notícia corresponde ao que se refere à atividade desportiva, mas também a situações ou aspetos relacionados com ela” (López, 2005: 78).

Para o jornalista produzir a notícia, precisa de informação, e a informação é disponibilizada pela fonte.

“A relação fonte/jornalista é o núcleo central do jornalismo. Ambos sabem que os acontecimentos relatados nos órgãos de comunicação social raramente são observados por quem escreve, o que torna o papel da fonte incontornável. Mesmo quando se escreve sobre o que está à vista de todos, a explicação do que realmente sucede só surge através do contacto com as fontes” (Sobral e Magalhães, 1999: 51).

A mensagem enviada por uma fonte pode, ao chegar ao meio, sofrer alterações positivas ou negativas. López (2005: 78) afirma:

48 “Toda a notícia procede de uma fonte e pelo conhecimento da fonte pode-se saber o grau de manipulação que leva. O processo informativo não se detém nessa faceta primária, prosseguindo quando a notícia chega ao meio que a vai divulgar. É sabido que a fonte é a origem da notícia e que o emissor pode oferecê-la aos meios motivado por interesses diversos o que significa que a notícia, desde o seu surgimento na fonte, pode sofrer uma transformação e mais que informar, desinformar.”

No âmbito do jornalismo especializado, no que concerne fontes e jornalistas, estes apresentam semelhanças naturais, pois utilizam um tipo de linguagem que conjuga os aspetos técnicos da especialidade com a linguagem comum, tornando as mensagens percetíveis e facilitando a circulação dos conteúdos. Esta conjuntura implica uma ligação entre especialistas e jornalistas especializados que integram círculos próximos, observando-se uma agenda mediática própria, com uma planificação de efemérides de carácter anual e regular, em linha com a especialidade ou área em causa (Gomes, 2009).

No jornalismo desportivo, a notícia pode ter origem em dois tipos de fontes, denominadas primária e secundária, consoante a sua importância no contexto desportivo. “A fonte primária é aquela que integra a atividade desportiva e divide- se em cinco pontos: atletas, clubes, federações, organismos e entidades (…), a fonte secundária inclui duas secções: comercial e publicitária”.

O atleta é a principal fonte da notícia desportiva. “O jornalista deve entender que o atleta é o princípio e o fim da sua atividade informativa. Tudo gira à volta dele. (…) Se o atleta, como indivíduo, é o motivo da informação desportiva, o clube é a sociedade na qual se produz o ambiente desportivo”. A integração que um jornalista consiga na estrutura de um clube, abrir-lhe-á muitas portas, pois as fontes de informação não são apenas os treinadores ou a Direção, mas também os restantes elementos do staff, como médicos, fisioterapeutas ou profissionais de outras áreas. Os treinadores são outra das fontes primárias, pelo conhecimento especializado que têm e preponderância na atividade desportiva, ainda que não sejam o principal interveniente. Os dirigentes são o nível superior do clube. Os presidentes dos clubes são bastante solicitados na busca de informação, pela posição privilegiada que ocupam dentro da estrutura. Os funcionários do clube são também uma fonte primária, sejam eles assessores da Direção, elementos do departamento de comunicação, assessores jurídicos, ou simplesmente rececionistas, jardineiros, entre outros.

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As federações são outra das fontes primárias, apesar de apresentarem um ambiente fechado, que só se “abre” aos meios de comunicação em assuntos previstos ou em conferências de imprensa onde as respostas foram ensaiadas previamente. Quanto mais elevada é a hierarquia da instituição, mais difícil é obter informação verdadeira e importante. Os organismos e entidades desportivas, públicos e privados, são outra das fontes primárias do jornalismo desportivo, uma vez que são estes que gerem o desporto. Os organismos públicos estão dependentes do Estado e os organismos privados dependem dos desportos e das suas organizações, os quais passam, de forma voluntária, a depender deles. Estas duas forças do campo desportivo rivalizam pela posição de protetores do desporto, da vigilância das suas virtudes e, ainda que de forma oculta, dos benefícios que este produz. Os organismos desportivos estão sempre dispostos a fornecer grandes quantidades de informação aos meios de comunicação, para que estes divulguem as suas conquistas e os seus projetos (López, 2005: 80-91).

As fontes secundárias são as que não integram a atividade desportiva, mas que também contribuem para o espetáculo. “A indústria e o comércio desportivo fazem parte do espetáculo e do negócio do desporto, sendo também fonte de notícias para os jornalistas”.

Como qualquer espetáculo, o desporto teve que recorrer à publicidade para se promover e atrair espetadores. Para além disso, os anunciantes viram com bons olhos a inserção de publicidade nos espaços onde o desporto é praticado (estádios, pavilhões, etc.). É nesta situação que a publicidade se estabelece como fonte informativa e promoverá o desporto e o atleta como um “objeto” que deve ser possuído de forma imaterial (ibidem).

Com os avanços tecnológicos recentes, incluindo a massificação das redes sociais, jogos, atletas, conquistas, jogadas, dirigentes, organizações e celebridades do desporto tornaram-se, cada vez mais, fontes geradoras de imagens e informação para o espetáculo de entretenimento que o desporto se tornou. Neste cenário, toda a sociedade produz informação (Gurgel, 2009).

Contudo, os clubes e as restantes entidades do campo desportivo trabalham, cada vez mais, com empresas de comunicação e relações públicas, que acabam

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por produzir e divulgar a informação de acordo com os objetivos dessas entidades. Estas empresas desempenham também a função de “blindar” o acesso dos jornalistas aos atletas, tornando-se mais difícil para o jornalista obter informação diretamente das principais figuras (Hutchins e Boyle, 2017).

No progresso constante da Internet por ocupar um espaço entre os meios de comunicação, a rede foi ocupada por todos quantos têm algo a dizer sobre o desporto. Federações, organismos, clubes e atletas têm as suas próprias páginas/espaços online, criados com dois propósitos: informar desde a fonte, que são eles mesmos, e rentabilizar a informação a seu favor (López, 2005).