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2.2 Precedentes vinculantes dos tribunais superiores à moda brasileira e a sua relação com a

2.2.3 A força vinculante das decisões do Plenário ou do Órgão Especial a nível

Um outro ponto a se destacar é a vinculação das questões decididas pelo Plenário/Órgão Especial. Trata-se de hipótese de precedente vinculante em linha horizontal (stare decisis horizontal), isto é, o próprio tribunal prolator do referido pronunciamento deve observar o que foi resoluto anteriormente, ao realizar a análise dos processos de sua competência originária ou recursal. Quando do julgamento, por exemplo, de casos repetitivos, os órgãos fracionários que compõem a estrutura de um juízo revisor ou de um tribunal superior não podem contrariar um entendimento firmado pelo Plenário ou Órgão Especial, já que estes possuem um maior grau de poderio e legitimidade, por englobar todos os seus membros ou uma grande maioria deles, tornando o veredito anunciado o mais democrático possível, por serem manifestadas várias opiniões a respeito do tema, por desembargadores/ministros imparciais, que vão emitir seus juízos de valor sobre uma especificidade controvertida a que se quer dirimir. Assim também deve ser compreendido quando do julgamento monocrático de ministros, em que confrontam, em seus votos, uma tese jurídica firmada pelo Plenário acerca de um já discutido e determinado assunto. O precedente criado pelo Plenário só pode ser modificado pelo próprio, assim como no caso de deliberação das turmas e seções.

O Plenário do STF, decidiu, no julgamento do HC 126.292, em 17 de fevereiro de 2016, que poderia haver a prisão de réu com decisão condenatória proferida em segundo grau de jurisdição, mesmo que tivessem sido interpostos recursos ao STJ e STF, os quais estariam pendentes de avaliação. Contudo, posteriormente, no HC 135.100/MG e HC 137.172/PB, de relatoria dos ministros Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, respectivamente, foram deferidas liminares vindicadas, que contrariavam, por completo, aquilo decidido pelo Plenário. O ministro Luiz Edson Fachin, não concordando com o que houvera sido feito pelo ministro e, até então, presidente do Pretório Excelso Ricardo Lewandowski, cassou a sua prévia decisão, aduzindo que o HC 126.2912 foi julgado pelo Plenário e deve ser respeitado para garantir a estabilidade do ordenamento jurídico brasileiro, no que se refere à jurisprudência do STF. A interpretação do Plenário, formado por todos os ministros de um tribunal superior, detém maior força normativa do que a concepção individual, subjetiva de um ministro, pois aquela será realizada por um órgão colegiado, repleto de conhecedores do direito, que manifestarão suas convicções, devendo ser formada uma maioria de posições convergentes para prevalecer uma tese em comparação a outra, enquanto esta será baseada

em um único ponto de vista, não sendo dotado de plena democraticidade, legitimidade, eficiência e confiabilidade. Eis o conteúdo do art. 927, V, Lei 13.105/2016:

Art. 927. “Os juízes e os tribunais observarão: (...)

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.” (grifo meu)

Destarte, os precedentes do Órgão Especial/Plenário devem ser obrigatoriamente observados por juízes e tribunais a ele vinculados, para possibilitar a fluidez do ordenamento jurídico brasileiro e a solidez da jurisprudência, principlamente dos Tribunais Superiores, cuja função precípua é padronizar a interpretação de um direito a nível nacional, para evitar que decisões conflitantes sejam proferidas em diferentes processos por toda a extensão do território brasileiro, causando uma instabilidade do Direito, bem como da instituição que as enuncia, tendo em vista as diversificadas tutelas jurisdicionais para casos similares, os quais tinham que receber um tratamento semelhante, o que nem sempre vem acontecendo. Todos que se encontrem em equivalentes circunstâncias fático-normativas precisam ser angariados pelo entendimento já manifestado pelo voto da maioria de seus membros, sendo aplicado tal enunciado, independentemente da natureza do processo em que o mesmo foi exposto (processo subjetivo – eficácia inter partes/ processo objetivo – eficácia erga omnes).

CAPÍTULO 3

DA MODULAÇÃO DOS EFEITOS DE JULGADOS VINCULANTES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES

O novo Código de Processo Civil demonstrou certa preocupação com a modulação dos efeitos quando da alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores, bem como do julgamento de casos repetitivos. Eis a redação do art. 927, §3°, NCPC):

Art. 927, §3o “Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo

Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica”.

Com isso, percebe-se que os membros do Congresso Nacional foram cautelosos e seguros ao adotarem este posicionamento, tendo em vista a provável ocorrência de uma grave crise institucional no Poder Judiciário caso não fosse, expressamente, admitida a modulação dos efeitos de julgados ou houvesse uma lacuna legal acerca deste mecanismo, trazendo dúvidas quanto à sua legítima utilização.

3.1 A modulação dos efeitos, o controle abstrato de constitucionalidade e os precedentes vinculantes

O ordenamento jurídico nacional já previa a possibilidade de mudança na extensão dos efeitos para preservar a segurança jurídica ou o excepcional interesse social no caso das ações diretas de inconstitucionalidade, ações endereçadas ao Supremo Tribunal Federal no exercício de seu controle concentrado de constitucionalidade, conforme está descrito no art. 27 da Lei nº 9868/99 e no art. 11 da Lei nº 9882/99. Pelo quórum de 2/3 dos seus ministros, o Pleno poderia descumprir a regra da retroatividade de seus efeitos, não abarcando as relações jurídicas surgidas quando da publicação da norma em análise, objeto de impugnação, que até então, gozava de presunção de constitucionalidade, embora fosse relativa, admitindo-se prova em contrário. A decisão do Plenário tem natureza declaratória e não constitutiva-negativa (como é típica do Direito Austríaco), retroagindo, a princípio, sendo a modulação dos efeitos

exceção.48 A modulação está presente, também, na arguição de descumprimento de preceito fundamental, ação de caráter subsidiário, que procura proteger direitos fundamentais, princípios constitucionais estruturantes da República Federativa Brasileira, cláusulas pétreas, princípios constitucionais administrativos, contra disposições contrárias de leis federais, estaduais e municipais ou até mesmo de atos normativos secundários, os quais não inovam o direito, não trazem direitos e deveres, servindo apenas como complemento de uma lei.

A modulação dos efeitos é uma importantíssima ferramenta a ser usufruída pelos togados, para que seja perpetuado um complexo de normas jurídicas organizado, bem sedimentado, em que as indagações quanto à aplicação temporal dos efeitos de uma decisão fossem esclarecidas e sanadas, tendo como consequência a exata dimensão de alcance de uma solução proferida na tutela de um determinado direito alegado por uma das partes da demanda. Inicialmente, deve-se destacar que os precedentes, conforme entendimento da doutrina norte-americana e da verificação na prática dos efeitos dos julgados efetuados pela Suprema Corte dos Estados Unidos, possuem eficácia retroativa, para trás, ex tunc.49 Isso significa que quando o órgão de cúpula deste país da família anglo-saxônica profere um novo julgamento, esse terá aplicabilidade aos casos passados, àqueles surgidos quando ainda era adotada uma ideia contrária à atual, modificadora. Entretanto, com o desenvolvimento da sociedade e do Poder Judiciário como um todo, visando a proteção de princípios constitucionais como, por exemplo, a segurança jurídica, a isonomia e a confiabilidade justificada, tal atitude passou a ser revista. Desde o século passado, o órgão jurisdicional hierarquicamente superior norte-americano vem atribuindo efeitos ex nunc ou pró futuro a sua

                                                                                                               

48 (...) “a idéia de constituir um órgão jurisdicional que enfeixasse toda a competência decisória em matéria de

constitucionalidade – o sistema de “jurisdição concentrada” – partiu de Kelsen e se positivou na Constituição austríaca de 1o de outubro de 1920, de que foi ele abalizado inspirador. Disso resultou o chamado sistema austríaco de controle da constitucionalidade, exercitado por “via principal” e concentrado numa Corte especial, em contraste com o sistema americano clássico, de controle difuso, por via de exceção, e que só se faz absoluto ou definitivo quando a decisão judicial se contém num arresto da Suprema Corte”. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 2008.

Quanto à natureza juridical das decisões proferidas em sede de controle de constitucionalidade, Rodrigo Padilha ensina que a proveniente do modelo Austríaco (controle Europeu) possui natureza constitutiva- negativa, sendo o ato anulável, ou seja, a decisão proferida em controle concentrado e principal produzirá efeito ex nunc, pois a norma jurídica nasce válida, tornando-se, inconstitucional, quando a decisão da Corte Maior é tomada. PADILHA, Rodrigo. Direito Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Método, 2014. P. 315/316.  

49 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos

nova jurisprudência, valendo seus efeitos somente a partir da decisão tomada ou de um evento/data futura que condicionará a sua aplicação.50

3.2 A modulação dos efeitos no CPC (art. 927, § 3º) e os conceitos jurídicos