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CAPÍTULO II PARADIGMA EDUCATIVO: A METODOLOGIA

II.5 Formação na Arquitetura

Uma importantíssima aula e exemplo do significado de projetação, não só no âmbito escolar mas também no contexto de vida, se podem extrair da arquitetura.

“Ensinar a projetar é impossível: por outro lado, só através do tirocínio (estágio) ao

projeto temos a possibilidade de penetrar no mistério da arquitetura41” (Quaroni, 1979) (Ver Figura 15).

Afirmar que o espirito didático da projetação deveria estar sempre presente nos programas de ensino secundário, nasce da uma constatação: a experiência de projeto, na produção de realidades de todos os tipos, é indispensável na construção de um ambiente físico e natural que proporcione qualidade de vida. A projetação é, então, manipulação de “ingredientes” físicos e não físicos, de distinta natureza, que levarão a criar uma função, uma imagem, um “algo” específico e particular.

A realização de um projeto de arquitetura, como qualquer outro trabalho, tem premissas que lhe são próprias: há um programa a ser atendido, há um lugar em que se implantará o edifício, há um modo de construir a ser determinado. Esse conjunto de premissas é elaborado, graficamente, num desenho que opera como mediador entre a ideia do projeto e a sua realização concreta. A parte mais difícil, e origem desta atividade, são a idealização e imaginação de algo que ainda não tem existência material: imaginar algo que

Magistrado na Covilhã. As aulas em especifico são as aulas n° XXVII e XXVIII realizadas nos dias 21.04.2012 e 28.04.2012. Consultar o dossier de estagio do estagiário Francesco Pignatelli para ulteriores aprofundamentos e informações.

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Palavras de Ludovico Quaroni, um dos maiores projetistas e urbanistas mundiais do siglo XX, que assim exprimia basicamente o conceito de projetação arquitetónica.

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terá uma finalidade, encontrar as motivações da própria projetação, dar valor a uma ideia ainda abstrata mas com grande potencial de realização.

Falar de arquitetura pura, na sua especificidade assim como dos seus fundamentos é um argumento que se destina ao ensino universitário.

No ensino secundário pode-se, prematuramente, referir conceitos-bases que afrontam a projetação nos seus aspetos geométricos e volumétricos, ligados aos espaços e às suas componentes. Isto não exclui que no ensino básico e secundário sejam feitos experiencias propedêuticas que introduzam no mundo da arquitetura, os seus fins funcionais, técnicos ou estéticos. A seguimento destas premissa, no currículo de algumas escolas secundárias portuguesas, encontra-se, hoje em dia, nos cursos de design de produto, curso de produção artística ou desenho de arquitetura, que integram disciplinas de projeto, design e construção.

Por estas razões deve-se pensar o conceito de metodologia projetual como o esforço do estudante em idealizar, compreender, interpretar

e transformar os dados pré-existentes do problema arquitetónico, que constituem um fundamento para o seu trabalho: o contexto, o programa, a construção. Esta abordagem procura, de alguma forma, determinar um procedimento lógico e racional que forma uma sequência de resultados obtidos a partir da observação de experiencias praticadas em aula.

No processo de projeto, a compreensão e interpretação de cada aspeto colocado como premissa exige, por parte do projetista, a tomada de sucessivas decisões. Cada uma dessas decisões é um ato racional, operado a partir do conhecimento específico do problema, relativizado pela experiência vivida do arquiteto/designer e pelo momento em que se realiza o projeto.

Sendo assim, é necessário relacionar as didáticas da projetação arquitetónica com algo concreto que, antes da realização do edifício, já esteja disponível ao conhecimento dos estudantes e que permita a sua interpretação. No caso do projeto, o que o coloca como concreto é a compreensão do que os atuais alunos e talvez futuros projetistas são, na grande maioria dos casos, os protagonistas de um fenómeno social e cultural fundamental para a humanidade.

Figura 15 – Ilustração capa livro de Ludovico Quaroni: Il Tirocínio Progettuale. III Edição

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II.5.1 Design no ensino secundário

A formação em design desenvolve-se a partir do ensino secundário, mas em muitos aspetos esta formação deveria ser mais incentivada e melhor estruturada. Lamenta-se portanto que a programação curricular das escolas seja preparada de forma completamente heterogénea, feita a exceção de algumas instituições. Sendo assim a programação é elaborada à livre escolha e autonomia de cada escola, embora exista um Programa orientador ministerial.

De facto, escolas especializadas no ensino do design (escolas de arte, institutos profissionais etc..) deveriam estruturar os seus currículos pensando que o futuro designer não será um técnico ou um desenhador, e que a formação desempenhada na escola refletir-se-á sobre a colocação e inserção no mundo da indústria e do trabalho.

Isto sustenta como a formação executada na escola básica e secundária, deveria fornecer as bases sólidas para o prosseguimento dos estudos universitários de primeiro, segundo ou terceiro nível42.

Assim, mirando a uma continuidade lógica e pedagógica, a atenção no grau de formação deveria ser de reciproca colaboração e interesse entre a comunidade universitária académica e a comunidade escolar secundária.

Como afirma Gui Bonsiepe, referindo-se ao design industrial, a cronologia da formação dos institutos que se ocupam do design segue uma sorte comum na Europa: a formação do designer industrial desenvolve-se em escolas e com uma continuidade em que a tradição pela utilização de materiais e metodologias específicas obsoletas, acaba por transformar os alunos em “corpos estranhos” à formação. (Bonsiepe, 1975).

O papel mais importante e determinante que a escola secundária desempenha e que um PE no ensino de artes visuais deveria prever na formulação de objetivos, é a preparação para as especificidades dos conteúdos das disciplinas. Esta preparação conduz o estudante a aprender e adquirir capacidades que o levarão a ler e interpretar as realidades visuais de forma multidisciplinar, pela individuação e resolução de problemas na prática do quotidiano.

A preparação dos conteúdos específicos do de

sign proporciona aos estudantes uma capacidade de reação no momento do projeto. Isso quer dizer que um aluno, especificadamente preparado, age eficazmente nos procedimentos de planificação e no momento em que se enfrenta a projetar ou realizar algo.

Ao mesmo tempo uma adequada formação, a nível secundário, predispõe os estudantes para uma pré-estabelecida prática reflexiva adequada à preparação da metodologia projetual43.

42 Intende-se formação de licenciatura, mestrados, doutoramentos ou master de especialização. 43

Prática reflexiva e capacidade crítica são elementos determinantes para o aceso ao ensino universitário ou pós-secundário em geral.

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