2.1 A RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E A NOÇÃO DE
2.1.2 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA CULPA
Acerca da culpa, já amplamente desambiguada anteriormente, é primordial que seja feita breve análise das formas de sua exteriorização; culpa esta lato sensu (dolo incluso) e stricto sensu, abrangendo negligência, imprudência e imperícia, a rigor do disposto no art. 186 do Código Civil.
2.1.2.1 Negligência
A idéia de negligência de acordo com Rodrigues, comporta a imprudência, bem como a imperícia, visto que aquele que age com imprudência, é negligente ao não tomar precauções para evitar a ocorrência de dano posterior, como também, a pessoa que se dispõe a realizar uma tarefa, sem obter conhecimentos específicos para tal, negligencia em obedecer às regras da profissão, agindo ambos culposamente89.
87 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo : RT, 2001. p. 97.
88 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. ver. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2007. p.
123-124.
89 RODRIGUES, Silvio. Direito civil – responsabilidade civil. 18 ed. Vol. 4. São Paulo: Saraiva,
Maria Helena Diniz entende que “a negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade, solicitude e discernimento”90.
De acordo com Gonçalves:
O termo “negligência”, usado no art.159, é amplo e abrange a idéia de imperícia, pois possui um sentido lato de omissão ao cumprimento de um dever [...]. A negligência é a falta de atenção, a ausência de reflexão necessária, uma espécie de preguiça psíquica, em virtude da qual deixa o agente de prever o resultado que podia e devia ser previsto91.
É também a lição de Gagliano que “negligência é a falta de observância do dever de cuidado, por omissão. Tal ocorre, por exemplo, quando o motorista causa grave acidente por não haver consertado a sua lanterna traseira, por desídia”92.
2.1.2.2 Imprudência
A imprudência, segundo Diniz é a “precipitação ou ato de proceder sem cautela”93.
Para Gonçalves, “A conduta imprudente consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias, com açodamento e arrojo, e implica sempre pequena consideração pelos interesses alheios”94.
Para Kfouri Neto, “Age com imprudência o profissional que tem atitudes não justificadas, açodadas, precipitadas sem usar cautela [...] a imprudência sempre deriva da imperícia”95.
90 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. 20 ed. Vol. 7.
São Paulo: Saraiva, 2006. p. 46.
91 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 9-
10.
92 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. ver. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2007. p.
128.
93 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. 20 ed. Vol. 7.
Pablo Stolze Gagliano traz:
[...] esta se caracteriza quando o agente culpado resolve enfrentar desnecessariamente o perigo. O sujeito, pois, atua contra as regras básicas de cautela. Caso do indivíduo que manda o seu filho menor alimentar um cão de guarda, expondo-o ao perigo96.
2.1.2.3 Imperícia
Segundo Diniz, a Imperícia é “a falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato.97”
Neste sentido, Gonçalves citando Marques explica que a imperícia “consiste sobretudo na inaptidão técnica, na ausência de conhecimentos para a prática de um ato, ou omissão de providência que se fazia necessária; é, em suma, a culpa profissional”98.
A imperícia de acordo com Gagliano é conceituada:
[...] esta forma de exteriorização da culpa decorre da falta de aptidão ou habilidade específica para a realização de uma atividade técnica ou científica. É o que acontece quando há o erro médico em uma cirurgia em que não se empregou corretamente a técnica de incisão ou quando o advogado deixa de interpor recurso que possibilitaria, segundo jurisprudência dominante, acolhimento da pretensão do seu cliente99.
94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p.9-10. 95 KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 3. ed São Paulo: revista dos
Tribunais, 1998. p. 82.
96 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. ver. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2007. p.
129.
97 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. 20 ed. Vol. 7.
São Paulo: Saraiva, 2006. p. 46.
98 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p.10. 99 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. ver. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2007. p.
2.1.2.4 Dolo
Embora a atuação dolosa, qual seja, omissiva ou comissiva, não esteja expressa no art. 186 do Código Civil, não se pode olvidar que em se tratando de culpa lato sensu, o dolo deva ser excluído do rol de formas de exteriorização da culpa como pressuposto para a responsabilidade subjetiva.
No tocante, estabelece Gagliano que “[...] podemos inferir desse dispositivo que, ao fazer referência à ‘ação ou omissão voluntária’, estaria o legislador se referindo à atuação (comissiva ou omissiva) dolosa”100.
No dolo, afirma Rodrigues: “[...] o resultado danoso alcançado foi deliberadamente procurado pelo agente”101.
Portanto, pode-se dizer que em se tratando de dolo, o agente pretendia causar o dano que efetivamente provocou; a ação dolosa é aquela que o agente pratica consciente e com intenção de atingir o fim colimado.
Diniz, no mesmo sentido confirma: “[...] o dolo é a vontade consciente de violar o direito, dirigida à consecução do fim ilícito”102.
Gonçalves, citando Savigny explica que “o Dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direito e a culpa na falta de diligência. Dolo, portanto, é a violação deliberada, consciente, intencional do dever jurídico”103. 2.2 A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E A TEORIA DO RISCO
Antes de se adentrar na análise da aplicação da responsabilidade civil, é relevante que sejam enfatizados alguns aspectos fundamentais da teoria objetiva de reparação civil.
100 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. ver. e atual. – São Paulo : Saraiva,
2007. p. 129.
101 RODRIGUES, Silvio. Direito civil – responsabilidade civil. 18 ed. Vol. 4. São Paulo: Saraiva,
2001. p. 14.
102 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. 20 ed. Vol. 7.