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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE

4.4. TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO

4.4.3. Formação de professores em matérias das TIC

Em qualquer situação ou estágio de inovação educacional, na história da humanidade, é fundamental que se leve em consideração a formação dos professores visto que, no momento certo, estes é que devem planejar e introduzir essas iniciativas nas salas de aulas. Essa formação deve levar em consideração os dois grupos de professores: os que estão se formando (formação inicial) e os que já se encontram a exercer essas funções. Deste modo, o mesmo se espera que aconteça no âmbito da integração das TIC no processo de ensino/aprendizagem em todos os níveis, em Moçambique.

Em primeira instância, analisando o Plano Tecnológico da Educação (2011) e o que a realidade nas escolas visitadas na cidade de Maputo ilustra, compreendi que na formação de professores para o ensino primário (IFPs) leciona-se a disciplina de “Pesquisa Ação”. Nesta disciplina, o objetivo é que os formandos sejam estimulados a responder a problemas práticos com recurso às TIC nas suas pesquisas e na apresentação dos resultados. O PTE (2011) pontua, ainda, que a formação de professores para o ensino das TIC foi desenhado compreendendo duas vertentes:

1. Formação inicial e continuada

i. Capacitação para a utilização das TIC, com os conceitos-chave das novas tecnologias de informação e comunicação, princípios básicos de utilização de novas tecnologias e da Internet. Esta formação deve ser completada com a introdução dos métodos para a gestão tecnológica das salas de aula do século XXI;

ii. Formação nas novas técnicas e materiais pedagógicos inerentes à evolução do modelo de ensino, para capacitar os professores para a sua utilização nas salas de aulas;

iii. Sensibilização para as competências chave para o desenvolvimento da sociedade moçambicana, apoiando os professores na transmissão e na incorporação no ensino destas novas áreas do conhecimento, que contribuem para o sucesso num mundo cada vez melhor.

2. Formação pontual

iv. Formação nos novos conteúdos pedagógicos digitais, que poderão ter por enfoque, em termos acadêmicos, o português e a literacia, as ciências e a matemática. Os conteúdos deverão abordar ainda temas importantes para o desenvolvimento econômico-social como sejam o combate ao HIV/SIDA, a economia digital ou a formação técnico-profissional em áreas como a agricultura. (PTE, 2011, p.67, grifos nossos)

Refletindo sobre esta última citação, sobre os objetivos nos cursos de formação de professores, se evidencia mais o foco no uso instrumental das tecnologias de informação e comunicação, na gestão do ensino e na preparação profissional, como transparece nos termos grifados. Assim, fico com a compreensão de que do ponto de vista das dimensões da mídia- educação dá-se mais relevância à dimensão do educar com as mídias, em detrimento de outras dimensões também importantes para o contexto de integração das tecnologias no espaço educativo. Lembrando que o acesso e o uso instrumental das máquinas é apenas o primeiro passo.

No concernente à formação de profissionais das TIC e de professores no Ensino Superior, atualmente, esta é feita nos graus de licenciatura em ciências computacionais e em Informática – vertente ensino – e as TIC são parte integrante de alguns cursos superiores. Estes cursos são lecionados numa parceria entre a Universidade Pedagógica (UP) e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM). A partir desta parceria são formados 15 profissionais por ano, desde 2004, segundo o PTE (2011, p.64).

Refletindo sobre esses dados de formação, se desde o ano de 2004 a UEM forma 15 profissionais/ano, em cursos relacionados com as TIC, acrescidos aos que são graduados pela UP desde 2008 quando saiu o primeiro grupo, salta-me a seguinte questão: onde se encontram esses profissionais se nas escolas ainda não se ensinam as TIC?

A par dessas iniciativas, foram elaborados Manuais de professores da disciplina das TIC, em 2008 houve a capacitação de cerca de 350 professores, através do programa PIL (Partnership in Learning) apoiado pela Microsoft. Na Universidade Pedagógica (UP), está em funcionamento o curso de licenciatura na formação de professores de Ciências Naturais e Matemática que conta com a disciplina de “Tecnologia Educacional”47

. Uma parte significativa desses professores formados na área das TIC na educação não se encontra a trabalhar nas escolas. Dos poucos que estão nas escolas, colhemos o relato de um dos que fez parte do primeiro grupo dos graduados da UP, sobre as dificuldades que tem enfrentado:

Não é uma tarefa fácil trabalhar com esta disciplina sem os computadores, porque as TIC é uma disciplina prática. O que tenho feito é aproveitar os manuais que têm partes teóricas e partes que precisam do quadro (preto ou branco) e giz ou marcador. As TIC não se centram só no computador. Tem partes, por exemplo, que falam da base de dados, os conceitos, mostrar os ambientes, como é que se comportam os gráficos. Então, é nesse âmbito que tenho trabalhado as TIC na sala de aula sem os próprios computadores. (prof1)

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Para a melhor compreensão do caráter desses cursos superiores relacionados com as tecnologias de informação e comunicação, era suposto que avaliássemos os conteúdos, objetivos e metodologias abordados nessas universidades, UP e UEM, porém não o fizemos devido ao nosso foco e ao tempo reduzido da nossa pesquisa. Em todo o caso, entendemos que é importante se avaliar a relação entre os conteúdos inseridos nesses cursos se estão em conformidade com o que o MEC deseja que sejam os profissionais da educação, ou se trata apenas de aprendizagem de habilidades técnicas.

A falta de computadores nas escolas é uma das razões mais citadas pelos diretores pedagógicos com os quais interagi na cidade de Maputo, para que até este ano não se esteja a lecionar esta disciplina.