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FONTES E INSTRUMENTOS DE PESQUISA

A análise documental na presente pesquisa está focada nos documentos produzidos pelo Município, com um corte para o período compreendido neste estudo, delimitado na janela temporal dos anos 2005 a 2008. Contribui para o presente trabalho a realização da Pesquisa Diagnóstico Situacional do Ensino Municipal (Disem), realizada em 2006, cujos dados foram compilados e processados por técnicos da Secretaria Municipal de Educação em apreço, estudo este do qual se fez uso em momentos oportunos para análise comparativa de gráficos e tabelas e assim, cotejá-los com os dados e documentos estudados no intervalo de tempo focalizado pela pesquisa.

A revisão bibliográfica se ampara na produção da literatura contemporânea ao estudo em tela sem prejuízo de citações distribuídas ao longo da pesquisa, o que facilita a compreensão do trabalho acadêmico ora desenvolvido. Busca-se ampliar a construção teórica na revisitação de autores que discutem o financiamento da educação na perspectiva do alargamento da democracia e cidadania, da compreensão de educação enquanto direito fundamental estruturante da autonomia das pessoas, da participação democrática na gestão escolar, da compreensão das estruturas de poder e dos fenômenos sociais, sempre com o cuidado de não incorrer em “sincretismos teóricos e metodológicos, empirismos, relativismos e visões pragmatistas que comprometem a produção de conhecimento” (KUENZER; MORAES, 2005, p. 1357), além de ampliar em larga escala a possibilidade de eventuais conflitos epistemológicos.

Segundo Triviños (1987, p.109) esse tipo de investigação não exime o pesquisador de realizar a revisão de literatura, as entrevistas, o emprego de questionários etc., tudo dentro de um esquema elaborado com a severidade característica de um trabalho científico. Em concordância com o autor acrescentou-se ao roteiro de pesquisa a análise documental e busca nas fontes primárias.

De igual forma, dedicou-se atenção aos demais aspectos presentes em dados agregados anuais, acerca da situação dos municípios em estudos similares ou aproximados; dados recolhidos em páginas oficiais e websites acerca do Município estudado; quantitativo de matrículas de alunos da educação infantil, ensino fundamental de primeira à quarta série, alunos matriculados na modalidade Educação de Jovens e Adultos; grupos focais com gestores escolares integrantes do quadro de pessoal das escolas do ensino municipal, professores dessa mesma rede de ensino e conselheiros do extinto Fundef e atual Fundeb.

As tabelas apresentadas neste estudo foram elaboradas com o cuidado de preservar nomes de escolas, localidades e equipamentos públicos. Os dados quantitativos nas tabelas elaboradas a partir de questionários respondidos estão separados por freqüência, ou seja, a quantidade de vezes em que o dado foi levantado. O percentual (%) refere-se à percentagem total apurada e à percentagem válida (% válida), ocasião em que se desprezam os não respondentes.

As tabelas nas quais se registram valores em moeda corrente nacional no período que abrange a pesquisa tiveram esses valores nominais atualizados com base no Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o último ano pesquisado (2008). O ajuste dos valores nominais para valores reais se fez necessário para possibilitar a aferição correta das variações percentuais de um exercício para o outro.

Na realização dos grupos focais foram elaborados roteiros orientadores semi- estruturados, com perguntas direcionadas para a obtenção das informações requeridas na pesquisa. Os roteiros, embora semelhantes nas perguntas, foram separados segundo o tipo de participantes (conselheiros, gestores, professores). Dessa forma, utilizou-se um roteiro próprio para cada segmento. Os roteiros orientadores encontram-se nos anexos dessa pesquisa. As sessões realizadas para aplicação dos grupos focais foram gravadas e transcritas para a posterior análise dos conteúdos.

3 O FUNDEF E A APLICAÇÃO DA VINCULAÇÃO CONSTITUCIONAL

O Fundef teve sua origem em 1996, com a edição da Lei 9424/96, regulamentadora da EC nº 14/96, o que propiciou, em 1998, o início dos repasses a Estados e Municípios amparados neste imperativo legal, distribuindo recursos em conformidade com o número de alunos matriculados no Ensino Fundamental, registrando até 2006, dez anos de pleno funcionamento, quando então passou a vigorar o Fundeb. Na tabela 1, a seguir, estão dispostas as Transferências da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), para o Município nos anos 2005 a 2008, valores expressos em Reais:

Tabela 1 - STN – Transferências constitucionais, acessado em setembro de 2009

Ano FPM ITR LC 87/96 CIDE FEX FUNDEF FUNDEB Total

2005* 27.259.868,94 151.101,10 219.175,30 727.184,40 187.513,70 20.193.141,00 48.737.984,50 2006* 28.894.785,60 131.811,20 122.507,20 703.889,90 292.862,20 20.501.170,70 50.647.026,80 2007* 30.472.699,99 150.169,90 111.095,00 706.270,20 228.955,30 26.052.020,7 57.721.211,20 2008 35.335.232,10 152.321,85 115.169,64 560.109,30 695.776,76 31.488.727,91 68.347.337,64 % 2005/ 2008 30% 1% -47% -23% 271% 2% 21% 40% Fonte: A Autora

(*) valores atualizados para dezembro de 2008 – IGP-DI FGV

O primeiro efeito que se pode perceber pela tabela 1, é o expressivo crescimento (40% no total) que se verifica nos repasses das transferências constitucionais feitas pelo Tesouro Nacional. Os recursos chegam ao Município de maneira “carimbada”, ou seja, a União opera o repasse de modo detalhado, facilitando ao gestor público, aos munícipes e àqueles agentes públicos em condições de fiscalizar os recursos recebidos e aplicados, a identificação da origem dos recursos e de que maneira estes se encaixam no “bolo” das receitas municipais, “bolo” este que, em uma quase década de existência (1998-2006), teve como ingrediente o Fundef, aumentado em sua dosagem, de 5,1 milhões iniciais, para mais que o quádruplo, 20,5 milhões no derradeiro ano de vigência do Fundef. Ano após ano os valores repassados cresceram positivamente sem que nenhum exercício dessa série tenha apontado redução ou estagnação nos repasses.

O Fundef possibilitou redistribuição da receita e com certeza diminuiu as desigualdades entre os Estados brasileiros. Porém, as desigualdades intra-regionais pouco foram alteradas devido, novamente, à histórica omissão da União em relação à educação básica (CARNIELLI, 2000).

O aprendizado imediato que se pode perceber, ao olhar a tabela 1, reside na possibilidade de realizar planejamentos educacionais com maior tranquilidade. Fazemos essa observação com o cuidado de não parecer ufanista, tendo o olhar fixo não somente os repasses do Fundef, mas também nos significativos repasses do FPM. Mesmo os recursos provenientes do ITR, Lei Complementar (LC) 87/96, da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) e do Fundo de Compensação das Exportações (FEX), recursos que com ligeiras variações, resultam em incrementos ascendentes a cada exercício, com destaque para o Fundef e o FPM, rubricas que mantém sólido incremento de receitas quando confrontados com os anos atrás.

Interessante observar em outra publicação da Secretaria do Tesouro Nacional –

(BRASIL, 2006, p. 13) um registro que confirma o quadro abaixo, ao constatar que, “no período considerado, as transferências que apresentaram maior incremento foram aquelas referentes ao SUS, Fundef, Salário Educação e Fundo Nacional de Desenvolvimento para a Educação (FNDE), as quais apresentaram taxas de crescimento nominal de 279,1%”, percentual que se aproxima bastante das variações positivas, ver na tabela acima, (243% equivalentes ao FPM; 238% equivalentes ao Fundef ao longo de sua existência, e o registro de que os repasses do Fundeb praticamente se equiparam com o FPM), percentuais estes encontrados no cotejo das transferências constitucionais obrigatórias, ou seja, o cumprimento da vinculação de recursos destinados aos municípios.

Em conclusão, quando se trata do Município estudado e da região na qual se encontra integrado, pode-se perceber, que embora a maioria dos municípios não reúna uma estrutura arrecadadora e fiscalizadora eficiente e moderna, em se tratando de transferências e impostos, os mecanismos de repasses da União, do Distrito Federal e do Estado de Goiás favorecem os municípios que integram a Ride.