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Formas de manifestação de violência contra a mulher

2. BREVE HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

3.1 Formas de manifestação de violência contra a mulher

Há diversas formas de manifestação da violência contra a mulher. A seguir, cada uma será apontada e discutida. O legislador da Lei 11.340/200646 preocupou-se não somente em definir a violência doméstica e familiar, mas, também, especificou as formas em que cada uma ocorre.

44 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. P. 40.

45 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

3.1.1 Violência física

O art. 7º, I da Lei nº 11.340/200647, descreve a violência física como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da pessoa. Mesmo que a agressão não deixe marcas visíveis, o uso de força física que atinja o corpo ou a saúde da mulher constitui violência física. A violência física pode deixar sinais ou sintomas que propiciem a sua identificação. A pessoa que foi agredida por ter hematomas, arranhões, queimaduras e fraturas. O estresse vivido por causa da situação de violência também pode geras sintomas físicos, como dores de cabeça, cansaço crônico, dores nas costas ou até ausência de sono.

A integridade física e a saúde corporal são protegidas juridicamente pela lei penal. A violência doméstica já configurava forma qualificada de lesões corporais, tendo sido inserida no Código Penal (CP), em 2004, com o acréscimo do § 9º ao art. 129 do CP: se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. A Lei Maria da Penha limitou-se a alterar a pena deslimitou-se delito, diminuiu a pena mínima e aumentou a pena máxima: de seis meses a um ano, a pena passou para de três meses a três anos. 48

Mesmo que não alterada a descrição do tipo penal, aconteceu a ampliação do âmbito de abrangência da violência doméstica com a promulgação da Lei Maria da Penha. Houve a dilatação do conceito de família, incluindo também as unidades domésticas e as relações de afeto, a expressão “relações domésticas”, constante do tipo penal, tem uma nova leitura. Somente as condutas praticadas em forma de dolo configuram-se como violência física.

47 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011. 48 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 64.

3.1.2 Violência psicológica

A Lei 11.340/200649, no Art. 7º, II descreve da seguinte maneira violência psicológica:

[...] a violência psicológica é entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.50

A saúde psicológica protege a autoestima. Essa previsão não aparecia na legislação pátria, mas a violência psicológica foi incorporada ao conceito de violência contra a mulher na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica, também conhecida como Convenção de Belém do Pará. A violência psicológica acontecesse quando há agressão emocional. A violência psicológica ocorre quando o agressor ameaça, humilha ou faz discriminação à vítima, demonstrando prazer quando observa o outro sentindo-se humilhado, amedrontado, com sentimento de inferioridade e diminuído, configurando a violência psicológica. Há pesquisadores, como Yukio Misaka, que criticam a expressão “violência psicológica” dizendo que todo crime gera dano emocional ao agredido. Todavia, como exposto no início do trabalho, a violência psicológica contra a mulher tem raízes históricas e culturais, pois, em muitas sociedades, a figura feminina não possuía qualquer valor. A mulher foi excluída por muitos anos, durante a história. É preciso admitir essa realidade para que o princípio da igualdade não seja infringido.

49 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011. 50 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 65.

A violência psicológica encontra fortes alicerces nas relações desiguais de poder entre os sexos. É a mais freqüente e talvez seja a menos denunciada. A vítima, muitas vezes, nem se dá conta de que agressões verbais, silêncios prolongados, tensões, manipulações de atos e desejos são violência e devem ser denunciados. Para a configuração do dano psicológico não é necessária a elaboração de laudo técnico ou realização de perícia. Reconhecida pelo juiz sua ocorrência, cabível a concessão de medida protetiva de urgência. 51

É preciso relembrar que todo e qualquer tipo de crime praticado mediante violência psicológica, impõe majoração da pena.

3.1.3 Violência sexual

A Lei 11.340/200652, em seu Art. 7º, III, descreve violência sexual como:

[...] qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força, que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimonio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação, ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. 53

A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica também reconheceu a violência sexual como violência contra a mulher. Ainda assim teve alguma resistência da parte da doutrina e da jurisprudência em admitir a possibilidade da ocorrência de violência sexual dentro dos vínculos familiares. A questão do sexo sempre foi vista como um dos deveres do matrimonio, legitimando o homem, como se ele tivesse pleno direito sobre esse aspecto. A expressão “débito conjugal” dá o entendimento de que a violência sexual no casamento não

51 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 67.

52 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011. 53 Op.cit p. 67.

acontecesse, como se a mulher tivesse o dever de ter relações sexuais com seu marido sem sua concessão ou desejo.

Mas, felizmente, a doutrina da lei modificou-se e evoluiu no que tange ao termo “débito conjugal”. Houve épocas em que, por causa do entendimento dos deveres conjugais da mulher para com o marido, não havia o reconhecimento do estupro do marido com relação à mulher, sob o argumento de que o ato sexual era direito da condição de marido, que poderia exigi-lo quando quisesse. A situação modificou-se, felizmente. Em conformidade com a Lei 11.340/200654, observa-se que a violência sexual não diz respeito somente ao ato sexual, mas contempla outras maneiras e formas que se enquadram como tal. Exemplos são: obrigar a vítima a olhar imagens de pornografia, obrigar a mulher a ter relações sexual com terceiros, obrigar a ter relações que produza desconforto ou repulsa e obrigar a vítima a manter relação sob coação, intimidação e pelo uso da força física, no caso do estupro conjugal. A violência sexual geralmente ocorre no âmbito doméstico sendo assim “pouco denunciada, dificultando seu registro estatístico e a pesquisa nesta área16.” Muitas mulheres silenciam-se e se conformam com a violência sexual porque tem medo das ameaças do companheiro ou marido. Elas carregam a esperança de que o companheiro ou marido mude de comportamento ou, ainda, agüenta a violência por causa de dependência econômica e/ou emocional.

54 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

3.1.4 Violência Patrimonial

A Lei nº 11.340/200655, em seu art. 7º, IV, descreve a violência patrimonial como:

[...] qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. 56

A violência patrimonial é definida pelo Código Penal como delito que afeta o patrimônio, nos quais se insere o furto, dano, apropriação indevida, entre outros. A Lei nº 11.340/200657 define como violência patrimonial o ato de “subtrair” objetos da mulher, o que configura ato de furto. Assim, tirar as coisas da mulher e tomá-las para si configura o delito de furto. Mesmo se a vítima for parceira do homem, a lei não aceita mais a escusa absolutória.

A subtração de valores, direitos e recursos econômicos que tem o destino de suprir as necessidades da mulher é identificada como violência patrimonial. Nesse conceito também se enquadra o não pagamento dos alimentos. Deixar de prover o alimento da mulher quando existem condições para fazê-lo, além de ser violência patrimonial tipifica o delito de abandono material.

55 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011. 56 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 72

3.1.5 Violência Moral

A Lei nº 11.340/200658, em seu art. 7º, V, descreve a violência moral como: “[...] qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria59.” A violência moral tem respaldo na proteção penal nos delitos contra a honra, ou seja, havendo calúnia, difamação ou injúria há crime de violência moral. Tais delitos, quando acontecem frequentemente dentro do âmbito familiar ou nas relações afetivas, configuram-se como violência doméstica de cunho moral. A esse crime são concomitantes o crime de violência psicológica e de contra o patrimônio da honra.

Quando acontecem os delitos de que configurem calúnia, difamação ou injúria, entre outras formas de violência moral dentro do lar e a vítima é a mulher eles precisam ser reconhecidos como violência doméstica. A violência moral está intimamente ligada à violência psicológica e dá ensejo, na seara cível, à promoção de ação indenizatória por dano material ou moral.

58 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011. 59 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 72

4 ASPECTOS PROCESSUAIS

Os aspectos processuais dizem respeito ao procedimento que a vítima de violência deve seguir quando for agredida. Observa-se, nesse processo, algumas inovações trazidas com a implementação da Lei 11.340/2006.

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