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4. A POLÍCIA MILITAR E A CULTURA DE MEDIAÇÃO

4.1. A formação policial para a mediação

É incontestável que a área da segurança do cidadão é uma das demandas mais presentes na contemporaneidade, na maior parte dos países do mundo. Ao lado de questões como a saúde, a educação e o emprego, os temas relacionados à segurança pública lideram as pesquisas de opinião quando o quesito instiga ao perguntado quanto a sua grande preocupação diante da sociedade contemporânea.

E como num caleidoscópio, que produz um sem número de imagens de cores variadas, com um simples movimento, as concepções de como se devem atingir as metas de satisfação popular de um serviço público nesse sentido são as mais variadas, distinguindo-se, basicamente, conforme o grau de instrução, a classe

social, os padrões econômicos, enfim, ocorrendo que cada grupo tenta definir uma política de acordo com seus próprios interesses diante do jogo social.

Sem embargo dessas relações políticas de poder serem extremamente complexas, desgastantes e, muitas vezes, levarem a conflitos de todas as ordens, na busca de determinar o direcionamento a ser seguido pela sociedade, apresenta- se como mediador, como gerenciador e como verdadeiro guia, o Estado, o qual, como ente abstrato criado justamente para esse mister, não pode omitir-se de seu papel de responsável pela emanação e concretização dos interesses que não são seus, mas sim de toda a coletividade que representa.

Abstrai-se dos princípios enumerados em nossa Carta Constitucional, a ininterrupta responsabilidade dos funcionários da Administração em perseguir o que for de interesse público, procurando proporcionar uma sensação de bem-estar sem solução de continuidade àqueles que estão sob sua tutela. Obviamente, isso só pode ser feito por intermédio de uma série de órgãos que compõem a estrutura organizacional estatal e que, por delegação, realizam o trabalho determinado em nome do Estado.

Para combater e transpor barreiras para visualizar e atingir os objetivos elencados na Lei Maior deste país149, há que se realizar uma transformação profunda em determinadas atividades governamentais, com o escopo de, sem sobressaltos e da forma estabelecida em um Estado de Direito, promover da melhor forma os direitos fundamentais dos brasileiros, nunca se olvidando que, em última análise, esse é o fim maior do Estado contemporâneo.

Isso deverá ser concretizado de várias formas, de acordo com o órgão e a seara que se estiver analisando, nunca sendo demais lembrar, apesar da manifesta

149 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/legislacao>. Acesso em 04 de julho de 2008, Art. 3º.

clareza, que tais persecuções só podem se dar sob a égide da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência150, sem prejuízo de qualquer outro princípio abstraído de nossa constituição norteadora.

Partindo-se dessa premissa, de que o Estado é responsável pela implementação de políticas que primordialmente sirvam para a proteção, promoção e efetiva materialização de direitos humanos fundamentais, viabilizando dentro de sua estrutura organizacional os meios de alcançar esses alvos, e de que a proteção ambiental, com a perseguição de um meio ambiente saudável para esta e para as gerações futuras151, é parte indeclinável dessa gama de direitos previstas constitucionalmente, nos concentraremos no exame de como o Estado do Pará vem se colocando diante da premente necessidade de instituir procedimentos que viabilizem a celebração dessas parcelas de direitos, considerando seu desrespeito como violação grave da dignidade humana, como tal, impondo uma intervenção policial qualificada e profissional.

O que importa é estar atentos à possibilidade de se não se esquecer de aspectos importantíssimos relacionados ao estudo da matéria ambiental, atinentes a nossa vida, individual e coletiva, ou seja, como ser humano e como cidadão, e que estão mais intrínsecos a nossa realidade do que a maioria consegue perceber.

Falar de meio ambiente, de utilização dos recursos naturais, da posse e propriedade da terra e dos meios de produção, não obstante existir um viés que se preocupa com os encaminhamentos alusivos aos processos de interação entre o homem e a fauna e entre o homem e a flora, implica em um campo de estudo muito mais ampliado e que enseja uma preocupação extrema. Compreender as relações entre os comunitários de uma determinada cidade, ou mesmo de um bairro, com o

150 Ibid., Art. 37, caput. 151

meio em que vivem, pode, e sem dúvida deve, perfeitamente subsidiar os planos de policiamento aos quais a Polícia Militar submete sua atividade operacional e isso necessita ser ampliado para as regiões rurais.

Sem embargo, apesar dessas observações, é forçoso também lembrar que as questões relativas à proteção florestal, dos aqüíferos do Estado, da biodiversidade152, em suma, de todo o conjunto de microbens que perfazem o meio ambiente, não deixam de ter importância, principalmente quando se leva em consideração que o Estado do Pará está incrustado na região amazônica o que, por si só, já explica a imperiosidade da preocupação.

Esse problema não deixa de estar presente também no que concerne às questões do policiamento ambiental, modalidade relativamente nova que caminha por vias ainda cheias de percalços, na medida em que o pensamento ecológico continua sendo bastante insipiente dentro da gestão pública, de modo geral.

Na questão específica da matéria ambiental, com a efetiva presença das mesmas brumas que as mencionadas genericamente acima, as polícias estaduais vêm travando, há muito tempo, contendas acerca das competências de uma e de outra sobre como se dá a repressão ou como se efetivam os procedimentos administrativos concernentes à aplicação das sanções previstas para as irregularidades cometidas nessa área.

A despeito dessas discussões sobre a matéria ambiental já remontarem a décadas e considerando que os Estados, de uma maneira geral, vêm alargando

152 Entendida como a variabilidade entre organismos vivos de todas as origens, compreendendo dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossitemas. Cf. Convenção sobre Diversidade Biológica, Decreto Legislativo n. 2, 1994 apud BENSUSAN, Nurit. Convenção sobre diversidade biológica (CDB) In CAMARGO, Aspásia

et al (org.). Biodiversidade, recursos naturais e desenvolvimento sustentável. São Paulo:

suas esferas de atuação nesse campo, ainda verifica-se a existência de certa negligência no trato com os temas relacionados ao meio ambiente.

Quando analisamos as questões jurídicas ambientais que são discutidas nos cursos de formação e aperfeiçoamento da Polícia Militar, verificamos que, quando acontecem, são realizadas de forma superficial. Na verdade, o próprio ensino policial ainda passa por vários percalços e, nesse sentido, um parêntese é pertinente.

Há alguns anos se descobriu, ou se percebeu, que algumas questões perpassavam todas as disciplinas dos cursos de formação e aperfeiçoamento de policiais militares. Eram assuntos que podiam ser debatidos nas mais diversas áreas do conhecimento e que comumente tinham tratamento antagônico, o que ocasionava uma barreira considerável no processo ensino-aprendizagem.

Era corriqueiro, por exemplo, que um professor que falasse de direitos humanos, de respeito às garantias constitucionais, as quais foram conquistadas com muito suor e, porque não dizer, com o sangue de gerações de brasileiros e brasileiras, ter sua fala contrariada logo na aula seguinte por alguém que ainda absorto em conceitos anacrônicos, que defendiam uma formação equiparada às Forças Armadas, alardeava como necessário para o combate das mazelas sociais o firme enfrentamento do inimigo. Ora, o inimigo para as Forças Armadas, que tem como fim maior a defesa da soberania do país, com a proteção de suas fronteiras políticas, é quem afronta o complexo de poderes que perfazem o Estado como Nação politicamente organizada. Isso tudo é analisado sob a perspectiva da lei de crimes contra a segurança nacional153. Mas para a atividade policial, quem é o

inimigo? Quem o policial combate?

153

Esse espírito guerreiro era o que vinha norteando por anos a fio os processos educacionais dentro das instituições policiais militares, fazendo com que os profissionais dessa área vissem o cidadão como verdadeiro inimigo, ou meramente alguém que seria acessório para a persecução do fim maior de sua existência, ou seja, a proteção das instituições, a defesa do Estado:

Percebeu-se que a formação policial guardava o ethos predominantemente militar, guerreiro, com estruturas rígidas, fechadas, cujos pilares básicos eram hierarquia e disciplina, ainda presa à filosofia da Segurança Nacional e pouco enxergava a presença do cidadão como ator fundamental para a construção da paz social. Era, portanto, preciso tornar a educação policial um pouco mais humanista e sociológica e acima de tudo desconstruir os mitos e a subcultura para então reconstruir as novas bases de uma segurança mais democrática, humana e profissional.154

Diante desse quadro, em 2000 o Governo Federal lançou as chamadas Bases Curriculares Para a Formação dos Profissionais da Área de Segurança do Cidadão155 que é uma proposta de ser um mecanismo que viabilize a homogeneização dos cursos de formação e o planejamento dos mesmos, com o objetivo de assegurar a eqüidade no processo de capacitação, garantindo unidade de pensamento e ações adequadas às necessidades da população.

Com o caminho estabelecido, o IESP, instituição criada para reunir as unidades de formação e aperfeiçoamento de todos os órgãos do sistema de defesa social do Estado, adaptou-se às novas bases curriculares e instituiu em todos os seus cursos uma nova forma de pensar a educação policial, pautando suas ações didáticas em seis temas centrais, que deveriam perpassar todas as disciplinas: cultura, sociedade, ética, cidadania, direitos humanos e controle das drogas.

154 PIMENTEL, José Eduardo de Oliveira. Educação policial para os direitos humanos: sua relação e contribuição para a construção e o fortalecimento da cidadania. 2006, 79 f. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Defesa Social promovido pela Universidade Estadual do Pará (UEPA) e Instituto de Ensino de Segurança do Pará (IESP).

155 BRASIL. Bases curriculares para a formação dos profissionais da área de segurança do

Consideramos o direito a um meio ambiente saudável como direito fundamental, realçando que é previsto constitucionalmente, sendo que naturalmente será tratado com mais especificidade na temática direitos humanos, apesar de quaisquer dos tópicos principais permitirem abordagens relacionadas à proteção ambiental de forma indireta. As bases curriculares nacionais assim definem o que deve ser tratado no tema dos direitos humanos:

Os profissionais da área de segurança do cidadão devem ter como pano de fundo de suas ações a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Princípios Básicos Sobre o Uso da Força e Armas de Fogo por Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Pacto Internacional pelos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e o Pacto Internacional pelos Direitos Civis e Políticos, possibilitando assim que seus atos possam corresponder aos princípios ético, legal e técnico na promoção e proteção dos direitos fundamentais do cidadão (vida, integridade física e a dignidade), mediante alternativas que busquem a negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos, sem a extrema necessidade do uso da força ou de armas de fogo. 156

O exercício cotidiano dessas determinações acaba, na prática, não pautando a atuação dos policiais, tendo em vista desenhos curriculares que não vislumbram esses parâmetros, mas primordialmente, em virtude de que a Polícia se enquadra muito mais em um modelo de violência institucional do que em um aparelho protetivo, considerada a influência da visão das elites brasileiras sobre as classes populares, marcada historicamente pelo desprezo e pela consolidação da idéia de que as diferenças sociais eram pura e simplesmente uma questão de mérito:

Os efeitos dessa negação aos grupos populares do direito à cidadania tiveram e têm muita influência na relação que o Estado manteve/mantém com esses grupos: relação que passa pela forma violenta como são reprimidos os movimentos sociais (...) e pela má qualidade dos serviços públicos prestados à população, configurando, assim, o que poderíamos chamar de “violência institucional”, produzida contraditoriamente por práticas discriminatórias e excludentes em espaços que têm como papel assegurar direitos aos cidadãos.157

156

Ibid., p. 26.

157 MENDONÇA FILHO, Manoel Carlos et al. Polícia, direitos humanos e educação para a cidadania.

In NEVES, Paulo Sérgio da Costa et al (org.). Polícia e Democracia: desafios à educação em

O caminho da capacitação é uma das melhores formas de romper com essa realidade e, especificamente, a formação para a área socioambiental pode desencadear um processo de respeito às comunidades, essencial à concretização do almejado relacionamento de confiança no campo entre a sociedade e a polícia.

Tranquilamente é possível abstrair dessas linhas gerais a possibilidade de tratar com profundidade das questões ambientais durante a formação policial, sendo que, inclusive dentro da área de conhecimento denominada Cultura Jurídica

Aplicada158, encontra-se contemplada a disciplina Direito Ambiental, que tem por objetivo primordial o seguinte:

Habilitar o aluno ao pleno conhecimento e domínio das questões referentes ao Direito Ambiental, colaborando para o constante aperfeiçoamento em sua vida profissional. O método a ser adotado implica na abordagem genérica dos diversos institutos do Direito Ambiental, tomando por base suas origens, conceitos, evolução histórica, aplicabilidade de seus institutos.

Entretanto, mesmo com tais diretivas plenamente estabelecidas e com os currículos, em tese, atendendo ao rumo determinado nacionalmente, ou seja, construídos de forma a permitir a disseminação do respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente, esta área não ocupa o lugar que deveria, principalmente na formação dos quadros profissionais da Polícia Militar do Pará. Passemos a uma análise pormenorizada das disciplinas curriculares nos diversos níveis de formação da Corporação, do mais básico até o nível de pós-graduação lato sensu.

Primeiramente, temos o Curso de Formação de Soldados PM (CFSD), que tem por meta preparar a base da Instituição, ou seja, o seu primeiro nível hierárquico, o qual conta com a maioria numérica, junto com a graduação de Cabo,

158 As bases curriculares são organizadas em seis áreas de conhecimento: Missão do Policial, Técnica Policial, Cultura Jurídica Aplicada, Saúde do Policial, Eficácia Pessoal e Linguagem e Informação.

diante do universo da PMPA159. Vejamos sua matriz curricular, a qual serviu de base para o último curso realizado, a partir de concurso público tomado a efeito em 2005, cujo objetivo primordial é:

(...) proporcionar ao aluno conhecimentos atualizados na área de Segurança Pública e de Defesa do Cidadão, adequados às orientações da SENASP, a fim de que ele possa compreender a realidade social e refletir de forma crítica sua prática profissional.160

MATRIZ CURRICULAR do CFSD 2005

ÁREA DE ENSINO ORDEM DISCIPLINA C/H

SISTEMAS, INSTITUIÇÕES E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA I

01 SISTEMAS DE SEGURANÇA PÚBLICA 10 02 HISTÓRIA DA PM 15

Soma da Área de Ensino I 25

VIOLÊNCIA, CRIME E CONTROLE

SOCIAL

II

03 SOCIOLOGIA DO CRIME E DA VIOLÊNCIA 20

Soma da Área de Ensino II 20

CULTURA E CONHECIMENTOS

JURÍDICOS

III

04 LEGISLAÇÃO BÁSICA INSTITUCIONAL 40 05 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 25

06 DIREITO PENAL 40

07 DIREITO PENAL MILITAR 25 08 DIREITO PROCESSUAL PENAL 25 09 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 25 10 DIREITO CONSTITUCIONAL 25 11 DIREITO ADMINISTRATIVO 25 12 LEGISLAÇÃO ESPECIAL 20 13 DIREITOS HUMANOS 40

Soma da Área de Ensino III 290

MODALIDADE DE GESTÃO DE CONFLITOS E EVENTOS CRÍTICOS

IV

14 PROCESSO DECISÓRIO APLICADO 10 15 GERENCIAMENTO DE CRISES 10

Soma da Área de Ensino IV 20

VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL E

SAÚDE DO TRABALHADOR

V

16 PREVENÇÃO DE ACIDENTES E SAÚDE

PÚBLICA 20

17 TREINAMENTO FÍSICO MILITAR 60

Soma da Área de Ensino V 80

COMUNICAÇÃO, INFORMÁTICA E TECNOLOGIA EM SEGURANÇA PÚBLICA VI 18 REDAÇÃO OFICIAL 10 19 TELECOMUNICAÇÕES APLICADAS 20 20 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 10

Soma da Área de Ensino VI 40

COTIDIANO E PRÁTICA POLICIAL REFLEXIVA VII 21 ÉTICA E CIDADANIA 20 22 RELAÇÕES INTERPESSOAIS 20

Soma da Área de Ensino VII 40

159

O quadro organizacional previsto na Lei de Organização básica da PMPA (Lei complementar nº 053/200) conta com 7.300 soldados e 7.200 cabos.

160 POLÍCIA MILITAR DO PARÁ. Plano Pedagógico do Curso de Formação de Soldados PM: 2005. Fonte: Diretoria de Ensino e Instrução da PMPA.

FUNÇÕES, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EM SEGURANÇA PÚBLICA VIII 23 TÉCNICA DE ABORDAGEM 60 24 CRIMINALÍSTICA APLICADA 25 25 ARMAMENTO, MUNIÇÃO E TIRO

DEFENSIVO 100

26 FUNDAMENTOS DE POLÍCIA

COMUNITÁRIA 40

27 POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL 20

27 ORDEM UNIDA 50

28 DEFESA PESSOAL 60

Soma da Área de Ensino VIII 355

ATIVIDADES

COMPLEMENTARES IX

29 SEMINÁRIOS E PALESTRAS 30 30 ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE CURSO 40 31 PRÁTICA DE OPERAÇÕES EM ÁREA DE

SELVA 30

32 TÉCNICA OPERACIONAL 30

Soma da Área de Ensino IX 120

Soma de todas as Áreas de Ensino 1000

DURAÇÃO DO CURSO : 20 SEMANAS – 05 MESES CARGA HORÁRIA DIÁRIA: 10 H/A;

CARGA HORÁRIA SEMANAL: 50 H/A; CARGA HORÁRIA MENSAL: 200 H/A.

Fonte: Diretoria de Ensino da PMPA.

O que se percebe é a ausência da disciplina Direito Ambiental ou mesmo de uma disciplina de Policiamento Ambiental, contrariando as Bases Curriculares Nacionais e relegando a discussão relacionada ao meio ambiente não a um segundo plano, mas na verdade a um plano inexistente. Alguém poderia levantar a hipótese de que as questões relacionadas ao campo ambiental poderiam constar da disciplina

Direitos Humanos, que conta com uma carga horária de 40 horas/aula. Entretanto,

infelizmente, nem essa possibilidade foi vislumbrada, posto que após a análise do conteúdo programático da aludida disciplina, percebemos rapidamente que essa não é a linha adotada pela matéria, que visa proporcionar aos alunos uma visão política da construção e afirmação dos direitos humanos, principalmente a partir da Declaração Universal de 1948, dando ênfase ao estudo dos direitos de liberdade e igualdade, mas passando ao largo dos chamados direitos sociais, quando muito discutindo de forma bastante sucinta tal categoria de direitos. Visa também destacar, particularmente, o processo brasileiro de consolidação desses direitos, com

evidência no papel do Estado e seus órgãos de manutenção da segurança pública e justiça. Em outras palavras, a inserção da discussão ambiental nesta disciplina só se dará a partir da vontade pessoal do professor, o qual teria que se reorganizar no sentido de reordenar seus planos de aula, de modo a permitir algumas horas-aula para esse fim.

No que se refere aos Cursos de Formação de Cabos e de Sargentos, a realidade não é diferente, pois a temática ambiental também não é contemplada. E a disciplina Direitos Humanos, da mesma forma que no curso de soldados, não abarca a discussão sobre meio ambiente como direito fundamental, pelo menos não diretamente, conforme o que se depreende dos conteúdos estabelecidos para serem ministrados. Vejamos o caso do Curso de Formação de Sargentos:

DISCIPLINA: DIREITOS HUMANOS (25 H/A)

1. Ementa: Visa a Disciplina proporcionar ao discente os conhecimentos básicos acerca da doutrina dos Direitos Humanos, a fim de que o mesmo desempenhe sua atividade Policial pautado nestes princípios.

2. Objetivos:

Proporcionar aos alunos uma visão política da construção e afirmação dos direitos humanos na marcha civilizatória e destacar a consolidação deste movimento histórico na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Destacar, igualmente, a influência deste documento balizador nas constituições contemporâneas e enfocar particularmente o processo brasileiro, com ênfase no papel do Estado e seus órgãos de manutenção da segurança pública e justiça, de modo a capacitá-lo a:

• Identificar princípios e normas nacionais e internacionais que regem os Direitos Humanos;

• Compreender a evolução histórica dos Direitos Humanos, mundialmente e no Brasil;

• Aplicar os princípios constitucionais e as normas dos Direitos Humanos que regem a atividade policial.

3. Metodologia aplicada:

Aulas expositivas de caráter teórico, discussão em grupo. A análise e discussão de textos doutrinários e legais proporcionarão condições aos alunos para uma reflexão consciente e voltada para propostas concretas de ação policial, investigando técnicas de uso da força com a observação rigorosa da legalidade. Deve-se priorizar a integração e participação, em regime de debates, de personalidades notoriamente ligadas à promoção dos Direitos Humanos. Mesas redondas, painéis, seminários são fundamentais como estratégias.

4. Avaliação da Aprendizagem:

A avaliação será feita através de debates em grupo e redação de textos e avaliações diretas, no que se refere às questões técnicas de direito.

5. Bibliografia Sugerida:

LERNER, Júlio. Cidadania, verso e reverso. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1997-1998. (Coordenador).

MARCÍLIO, Maria Luiza e PUSSOLI, Lafaiete. Cultura dos Direitos Humanos. (Coordenadores).

FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Direitos Humanos, cidadania e educação. Cadernos de pesquisa.

SINGER, Helena. Direitos Humanos e volúpia punitiva.