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2 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 FONTES TEÓRICO-FILOSÓFICAS DO MODELO DE ADAPTAÇÃO

como um conjunto de conceitos relativamente abstratos e gerais que se dirigem aos fenômenos do interesse central de uma disciplina, as proposições que descrevem amplamente tais conceitos, e as proposições que indicam relações relativamente abstratas e gerais entre dois ou mais conceitos. O termo modelo conceitual é também utilizado como sinônimo dos termos estrutura conceitual, sistema conceitual, paradigma e matriz disciplinar. Os modelos conceituais têm existido desde que os povos começaram a pensar sobre si mesmos e o ambiente ao seu redor (FAWCETT, 2005).

A Enfermagem, em busca da construção de conhecimento próprio, tem ao longo dos últimos cinqüenta anos, empreendido grandes esforços no sentido de desenvolver teorias e modelos conceituais para direcionar sua prática e desenvolver pesquisas. Tais modelos e teorias estão fundamentados em suposições científicas e filosóficas e, por conseguinte, o desenvolvimento do conhecimento, nessa disciplina, reflete seu caráter incoativo e avança as suposições, cotidia- namente, quando teóricas de enfermagem identificam convicções e valores ao construírem seus modelos teóricos (NETO; PAGLIUCA, 2002).

Neste processo de construção, as teóricas têm se nutrido de outras fontes do saber, notadamente na filosofia, biologia, física, psicologia, para citar algumas das mais importantes. Roy desenvolveu as idéias básicas de seu modelo a partir de sua experiência na área de enfermagem pediátrica quando cursava o seu mestrado na década de 60, recebendo grande estímulo e inspiração ao participar de um semi- nário coordenado por Dorothy E. Jonhson no qual desenvolveu um modelo concei- tual. Roy publicou seu modelo pela primeira vez sob a forma de um artigo no

Nursing Outlook em 1970, intitulado: Adaptation: A conceptual framework for nursing (TOMEY; ALLIGOOD, 1999).

Os pressupostos teórico-filosóficos e científicos que dão sustentação a este modelo provêm de diferentes fontes, ocupando posição de destaque a Teoria Geral de Sistemas de Karl Ludwig Von Bertalanffy e a Teoria do Nível de Adaptação do psicólogo Harry Helson, no âmbito da psicofísica, aplicados sob a ótica da enfermagem as quais contribuíram para a construção do marco filosófico pautado em uma visão humanística e holística.

No que diz respeito a Bertalanffy, este desenvolveu seus estudos na área de biologia e interessou-se desde cedo pelos organismos e pelos problemas do crescimento. Os seus primeiros trabalhos datam do início do século XX, e são sobre a abordagem orgânica. Com efeito, Bertalanffy não concordava com a visão cartesiana do universo. Colocou então uma abordagem orgânica da biologia e tentou fazer aceitar a idéia de que o organismo é um todo maior que a soma das suas partes. Criticou a visão de que o mundo é dividido em diferentes áreas, como física, química, biologia, entre outras. Ao contrário, sugeria que se deve estudar sistemas globalmente, de forma a envolver todas as suas interdependências, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolvem qualidades que não se encontram em seus componentes isolados (TOMEY; ALLIGOOD, 1999).

O psicólogo Harry Helson nascido em 9 de novembro de 1898 em Chelsea, Massachusetts, formou-se bacharel no Bowdoin College em 1921, mestre e doutor na Universidade de Harward em 1922 e 1924 respectivamente. Foi professor na Universidade de Kansas, Bryan Mawr College e Brooklyn College. Ingressou no corpo docente da Universidade do Texas, Austin em 1951 onde lecionou até 1961. Participou na criação da Fundação das Teorias da Psicologia em 1951 e do

enfoque contemporâneo para psicologia em 1967. Autor da Teoria do Nível de Adaptação, em 1964 (ACOSTA, 2001).

Segundo a teoria da adaptação de Helson, as respostas adaptativas são o resultado de estímulos recebidos e o nível de adaptação. Chama de estímulo todo fator que provoca uma resposta. Os estímulos nascem das trocas externas ou internas. Os níveis de adaptação constituem-se da combinação de três classes de estímulos: 1) focais, os que o indivíduo se enfrenta de imediato; 2)contextuais, incluem todos os fatores que contribuem para os estímulos focais, isto é, todos os fatores ambientais, mas que não são o centro de atenção da pessoa; 3) residuais, fatores ambientais cujos efeitos são incertos dentro de determinada situação, abrangem as condições, circunstâncias e ou influências existentes no ser humano que, em combinação com os estímulos focais e contextuais, contribuem para determinar o comportamento humano (ROY, 1984).

Em seus trabalhos, Helson conceituou nível de adaptação àquele que determina se um estímulo provocará uma resposta positiva ou negativa e a adaptação ocorre se no processo responder de forma positiva. No seu estudo do nível de adaptação percebeu a influência de experiências passadas em comportamentos presentes. Considera que as atitudes, a personalidade e a cultura são estímulos residuais que possuem um imensurável efeito sobre situações atuais (TOMEY; ALLIGOOD, 1999).

Roy também desenvolveu e apurou o seu modelo com conceitos e teorias extraídos de trabalhos de P. Dohrenwend, R. S. Lazarus, N. Malaznik, D. Mechanic e H. Selye. Também foram colaboradores de sua construção as coautoras Driever, a quem se devem as subdivisões do conceito de autointegridade, Martinez e Sato, pela identificação de estímulos comuns e primários que influenciam sobre os modos, M. Pousch e J. Van Landingham sobre o modo de interdependência, e B. Randall, acerca do modo de função de papéis. O modelo de Roy também nasceu de estudos biológicos para compreensão do ser humano, dotando-o de uma base de valores humanos. Utilizou os conceitos de A.H. Maslow para explorar crenças e valores das pessoas. Adota o humanismo em enfermagem como crença e poder criativo para o enfrentamento das situações permitindo melhorar o bem estar, tendo assim o seu enfoque holístico (TOMEY; ALLIGOOD, 1999).

Tem como bases científicas os sistemas como pontos de progresso energético no aumento do nível do complexo de auto-organização, consciência e

pensamento que constituem a pessoa e sua integração no ambiente, a consciência de si e do ambiente está radicado no pensar e sentir, decisões humanas são responsáveis pela integração nos processos criativos, pensamento e sentimento mediante ações humanas, sistema de relações inclui aceitação, proteção e manutenção da interde-pendência, pessoas e a terra têm relações comuns e integrais, pessoas e transfor-mações do ambiente são criados na consciência humana, integração do humano com o meio ambiente resulta na adaptação (AA – ROY ADAPTATION ASSO-CIATION, 2006 [tradução nossa]).

Suas bases filosóficas são as pessoas em mútua relação com o mundo e Deus, o pensamento humano é originado de um ponto convergente no universo, Deus manifesta-se nas diversidades da criação e o destino comum da criação, pessoas usam a criatividade humana para habilidades no conhecimento, esclare- cimento e crença, pessoas são imprescindíveis para o processo de origem, sustentação e transformação do universo (AA – ROY ADAPTATION ASSOCIA- TION, 2006 [tradução nossa]).

Ao desenvolver sua teoria, Roy enfatiza que os indivíduos utilizam-se de mecanismos internos e externos que são filtros de informações, as quais são analisadas, reconhecidas e então interpretadas, conforme princípios de cada um. A partir dessas interpretações são lançadas respostas que podem ser adaptativas ou não, de acordo com os conhecimentos pré-existentes de cada homem histórico, no contexto da enfermagem.

Considera a pessoa como receptor do cuidado, seja ele indivíduo, família ou comunidade; um elemento holístico, que mantém relações internas e externas. Refere o ambiente como tudo o que pode influenciar no comportamento seja interno ou externo, a saúde é um estado de integração entre o ambiente e a pessoa, e, a enfermagem, será a responsável de manter a adaptação, caso ele ocorra, retroalimentando o sistema (ROY, 1984).

Desenvolver uma teoria é participar com cientificidade de descobertas através da pesquisa interagindo com conceitos, relações, definições e proposições, percebendo e vivenciando a realidade, ou seja, com o fenômeno propriamente dito. Deste conhecimento gerado na prática da enfermagem virá o cuidado. O cuidado fundamental para compreensão do ser humano como um conjunto de atividades que mantêm a vida e como um processo complexo de relação que envolve fatores cognitivos, morais e emocionais, onde o enfermeiro deve agir guiado pelos

princípios do cuidar, que é a essência da enfermagem. Um modelo de cuidado através da interação constante buscando conhecer o ser humano cuidado, sua história e valores, para favorecer um cuidado eficaz resgatando o toque, o contato humano.