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3. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, SABERES E FORMAÇÃO DOCENTES:

3.3 Formação docente

Constata-se, nas últimas décadas, um crescente aumento de pesquisas e estudos relacionados à formação inicial do professor. Há uma gama de variáveis importantes inseridas nesse contexto que necessitam ser investigadas com o intuito de oferecer uma educação de qualidade. Sendo assim, é de extrema importância que o trabalho exercido pelos grandes responsáveis pela formação dos cidadãos, os docentes, seja

constantemente analisado e problematizado o que, certamente, contribuirá para que a prática docente seja exercida com grande responsabilidade e consciência.

Contudo, embora haja estudos investigativos acerca da formação inicial do professor, há evidências de que o grande foco das pesquisas relacionadas à formação do professor está voltado aos professores em exercício. Isso é, certamente, uma problemática que necessita ser destacada, pois, o exercício pleno da docência depende, em grande parte, de uma formação inicial sólida.

A formação inicial dos professores, de modo geral, necessita ser analisada, vista e revista com bastante rigor e responsabilidade. Afinal de contas, é por meio da influência dos ensinamentos do professor que o indivíduo terá aguçado, em algum momento de sua vida, a necessidade de exercer efetivamente sua posição na sociedade em que vive. É a educação que proporciona ao indivíduo a capacidade de fazer valer a sua “voz” por meio do exercício da cidadania. Sendo assim, a formação inicial dos grandes responsáveis pelo dinamismo e bem estar social da comunidade é de grande responsabilidade, especialmente por parte do governo.

Dessa forma, é necessário, primeiramente, o reconhecimento da sociedade em relação à necessidade de se investir em esforços e recursos na formação inicial de professores. É claro que a formação continuada e o aprimoramento dos docentes também são de grande importância. Porém, uma formação inicial sólida representa maior consistência e propriedade no efetivo exercício do professor. Por isso, destacam Gatti, Barretto e André (2011 p. 93) “daí, a importância de uma sólida formação inicial, solidez que também necessita de reconhecimento societário”.

É por meio da oferta de cursos de licenciatura de qualidade e de alto grau de solidez que a prática docente se torna fundamentalmente alicerçada. A formação inicial do professor é o principal passo para se preparar docentes prontos para lidar com a contemporaneidade. A sociedade está em constante mudança, por isso, há uma premência do profissional da área de educação acompanhar as novas necessidades com bastante dinamismo e responsabilidade. A prática docente, em qualquer área do conhecimento, exige que o profissional em exercício tenha sensibilidade o suficiente para se adequar a novas tendências e enfrentar novos desafios. Não há lugar para uma postura cômoda.

É justamente por meio da prática que os futuros profissionais, nem sempre já inseridos no exercício da docência, têm a oportunidade de se deparar com as inúmeras

variáveis envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. Segundo Gatti, Barretto e André (2011), é nesse estágio de formação profissional do professor que há uma constante dissonância entre a teoria e a prática. Ainda, de acordo com Perrenoud (1993), tal problemática ocorre na grande maioria dos cursos de licenciatura oferecidos nas universidades brasileiras.

No que tange essa problemática, Bertoldo (2003) também afirma que, infelizmente, ainda há docentes que não vinculam a teoria e a prática, contribuindo para a sua dicotomia. Isso pode ser comprovado em disciplinas importantes inseridas no curso de formação inicial de professores.

Há relatos nada animadores referentes à preparação para o efetivo exercício da docência. Infelizmente, vários cursos de licenciatura ainda se restringem aos aspectos teóricos que envolvem o ensino, não oferecendo oportunidades práticas suficientes para que os futuros docentes estejam minimamente preparados para lidar com a sala de aula. Guarnieri (2005, p. 14) discute essa questão apresentando o testemunho de algumas professoras em exercício que, ao avaliarem seus cursos de licenciatura, disseram que “tais cursos não as prepararam para atuar ao alegarem não possuir conhecimentos de natureza prática e isso as deixava inseguras para assumirem a sala de aula”.

É justamente a transição do indivíduo da posição de estagiário, ou aluno- aprendiz, para docente em exercício que ocasiona incertezas e desafios para os professores. O início da carreira pode representar um grande obstáculo a ser superado. Há, nesse estágio, incertezas e dificuldades que nem sempre podem ser compartilhadas e problematizadas com profissionais mais experientes e capacitados para lidar com essas variáveis. Muitas vezes, esses profissionais em início de carreira se sentem isolados e incapazes de lidar com esses problemas. A esse respeito, Guarnieri (2005, p. 14) aponta que:

Também perceberam a falta de espaço para partilhar as dificuldades que enfrentavam, não recebiam ajuda para superar os problemas. Tal situação contribuía para que as professoras iniciantes se sentissem sozinhas, trabalhassem individualmente, conduzindo-as ao isolamento no interior da escola.

Ainda nesse sentido, Huberman (1992) defende que esse processo de início de carreira é essencial para a tomada de decisão. É nesse estágio que o profissional em início de carreira se depara efetivamente com os inúmeros desafios e variáveis

envolvidas no exercício da profissão. Nesse momento, o docente vive um momento de descoberta no qual há um confronto de suas concepções, sua identidade profissional e suas crenças com a complexidade da situação profissional em que está inserido. Huberman (1992) caracteriza esse momento na carreira do professor como o estágio da sobrevivência.

Esse momento da carreira é crucial para a afirmação do “eu”, ou seja, da identidade do professor. É certo que tomar qualquer tipo de posicionamento nesse estágio da carreira requer muita coragem e autoafirmação, especialmente por se tratar de um período delicado em que muitos profissionais encontram-se ainda no período de estágio probatório. Porém, é esse o grande desafio das licenciaturas, promover um espírito de cultura emancipatória nos profissionais responsáveis pela educação no nosso país. É necessário fazer os professores enxergarem que eles são os grandes responsáveis pelo próprio exercício da profissão. Tomar qualquer tipo de postura em relação ao exercício da docência é de responsabilidade do próprio docente. Guarnieri (2005, p.8) esclarece a importância dessa responsabilidade ao dizer que “é importante recuperar alguns dos indicadores das práticas desses professores, que podem ser traduzidos pelo compromisso com a profissão e com a realização de um ensino de melhor qualidade”.

É por meio de uma prática consciente e responsável que o profissional proporciona ao aluno as ferramentas necessárias para se transformar em um indivíduo crítico e ciente de sua responsabilidade no meio em que vive. Esse é, na verdade, o grande desafio da educação brasileira e da nova proposta curricular de línguas estrangeiras modernas do estado de São Paulo: possibilitar a integração e emancipação do aluno socialmente, fazendo com que o mesmo não somente atue na ordem social como também a modifique quando se fizer necessário. É necessário formar indivíduos mais reflexivos e melhor preparados para tomar frente perante os diversos segmentos sociais.

Por isso, os professores, especialmente em início de carreira, devem estar prontos para assumir esse papel tão importante perante a comunidade em que vivem. Os desafios sempre estarão presentes, independente do estágio da carreira do docente. Certamente, o mais fácil é adotar uma postura cômoda e se adequar à cultura da “mesmice” que há em grande parte das instituições brasileiras. Isso ocorre principalmente nos casos em que os professores iniciantes se deparam com as barreiras encontradas nas escolas que têm aversão às transformações e a um ensino diferenciado e

de qualidade. Nesses casos, esses profissionais acabam tomando decisões que vão contra os seus princípios para evitar conflitos e possíveis desconfortos profissionais. Guarnieri (2005, p. 11) problematiza essa realidade ao afirmar que “o professor iniciante pode tornar-se passivo, resistente à mudança e procurar evitar conflitos, pela adesão a um modelo aceito e questionável”.

É importante ressaltar que, embora haja uma resistência em relação à prática consciente, crítica e responsável, há muitos profissionais dispostos a enfrentar esses desafios de cabeça erguida. Os inúmeros desafios da prática docente são superados quando o docente incorpora em sua prática uma visão fundamentalmente crítica e reflexiva alicerçada em preceitos, concepções e ideologias emancipadoras, na qual o ensino e a aprendizagem são vistos como processos inacabados. Os problemas, barreiras e desafios sempre existirão. O grande desafio do educador se resume em executar ações adequadas em diferentes contextos de ensino e aprendizagem. Por isso, sua capacitação e aprimoramento devem ser constantes no decorrer de seu ciclo. Os ambientes de ensino se mostram cada vez mais variados e em constante transformação, sendo assim, os professores necessitam também estar em constante sintonia com tais desenvolvimentos e atualizações.

Na tentativa de reverter esse quadro, estudos na área de ensino e aprendizagem estão sendo desenvolvidos, buscando reformular, de forma inovadora e eficaz, cursos de formação de professores, repensando o objeto de disciplinas fundamentais como, por exemplo, o estágio supervisionado.

Monteiro (2008) defende essa percepção inovadora de prática pedagógica em cursos de formação inicial de professores por meio de um estudo em que aponta a necessidade de se relacionar, cada vez mais, a teoria com a prática, possibilitando assim que o futuro docente “se torne capaz de olhar para sua própria prática, transformando-a, se necessário, para ser capaz de transformar a realidade” (MONTEIRO, 2008, p. 142). É necessário proporcionar, cada vez mais, oportunidades para que o futuro professor tenha contato com o contexto que fará parte de sua rotina pelos próximos anos de sua vida. Todavia, não se pode pensar em proporcionar tal prática somente em disciplinas como o estágio supervisionado. A prática tem que ser incorporada desde o início da formação docente.

Por outro lado, os profissionais que se encontram em atividade também enfrentam certos desafios e dificuldades, especialmente nos primeiros anos de carreira. Nesse sentido, Marcelo (1998 p.68) advoga que:

Os primeiros anos de ensino são especialmente importantes porque os professores devem realizar a transição de estudantes a professores, e por isso, surgem dúvidas e tensões, devendo eles adquirir adequado conhecimento e competência profissional em breve período de tempo. Nesse primeiro ano, os professores são principiantes e, em muitos casos, até mesmo no segundo e terceiro anos podem ainda estar lutando para firmar sua própria identidade pessoal e profissional. Por isso, a formação inicial de professores é um momento fundamental no exercício da docência. É por meio de uma preparação adequada e consciente que o professor em início de carreira consegue lidar com os vários desafios que enfrentará com mais propriedade. Veenman (1984) destaca o “choque da realidade” como um dos problemas enfrentados pelos docentes ao se depararem com a sala de aula no princípio de carreira.

Mesmo tendo passado por situações de ensino durante a licenciatura, especialmente na prática de ensino, os professores enfrentam grandes desafios no início do exercício da docência como a falta de segurança e confiança, a socialização com o ambiente de trabalho, a integração com a cultura escolar, a adaptação com o entorno escolar, a disciplina dos alunos, a motivação dos aprendizes, a organização do trabalho e do material escolar, o planejamento das aulas, a improvisação, dentre outros.

Tendo em vista as dificuldades e os inúmeros desafios existentes no início da carreira do professor, alguns países têm tomado atitudes no sentido de saná-los. É o caso da Inglaterra e da Austrália que tiveram a iniciativa de proporcionar programas que visam amenizar o processo de transformação de aluno-aprendiz para professor. Tisher aponta que:

As atividades que comumente se desenvolvem nesses tipos de programas consistem em proporcionar informação, assessoramento e supervisão ao professor principiante, incluindo a redução da carga horária docente durante o primeiro ano, que corresponde de 5 a 10% na Inglaterra e de 20% na Austrália22 (TISHER,1980 apud

MARCELO,1991, p.20).(Tradução nossa)

22 “Las actividades que comúnmente se desarrollan em este tipo de programas consisten em proporcionar información, asesoramienteo y supervisión al profesor principiante, incluyendo la reducción de la carga

Iniciativas como esta também já existem em alguns estados brasileiros. Além da redução da carga horária para professores iniciantes, existe também uma nova regulamentação nos concursos públicos para provimento de cargos de docência em alguns estados. No estado de São Paulo, por exemplo, com a regulamentação da Lei Complementar 1.094/2009, os concursos públicos passaram a ser compostos por três etapas sucessivas, a primeira de provas, a segunda de avaliação de títulos e a terceira constituída por curso específico de formação23, sendo a primeira e a terceira etapas

eliminatórias e a segunda apenas classificatória.

Isso certamente traz benefícios para a educação, tanto para os alunos quanto para os professores. Os alunos, sem dúvida, se beneficiam com essa iniciativa, pois os professores, certamente, são mais bem preparados para entrar na sala de aula. Além disso, os próprios professores se sentem mais confiantes e motivados para lidar com o grande desafio de ensinar.

No que tange a nossa área de atuação, é possível evidenciar, cada vez mais, a preocupação com uma prática docente qualificada. A visão tradicionalista e convencional tem, aos poucos, cedido lugar a uma prática docente mais consciente das necessidades das línguas estrangeiras modernas na contemporaneidade. Já não é mais possível ensinar línguas estrangeiras modernas como no passado.

As práticas pedagógicas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras estão, em grande parte, relacionadas às abordagens que perpassam o ensino. Elas são várias, porém apresentamos anteriormente somente as abordagens mais discutidas no meio acadêmico nos últimos anos.

No próximo capítulo, será apresentado o percurso metodológico que norteou a presente investigação.

docente durante el primer año, que corresponde de un 5 a um 10% em Inglaterra y de um 20% em Austrália” (TISHER,1980 apud MARCELO,1991,p.20)

23

O curso de formação é ministrado nas modalidades presencial e à distância e tem duração de aproximadamente 4 meses – 360 (trezentos e sessenta) horas, com carga horária semanal de 20 (vinte) horas. Durante o período do curso de formação, o candidato fará jus à bolsa de estudo mensal, correspondente a 75% (setenta e cinco por cento) do valor da remuneração inicial do cargo pretendido, conforme §2º, do artigo 7º da Lei Complementar nº 1.094/2009. Ao término do curso de formação, o candidato que tiver participado de, pelo menos, 75% das atividades propostas fará uma prova de aptidão, de caráter eliminatório: o candidato aprovado estará apto a participar de sessão de escolha de vaga e consequente nomeação.