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Mapa 1: Cursos do Pronera por municípios de realização (1998 – 2011)

2 CAMPO COMO UM LUGAR PARA A VIDA

2.4 EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM OLHAR SOB AS SINGULARIDADES

2.4.2 Formação humana

Elaborar dialogicamente um texto, sobre a formação humana, acerca das reflexões postas pelos PPPs das escolas de ensino médio do campo, em relação com a política de Educação do Campo, culmina com os ensinamentos de Freire (2014), ao referir que somos seres “inconclusos”. Desta forma, a formação é parte

em praticamente todo o mundo, atuando em países da (Ásia, América, África e Europa). No

Brasil os movimentos sociais que compõe a Via Campesina são: Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); MAB; MMC; Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Conselho Indigenista Missionário (CIMI); CPT; Pastoral da Juventude Rural (PJR); Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB); Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) e também Pescadores e Pescadoras Artesanais. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-importante-papel-de-via-campesina>. Acesso em: 23 fev. 2018.

inerente do ser humano, este enquanto vivo, e em inter-relação com outros sujeitos e com a natureza, estará sempre em processo de formação.

Todavia, as dimensões destes processos de formações é que podem ser modificados, ressignificados e modulados, a depender do meio e do interesse dos processos formativos.

Neste sentido, é com base na referida perspectiva de formação, a formação humana, que abordamos na pesquisa a referente categoria; depreendemos o sentido dessa para a Educação do Campo e como essa vem sendo enunciada nos PPPs das três escolas pesquisadas, tanto nos aspectos formativos das escolas, quanto nos processos de formação para professores para atuarem nas escolas do campo.

Amparados na leitura de Arroyo (2004) sobre a formação de professores para as escolas do campo, observamos que o pesquisador pauta as questões das vivências, da cultura e das lutas sociais do campo, considerando estes processos como partes da formação deste professor.

A partir deste entendimento, um projeto de formação para os professores do campo deve proporcionar a esses vivências as experiências do campo, conhecer e se possível ser parte das contradições desse lugar. O pesquisador ressalta a importância dos movimentos sociais e suas pautas reivindicatórias de reforma agrária. Está na agenda de lutas desses movimentos sociais as escolas do campo e políticas públicas de Educação do Campo, voltadas para a formação de educadores que, de fato, atenda as demandas dos jovens e crianças que ali vivem.

Os movimentos sociais do campo reivindicam políticas próprias de educação, para a formação de professores “[...] a partir da dinâmica social, política e cultural existente no campo e através das lutas dos movimentos sociais por seus direitos à terra, território, modo de produção camponês, à educação e à escola.” (ARROYO, 2004, p. 163).

O autor ressalta a importância dada pelos movimentos sociais às experiências vivenciadas pelos sujeitos, nas interações humanas, no convívio coletivo entre outros espaços.

A possibilidade educativa, relacionada com as vivências do dia a dia, é força às aprendizagens. Bragança (2011, p. 6) aponta que:

A formação ancorada nas aprendizagens experienciais não consiste em uma acumulação de informações e saberes, mas na experiência vital do sujeito que se transforma juntamente com o conhecimento, assumindo novas formas de ser e de estar no mundo e, juntamente com essas novas formas, as imagens de si, para si e para o outro são ressignificadas.

Através destes enunciados, observamos que há uma consonância no entendimento dos aspectos formativos elucidados pelos documentos da política pública de Educação do Campo e os referidos pela pesquisadora. Isso porque atentam para a importância dos saberes culturais e as experiências formativas vivenciadas no campo, na relação com a produção do conhecimento científico.

Neste sentido, tomamos a educação e formação não como iguais, mas que podem ser entendidas como processos indissociáveis, pois o processo educativo do ser humano perpassa ao longo de sua vida, e estes vão sendo compreendidos a sua formação enquanto sujeito histórico. De acordo com Bragança (2011, p. 2):

A educação coloca-se, dessa forma, como prática social, tanto em sua vertente institucionalizada como em sua vertente informal. Já a formação é um processo interior; ela liga-se à experiência pessoal do sujeito que se permite transformar pelo conhecimento. Assim, podemos afirmar que, potencialmente, todos os espaços e tempos da vida são espaços e tempos de formação, de transformação humana.

Desta maneira, elucidamos o entendimento da educação enquanto prática social, que pode ser institucional ou não, e estes processos educativos contribuem na formação humana, a qual liga-se ao interior do sujeito nas transformações que ocorrem em si, devido às experiências vivenciadas e aos espaços formativos que convive.

Este pensamento de formação humana também é contextualizado por Freire, quando expressa que o homem é um “ser programado para aprender”. E mais, Freire nos diz que

[...] educação, como formação, como processo de conhecimento, de ensino, de aprendizagem, se tornou, ao longo da aventura no mundo dos seres humanos, uma conotação de sua natureza, gestando-se na história como a vocação para a humanização [...]. (FREIRE, 2014, p. 26).

Assim, o processo educativo não se restringe somente à escola, perpassa toda vida humana. Mas ela, a escola, é também um meio no qual ocorrem os processos formativos que humanizam e não seja apenas mera transferência de

comodismo e obediência para a classe trabalhadora, como refere Freire ao discutir “educação bancária”.

Por meio da educação, o sujeito aprende a história das coisas, ampliando sua visão de mundo e assim de fato atuar sobre este mundo de forma crítica, “o fato de rememorar a vida traz para os/as participantes um sentido formador” (BRAGANÇA, 2011, p. 2).

Em síntese, podemos conceber que a relação educação e formação são intrínsecas, se fundem e se autoafirmam, quando a compreendemos como algo próprio ao ser humano. Os processos formativos e educativos são parte do ser existencial, que se relaciona consigo próprio e com o meio que vive, é fruto e agente de transformação da sociedade em que se coloca enquanto ser humano. Elucidamos em Bragança sobre este entendimento, em que:

Se entendemos a formação como um processo interior, referido à possibilidade de o sujeito se permitir tocar pelos movimentos educativos da vida, transformando-os em experiências significativas, reconhecemos, então, o lugar central do sujeito. Afirmamos, no entanto, que a intensidade das experiências que se tornam significativas e formativas são necessariamente coletivas; elas vêm de um investimento social, no caso do processo escolar, ou das tramas, dos encontros e desencontros que temos com os outros e com o meio, ao longo da vida. (BRAGANÇA, 2011, p. 4).

Neste sentido, reafirma-se que as experiências são significativas ao processo de formação humana. Assim, a Educação do Campo visa a problematização das vivências no campo pela escola, movimenta os processos educativos e formativos do sujeito, aguçando sua capacidade criadora e transformadora de si e do lugar onde vive.

Partindo desta dimensão formativa da Educação do Campo, enunciamos os vínculos que este projeto de educação aponta na relação entre educação e trabalho, inserindo, assim, a categoria trabalho, enquanto um elo de entendimento, ao mesmo tempo que distanciamento, na relação da proposta de Educação do Campo, com a política educacional do campo. Relação essa que infere diretamente na relação prática e teoria das escolas do campo.

Para a pesquisa, o entendimento acerca da categoria trabalho (debate estendido no texto abaixo) conflui em sua importância de análise, devido a sua centralidade nos debates em torno da Educação do Campo, enquanto proposta educacional.