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4. CONCEPÇÕES DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A

4.3 A formação de um professor crítico

A formação de professor crítico aproxima-se do perfil daquele profissional que, em sua prática pedagógica, detém a criticidade e reflexão sobre suas competências, sinalizando para uma formação diferente daquela baseada na racionalidade técnica. Procura-se formar o professor para intervir criticamente no contexto em que vive, para, assim, poder transformá- lo. A formação do professor direciona-se, dessa forma, para uma perspectiva de cidadão crítico. Nesse sentido, um autor expõe seu ponto de vista:

[...] alguns pontos que devem caracterizar os objetivos para a construção de uma nova escola: Formação para a cidadania crítica: formar um cidadão- trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la e não apenas formar para integrar o mercado de trabalho. Como vimos, Libâneo propõe uma escola que ultrapasse a mera preparação para o trabalho, tornando-a também um lugar de formação e de construção da cidadania crítica, contribuindo para a produção de conhecimentos capazes de ajudar na transformação da realidade (Inst. A/2, p. 26, grifos do autor).

Uma questão que pode ser considerada como um agravante nos cursos de licenciatura, responsáveis pela formação de professores para atuar na educação básica, dá-se pela valorização exagerada aos conteúdos específicos em detrimento de conteúdos de formação pedagógica. Os conteúdos específicos são importantes, mas não ao ponto de sua supervalorização descredenciar a formação crítica e criativa dos futuros professores. A formação que se embasa na supremacia desses conteúdos certamente não permitirá o desenvolvimento de habilidades e capacidades críticas que ajudarão os professores a resolverem problemas do dia a dia de sua profissão. E não é difícil constatar que, mesmo estando expressa a intenção de formar profissionais críticos, os programas se pautam na

supremacia dos conteúdos, como se relata a seguir.

Destaca-se ainda que, apesar dos objetivos expressarem a intenção de formar professores críticos, não é possível afirmar que isso ocorra, visto que, [...] “os programas de formação de professores são destinados a criar intelectuais que atuem no interesse do estado, cuja função social é basicamente sustentar e legitimar o status quo” (Inst. C/1, p. 83).

De acordo com os pesquisadores do Centro-Oeste, os institutos formadores de professores precisam passar por sérias transformações, devem rever as práticas pedagógicas no processo de formação, com intuito de formar um profissional da educação mais crítico, para os dias atuais, como expressa um dos pesquisadores: “Urge a necessidade de rever processo de formação de professores, [...] no que diz respeito às práticas pedagógicas, pois acreditamos ser esta uma das ferramentas mais eficientes para formar um profissional de educação mais crítico [...]” (Inst. B/2, p. 119).

Reforçando o sentido dessa afirmação, outro autor observa:

Percebemos a necessidade de imprimir sérias transformações nos cursos que formam professores, procurando garantir uma formação profissional competente e crítica, na qual conhecimentos, atitudes e habilidades sejam trabalhados de forma articulada e coerente, visando formar um educador comprometido com a democratização da escola e da sociedade brasileira [...] Faz-se, portanto, imperioso que a escola desenvolva em seus alunos habilidades que favoreçam a criticidade, a capacidade de analisar e solucionar problemas. Seria ainda fundamental a formação de valores sociais inclinados para o respeito ao ser humano e à natureza, o respeito à vida humana e às diferenças culturais (Inst. C/1, p. 172).

Outro aspecto que deve ser ressaltado refere-se às propostas curriculares existentes nas instituições de ensino superior, em face da grande responsabilidade e compromisso que elas devem ter na formação de professores críticos, que atendam às reais necessidades da educação.

O professor precisa ser crítico, criativo, ético e tecnicamente capaz de contribuir para a transformação social. Esse perfil aparece ainda de forma incipiente nas propostas analisadas. Formar um profissional crítico exige, portanto, conhecimento em larga escala das produções e necessidades da sociedade em que vivemos, o que não parece contemplado nem mesmo nos Planos Curriculares (Inst. C/1, p. 115).

Esta intenção deve estar expressa nos currículos, buscando alternativas que viabilizem a solução de problemas educacionais que atravessam décadas. Para tanto, “[...] entende-se o

currículo como ‘elemento’ da cultura, em termos de conteúdos e de práticas, que podem ser consideradas, relativamente, a um dado momento histórico e trazidas para a escola” (Inst. C/3, p. 85). Assim, os autores das pesquisas analisadas, no presente estudo, consideram os currículos adotados na formação de professores,

“como um terreno de produção e criação simbólica cultural [...], enquanto partes integradoras e ativas de um mesmo processo de criação de sentidos e de significados aos sujeitos. Por esse motivo, as teorias críticas concebem o currículo como o centro, situando-o no cruzamento de práticas entre a escola e a cultura. (Inst. C/3, p. 85, grifos do autor).

Um dos autores dos estudos analisado ressalta que o sistema educacional deve adotar um currículo em que esteja explícita uma visão crítica, uma proposta inovadora, com tendência de superação da tradicionalidade. Portanto, apostamos em uma concepção de formação de professores que atenda às exigências e a demanda da educação.

Assim como as universidades têm responsabilidade na formação do professor crítico, o aluno precisa assumir também este perfil. Como ressalta um pesquisador, “está presente a necessidade de o aluno exercitar o pensamento crítico e reflexivo, comprometer-se e assumir responsabilidades. Neste sentido, faz-se necessário a construção de uma prática profissional que pense o seu “fazer” [...]” (Inst. B/1, p. 96).

Para que o aluno de licenciatura se posicione criticamente perante os futuros alunos da Educação Básica, é necessário que ele consiga ter essa postura enquanto frequentar a universidade. Tanto professores, como alunos devem manter acesa a chama que move a curiosidade, a inquietação, afastando a passividade do educando. Confirmando essa posição, um investigador do Centro-Oeste faz a seguinte reflexão:

Discutindo com os educandos a razão de ser de alguns desses saberes, na sua relação com o ensino dos conteúdos, [o professor] vai estimular a capacidade criadora do educando, a sua consciência crítica. Consegue-se, dessa forma, estabelecer a superação “do saber de pura experiência”, atingindo-se um novo patamar que resulta de procedimentos metodicamente rigorosos. Esta superação da ingenuidade pela criticidade não acontece automaticamente, mas é uma das tarefas importantes do educador (Inst. E/1, p. 40).

Cunha (2010) ressalta a necessidade de formação de docentes cada vez mais criativos e críticos, tendo em vista convivermos em uma sociedade capitalista contemporânea, em que urge do profissional tomada de decisões rápidas e eficazes nos mais diversos segmentos.

Observamos que o posicionamento de García (1999) referente à concepção de formação de professor crítico interage com o de Cunha (2010) ao colocar que a formação de

professores alicerçada na reflexão-na-ação forma o professor como sujeito que é capaz de tomar decisões, como sujeito que resolve problemas e tem capacidade de criticar o contexto que o rodeia.

Assim, podemos observar a coerência desses autores com a abordagem da formação de professores críticos que os pesquisadores do Centro-Oeste procuraram sinalizar em seus estudos, nos quais expressaram a preocupação com a formação de professores capazes de intervir criticamente na realidade e assim poder transformá-la, diferentemente da formação baseada na racionalidade técnica.