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A formação de conceitos segundo Vigotski

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CAPÍTULO II Ͳ A FORMAÇÃO DE CONCEITOS NA TEORIA HISTÓRICO-

2.3 A formação de conceitos segundo Vigotski

Conforme mencionado anteriormente, para Vigotski (2010), a unidade do pensamento verbal é a palavra e o significado, parte integrante da palavra. Assim sendo, o significado está presente tanto no domínio da linguagem quanto no domínio do pensamento; o significado de uma palavra é igualmente um fenômeno verbal e intelectual. Além disso, a tese básica de Vigotski afirma que o significado das palavras evolui, amadurece, ou constitui um processo de desenvolvimento.

Em sua investigação sobre a formação de conceito, Vigotski (2010, p. 167) demonstra a relação direta entre o momento do amadurecimento do pensamento e o alcance do significado da palavra, e formula uma lei geral:

O desenvolvimento dos processos que finalmente culminam na formação de conceitos começa na fase mais precoce da infância, mas as funções intelectuais que, numa combinação específica, constituem a base psicológica do processo de formação de conceitos amadurecem, configuram-se e se desenvolvem somente na puberdade. Antes dessa idade, encontramos formações intelectuais originais que, aparentemente, são semelhantes ao verdadeiro conceito e, em decorrência dessa

aparência externa, no estudo superficial podem ser tomadas como sintomas indicadores da existência de conceitos autênticos já em tenra idade.

Segundo Vigotski (2010), há um processo de amadurecimento, que, pelo auxílio de problemas propostos e de objetivos colocados diante do adolescente, o leva a dar esse passo decisivo no desenvolvimento de seu pensamento. Isso indica que existe um momento funcional como importante fator do desenvolvimento intelectual. O domínio do próprio processo psicológico é fundamental no processo de internalização e formação de conceitos.

Ainda de acordo com Vigotski (2010), há um processo de evolução do conceito que passa por estágios básicos, o qual cada estágio se divide em fases. O primeiro estágio de formação do conceito, chamado de agregação desorganizada, ou amontoado sincrético, equivale à formação de uma pluralidade não ordenada, um amontoado de objetos diversos a ser discriminado e unificado pela criança sem fundamento interno e sem relação entre as partes. Nessa primeira fase, a criança escolhe novos objetos ao acaso; depois passa para a composição espacial e temporal dos objetos; em seguida a imagem sincrética se apoia na atribuição de um único significado, sem apresentar elos.

O segundo estágio, chamado de formação de complexos, segundo Vigotski (2010), engloba uma grande variedade do mesmo modo de pensamento, que leva a formar vínculos, relações entre impressões diferentes, à unificação e generalização de objetos. Ao alcançar este estágio, a criança parcialmente superou seu egocentrismo. A generalização se dá por vínculos objetivos entre os objetos. O pensamento por complexos já estabelece um pensamento coerente, mas ainda é construído por leis do pensamento totalmente diversas das leis do conceito. Aqui a criança pensa em termos de agrupamentos em famílias interligadas e os vínculos se revelam na experiência imediata.

Esse segundo estágio se desenvolve em cinco fases. A primeira fase de complexo é de tipo associativo. Na construção de um complexo, a criança pode acrescentar, ao objeto nuclear, outro objeto que se assemelhe à cor, à forma, tamanho ou outro atributo que lhe chame a atenção. Esses objetos podem não estar unificados e sim com generalização de semelhança fatual. Depois vem a segunda fase que lembra as coleções. A montagem da coleção se orienta pelo contraste, pela complementaridade, como um prato, uma colher, um copo, sendo modelos que a criança vivencia no seu dia a dia.

Na terceira fase, também é inevitável o processo de ascensão da formação de conceito, pois vem o complexo em cadeia, que, para Vigotski (2010), se constrói pelo princípio da combinação dinâmica de elos isolados numa cadeia única. De novo, o complexo se baseia no vínculo associativo entre elementos concretos particulares, fundindo-se aos

elementos concretos que estão interligados. Passa ainda pela quarta fase chamada de complexo difuso, na qual o pensamento parece tornar-se diluído, confuso, combinando com vínculos indefinidos os grupos concretos de imagens. Tal forma de pensamento é também importante no pensamento por complexos, no qual a criança ingressa em generalizações com traços que oscilam uns nos outros.

A quinta fase de desenvolvimento do pensamento por complexos é chamada de complexo de pseudoconceito, que, para Vigotski (2010), é a forma mais predominante sobre as demais, praticamente exclusiva do pensamento na idade pré-escolar. Isso se deve ao fato de os significados das palavras serem estabelecidos no discurso dos adultos. No entanto, a criança não assimila de imediato o modo de pensamento dos adultos. A forma mascarada do pensamento por complexo, pela semelhança entre pseudoconceito e conceito verdadeiro, se torna um obstáculo grave no caminho do pensamento; saber separar o pseudoconceito do verdadeiro conceito não é tarefa fácil, visto que o significado da palavra é dado por comunicação verbal com o adulto.

No terceiro estágio, chamado de pensamento conceitual, a fase inicial é bem próxima do pseudoconceito. Os traços da generalização refletem o máximo de semelhança com o modelo dado, manifestando, pela primeira vez, um processo de abstração. Vigotski (2010) explica que as formações precursoras dos verdadeiros conceitos são chamadas de conceitos potenciais, tendo semelhança externa com um conceito, mas tem essência diferente e formação pré-intelectual. São potenciais pela referência prática a um determinado círculo de objetos, tendo como base um processo de abstração isoladora. Na história de nossas palavras, os conceitos potenciais têm papel importante. Quando uma palavra nova surge, e com base em um atributo evidente, serve de base para a construção da generalização de objetos representados pela mesma palavra, sem se transformar num verdadeiro conceito.

Os verdadeiros conceitos vão se desenvolver no pensamento na adolescência após os 12 anos, fase em que começa a se desenvolver na criança os processos que levam ao pensamento abstrato e ao desenvolvimento de conceitos. Para Vigotski (2010), conceito é a ideia da coisa e não a coisa em si, é a internalização do signo, da palavra e do seu significado. Sobre a formação do conceito, o autor afirma que o método de ensino formal, no qual os conceitos são anunciados pelo adulto, transmitidos numa forma pronta, não possibilita que a criança assimile o conceito, mas sim a palavra, e mais de memória do que de pensamento, apreendendo esquemas verbais ao invés de apreender o conhecimento no seu movimento. Sendo assim, em qualquer nível do desenvolvimento, o conceito é um ato de generalização,

que transita de uma estrutura de generalização a outra e se entrelaça em um conjunto, em um sistema de relações de generalidade característica do conceito.

Se cada conceito é uma generalização, a relação entre um conceito e outro é uma relação de generalidade, com uma complexa interdependência. Segundo Vigotski (2010), para uma criança de dois anos a relação seria mais concreta, já para uma de oito anos um conceito se sobrepõe a outros e incorpora o mais particular.

A criança pequena não consegue chegar ao pensamento teórico, visto que, para trabalhar com conceito, ela tem de passar do objeto para a ideia dele, para o seu significado, que representa um conjunto de ideias, e fazer abstrações. Na formação do conceito, o professor precisa fazer perguntas que ajudem a criança a ultrapassar o estágio do pseudoconceito. Para isso, é necessário que o professor conheça esse caminho e possa conduzir o pensamento do aluno.

Vigotski (2010) desenvolve um estudo comparado dos conceitos espontâneos e

conceitos teóricos, no sentido de explicar a sua originalidade e mostrar que o processo de

educação, quando conta com momentos programáticos, possibilita superar o desenvolvimento de conceitos espontâneos, que surgem e se formam na experiência cotidiana da criança. Esses conceitos vão sendo apreendidos por meio do contato que ela estabelece com determinados objetivos, fatos, fenômenos dos quais ainda não tem consciência.

Pesquisadores posteriores a Vigotski esclarecem que o processo de formação de

conceitos teóricos requer a definição de atividades necessárias à sua formação. Entre esses

pesquisadores, destaca-se Davidov. Este autor, ao colocar em questão a escola tradicional, dominada pelo método intuitivo, sistematizou a teoria do ensino desenvolvimental cujas premissas estão voltadas para a defesa da escola e do ensino como principais meios de promoção do desenvolvimento psicológico humano. Nessa perspectiva, aponta caminhos para todos os professores que busquem constituir sua prática de ensino como processo que contribui para a formação de conceitos.

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