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CAPÍTULO III: Metodologia

3.3. Modelo de avaliação metodológico

Construir um conceito consiste, em primeiro lugar, em definir as dimensões que o constituem. De seguida, determinam-se os indicadores que irão avaliar essas dimensões. Os indicadores são dados objetivamente observáveis e mensuráveis das dimensões do conceito e a sua função é conduzir a investigação para a realidade e confrontar o investigador com ela (Quivy e Campenhoudt, 1998).

A observação diz respeito ao conjunto das ações através das quais o modelo de análise é sujeito ao teste dos factos e confrontado com os dados observáveis (ibidem). A forma mais comum de analisar a informação de uma entrevista é a análise de conteúdo. Como esta não é possível de quantificar, uma possível estratégia é analisá-la de forma sistemática e agrupar o conteúdo por padrões ou temas (Berg, 1989).

Ainda sobre isto, o mesmo autor afirma que as categorias definidas para uma análise de conteúdo podem ser determinadas indutivamente, quando o investigador se baseia em documentos e informações para estabelecer as categorias ou temas adequados para responder à questão de investigação (Berg, 1989). As categorias que defino para agrupar a informação e responder à

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questão de investigação são resultado da informação recolhida na fase exploratória, tanto a nível de revisão de literatura como de entrevistas exploratórias, e dos objetivos da investigação.

A fase de tratamento dos dados consiste na sua organização para que estes possam ser representados num espaço visual reduzido e para facilitar a comparação entre diferentes conjuntos de dados. Em suma, é a estruturação de todas as informações de forma a conseguir tirar conclusões (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990).

Os dados obtidos através de uma investigação qualitativa não só acrescentam valor a uma análise, como demonstram significados e aprendizagens sobre situações ou fenómenos que de outra forma não seriam identificados. As categorias nas quais se agrupam estes dados variam consoante a natureza da investigação e as características particulares dos dados (Berg, 1989).

As categorias que defini para agrupar os dados da investigação incluem:

- As alterações na linha editorial do jornal: A revolução online também chegou

ao jornalismo desportivo e vários autores como Gurgel (2009), Daum e Scherer (2018) e Hutchins e Boyle (2017) deram conta disso mesmo. O objetivo desta categoria é perceber de que forma é que a linha editorial do jornal desportivo foi sendo moldada com a crescente importância do online.

- O critério de noticiabilidade: Como referem Júnior (2016) e Júnior e Antonioli

(2016), este é um dos critérios indispensável ao processo de newsmaking. Aqui o objeto é perceber de que forma os critérios de relevância de uma notícia se alteraram com o aumento da produção noticiosa na edição online dos jornais de desporto.

- A produção de notícias de desporto: Nesta categoria pretende-se perceber

como é que a internet, incluindo o online, redes sociais e demais canais digitais alteraram a produção de notícias de desporto. A avalanche de informação disponível na Internet levou os jornais desportivos a oferecer não só os conteúdos desportivos próprios de um jornal, como outras temáticas

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relacionadas com o desporto, diversificando também a forma como os conteúdos são disponibilizados (López, 2005; Ramon-Vegas e Rojas-Torrijos, 2017; Hutchins e Boyle, 2017).

- O acesso à informação: com a internet, muitos defendem que a informação

passou a estar à disposição de todos e a um simples clique de distância (Bastos, 2000; Boesman, d’Haenens e Van Gorp, 2015; Correia, 2000;). O objetivo desta categoria é perceber se o acesso à informação por parte dos jornalistas de desporto, de facto, aumentou ou ficou facilitado com a internet.

- A seleção de notícias de desporto: É inegável que a Internet veio reconfigurar

a prática jornalística nas redações, tanto ao nível de acesso à informação como de seleção dos conteúdos e dos formatos a apresentar no online (Bastos, 2000; Ferreira, 2018; Gomes, 2009). Nesta categoria pretende-se saber de que forma o digital influenciou o processo de seleção de notícias de desporto.

- As alterações na função do jornalista de desporto: aqui o objetivo é

perceber se o papel do jornalista se alterou, passando de gatekeeper a ter uma função de “filtro” da imensidão de informação que está disponível online. Como referem Ferreira (2018) e La Rosa (2014), com a internet e os novos canais de comunicação, o jornalista passou a ter que filtrar toda a informação disponível através destes meios.

- A relação do jornalista com as fontes do campo desportivo: esta categoria

aborda a relação do jornalista com as fontes do campo desportivo e o modo como esta relação tem sido influenciada na era digital. Com os avanços tecnológicos recentes, incluindo a massificação das redes sociais, todos os agentes do campo desportivo tornaram-se, cada vez mais, fontes de informação (Gurgel, 2009). Contudo, os clubes e as restantes entidades do campo desportivo trabalham, cada vez mais, com empresas de comunicação e relações públicas, que produzem e divulgam a informação de acordo com os objetivos dessas entidades e “blindam” o acesso dos jornalistas aos atletas (Hutchins e Boyle, 2017).

65 - O agenda-setting na era digital: o objetivo nesta categoria é perceber quais

as alterações no processo de agenda-setting na era digital. Como referem Boyle e Haynes (2014) e Hutchins e Boyle (2017), com as redes sociais e outras plataformas online, a informação circula a uma velocidade instantânea pelo que os temas que estão na agenda pública vão-se sucedendo de forma rápida e dinâmica.

- A produção de notícias de futebol: Como refere Gurgel (2009), o jornalismo

desportivo tem procurado cada vez mais o sentido do espetáculo e do entretenimento, focando-se muito nos desportos de alto rendimento que têm maior audiência e nos aspetos que o rodeiam, deixando para segundo plano outras modalidades. Assim, nesta categoria pretende-se analisar especificamente a produção de notícias de futebol e o modo como esta foi influenciada pelo online e pela comunicação digital.

- A confrontação de notícias extrafutebol vs modalidades: nesta categoria o

objetivo é perceber se, de facto, os jornalistas produzem mais notícias extrafutebol, sobre fait-divers, do que notícias sobre modalidades. Face ao turbilhão de informação disponível online, os jornais desportivos apresentam cada vez mais conteúdos que não se limitam à divulgação de resultados ou informação sobre jogos, alargando a esfera de acontecimentos noticiados relacionados com o desporto (López, 2005; Hutchins e Boyle, 2017; Nölleke, Grimmer e Horky, 2017).