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A formação de conceitos e a formação do conceito cor no entendimento das professoras

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CAPÍTULO III Ͳ O CONCEITO COR SEGUNDO O MODO DE PENSAR DOS

3.6 A formação de conceitos e a formação do conceito cor no entendimento das professoras

O material coletado nas entrevistas e nas observações das aulas realizadas pelas professoras tornou possível a aproximação do entendimento sobre a formação de conceitos e a formação do conceito Cor, que constitui esta categoria de estudo. Na análise do conceito expresso pelas professoras, observa-se que foi um momento reticente nas três entrevistas. A professora Jade, para responder, remete-se a um relato sobre uma atividade em sala de aula, de acordo com o fragmento abaixo:

Engraçado, às vezes eu coloco alguma tarefinha pedindo o conceito para os alunos e eles me fazem essa pergunta: O que é conceito professora?

Então, é uma definição, que você tem de chegar ao comum... à opinião, à realidade... (Professora JADE, licenciada em Educação Artística, entrevista em 2015).

Para relatar o que é conceito, Jade utilizou um exemplo, o que, para a teoria desenvolvimental, reflete o pensamento lógico-formal, no qual o processo de aquisição do

conhecimento é proposto por elaborações intelectuais baseadas em modelos de pensamento. Para Davidov (2009), esse tipo de informação inclui os resultados do pensamento empírico, que resolve tarefas de classificar e identificar os objetos por seus traços externos, o que impede uma maior compreensão das transformações, dos movimentos, da totalidade, das contradições, das variáveis próprias imprescindíveis à formação do pensamento teórico. Como explica Vigotski (2004, p. 120), “o conceito não é um esquema tão formal, um conjunto de traços abstraídos do objeto, mas que oferece um conhecimento muito mais rico e completo do mesmo”.

No entendimento da professora Pérola, a formação de conceito baseia-se na experiência, conforme o fragmento a seguir:

Eu gosto de trabalhar mais com noção de conceito, não com conceito muito amplo e fechado, porque a base é a mesma, mas cada aluno vai desenvolver o seu conceito de acordo com a sua experiência, de acordo com o que ele já trouxe desde os primeiros anos na escola, de acordo com o que ele vivenciou na família, o que ele vivenciou na igreja, o que ele vivenciou na associação de bairro, que esteja atrás e ele mesmo faz essas conexões e ele constrói o conceito (Professora PÉROLA, Licenciada em Desenho e Plástica/Educação Artística).

Ao expressar sua concepção de conceito, Pérola considera mais a intuição que a estrutura lógica e racional do conhecimento. Numa perspectiva histórico-cultural, o conhecimento pessoal do aluno influencia inicialmente na compreensão da formação do conceito, em que o seu conhecimento empírico é o primeiro passo, mas na sequência do ensino todos os alunos terão de compreender a relação nuclear dele e o seu movimento na totalidade. Sendo o conceito uma ferramenta do pensamento, esta aciona ações mentais interligadas numa rede de conceitos. Segundo Davidov (2009), o que a ciência se esforça em fazer é justamente ir além da simples descrição dos fenômenos para buscar a essência interna deles.

Na sequência, a professora Safira expressa o que pensa sobre conceito e expõe sua visão progressista, conforme o episódio seguinte:

Conceito é assim, é aquilo que você forma na sua ideia, é a ideia que você concebe sobre alguma coisa, sobre algo; é o que você sabe que compreende, e você tira suas ideias sobre alguma coisa daquilo que você sabe. Sua compreensão sobre algo é o que você entende (Professora SAFIRA, Licenciada em Educação Artística, entrevista em 2015).

Safira define conceito como uma ideia concebida e anunciada ao aluno. Embora a visão progressista procure contextualizar historicamente o objeto, não possibilita a visão geral necessária à formação do conceito. Para Davidov (2009), a definição já existente representa o caminho inicial do pensamento teórico, uma vez que não há separação entre empírico e

teórico, mas o ensino direcionado para a formação do pensamento teórico necessita de ações que possibilitem ir além do empírico.

Durante as entrevistas, as manifestações das professoras sobre se veem, ou não, a cor como um conceito e como cada uma compreende o conceito Cor apresentaram os seguintes resultados:

Tem a definição da cor, é um conceito. É que o aluno trabalha com a cor, tem de saber a sua origem, como surgiu [...] às vezes nem sabe que é através da luz que enxergamos as cores, e a cor é tudo na vida, influencia até na personalidade da pessoa (Professora JADE, licenciada em Educação Artística, entrevista em 2015). É um conceito. Você tem de entender ela, tem de compreender o que é cor, pra você poder depois aplicar, reconhecer [...] Primeiro tem que ter a luz, se não tiver luz não tem cor. Então pra mim luz é a sensação [...] acho que a impressão que a gente recebe, quando a luz incide [...] Por isso a gente até fala que a cor influencia psicologicamente a gente, porque vai lá, começa no olho, vai na cabeça da gente e no cérebro da gente, e aí é onde a gente tem as sensações (Professora SAFIRA, Licenciada em Educação Artística, entrevista em 2015).

Não sei, porque às vezes a gente vê um poder da cor numa atividade, que as teorias não tinham trazido essa experiência e o aluno faz essa experiência em sala e te surpreende, e então como trazer uma noção de cor como conceito se o ser humano tem sensações, tem sentimentos, tem um grau de sensibilidade, tem um grau de criticidade [...] Então eu acredito que existe um conceito base [...] mas eu não consigo fechar esse conceito [...] Que naquele momento é verde, mas na hora que eu vou representar artisticamente não é, não tem a mesma intensidade de luz, não tem o mesmo efeito psicológico [...] então eu acho que não dá pra fechar a cor. Dá pra fechar a importância, a realidade de que ela é um fato, ela existe (Professora PÉROLA, Licenciada em Desenho e Plástica/Educação Artística, entrevista em 2015).

De acordo com os dados, a concepção do conceito Cor de cada professora reflete uma abstração e uma generalização de natureza empírica, que é importante para o desenvolvimento do pensamento. Na perspectiva histórico-cultural, o pensamento empírico e o pensamento teórico devem formar uma unidade no processo de conhecimento. O que diferencia o pensamento teórico do pensamento empírico é o aspecto que é dado do objeto e o modo como é concebido. O pensamento empírico busca o aspecto imediato do objeto, para daí buscar o seu aspecto mediado, ou seja, a relação geral principal do objeto, formando assim o pensamento teórico.

O pensamento sensorial empírico é o pensamento usual no ensino da arte, na qual a experimentação traz efeitos que conduzem a possibilidades no uso da cor. Pelos dados, as conceituações confirmam que o ensino por conceito não está no planejamento das professoras, e nem poderia, porque a tendência progressista do ensino da arte, pela qual se orientam, não tem como objetivo a formação de conceitos.

De acordo com Freitas (2009), na perspectiva histórico-cultural, a formação do pensamento teórico é um processo de mediação exercida pelo professor visando que o aluno

descubra a essência do objeto. É um momento de abstração substantiva em que se faz a síntese do lógico-histórico do conceito Cor e se aproxima da generalização substantiva, ou do momento do concreto pensado, para deduzir o que seja mais geral, o aspecto nuclear e que está ao mesmo tempo no pensamento e na realidade concreta inicial do objeto cor. É o momento que Davidov chama passar do abstrato ao concreto pensado, em que se compreende como nuclear do conceito cor – luz – que na relação dos elementos luz-sombra-cor que constituem sua natureza abstrata, passa a ser utilizado como ferramenta mental para extrair as múltiplas manifestações particulares do objeto. Forma-se o pensamento teórico e chega-se à conceituação, em que conceito Cor é o fenômeno resultante da relação consequente da luz e cuja percepção resulta da unidade entre a formação biológica e cultural do indivíduo.

Esse processo dialético pode ligar-se ao ensino da cor, à maneira como se processa o entendimento sobre a formação de conceitos, em que o pensamento teórico trabalha com o geral e o particular do conceito Cor, e nesse sentido promover o desenvolvimento estético dos alunos. Com base na teoria de Davidov, a presente pesquisa objetiva que a Arte, além de possibilitar uma atividade criadora, possibilita também uma atividade pensada e teórica.

Além da concepção que o professor tem sobre a formação de conceitos e que orienta a sua prática, foram encontrados outros dados relacionados com o ensino de conceitos. Verifica-se que existem, no contexto escolar, alguns fatores que exercem influência no desempenho dos alunos e dificultam a aprendizagem. Na categoria a seguir, esses fatores são apresentados.

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