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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Curso de Direito

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Curso de Direito

Elizangela Vieira Melhorim

A APLICAÇÃO E A EFICÁCIA DA LEI Nº 11.340/2006 (MARIA DA PENHA) COMO MEDIDA GARANTIDORA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

À MULHER EM FACE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Cachoeiro de Itapemirim – ES 2011

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Elizangela Vieira Melhorim

A APLICAÇÃO E A EFICÁCIA DA LEI Nº 11.340/2006 (MARIA DA PENHA) COMO MEDIDA GARANTIDORA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

À MULHER EM FACE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Trabalho de Conclusão de Curso (monografia) apresentado perante banca examinadora do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo. Como exigência parcial para obtenção de grau de bacharel em Direito sob orientação do professor Doutor Tailson Pires Costa.

Cachoeiro de Itapemirim - ES 2011

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Elizangela Vieira Melhorim

A APLICAÇÃO E A EFICÁCIA DA LEI Nº 11.340/2006 (MARIA DA PENHA) COMO MEDIDA GARANTIDORA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

À MULHER EM FACE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Cachoeiro de Itapemirim – ES, 21 de novembro de 2011

Professor Orientador: Tailson Pires Costa.

Prof.(a) Examinador (a):

Prof.(a) Examinador (a):

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Agradeço a Deus por se fazer presente em todos os momentos da minha vida, por me permitir tudo isso e dar propósito à minha vida, Vem dEle tudo o que sou, o que tenho e o que espero. Aos meus pais Paulo Scarpi Melhorim e Ruth Inês Vieira Melhorim pelo incentivo aos estudos.

Aos meus irmãos Emanuelle Vieira Melhorim e Paulo Henrique Vieira Melhorim pelo companheirismo, carinho e amizade.

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AGRADECIMENTOS

Por ocasião do êxito deste trabalho agradeço primeiramente a Deus e às pessoas abaixo relacionadas:

A todos os colegas do curso de direito. Em especial a minha grande amiga Isabel Dorna, prova viva de que amigos são anjos. Ao meu amigo Carlos Alexandre Saltori pelo carinho e dedicação que me fez entender a palavra “amigos mais chegados que irmão”, ao meu amigo Tauã Lima Verdan pelas palavras de incentivo, pela sabedoria compartilhada, pelos momentos de descontração, alegria e felicidade.

Em memória do saudoso Aderson Lisboa (amigo), hoje não mais presente entre nós, mais sempre presente no meu coração.

Aos meus amigos intercessores Pastor Luciano, Ev. João Batista, Pastor Carlos Profeta, Irmã Zenite, Ministério Fortaleza de Adoração (HEBROM).

Dedico especial agradecimento ao Doutor e Professor Tailson Pires Costa meu orientador, pelo conhecimento transmitido, que com calma, sabedoria e bom humor, me ajudou na realização deste trabalho. Constituiu-se numa pessoa especial e significativa na conclusão desse curso. O meu MUITO OBRIGADO!!!!

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“O que acha uma mulher acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do Senhor”. Prov.

18-22

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MELHORIM, Elizangela Vieira. A aplicação e a eficácia da Lei nº 11.340/2006 (Maria da Penha) como medida garantidora da proteção integral à mulher em

face ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 2011. 47 fls.

Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário São Camilo, Espírito Santo.

Cachoeiro de Itapemirim, 2011.

RESUMO

O trabalho de conclusão de curso tem o objetivo de expor as inovações trazidas pela criação e implementação da Lei nº 11.340/2006, também conhecida como Maria da Penha. A intenção é mostrar quais as contribuições a lei e seus dispositivos trouxeram para combater a violência configurada dentro do âmbito doméstico. O trabalho mostrará a trajetória da mulher dentro da história, evidenciando seu papel e sua situação ao decorrer dos anos para mostrar que a desigualdade e a violência contra a figura feminina sempre ocorrem e que a lei nem sempre garantia a punição de forma correta para o agressor. A visão focalizada pelo trabalho é sobre a lei ser um instrumento de garantia ao princípio institucionalizado pela Constituição Federal. Para estudar a temática escolhida, fez-se pesquisas bibliográficas em textos doutrinários entre outros que abordam a questão. Com a pesquisa, pretende-se mostrar a importância da Lei nº 11.340/2006 como uma das muitas maneiras que se pode e deve combater casos de violência doméstica contra a mulher.

Palavras-Chave: violência, doméstica, dignidade, lei.

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MELHORIM, Elizangela Vieira. A aplicação e a eficácia da Lei nº 11.340/2006 (Maria da Penha) como medida garantidora da proteção integral à mulher em face ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 2011. 47 fls.

Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário São Camilo, Espírito Santo.

Cachoeiro de Itapemirim, 2011.

ABSTRACT

The work of completing the course aims to expose the innovations brought about by the creation and implementation of Law No. 11340/2006, also known as Maria da Penha. The intention is to show what contributions the law and brought their devices configured to prevent violence within the domestic sphere. The paper will show the trajectory of women in history, highlighting its role and the situation over the years to show that inequality and violence against the female figure always occur and that the law does not always guarantee the correct way to punish the aggressor. The vision for the work is focused on the law as an instrument to guarantee the principle institutionalized by the Federal Constitution. To study the chosen topic, it was in literature searches and other doctrinal texts that discuss the issue. Through research, we intend to show the importance of Law No. 11340/2006 as one of the many ways we can and must combat domestic violence against women.

Keywords: violence, domestic dignity law.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2. BREVE HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ... 11

2.1 Origem da Lei Maria da Penha ... 18

2.2 Causas ou fatores que geram a violência contra a mulher ... 20

2.3 Inovações trazidas pela Lei nº 11.340/06 ... 22

3 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER ... 25

3.1 Formas de manifestação de violência contra a mulher ... 26

3.1.1 Violência física ... 27

3.1.2 Violência psicológica ... 28

3.1.3 Violência sexual ... 29

3.1.4 Violência Patrimonial ... 31

3.1.5 Violência Moral ... 32

4 ASPECTOS PROCESSUAIS ... 33

4.1 Criação dos Juizados de Violência Doméstica ... 33

4.2 Políticas públicas de enfrentamento à violência contra a Mulher ... 34

4.3 Necessidade de representação e a possibilidade de renúncia ... 35

4.4 As medidas protetivas de urgência ... 38

5- LEI MARIA DA PENHA COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO À DIGNIDADE HUMANA DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A VOZ DA VÍTIMA PASSA A SER OUVIDA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando-se de doutrina, jurisprudência e artigos científicos, além da internet, devido à escassez de trabalhos publicados acerca do tema, percebeu-se que o fenômeno da violência doméstica tem alcançado, de maneira maciça e corriqueira, espaço nos veículos midiáticos, sendo comum tal assunto despertar em considerável parcela da população sentimento de repulsa e de intolerância, sobretudo em razão da condição da vítima. À luz de tais ponderações, há que se salientar que, no âmbito judicial, a concepção do vocábulo violência estar estruturado nos preceito de coação ou forma de constrangimento que se prática contra alguém para incapacitá-lo ou levá-lo a fazer algo contra a sua vontade. Trata-se do emprego de determinada situação que confere ao agente perpetrador possibilidade de subjugar a vítima, com o escopo de machucar alguém, devassá-lo ou até se apossar dele.

No universo em que a violência doméstica é praticada, é possível denotar que várias são as espécies de atos que dão corpo ao dinâmico, porém nefasto, arcabouço empregado pelo parceiro violento. Ao lado disso, há que se frisar que existem várias maneiras de se violentar a mulher. Entre os exemplos a serem contabilizados, pode- se citar o estupro, ato em que o indivíduo, valendo-se de sua compleição física, aliada à força, serve-se do corpo da vítima, como objeto para satisfação de sua lascívia. Há outras em que não se observa a presença do elemento força, sendo utilizado, como mecanismos de intimidação, a ameaça de morte, o abandono material, a violência moral e psicológica. Em restando configurado tais atos no lar, denomina-se essa cadeia de ações como violência doméstica.

Fato digno de nota, tange à premissa que muitas mulheres, no Brasil, sofrem com violência doméstica, sobretudo aquelas que se encontram em situação de pobreza, em que impera a desinformação. Algumas das vítimas entendem que a família é uma instituição inviolável e que os acontecimentos ocorridos nos interiores dos lares devem permanecer dentro do ambiente em que foram exteriorizados. Por óbvio, trata-se de fatores associados ao medo e vergonha que infligem à vítima ou, ainda, por questões históricas que integram a constituição e formação da família.

(11)

As agressões, independente da forma que é perpetrada, ferem o princípio da dignidade da pessoa humana, corolário considerado como pilar principal do Estado Democrático de Direito, estando, inclusive, positivado pela Constituição Federativa do Brasil. Neste passo, com o objetivo de combater tal fenômeno dispositivos legais e políticas públicas têm sido criados para garantir o direito à dignidade da pessoa humana às mulheres vítimas de violência doméstica. Um deles é a Lei 11.340/2006, responsável por inaugurar no ordenamento jurídico mecanismos para diminuir e erradicar a violência doméstica contra as mulheres.

Aludida lei passou a vigorar em 07 de agosto de 2006 e inseriu um sucedâneo de mecanismos protetivos às mulheres vítimas de violência doméstica. Há que se registrar que a política contida no bojo da Lei Maria da Penha pôs fim a décadas de violência gratuita, praticada dentro do âmbito doméstico, em que a vítima era coisificada pelo algoz.

Conhecida como Lei Maria da Penha, a legislação ora citada inseriu modificações o Código Penal brasileiro e oportunizou as mulheres, agredidas no âmbito doméstico ou familiar, verem seus agressores sendo punidos pelo ato cometido. Assim, não mais se permitiu, no cenário jurídico brasileiro, que o agressor seja punido tão somente com penas alternativas. Ademais, com a nova sistemática trazida à baila pela legislação específica, os agressores surpreendidos em flagrante cometimento do delito podem ser presos ou, quando houver denúncia, ter a prisão preventiva decretada. A detenção fixada em relação aos crimes domésticos praticados contra a mulher é de três a cinco anos. Ao lado disso, a novel legislação prevê medidas que podem ser adotadas, tais como: a saída do agressor do domicílio onde a vítima se encontra e a proibição de se aproximar da mulher que foi agredida.

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2 BREVE HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A violência contra a mulher não é um fenômeno exclusivo da pós-modernidade, fruto da mentalidade capitalista e consumerista desenfreada, implementada, notadamente pela deturpação de valores básicos, a exemplo do respeito à dignidade de seu semelhante. Ao contrário, desde tempos antigos, a desigualdade do gênero feminino com relação ao masculino é visível. Neste sentido, inclusive, corroborando com o expendido, pode-se colher as seguintes ponderações de Puleo:

[...] na Grécia, os mitos contavam que, devido à curiosidade própria de seu sexo, Pandora tinha aberto a caixa de todos os males do mundo e, em conseqüência, as mulheres eram responsáveis por haver desencadeado todo o tipo de desgraça. A religião é outro dos discursos de legitimação mais importantes. As grandes religiões têm justificado ao longo dos tempos os âmbitos e condutas próprios de cada sexo.1

Na antiga Grécia, existiam várias diferenças entre o sexo masculino e o feminino, notadamente devido, em algumas cidades-Estado, a valorização da virilidade masculina em detrimento da condição da mulher, que sequer era considerada como cidadã, estando colocada no mesmo patamar dos escravos e estrangeiros. Destaque- se, ainda neste diapasão, que as mulheres não possuíam direitos de caráter jurídico, não tinham educação formalizada, eram proibidas de se exporem em público sem acompanhante e, na maioria das vezes, ficavam confinadas dentro de casa, em um local reservado.

Em outra banda, os homens, tidos como cidadãos, gozavam de direitos políticos, educação estruturada e poder de vida e morte sobre sua família. Vislumbra-se, neste cenário, uma sociedade erigida sobre os pilares dos preceitos patriarcais, no qual o homem era a figura central e orbitando, de modo coadjuvante, estavam os demais integrantes da célula familiar. A esse respeito, com bastante propriedade, pode-se colher as lições de Vrissimtzis que:

[...] o homem era polígamo e o soberano inquestionável na sociedade patriarcal, a qual pode ser descrita como o „clube masculino mais

1 PULEO, Alicia. Filosofia e gênero: da memória do passado ao projeto de futuro. In: GODINHO, Tatau; SILVEIRA, Maria Lúcia (Orgs.). Políticas públicas e igualdade de gênero. 1. ed. São Paulo:

Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p.13-34.

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exclusivista de todos os tempos. Não apenas gozava de todos os direitos civis e políticos, como também tinha poder absoluto sobre a mulher.2

No período do Império Romano, as mulheres “[...] nunca foram consideras cidadãs e, portanto, não podiam exercer cargos públicos3”. Repete-se na sociedade romana os mesmos valores que norteavam a construção de grande parte das cidades- Estado gregas. Assim, a mulher era uma figura excluída dos círculos sociais, jurídicos e políticos, sendo condicionada, repita-se, ao mesmo círculo em que as crianças e escravos estavam alocadas.

A figura feminina, neste contexto, não tinha qualquer identificação política, pública e sexual, tendo somente o status de progenitora de seu marido. Tratava-se, pelo que se colhe dos relatos que descrevem a sociedade da Antiguidade Clássica, de uma mera reprodutora da descendência do esposo. Aliás, há que se pontuar, segundo destaca Canezin, que “o único direito que gozava essa cidadã passiva era o de poder contrair casamento legal e de gerar descendentes-herdeiros legítimos”4.

Com o florescimento da cultura judaico-cristã, é possível denotar que houve uma manutenção da situação da figura feminina na sociedade. O movimento do Cristianismo revelou a mulher como a figura pecadora e culpada pela caída do homem no paraíso e sua conseqüente expulsão. “As Igrejas cristãs no mundo ocidental incumbiram-se de manter esse statu quo ipsis litteris por milênios, reforçando, assim, o papel de sujeição da mulher ao homem”5.

A doutrina trazida à lume pela cultura judaico-cristã edificou como flâmula de orientação que a mulher deveria ser obediente, passiva e submissa aos homens. “Nos séculos IX e X as uniões matrimoniais eram freqüentemente combinadas sem o

2 VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. Cap. I. Trad. Luiz Alberto Machado Cabral. 1. ed. São Paulo: Odysseus, 2002. p. 38.

3 PINAFI, Tânia. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na

contemporaneidade. 21 de abril/maio de 2007. Disponível em:

http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03/. Acesso em: 13 nov. 2011.

4 CANEZIN, Claudete Carvalho. A mulher e o casamento: Da submissão à emancipação. Revista Jurídica Cesumar, v. 04, nº. 01, 2004, p. 143-156. Disponível em:

<http://cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/viewPDFInterstitial/368/431>.

Acesso em: 13 de out. 2011, p. 145.

5 Ibid, p. 144.

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consentimento da mulher, a qual era sempre muito jovem”6. Os homens eram considerados pelo movimento cristão como aqueles que são iluminados e capazes de refrear os instintos mais sagazes das mulheres. Somente assim, as mulheres conseguiriam sua salvação. Logo, a conduta judaico-cristã delineou as condutas e a

“natureza” da figura feminina, incutindo nela a consciência culposa que deu origem ao estado de subserviência e dependência do sexo masculino. Nesta senda, Alves e Pintanguy descrevem, com clareza solar, a distorção estruturada no que concerne ao corpo feminino, notadamente a sua genitália, para tanto colaciona-se que:

[...] não foi só a religião que normatizou o sexo feminino, a medicina também exerceu seu poder, apregoando até o século XVI a existência de apenas um corpo canônico e este corpo era macho. Por essa visão a vagina é vista como um pênis interno, os lábios como o prepúcio, o útero como o escroto e os ovários como os testículos.7

Com essa visão, incutiu-se a crença de que a mulher seria um homem ao contrário (invertido) e, por isso, seria um ser inferior. Os preceitos que desvalorizavam a figura feminina, como ser integrante da sociedade, repercutiu durante séculos, tratando-se de uma mentalidade construída juntamente com a evolução da própria sociedade, estando arraigado na mentalidade humana.

O kurios, a força do esperma para gerar uma nova vida, era o aspecto corpóreo microcósmico da força deliberativa do cidadão, do seu poder racional superior e do seu direito de governar. O esperma, em outras palavras, era como que a essência do cidadão. Por outro lado, Aristóteles usava o adjetivo akuros para descrever a falta de autoridade política, ou legitimidade, e a falta de capacidade biológica, incapacidade que para ele definia a mulher. Ela era, como o menino, em termos políticos e biológicos uma versão impotente do homem, um arren agonos. 8

6 CANEZIN, Claudete Carvalho. A mulher e o casamento: Da submissão à emancipação. Revista Jurídica Cesumar, v. 04, nº. 01, 2004, p. 143-156. Disponível em:

<http://cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/viewPDFInterstitial/368/431>.

Acesso em: 13 out. 2011, p. 145.

7 ALVES, Branca M.; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural:

Brasiliense, 1985. p. 76.

8 LAQUEUR, Thomas Walter. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Trad. Vera Whately. 1. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará 2001, p 68.

(15)

O modelo do sexo único perdurou por muito tempo pelo fato do homem o instrumento construtor do conhecimento humano. Dentro de tal visão androcêntrica9, consistente na valorização do sexo masculino como centro do universo, a mulher era algo desprovido de qualquer valor.

Somente no momento em que se configurou no cenário político, econômico e cultural da figura masculina a necessidade de diferenciar a anatomia e fisiologia constáveis do corpo é que se repensou o modelo do sexo unificado. Em mesmo substrato, impõe trazer a lume os ensinamentos construídos por Gregori que:

Assim, o antigo modelo no qual homens e mulheres eram classificados conforme seu grau de perfeição metafísica, seu calor vital, ao longo de um eixo cuja causa final era masculina, deu lugar, no final do século XVIII, a um novo modelo de dimorfismo radical, de divergência biológica. Uma anatomia e fisiologia de incomensurabilidade substituiu uma metafísica de hierarquia na representação da mulher com relação ao homem.10

A visão naturalista que reinou até o fim do século XVIII inseriu de forma diferente, na perspectiva social, ambos os sexos. Os homens, considerados como o sexo superior, cultura fomentada desde os primórdios da Antiguidade Clássica, tinham as funções nobres como o estudo da Filosofia, Política e Artes. Às mulheres, de outro modo, cabia o papel de dedicar-se ao cuidado dos filhos, cuidar de tudo aquilo que estivesse ligado às necessidades do homem e sua subsistência.

Assim, a figura feminina estava adstrita a fiar vestimentas e alimentar os filhos e o marido, exercendo, por conseguinte, funções e ofícios que eram considerados menores aos olhos dos praticados pelo sexo masculino. Em decorrência dos pilares estruturante da visão androcêntrica, adotada durante todo o período que se estendeu da Antiguidade Clássica até a Revolução Francesa, pode-se salientar que, como bem negrita Oliveira, “a dinâmica das relações de poder balizadas pelo

9 OLIVEIRA, Rosa Maria Rodrigues de. Para uma crítica da razão androcêntrica: Gênero, Homoerotismo e Exclusão da Ciência Jurídica. Revista Sequências: estudos jurídicos e políticos,

nº. 48, jul. 2004, p 41-72. Disponível em:

<http://www.journal.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15232/13852>. Acesso em: 03 out. 2011, p. 43. Uma das principais características da sociedade patriarcal pode ser circunscrita na definição do termo androcentrismo, postura segundo a qual todos os estudos, análises, investigações, narrações e propostas são enfocadas a partir de uma perspectiva unicamente masculina, e tomadas como válidas para a generalidade dos seres humanos, tanto homens como mulheres.

10 GREGORI, M. F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: ANPOCS, 1993. p. 14.

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gênero, independentemente do modo de produção econômico ou de organização social, o que desvenda seu caráter de arbitrário cultural”11

A forma de interpretar a figura feminina começa a modificar ainda no século XVIII, com a Revolução Francesa. O aludido fato histórico permitiu que a parcela feminina que compunha a sociedade pudesse participar, de modo ativo, do processo de revolução.

Trata-se, ainda que momentaneamente, de inauguração de uma igualdade entre homens e mulheres que comungassem da mesma crença nos ideais revolucionários.

Acreditou-se que os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade, entoados em altos alaridos por todo o território francês, não ficariam adstritos apenas a parcela masculina da sociedade. Ao contrário, estenderiam suas influências e preceitos também para a parcela feminina, o que não ocorreu, mantendo a antiga ordem segregacionista inaugurada séculos antes, durante a Antiguidade Clássica.

Todavia, quando restou configurado que os preceitos motivadores da Revolução Francesa não abrangeriam a parcela feminina da sociedade, as mulheres, embebidas no espírito de revolucionário, passaram a reivindicar os direitos que, por anos, foram desrespeitados e sufocados. Alves e Pintanguy12, com singular lição, em sua obra reproduziu o discurso de uma das mulheres que lutava ativamente pelo reconhecimento de seus direitos, consoante se constata:

Diga-me, quem te deu o direito soberano de oprimir o meu sexo? [...] Ele quer comandar como déspota sobre um sexo que recebeu todas as faculdades intelectuais. [...] Esta Revolução só se realizará quando todas as mulheres tiverem consciência do seu destino deplorável e dos direitos que elas perderam na sociedade. 13

Aludido texto foi publicado no ano de 1791 e recebeu o título “Os Direitos da Mulher e da Cidadã”. Em uma breve análise do excerto colacionado, denota-se que a mulher destaca a opressão vivenciada pelo sexo feminino, achatado e violentado por séculos de intolerância de uma sociedade patriarcal, cujo pilar orientador era uma visão androcêntrica.

11 OLIVEIRA , 2004, p. 46.

12 ALVES; PITANGUY, 1985, p. 33, 34

13 Ibid.

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Já no século XIX, consolida-se o sistema capitalista, trazendo consigo um sucedâneo robusto de profundas e importantes alterações em toda a estrutura que integrava a sociedade. O modo de produção capitalista, cingido na busca em atender os anseios apresentados pelo mercado consumidor, foi responsável por modificar o papel da mulher, condicionado até então a ser dona de casa. Constata- se que uma parcela rotunda de mulheres passaram a integrar a mão de obra capitalista. Com isso, a mulher sai do lócus reservado, até então, para o trabalho feminino, e vai para a esfera pública.14

Em tal processo, passa-se a verificar uma fomentação ao questionamento da visão dominante, na qual o sexo feminino é inferior ao masculino, percebendo-se um primitiva organização das mulheres, desembocando em movimentos feministas que põe em xeque a sociedade patriarcal tal qual estruturada.

Não mais se aceita, de modo submisso e incontestável, a subjugação do sexo feminino, ao contrário, passa-se a fomentar uma igualdade entre gêneros, ambicionando, notadamente pelos movimentos desenvolvidos, a busca pela eliminação das discriminações em que a figura mulher é vítima. Fortalecendo, de maneira determinante o aduzido, colhe-se que:

Grosso modo, pode-se dizer que ele corresponde à preocupação de eliminar as discriminações sociais, econômicas, políticas e culturais de que a mulher é vítima. Não seria equivocado afirmar que feminismo é um conjunto de noções que define a relação entre os sexos como uma relação de assimetria, construída social e culturalmente, e na qual o feminismo é o lugar e o atributo da inferioridade.15

Ao fazer o questionamento sobre a construção social da diferenciação entre os sexos e os campos de articulação, as feministas desenvolvem um conceito de gênero, abrindo oportunidade de análise do binômio dominação-exploração, instituído ao longo dos tempos. Trata-se, por conseguinte, de exame do arcabouço histórico- filosófico que edificou a estratificação do sexo feminino como inferior ao

14 PIFANI, Tania. Violência contra a mulher. Politicas públicas e medidas protetivas na

contemporaneidade. Disponível em: :

http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03/ acesso em: 5 out.2011

15 GREGORI, 1993, p. 15.

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masculino, fruto dos valores patriarcais que foram estruturados desde a Antiguidade Clássica, estendendo-se até os dias atuais.

Ao longo de toda essa trajetória, a vida da mulher foi acompanhada de violência, considerada natural, consistente no poder que o pai, em um primeiro momento,e o cônjuge/companheiro, em momento posterior, detinham sobre a figura feminina.

Assim, é plenamente possível assinalar que a violência perpetrada contra o gênero feminino, a partir do viés estruturado, traz consigo uma intrincada e complexa articulação fundamentada em relações de poder exercidos por um gênero, o masculino, sobre o outro, feminino, de modo a suplantar e condicionar o seu desenvolvimento. Essas relações sempre foram mediadas por uma hierarquia patriarcal proeminente na sociedade brasileira, a qual deu aos homens o direito de dominar e controlar as mulheres, tendo o direito, inclusive, em certas ocasiões, usar de violência.

Então, quando se fala em violência doméstica contra a mulher, confronta-se com um fenômeno histórico e cultural terrível e não visível, por ser uma violência velada, já que chega ao conhecimento público uma parte da realidade existente. Há uma deturpação iconográfica do ambiente em que ocorrem os atos de violência e os personagens envolvidos, porquanto o agressor é aquele que deveria ofertar a segurança, o cenário de violência é a residência de ambos os personagens e a vítima, suportando um histórico social, suportar as agressões.

Nota-se que a luta das mulheres para conquistar direitos de igualdade ainda não chegou a um patamar aceitável para a população feminina, já que a mulher ainda é discriminada e o índice de violência praticada contra ela é grande. Logo, superar a violência contra a figura feminina é uma questão complexa e requer o desenvolvimento de políticas conscientizadoras e que previnam tais atos no âmbito doméstico. Como tentativa de combater e erradicar a violência contra a mulher foi instituída a Lei Maria da Penha, discutida e apresentada na subseção seguinte.

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2.1 Origem da Lei Maria da Penha

Muitas pessoas desconhecessem o motivo pelo qual a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal16, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências17, recebeu o nome de Maria da Penha.

A justificativa é triste, todavia merece ser relembrada como uma mácula no ordenamento jurídico brasileiro. A profissional de farmácia Maria da Penha Maia Fernandes foi uma vítima da violência masculina que acontece, todos os dias, em diversos lares. Morava em Fortaleza e, por duas vezes, seu marido, um professor de Economia de uma das faculdades do lugar onde moravam, tentou matá-la. Na primeira vez, ele simulou um assalto usando uma espingarda. O resultado da tentativa infeliz foi que Maria ficou paraplégica. Algum tempo depois, pouco mais de uma semana no último incidente que a tirou os movimentos de Maria da Penha, ele tentou novamente matá-la. Dessa vez, ele tentou eletrocutá-la através de uma descarga elétrica durante o banho.18

Porém, essas não foram as únicas vezes que Maria da Penha sofreu maus tratos do companheiro. Durante muitos anos de casamento, ela sofreu diversas agressões e

16 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 10 out. 2011.

17 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 03 nov. 2011.

18 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.15

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intimidações. Sofria tudo calada por medo de que o marido fizesse algo pior com ela e as filhas. Somente depois da tentativa de assassinato foi que ela resolveu denunciá- lo. Mas, infelizmente, nada foi feito para ajudá-la. Ela não se intimidou com isso:

escreveu um livro e uniu-se ao movimento de mulheres. Sempre que teve oportunidade, manifestou sua indignação diante do que aconteceu com ela e diante do que acontece com inúmeras mulheres brasileiras.19

A denúncia feita por Maria da Penha foi oferecida somente no ano de 1984. No ano de 1991, o réu foi condenado pelo tribunal do júri a oito anos de prisão. Ele recorreu em liberdade e, ainda, um ano depois, teve seu julgamento anulado. Foi levado a julgamento novamente em 1996, onde lhe foi imposta a pena de 10 anos e 6 meses.

Mais uma vez ele recorreu em liberdade e somente 19 anos mais tarde, no ano de 2002, é que o ex-marido de Maria da Penha foi preso. Cumpriu 2 anos de prisão e foi liberado.20

Passados 25 anos após o ocorrido, a Lei Maria da Penha foi editada sob o número 11.340/200621 dando cumprimento às convenções e tratados internacionais assinados pelo Brasil. Por isso, existe referência, na emenda da Lei, acerca da Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.

Quando o Presidente Lula assinou a Lei Maria da Penha disse:

[...] Esta mulher renasceu das cinzas para se transformar em um símbolo da luta contra a violência doméstica no nosso país.22

19 19 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.16

20 Ibid. p. 17

21 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 03 nov. 2011.

22 DIAS, 2010, p.17.

(21)

As alterações alcançadas por Maria da penha e pela Comissão Interamericana de Direitos humanos da Organização dos Estados Americanos e o legislador fizeram sua parte. De qualquer modo, cabe ao Estado implantar as medidas necessárias e implementar as políticas públicas que estão previstas na Lei delineadas. Cabe atentar que a responsabilidade maior é do Poder Judiciário que precisa encontrar meios de dar efetividade à Lei, a aplicando de forma a atender à sua finalidade precípua: se não eliminar, ao menos reduzir, em muito, os números da violência. Mas isso só vai ocorrer quando todos tiverem consciência de que bater em mulher é crime!23

2.2 Causas ou fatores que geram a violência contra a mulher

O álcool, as drogas ilegais e ciúmes são alguns fatores apontados como geradores da violência contra a mulher. Porém, na raiz de tudo encontra-se a forma como a sociedade vê a mulher e o homem. Há uma valorização do papel masculino em detrimento ao feminino.

Até mesmo na criação de meninos e meninas nota-se a valorização diferenciação. Os meninos são incentivados a valorizar a força física, a dominação e a seguir em frente para realizar seus desejos, ao passo que a criação das meninas destaca a beleza, fragilidade, sedução, submissão, dependência, sentimentalismo, passividade e a preocupação em cuidar dos outros.

Ao homem sempre coube o espaço público. A mulher foi confinada nos limites da família e do lar, o que ensejou a formação de dois mundos: um de dominação, externo, produtos, outro de submissão, interno e reprodutor.

Ambos os universos, ativo e passivo, criam pólos de dominação e submissão.

A essa diferença estão associados papeis ideais atribuídos a cada um: ele provendo a família e ela cuidando do lar, cada um desempenhando a sua função. Padrões de comportamento assim instituídos de modo tão distinto levam à geração de um verdadeiro código de honra.24

23 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 21.Ibid.

24 Ibid.

(22)

A sociedade insiste em dar ao marcho um papel paternalista, exigindo-lhe uma postura de dominação em relação à fêmea. As mulheres sempre receberam uma educação diferente das dos homens, pois tinha que ser mais controladas, mais limitadas em seus desejos e ansiedades. Por isso, “o tabu da virgindade, a restrição ao exercício da sexualidade e a sacralização da maternidade ainda existem.”25

Com o desenvolvimento da medicina, o descobrimento de métodos anticonceptivos, as lutas emancipatórias desencadeadas pelo movimento feminista que redefiniram o modelo ideal de família, a desigualdade sociocultural é uma das razões da discriminação feminina e, principalmente, de sua dominação pelos homens, que se veem como superiores e mais fortes.

Apesar de todos os avanços, o homem se tem como proprietário do corpo e da vontade da mulher e dos filhos. A sociedade protege a agressividade masculina, constrói a imagem da superioridade do sexo que é respeitado por sua virilidade. Muitas vezes, a violência contra a mulher dentro de casa passa imperceptível porque as mulheres ainda veem a família como entidade inviolável até pela Justiça. Agressor e agredida, assim, firmam um pacto de silêncio, livrando-o a impunidade.26

A violência contra a mulher é uma forma de o homem testar os seus limites de dominação. Quando ele a agride e ela não toma nenhuma providência, isso exacerba a agressividade dele. E ele fica cada vez mais violento para dominar e manter a submissão da mulher. Como a ação não gera reação, exarceba a agressividade. Para manter a submissão as formas de violência só aumentam.

A ferida sara, os ossos quebrados se recuperam, o sangue seca, mas a perda da autoestima, o sentimento de menos valia, a depressão, essas são feridas que jamais cicatrizam.27

Nesse sentido, impera realçar que as mulheres vítimas de violência doméstica, em razão da situação de hipossuficiência, fragilidade emocional e até mesmo física em que se encontram, faz com que o silêncio seja o maior dos cúmplices dos episódios de violência.28

25 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 21.

26 Ibid.

27 Ibid.

28 Ibid.

(23)

2.3 Inovações trazidas pela Lei nº 11.340/06

A Lei nº 11.340/200629, conhecida como Lei Maria da Penha, transformou o ordenamento jurídico brasileiro. Pode se dizer que a referida Lei deu um passo imprescindível para assegurar as mulheres o necessário respeito aos direitos humanos e tipificar condutas delitivas. Dessa forma, considera-se que a lei em comento representa um marco na proteção da família e um resgate da cidadania feminina. Ela traz em seu conteúdo uma contextura específica e adequada para atender a dificuldade que ronda o fenômeno da violência doméstica contra a mulher.

Ela apresenta mecanismos de precaução e assistência a mulher agredida, políticas públicas e punição rigorosa para quem cometer crimes de violência contra a mulher.

A Lei Maria da Penha é uma lei que:

[...] veio assegurar maior proteção a uma parcela da população visivelmente mais frágil quando o assunto é violência doméstica. E mais: por via complementar, pode-se afirmar que a Lei Maria da Penha protege, além da mulher vítima da violência, a família e a sociedade, dado que o sofrimento individual de mulheres ofendidas agride ao equilíbrio de toda a comunidade e a estabilidade das células familiares como um todo.30

Nas disposições preliminares Título I da Lei, está o enunciado político da norma. Ali se define a finalidade; os direitos principais da mulher, o anúncio das condições para o exercício dos direitos femininos; o comprometimento do Poder para o desenvolvimento de políticas em prol dos exercícios dos direitos da mulher, as condições para tanto e reconhece, de plano,da hipossuficiência da figura feminina.31 No art. 1º, a Lei Maria da Penha deixa claro para que foi institucionalizada:

29 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

30 PARODI, Ana Cecília; GAMA, Ricardo Rodrigues. Lei da Maria da Penha: comentários à Lei nº 11.340/2006. 1. ed. Campinas: Russell Editores, 2009, p.130.

31 Op. cit.

(24)

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a Violência contra a mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 32

A Lei nº 11.340/200633 inova em quase todos os seus dispositivos, veio proporcionar uma melhoria no que diz respeito ao tratamento das vítimas, como ocasionar uma penalidade mais justa e efetiva para seus agressores sem deixar escapar sua função ressocializadora, fazendo com que o agressor volte ao lar consciente do seu papel no âmbito familiar.34

A Lei em comento prevê:

[...]que a mulher somente poderá renunciar a denúncia perante o juiz, proíbe que a mulher entregue a intimação ao agressor, em alguns casos especiais as vítimas da violência doméstica podem ficar até seis meses afastadas do trabalho para tratamento físico e psicológico, sem correr o risco de perder o emprego. A mulher vitimada será notificada dos atos processuais, especialmente quanto ao ingresso e saída da prisão do agressor, e terá que ser acompanhada por advogado, ou defensor, em todos os atos processuais, pois não possui capacidade postulatória. Esta lei prevê ainda para a estruturação, a criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a mulher;

o qual não deverá trabalhar sozinho, necessitando de políticas públicas, integração do Ministério Público,

Defensorias e Delegacias da Mulher. 35

Quando a lei relata a ampliação do conceito de família incluindo as relações homoafetivas, somente admite uma situação que já acontece em meio à sociedade e que é muito reproduzida nos meios de difusão cultural.36 O conceito legal de

32 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

33 Ibid.

34GOMES, José C Novas perspectivas sobre a violência contra a mulher a luz lei Maria, Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA2-QAF/novas-perspectivas-sobre-a-violencia- contra-a- mulher-a-luz-lei-maria, Acesso em: 13 nov.2011

35 Ibid.

36 RABELO, Iglesias Fernanda de Azevedo; SARAIVA, Rodrigo Viana. A Lei Maria da Penha e o reconhecimento legal da evolução do conceito de família. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.

1170, 14 set. 2006. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/8911>. Acesso em: 13 nov. 2011.

(25)

família trazido pela Lei Maria da penha insere no sistema jurídico as uniões homoafetivas. Quer as relações de um homem e uma mulher, quer as formadas por duas mulheres ou constituídas entre dois homens, todas configuram entidade familiar.37 Neste sentido, pode-se colher as ponderações apresentadas por Maria Berenice Dias:

Lésbicas, transexuais, travestis e transgêneros, que tenham identidade social com o sexo feminino estão ao abrigo da Lei Maria da Penha. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui-se violência doméstica. Ainda que parte da doutrina encorre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da, descabe deixar á margem da proteção legal aqueles que se reconhecem como mulher. Felizmente, assim já vem entendendo a jurisprudência.38

Outro aspecto digno de nota faz menção ao fato que coma implementação da Lei Maria da Penha restou expressamente afastada a incidência da Lei dos Juizados Especiais Criminais.

A Lei Maria da Penha traz uma grande novidade ao retirar dos Juizados Especiais Criminais a competência para processar e julgar os delitos de violência doméstica, vindo de encontro aos anseios populares, bem como faz cumprir os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em diversas convenções e pactos de direitos humanos. Ressalte-se que a Lei 9.099/95 não previa nenhuma medida de proteção à vítima, posto que foram criados os Juizados Especiais Criminais com o intuito de desafogar a justiça brasileira e com competência para processar e julgar os crimes considerados de menor potencial ofensivo, com pena não superior a 2 anos. Sendo que nos casos de violência doméstica as penas aplicadas aos agressores, tais como multas, prestação de serviços à comunidade e doação de cestas básicas, representava para as vítimas um ato de impunidade. Daí a importância da Lei Maria da Penha criar um juizado especializado em violência doméstica. 39

O principal argumento para essa postura se funda, em síntese, na banalização do crime praticado contra a mulher, decorrente da brandura da resposta penal proposta pela Lei nº 9.099/95.40

37 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9138>. Acesso em: 11 nov. 2011.

38 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 58

39 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 25

40 PINTO, Ronaldo Batista; CUNHA, Rogério Sanches. A Lei Maria da Penha e a não-aplicação dos institutos despenalizadores dos juizados especiais criminais. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n.

1517, 27 ago. 2007. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/10328>. Acesso em: 12 nov. 2011.

(26)

3 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER

Existem diversas formas de violência contra a mulher, podendo ser o ato violento se manifestar de diferentes maneiras, com graus de severidade diferenciados. Mas, antes de falar sobre cada tipo de violência contra a mulher, é preciso conceituar violência doméstica.

A palavra violência tem origem no vocábulo latino violentia e descreve o ato de violentar alguém de forma abusiva indo contra o direito natural, exercendo constrangimento sobre determinada pessoa por obrigá-la a praticar algo contra sua vontade. 41 Entendida como um fenômeno que possui diversas causas, a violência é um processo de vitimização que:

[...] que se expressa em atos com intenção de prejudicar, subtrair, subestimar e subjugar, envolvendo sempre um conteúdo de poder, quer seja intelectual quer seja físico, econômico, político ou social. Atingem de forma mais hostil os seres mais indefesos da sociedade, como as crianças e adolescentes, e também as mulheres sem, contudo, poupar os demais.42

A violência dentro do lar é denominada de violência doméstica. Ela acontece nas interações entre pai-filho, mãe-filho, pai-mãe, etc. Ao contrário do que se pensa, não se deve considerar a violência algo natural. Ao contrário, a violência destrói as vidas das pessoas e não deve fazer parte da dinâmica familiar.

Dias7 ressalta que para se obter o conceito de violência doméstica é preciso a conjugação dos artigos 5º e 7º da Lei nº 11.340/200643.

Deter-se somente no art. 5º é insuficiente, pois são vagas as expressões:

“qualquer ação ou omissão baseada no gênero”; “âmbito de unidade

41 BATISTA, et al. Representações sociais dos adolescentes acerca da violência doméstica. 2004.

Disponível em: < http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_3/05_Original.html>. Acesso em 1 out. 2011. p.

1. 42 BALISTA, Carolina; BASSO, Emiliana; COCCO, Marta; GEIB, Lorena T. C, Representações sociais

dos adolescentes acerca da violência doméstica. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.

06, n. 03, 2004. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_3/05_Original.html, Acesso em:

13 nov.2011

43 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

(27)

doméstica”; “âmbito da família” e “relação íntima de afeto”. De outro lado, apenas do art. 7º, também não se retira o conceito legal de violência contra a mulher. Ou seja, violência doméstica é qualquer das ações elencadas no art.

7º (violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral) praticada contra a mulher em razão de vínculo de natureza familiar ou afetiva. 44

A Lei nº 11.340/200645, inclusive, estabelece o campo de abrangência. A violência passa a ter caráter doméstico quando é praticada no âmbito da unidade doméstica;

em qualquer relação íntima de afeto, independente da orientação sexual da vítima.

Para caracterizar-se como violência doméstica ou familiar ou, ainda, em qualquer relação íntima de afeto, independente da orientação sexual da vítima, em que o agressor conviva ou tenha convivido com a parte agredida, independente da situação de coabitação.

É importante ressaltar que, até o aparecimento da Lei Maria da Penha, a violência doméstica não era considerada crime. Somente a lesão corporal tinha uma pena mais dura quando praticada dentro das relações domésticas.

3.1 Formas de manifestação de violência contra a mulher

Há diversas formas de manifestação da violência contra a mulher. A seguir, cada uma será apontada e discutida. O legislador da Lei 11.340/200646 preocupou-se não somente em definir a violência doméstica e familiar, mas, também, especificou as formas em que cada uma ocorre.

44 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. P. 40.

45 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

46 Ibid

(28)

3.1.1 Violência física

O art. 7º, I da Lei nº 11.340/200647, descreve a violência física como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da pessoa. Mesmo que a agressão não deixe marcas visíveis, o uso de força física que atinja o corpo ou a saúde da mulher constitui violência física. A violência física pode deixar sinais ou sintomas que propiciem a sua identificação. A pessoa que foi agredida por ter hematomas, arranhões, queimaduras e fraturas. O estresse vivido por causa da situação de violência também pode geras sintomas físicos, como dores de cabeça, cansaço crônico, dores nas costas ou até ausência de sono.

A integridade física e a saúde corporal são protegidas juridicamente pela lei penal. A violência doméstica já configurava forma qualificada de lesões corporais, tendo sido inserida no Código Penal (CP), em 2004, com o acréscimo do § 9º ao art. 129 do CP: se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. A Lei Maria da Penha limitou- se a alterar a pena desse delito, diminuiu a pena mínima e aumentou a pena máxima: de seis meses a um ano, a pena passou para de três meses a três anos. 48

Mesmo que não alterada a descrição do tipo penal, aconteceu a ampliação do âmbito de abrangência da violência doméstica com a promulgação da Lei Maria da Penha.

Houve a dilatação do conceito de família, incluindo também as unidades domésticas e as relações de afeto, a expressão “relações domésticas”, constante do tipo penal, tem uma nova leitura. Somente as condutas praticadas em forma de dolo configuram- se como violência física.

47 BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 03 nov. 2011.

48 DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na Justiça. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 64.

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