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PLANEJAMENTO DA APRESENTAÇÃO

No documento Manual de Produção Científica (páginas 159-165)

As apresentações orais podem partir de quatro métodos, de acordo com Hem- phill (2009): de leitura, de memorização, do improviso e do preparo com antecedência. O primeiro método, de leitura, consiste em ler anotações ou conteúdo dos slides, fixando-se no texto e não no público. Esse método pode sugerir insegurança e despreparo do(a) apresentador(a) e em geral é critica- do pelas plateias.

O segundo método, de memorização, refere-se ao procedimento de de- corar a fala e pode ser arriscado, pois em função de ansiedade ou qualquer falha de memória a apresentação pode ficar comprometida. Também é criti- cado, especialmente por dar a impressão de que não está realmente comuni- cando-se com o público e apenas repetindo, sem assertividade e apropriação, um conteúdo dominado apenas pela memorização automática. O terceiro mé- todo, do improviso, demonstra desconsideração com o público e a apresenta- ção pode ficar confusa, pois não há um planejamento.

Por fim, o método do preparo com antecedência, que deveria ser o mais usado, consiste em planejar e organizar a apresentação, de modo que o seu conteúdo não seja lido, tampouco as ideias sejam “despejadas” ou meramen- te decoradas. Ao utilizar esse método, os apresentadores demonstram fluidez, assertividade, domínio sobre o tema e, portanto, respeito com o público. Seu uso envolve esforço significativo, mas garante qualidade da apresentação e maior chance de o público permanecer atento. Nesse método, o planejamen- to detalhado da apresentação ocorre do início ao fim e inclui estudar os tópi-

cos que possam representar as lacunas no conhecimento dos apresentadores. É recomendável o uso de alguns slides que sirvam de pistas para a memória, contribuindo para manter a apresentação em uma linha contínua e precisa (Hemphill, 2009). No entanto, atente para o fato de que o conteúdo do slide deve ser objetivo e pontual. Não é a leitura dele que fará a apresentação com- preensível e atrativa. Os slides são a “pista” dos apresentadores, para que pos- sam dar esclarecimentos, mostrar dados mais complexos, tabelas, figuras e se lembrar de possíveis conteúdos importantes.

A preparação da apresentação deve considerar os seguintes aspectos (Hemphill, 2009):

1. Nível de conhecimento e interesses do público acerca do tema.

2. Conhecimento dos próprios apresentadores sobre o tema, reconhecendo lacunas para que seja possível que se prepararem de forma adequada para a apresentação.

3. Uso adequado do tempo, respeitando os limites estabelecidos. Por essa razão, é necessário estabelecer quais são as principais informações que devem ser transmitidas. A estratégia mais eficaz para qualificar a apre- sentação e realizá-la no tempo disponível é o ensaio. Os ensaios devem ser realizados repetidas vezes para revisões do conteúdo e do tempo. Para tal, vale cronometrar apresentação e contar com a ajuda de colegas que possam dar um feedback sobre ela. Também é válido gravar e/ou filmar os ensaios para posterior análise e qualificação.

4. O cuidado com a aparência pessoal e higiene é fundamental. A aparência descuidada pode afetar a credibilidade. Nesse sentido, roupas informais são inadequadas para uma apresentação formal.

A utilização de recursos visuais no preparo da apresentação é um ele- mento importante (Hemphill, 2009). Deve-se ter cuidado para preparar sli- des com fonte grande (44pt para títulos e 24pt para o corpo do texto), do ti- po sans serif (p. ex., Arial, Verdana), de cores escuras sob fundo claro, com pouco conteúdo (poucas frases ou palavras e não parágrafos inteiros de tex- tos recortados e colados do Word) e sem erros ortográficos e gramaticais. Um recurso recente que vem sendo utilizado na elaboração de apresentações é o software Prezi (http://prezi.com/). Trata-se de uma ferramenta útil que pos- sibilita estruturar apresentações mais dinâmicas e com fácil uso de mídias (p. ex., som e vídeo).

A simplicidade é o principal aliado para bons recursos visuais. Anima- ções e ilustrações são bem-vindas quando não em excesso. Nesse contexto, o uso de efeitos de som em slides não é recomendável. O conteúdo dos slides não deve “competir” com o conteúdo da fala dos apresentadores, mas ser uma complementação para que não percam a sua linha de raciocínio (Grobman,

2003-2008). A Figura 10.1 apresenta exemplo de um bom slide, enquanto a Figura 10.2 apresenta o mesmo conteúdo, mas de forma contraindicada.

Antes da apresentação é recomendável estar no local com antecedência para testar os recursos visuais, bem como os equipamentos audiovisuais que serão utilizados (Grobman, 2003-2008). Outra dica é ter a apresentação em diferentes pen drives e tê-la disponível online. Além disso, é sugerido ter os sli- des impressos, caso ocorram imprevistos com os equipamentos audiovisuais.

Violência sexual (VS)

ü Problema de saúde pública

ü Impacto negativo para o desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes

ü Intervenções WHO e ISPCAN (2006) 1. focais e estruturada

2. objetivos definidos 3. replicáveis

4. baseadas em evidências

FIGURA 10.1

Exemplo de bom slide.

Violência sexual

A violência sexual contra crianças e adolescentes é um grave problema de saúde pública. A violência sexual pode desencadear impacto negativo ao desenvolvimento psicossocial das vítimas. As principais consequências da violência sexual são problemas cognitivos, compor- tamentais e sociais. Algumas vítimas podem desenvolver graves transtornos psicopatológicos como o transtorno do estresse pós-traumático.

Diante do impacto negativo gerado pela violência sexual, a psicoterapia pode ser impor- tante estratégia para minimizar as consequências dessa experiência. A ISPCAN e a WHO indicaram em 2006 as diretrizes para o tratamento psicológico das vítimas. As intervenções devem ser focais e estruturadas, devem apresentar objetivos definidos, devem ser replicáveis e apresentar evidências de efetividade.

FIGURA 10.2

Exemplo de como não deve ser o slide.

REALIZAÇÃO DA APRESENTAÇÃO

Durante a apresentação oral, é necessário estar atento para postura e entu- siasmo, contato visual, uso da voz e uso do tempo. A competência de um(a)

orador(a) está vinculada ao interesse e ao conhecimento que demonstra so- bre o tema, assim como pelo entusiasmo com que transmite suas ideias. A postura, o sorriso, a respiração controlada e a movimentação não excessiva pelo espaço podem acentuar o entusiasmo e a vinculação com os ouvintes (Grobman, 2003-2008; Hemphill, 2009). Tal vinculação é construída mais facilmente quando o(a) apresentador(a) assume uma postura simpática, sor- rindo para o público, agradecendo sua presença e a oportunidade de com- partilhar suas aprendizagens com as pessoas presentes. Não é recomendável iniciar a apresentação se desculpando pela falta de experiência ou de tempo para preparação de tal atividade. Tais atitudes podem transmitir inseguran- ça ao público.

A busca pelo contato visual com o público também representa controle da apresentação e vinculação positiva com os ouvintes. Outra opção que po- de auxiliar o controle da ansiedade é fixar o olhar em um ponto no fundo do auditório, ou buscar o contato visual com pessoas que apresentem expressões faciais amigáveis em locais diferentes da sala. Deve-se evitar fixar o olhar nos recursos visuais ou ler anotações, pois esses comportamentos podem ser in- terpretados pelo público como desinteresse dos apresentadores ou inseguran- ça com relação ao conhecimento sobre o tema (Grobman, 2003-2008; Hem- phill, 2009).

O cuidado com o uso da voz é fundamental. O público deve ser capaz de ouvir e entender o que está sendo dito. Não se deve falar muito baixo, tampouco alto demais. Também se deve evitar falar rápido. É recomendável articular bem a pronúncia das palavras, assim como variar a entonação da voz, que pode ser um recurso para destacar conteúdos relevantes (Hemphill, 2009).

A linguagem utilizada também reflete credibilidade. Sugere-se utilizar apenas linguagem profissional adequada ao público. Os termos técnicos de- vem ser utilizados desde que o público tenha conhecimento. Caso contrário, devem ser esclarecidos em uma linguagem acessível e simples (Grobman, 2003-2008). É importante certificar-se de que as palavras e a gramática este- jam sendo utilizadas de forma correta, bem como evitar linguagem coloquial, jargões ou “gírias”. Outra dica é não utilizar termos como “né”, “tá”, “então”, “ahn”, repetidas vezes. Essas “bengalas linguísticas” podem ser identificadas nos ensaios e devem ser monitoradas e excluídas da apresentação, pois tor- nam o discurso desagradável. Por fim, é necessário cuidado com uso de ter- mos que possam ser interpretados como linguagem sexista ou como precon- ceitos racial ou socioeconômico, como, por exemplo, “o homem” em vez de ser humano, “pessoas morenas” em vez de negros, ou “participantes pobres” em vez de participantes de nível socioeconômico baixo (Hemphill, 2009). Pa- lavras como judiar, denegrir, entre outras também têm conotação preconcei- tuosa e devem ser evitadas.

Alguns outros cuidados devem ser adotados para uma apresentação efi- caz: não se atrasar para a apresentação, não falar mais tempo do que o per- mitido pelo evento, não hiperventilar, ou seja, deve-se controlar a respiração, não falar de forma monotônica ou murmurar, assim como não ler anotações. Em relação à postura e aos movimentos, deve-se evitar sentar-se ou apoiar-se em mesas ou estantes, não se esconder atrás do púlpito, não ficar se balan- çando para a frente e para trás, não ficar na frente dos recursos visuais e não permanecer de costas para o público. Ainda é importante não esquecer de ter um tom divertido, afinal, a apresentação não necessita ser aborrecida para ter credibilidade. Dessa forma, o uso do humor é bem-vindo quando não em exa- gero (Hemphill, 2009; Peoples, 2001).

O público manifesta-se por meio de comportamentos que oferecem feed- backs aos apresentadores, tais como tossir, aplaudir, bocejar, adormecer, ba- lançar a cabeça positivamente, sorrir. É útil estar atento a tais comportamen- tos para verificar o seu interesse e a sua compreensão. A vinculação positiva com os ouvintes também deve ser fortalecida por meio da disponibilização de tempo para perguntas. Esse tempo também é interessante para esclarecimen- tos de dúvidas e para balizar o quanto a palestra foi compreendida e no que se deve melhorar em oportunidades futuras. O reforço positivo para a participa- ção do público por meio de verbalizações, tais como “muito interessante sua pergunta” ou “obrigada por sua contribuição” fortalece o bom vínculo com os ouvintes. As dúvidas e os questionamentos devem ser respondidos de forma genuína, ou seja, quando não se sabe a resposta, deve-se informar que não sa- be e que buscará informações a respeito (Hemphill, 2009). É recomendável se preparar para possíveis perguntas, tais como “por que tal método foi escolhi- do e não outro?” ou “por que foi realizado este tipo de análise e não outra?” e é fundamental justificar tais escolhas. As perguntas devem ser respondidas de forma pontual. Os apresentadores devem compreender as dúvidas e comentá- rios como críticas ao trabalho e não como críticas pessoais. Por fim, também é positivo disponibilizar e-mail para posterior contato (Grobman, 2003-2008).

Demonstrar confiança, assertividade e tranquilidade são requisitos fun- damentais para conquistar a credibilidade do público. A ansiedade é uma re- ação normal e esperada em situações de apresentação oral. Algumas estraté- gias para controlar a ansiedade são o ensaio prévio, o controle da respiração e ter em mente que ninguém sabe mais sobre o estudo realizado do que o(a) próprio(a) autor(a). É também possível “brincar” com a situação, revelando ao público o seu “estado ansiogênico”, pois isso ajudará a descontrair e rela- xar. Tais estratégias manterão os apresentadores no controle da ansiedade e não a ansiedade no controle dos apresentadores. É importante lembrar que a apresentação oral eficaz é uma habilidade a ser construída e é aprimorada com a prática (Grobman, 2003-2008). Portanto, cada apresentação oral rea- lizada será melhor que a anterior!

REFERÊNCIAS

Grobman, K. H. (2003-2008). How to give a good talk in Psychology or other sciences. Retirado de: http://devpsy.org/teaching/method/give_psychology_talk.html

Hemphill, B. (2009). Oral presentations. Retirado de: http://www.etsu.edu/scitech/langskil/ oral.htm

Hill, M. D. (1997). Oral presentation advice. Retirado de: http://pages.cs.wisc.edu/~markhill/

conference-talk.html

Peoples, D. C. (2001). Guindelines for oral presentation. Retirado de: http://go.owu.edu/ ~dapeople/ggpresnt.html

p a r t e III

Administração

No documento Manual de Produção Científica (páginas 159-165)