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FORMAÇÃO DA EQUIPE

No documento Manual de Produção Científica (páginas 180-184)

A primeira etapa necessária à montagem de uma equipe de trabalho é sele- cionar as pessoas que farão parte do grupo. Contudo, a seleção propriamente dita deve ser precedida por um momento de tomada de decisão, no qual al- gumas questões precisam ser levadas em consideração:

a) quanto tempo a pesquisa vai durar?;

b) o objetivo é ter uma equipe que participe de todo o estudo ou apenas de uma parte?;

c) é interessante que os estudantes integrantes do grupo estejam em qual etapa do curso de graduação?;

d) é interessante que a equipe tenha profissionais em sua constituição? Essas perguntas são importantes porque vão balizar todo o processo de seleção. Se a pesquisa durar um período longo e se o seu objetivo é que a mes- ma equipe permaneça durante todo o estudo, você terá dificuldades se sele- cionar estudantes que já estejam prestes a concluir a graduação. Assim que se formarem, eles provavelmente seguirão outros rumos e você terá que treinar uma nova equipe, a menos que eles sigam no mestrado estudando a mesma temática. Já se a participação no grupo de pesquisa não exigir um longo trei- namento e se você não se importar com a rotatividade no grupo, provavel- mente não verá problemas no fato de seus integrantes serem renovados pe- riodicamente.

A avaliação relativa ao semestre que os estudantes estão cursando tam- bém precisa levar em consideração o tipo de coleta de dados que você preten- de realizar. Se a sua pesquisa requer uma coleta simples, como uma aplicação coletiva de questionários, pode ser melhor que os membros da equipe estejam no início do curso, quando ainda não precisam dividir seu tempo e atenção com os estágios curriculares. Por outro lado, se a coleta envolve a utilização de habilidades clínicas, como ocorre em entrevistas, por exemplo, é interes- sante que já tenham cursado alguns semestres da graduação. A participação de profissionais também pode ser útil em pesquisas que exigem habilidades clínicas ou conhecimentos práticos relacionados às diversas áreas de atuação do psicólogo.

A próxima etapa, após a definição do perfil da equipe, é divulgar a sele- ção de seus futuros membros. Em universidades, as duas maneiras mais utili- zadas para fazer isso são a realização de breves anúncios verbais nas turmas de graduação e a utilização de cartazes informativos. Além disso, é possível divulgar por meio de e-mails para seus contatos profissionais e nas redes so- ciais, nas páginas do laboratório de pesquisa ou grupos vinculados à univer- sidade. Para os anúncios nas salas de aula, é preciso entrar em contato com professores da graduação e pedir licença para dar um recado para a turma. A conversa com os estudantes deve ser rápida para não atrapalhar a aula e con- sistir em uma breve notícia sobre a realização da pesquisa e a abertura de se- leção para integrantes da equipe. Nesse caso, as informações importantes são o tema da pesquisa e dados como dia, local e horário da seleção, além de um e-mail de contato para esclarecimentos.

Em relação aos cartazes informativos, essa é uma estratégia interessante para acessar um número maior de pessoas. Os cartazes podem ser colocados nas salas de aulas, corredores, elevadores e murais da universidade. Alguns dados que podem constar são o título do projeto, público-alvo, pré-requisi- tos, carga horária, atividades propostas, data e horário da reunião de seleção, além de e-mail para inscrições e informações (ver Figura 12.1). Um título des- tacado e que tenha algum apelo, e não necessariamente o título da pesquisa, também pode ajudar.

Para que a estratégia de divulgação seja bem-sucedida, tanto os anún- cios nas salas de aula como os cartazes devem ter elementos que despertem a atenção dos estudantes. Durante a conversa com a turma, é mais provável que os estudantes se interessem pelo tema do estudo se os pesquisadores con- seguirem demonstrar sua paixão pelo assunto e domínio sobre ele. Além dis- so, é importante frisar como o envolvimento na pesquisa poderá contribuir para o crescimento acadêmico dos bolsistas e/ou voluntários. Já os cartazes obterão maior sucesso caso consigam sobressair-se visualmente em meio a todos os anúncios que costumam povoar os murais universitários. Assim, é recomendável que eles tenham um visual limpo, com pouco texto e com des-

taque para as informações importantes. A utilização de cores encarece a im- pressão dos anúncios, mas é uma opção que pode auxiliá-lo a destacar-se den- tre os demais.

A divulgação da seleção de participantes profissionais pode ocorrer pela mídia (anúncio em jornais), redes sociais, e-mails para contatos profissionais ou cartazes em centros de formação ou especialização. Embora possa ser mais difícil profissionais disporem de tempo para atividades de pesquisa, muitos desejam se inserir no contexto acadêmico e pode ser um importante ensaio para realização posterior de um mestrado ou doutorado.

Feita a divulgação, é hora de pensar na seleção. A estratégia utilizada para a escolha dos futuros integrantes da equipe depende do estilo dos pes- quisadores. Podem ser realizadas entrevistas individuais, reuniões em gru- po, dinâmicas específicas de seleção, entre outros. A melhor opção é sempre aquela com a qual você fica mais à vontade. Independentemente do método utilizado e do perfil de estudante desejado, esse momento é importante para

SELEÇÃO DE ALUNOS(AS) INTERESSADOS(AS) EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA O grupo de pesquisa CEP-RUA está selecionando alunos(as) para participar do projeto:

“O desenvolvimento de preconceito racial implícito em crianças de Porto Alegre e Salvador”

Atividades propostas:

ü Estudo de temas relacionados à Psicologia Social Experimental – Cognição Social

ü Treinamento em métodos experimentais

ü Coleta de dados

ü Treinamento estatístico (SPSS) para análises de dados

ü Possibilidade de escrita de artigos científicos

ü Possibilidade de participação em congressos científicos

Pré-requisitos:

ü Estar cursando entre o 1º e o 4º semestres do curso de Psicologia

ü Disponibilidade de pelo menos 12h/semana

ü Identificação e interesse pela temática do projeto

ü Interesse em pesquisa quantitativa

ü Conhecimento de Inglês

A seleção ocorrerá no dia 15/04, às 14h, na sala 106 do Instituto de Psicologia da UFRGS. Inscrições:

Até o dia 13/04 por meio do e-mail seleção@seleção.com (Assunto: Seleção)

FIGURA 12.1

verificar, nos candidatos às vagas, características como motivação para par- ticipar da pesquisa, responsabilidade e comprometimento. Também é reco- mendável que os estudantes sejam informados sobre o que se espera deles, bem como sobre a contrapartida que receberão ao fazer parte do grupo. As- sim, poderão decidir se o oferecido corresponde às suas expectativas e se real- mente desejam ingressar na equipe.

Na primeira reunião após a seleção dos novos integrantes, é importan- te estabelecer um contrato de trabalho com os alunos. Esse contrato, que não precisa ser escrito, deve abordar a carga horária que precisa ser destinada à pesquisa, a frequência dos encontros do grupo e as atividades previstas pa- ra a equipe. Além de estabelecer as responsabilidades de cada um, também é importante destacar o que eles têm a ganhar em termos de experiência e aprendizagem. É fundamental que o(a) coordenador(a) cumpra o contrato, seguindo as regras estipuladas com a equipe.

O estabelecimento de um contrato claro pode evitar a desistência ou a rotatividade dos membros da equipe. A capacitação da equipe é uma tarefa que despende tempo e energia e a troca constante de membros pode prejudi- car a fluidez do trabalho. Apesar desses cuidados, podem ocorrer mudanças na composição do grupo, por motivos como início de estágios ou formatura dos alunos da graduação. Diante disso, deve-se recorrer a seleção e a capaci- tação de novos alunos.

Além dos itens já abordados, o contrato deve abarcar a questão sobre os direitos autorais de publicações relativas ao estudo e a remuneração dos alu- nos. É fundamental que fiquem claros os critérios que serão utilizados para definir quem tem direito à autoria das publicações provenientes dos resulta- dos da pesquisa. Enquanto alguns pesquisadores utilizam critérios subjetivos para definir essa questão, outros utilizam sistemas de pontuação objetivos. Nesse tipo de sistema, as atividades intelectuais (p. ex., sistematização de re- visão da literatura, descrição do método, colaboração na escrita de resultados e discussão) são as que geram maior número de pontos. Apenas coletar da- dos, por exemplo, não é suficiente para merecer autoria em um artigo cien- tífico ou capítulo de livro. Além disso, pessoas pagas para executar determi- nado serviço, como coleta ou análise de dados, por exemplo, não são autoras a priori do estudo. Para que isso ocorra, o seu envolvimento com a pesqui- sa precisa extrapolar as tarefas pelas quais recebeu pagamento (Petroianu, 2002). Embora os critérios para definição de autoria variem de um grupo pa- ra outro, é fundamental, para evitar futuros desentendimentos, que esse es- clarecimento seja feito no início do trabalho (ver Capítulo 6 deste livro).

Quanto à remuneração aos membros da equipe, alguns pesquisadores preferem selecionar alunos apenas quando têm bolsas de iniciação científica. Apesar de esse ser um grande incentivo para os estudantes (seleções que en- volvem bolsas geralmente são muito mais concorridas do que aquelas dire-

cionadas a voluntários), ao selecionar um(a) bolsista sem ter conhecimento prévio sobre seu desempenho e relacionamento intragrupo, você pode acabar com um problema sério em mãos. Ninguém quer trabalhar com uma pessoa que tenha dificuldades para se relacionar com os colegas ou que não se adap- te à filosofia de trabalho da equipe. E, infelizmente, esse é o tipo de avaliação que você só consegue fazer de maneira efetiva após um período trabalhando com a pessoa. Dessa forma, é recomendável que seja realizado uma espécie de estágio probatório, como um trabalho voluntário, antes que alunos sejam contemplados com uma bolsa de iniciação científica. Estudantes voluntários sempre podem receber certificação pela participação na equipe.

Além de evitar problemas como o citado, a distribuição de bolsas de acordo com o mérito também funciona como um incentivo para os voluntá- rios. Eles sabem que, se empregarem o esforço e o empenho necessários, po- derão ser recompensados. Ser bolsista, nesse caso, é um reconhecimento ao trabalho e à dedicação. Ganham os alunos, ganha a pesquisa.

Mas fique atento: mesmo com a utilização de todas essas estratégias para evitar a seleção de bolsistas sem o perfil adequado para a pesquisa, po- de ocorrer do aluno com bolsa não desempenhar suas atividades de trabalho conforme necessário. Deve-se buscar compreender o que está prejudicando o desempenho do aluno em suas tarefas. Dependendo do caso, a manutenção da bolsa deve ser reavaliada com o aluno.

Além de alunos de graduação, a seleção de profissionais para integrar o grupo também pode ser útil, dependendo dos objetivos da pesquisa. Para es- ses profissionais,existem as bolsas de apoio técnico, que são um incentivo à participação. Os profissionais podem auxiliar dando apoio e servindo também como referência para os alunos da graduação. Isso possibilita compartilhar responsabilidades e diminuir sua carga de trabalho. Além disso, os alunos da graduação podem se beneficiar e potencializar suas aprendizagens conviven- do com profissionais experientes.

No documento Manual de Produção Científica (páginas 180-184)