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6 CONTRIBUIÇÕES DA ENFERMEIRA NO CUIDADO

7.2 CATEGORIAS ADAPTATIVAS CONVERGENTES DOS RETOR-

7.2.1 Mamãe Eu Quero Mamar

Sem dúvida um dos momentos de rara contemplação que me foi oportu- nizado durante a realização deste estudo foi ver o binômio mãe e filho envolvidos na cena da amamentação. Há um respeito tão primário neste momento que sequer encontro palavras para descrevê-lo. Seria ousado dizer: vejo a mais pura expressão da ética? O respeito em dar e ter o que é de direito e de fato do ser humano, a vida. A vida, gota a gota, produzida e abstraída pelo próprio corpo humano, vida gerando mais vida. Amamentar é o movimento sutil, da aproximação, do silêncio prolongado em vários minutos em homenagem à vida. A harmonia que emana talvez seja sentida por nós adultos quando entramos em uma capela, banhamos o pé no mar, tomamos um banho de chuva, adentramos em uma mata, ou nos permitimos amar.

Acompanhar a amamentação durante os retornos da terceira etapa do MMC é certificar-se de que a compensação do leite materno vai além da sua promoção, todo o esforço dispensado pelos profissionais de saúde envolvidos com as mães e familiares para que o recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso seja conduzido

neste seu aprendizado é traduzido pelo olhar da mãe para mim, sem uma única palavra dita, só pelo olhar: viu? meu bebê quer mamar!

E assim se fez, em alguns retornos em terceira etapa do MMC. Nesta etapa, segundo Brasil (2002), deve-se avaliar, incentivar, encorajar e apoiar o aleita- mento materno. Fácil fazê-lo se nosso conhecimento e habilidades tanto quanto das mães e familiares forem estimulados.

Como a idade gestacional corrigida dos recém-nascidos deste estudo está acima das 34 semanas vou citar algumas de suas maturações específicas para um bom desenvolvimento da amamentação. Em recém-nascidos pré-termos saudáveis existe um desenvolvimento seqüencial da sucção não nutritiva (quando não há presença de fluído oral) entre 30 e 36 semanas (LOPES; LOPES, 1999).

Os neonatos somente a partir de 34 semanas conseguem coordenar sucção, deglutição e respiração efetiva (MOREIRA et al.; 2004). A sucção é um reflexo condicionado inato, que depende da maturação fisiológica.

Reflexo de busca é o movimento involuntário em direção ao estímulo, originado a partir de um toque nos lábios, seguido de abertura de boca. Em seguida, se dá a preensão do bico ou mamilo. Durante este movimento, a língua protui até o lábio inferior e o resto do mamilo é levado para dentro da cavidade oral, com elevação das bordas laterais da língua. O dorso da língua exerce uma pressão no mamilo em uma onda de contração peristáltica antero-posterior. O leite não é liberado por compressão. Isso é ajudado pela pressão negativa intra-oral, gerada pela depressão posterior da língua e seguida do abaixamento da mandíbula que acontece durante esta seqüência de movimento (BU’LOCK; WOOLRIDGE; BAUM, 1990).

Segundo Lopes e Lopes (1999), a partir de 33 semanas, um sopro gentil na face da criança pode originar a deglutição. Portanto, o hábito das mães soprarem seu bebê quando ele engasga tem algum fundamento científico.

A deglutição tem três fases: oral, faríngea e esofágica. A fase oral é a fase preparatória da deglutição e, no neonato, coincide com a sucção nutritiva. A fase faríngea envolve a condução do bolo alimentar através da faringe até o esôfago. A fase esofágica começa quando o bolo entra no esôfago. A primeira fase está, predominantemente, sob controle voluntário, e as seguintes, sob controle involuntário. Durante a deglutição faríngea, existe interrupção do fluxo de ar. Portanto, uma porção subs-tancial do tempo de amamentação não está disponível para ventilação devido a deglutições repetidas. A ventilação durante a mamada tem uma relação inversa com a freqüência de deglutição (LOPES; LOPES, 1999, p. 282).

O bebê protege-se da ingestão de um bolo alimentar que seja grande demais para passar, de forma segura, pela faringe ou pelo esôfago pelo reflexo de vômito. E, pelo reflexo da tosse responde ao toque ou pressão de comida ou secreções na faringe ou laringe, limpa as vias aéreas superiores e inferiores de material potencialmente obstrutivo, sendo portanto, um reflexo de proteção. No prematuro, está presente a partir da 37ª semana (LOPES; LOPES, 1999).

Quanto à disposição anatômica, o arranjo das estruturas e da musculatura oral e faríngea faz com que o neonato, até 3 ou 4 meses, seja um respirador nasal obrigatório, com uma respiração preponderantemente abdominal (diafragmática). Em relação à postura, o seu desenvolvimento tônico é peculiar, com um progres- sivo aumento do tônus em direção caudocefálica, e nem sempre consegue atingir, com 40 semanas, o desenvolvimento de um recém-nascido a termo ao nascer (LOPES; LOPES, 1999).

Conforme Lopes e Lopes (1999), o bebê também pode apresentar alterações na sensibilidade, com ausência de resposta aos estímulos orais, hipo ou hipersen- sibilidade (náusea com o toque nos lábios) ou respostas mais aversivas (mordida). Essas alterações podem vir de fatores impostos sobre um sistema nervoso central imaturo como estímulos negativos na área orofacial (intubação, sonda oro- gástrica, aspiração), introdução de leite tardiamente, exploração oral de forma não prazerosa e até pouca oportunidade para sugar.

Para os autores, é importante considerar também o estado de consciência onde os ciclos de vigília do pré-termo começam a ocorrer espontaneamente, e com maior duração, a partir de 32 semanas, atingindo a maturidade ao redor de 36 a 37 semanas.

Pela vivência minha enquanto pesquisadora, considero importante os fatores descritos anteriormente em função do importante papel do enfermeiro na terceira etapa do Método Mãe-Canguru quando precisa não somente apoiar mas articular através da oportunidade educativa, do diálogo com a mãe quando retorna ao seguimento ambulatorial, construindo metas após avaliar conjuntamente o seu papel e o do seu bebê enquanto binômio unido no processo do aleitamento.

Os outros fatores como o ambiente doméstico e as organizações dos papéis na rede familiar são relevantes e devem ser acompanhados para somarem no cuidado adaptativo.

No estudo de Toma (2003), bebês que receberam alta com 5 a 60 dias de vida e pesos variando de 1.640 a 2.220 gramas tiveram uma adaptação à rotina familiar sem implicações negativas para a saúde do neonato. Referente à amamen- tação, causou surpresa verificar que com muito empenho materno, de 14 mulheres, 13 amamentaram exclusivamente até a idade de 32 a 90 dias de vida (último dado coletado do registro hospitalar).

Os efeitos positivos do MMC sobre a amamentação têm sido referidos em vários estudos. Na situação brasileira, o estabelecimento pleno da amamentação é um dos critérios para alta hospitalar. Esta medida tem efeitos benéficos em curto e médio prazos, como constatado neste estudo pela redução no uso da comple- mentação das mamadas e pela manutenção da amamentação exclusiva após a alta, porém para ser efetiva requer profissionais hábeis e mães informadas e apoiadas para superar as dificuldades (TOMA;VENÂNCIO; ANDRETTO, 2007).

As falas das Mães-Canguru acompanhadas neste estudo em terceira etapa evidenciam a amamentação:

“[...] estou amamentando de 30 a 35minutos... o complemento ela aceita sempre de 15 a 20 ml após seio” MC7.

“[...] ele mama de 10 a 20 minutos às vezes dá intervalo de 30 minutos e mama mais 15 minutos.O complemento eu dou só duas vezes ao dia” MC4.

“[...] mas ele continua mamando de 3/3h e eu procurei tomar mais líquidos para aumentar meu leite”.MC4.

“[...] é só amamentar e trocar...” MC1.

“Ela continua mamando de 3/3h, mamando de 10 a 15 minutos” MC2.

Dos seis bebês acompanhados neste estudo, na desospitalização precoce os seis mamavam ao peito, dois tiveram alta com complemento fórmula e um com complemento de leite materno ordenhado, três em aleitamento exclusivo. Ao receberem alta da terceira etapa do MMC somente um dos recém-nascidos mamava pouco ao peito tendo a mãe priorizado o volume do complemento fórmula ofertado em chuca, este desmame será abordado melhor no próximo capítulo.