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3. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, SABERES E FORMAÇÃO DOCENTES:

3.1 Práticas pedagógicas

Gimeno Sacristán (2000) considera muito difícil apreender a prática pedagógica de um professor, propondo um caminho possível: analisar o conjunto de tarefas/atividades desenvolvidas por esse profissional.

Seu conceito de prática pedagógica está intimamente relacionado com o conceito de currículo que é “um projeto seletivo de cultura, cultural, social, política e administrativamente condicionado, que preenche a atividade escolar e que se torna realidade dentro das condições da escola tal como se acha configurada” (GIMENO SACRISTÁN, 2000, p. 36).

Tal currículo concretiza-se em várias fases, a saber, currículo prescrito, currículo apresentado aos professores, currículo modelado pelos professores, currículo em ação, currículo realizado e currículo avaliado.

O currículo prescrito desempenha um papel de referência na ordenação do sistema curricular. Ainda, tal currículo representa a base na organização do sistema curricular e no controle do sistema, alternando de acordo com as necessidades e momentos históricos vivenciados em um determinado país. Em nossa investigação, a nova proposta curricular de línguas estrangeiras modernas do governo do estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) se encaixa nos moldes do currículo prescrito elaborado por Gimeno Sacristán (2000). A esse respeito, Gimeno Sacristán (2000, p. 107-108) elucida:

Essa política que prescreve certos mínimos e orientações curriculares tem uma importância decisiva, não para compreender o estabelecimento de formas de exercer a hegemonia cultural de um Estado organizado política e administrativamente num momento determinado, mas sim como meio de conhecer, desde uma perspectiva pedagógica, o que ocorre na realidade escolar, à medida que, neste nível de determinações, se tomam decisões e se operam mecanismos que têm consequências em outros níveis de desenvolvimento do currículo.

Embora a nova proposta curricular de línguas estrangeiras modernas do governo do estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) esteja acessível aos docentes desse segmento de ensino, suas orientações chegam a eles, na maior parte das vezes, de maneira indireta por meio dos cadernos do aluno e do professor que constituem o material didático elaborado tendo como base esse documento.

Na verdade, esse é o currículo apresentado aos professores descrito por Gimeno Sacristán (2000). Ele corresponde aos meios que traduzem “[...] para os professores o significado e o conteúdo do currículo prescrito” (GIMENO SACRISTÁN, 2000, p. 105). Tal currículo representa o material didático e os livros que têm o objetivo de seguir as orientações propostas ao nível do currículo prescrito.

No entanto, o efetivo exercício de aplicação das orientações do currículo prescrito e a utilização do material didático dependem da cultura profissional e aspectos pessoais do docente. Na tentativa de organizar sua forma de trabalhar, selecionar materiais e conteúdos apropriados à sua realidade de ensino, o docente atua de forma modeladora no currículo. Gimeno Sacristán (2000, p. 176) discorre a esse respeito dizendo que:

[...] o currículo não pode ser concebido como propostas que automaticamente podem ser transferidas para a prática sem modificação de suas potencialidades, mas como hipóteses, como tentativas que os professores devem ensaiar em suas classes, para sermos coerentes com o papel real que cumprem e organizarmos assim um referencial para uma prática criativa com participação ativa dos docentes.

As orientações que constam da nova proposta curricular de línguas estrangeiras modernas do governo do estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008) são norteadoras para o efetivo ensino em sala de aula. Porém, é necessário ressaltar que entre as orientações e a prática há a interpretação e entendimento do docente que ministra o

conteúdo de acordo com sua formação, trajetória profissional, realidade e cotidiano escolar. Segundo Gimeno Sacristán (1998, p. 279) esse é “um momento privilegiado de potencial comunicação entre o pensamento e a teoria em ação”.

O currículo em ação, proposto por Gimeno Sacristán (2000), refere-se à efetiva prática pedagógica em sala de aula, concretizada por meio das tarefas acadêmicas. É a prática real das atividades que ocorrem no meio acadêmico por meio da interação entre o docente e o discente, concretizando a aplicação do planejamento das orientações e do material didático.

Já o currículo realizado refere-se aos resultados alcançados em detrimento da prática, tendo efeitos cognitivos, afetivos, sociais e morais. Esses efeitos podem ser os objetivos almejados ou não, dependendo da prática e do perfil tanto do docente quanto do discente.

Por último, Gimeno Sacristán (2000) também propõe um último nível, o currículo avaliado que envolve os procedimentos de avaliação, elucidando os aspectos privilegiados pelos docentes, além de mostrar aos discentes os critérios pelos quais são avaliados.

A prática pedagógica gravita em torno do currículo, ou seja, o planejamento de atividades, a aplicação de avaliações, a correção de atividades, o gerenciamento do tempo, a auto-reflexão, a organização do espaço e do conteúdo, a pesquisa em sala de aula, a administração de conflitos e muitas outras variáveis. Nesse sentido, Gimeno Sacristán (2000, p.203) destaca a gama de aspectos envolvidos nesse processo evidenciando que:

os próprios efeitos educativos dependem da interação complexa de todos os aspectos que se entrecruzam nas situações de ensino: tipos de atividades metodológicas, aspectos materiais da situação, estilo do professor, relações sociais, conteúdos culturais, etc.

Tendo em vista a complexidade e a pluridimensionalidade das variáveis envolvidas na prática docente, é de extrema relevância que o professor tenha em mente a importância do planejamento e da preparação para a prática, antevendo, dessa forma, possíveis desafios que permeiam a atividade docente.

Outra característica da prática pedagógica salientada por Gimeno Sacristán (2000) é a sua imprevisibilidade, apontando a necessidade de constantes adequações na

rotina da prática docente. Esse é na verdade um dos grandes desafios do ensino. Saber lidar com o “novo”, com as rupturas, com o imprevisível, com o inacabado, com o sistema, com as incertezas e ansiedades é um enorme obstáculo durante o percurso da carreira docente. É por meio do planejamento e da autonomia profissional que o docente consegue, de alguma forma, amenizar e até mesmo superar essas barreiras e dificuldades do exercício da docência.