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3 COOPERAÇÃO E COOPERATIVISMO

3.3 Formas de organização dos garimpeiros e pequenos mineradores:

Nesta seção discutimos as formas de organização dos garimpeiros em cooperativa ou outra forma de associativismo para realizaras atividades de extração mineral conforme estabelece o Estatuto do Garimpeiro (BRASIL, 2008a).

Segundo o Art. 5º, Inciso XVII da Constituição Federal de 1988 “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar” sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento como trata o Inciso XVIII “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”. Também fazem parte dos direitos sociais a livre associação, seja para fins sindicais ou profissionais segundo a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).

Em termos sindicais, a Consolidação das Leis Trabalhistas em seu artigo 511 estabelece que é licita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas (BRASIL, 1943).

Para a Constituição Federal de 1988, aos sindicatos caberiam a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas (BRASIL, 1988). Como exemplo, podemos citar o Sindicato Nacional dos Garimpeiros criado 1954 ainda no Governo do Getúlio Vargas para legalizar as exportações de gemas. Sua sede fica em Teófilo Otoni em Minas Gerais, mas sua abrangência é em nível nacional, porém ao

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Partes das reflexões contidas nesta seção foram apresentadas no artigo “O Estado e o Cooperativismo Mineral: da Indução de uma Forma Organizacional aos Desafios de uma Organização Sustentável” de autorias de Alan Ferreira de Freitas, Alair Ferreira de Freitas e Alex dos Santos Macedo durante o XXXVIII EnANPAD no Rio de Janeiro, em setembro de 2014.

longo dos anos ficaram vários períodos em inatividade e segundo aponta os estudos de Lima et al. (2004) o sindicato encontrava-se em funcionamento em 2004, porém atuando mais especificamente na região de Teófilo Otoni.

Entre os serviços oferecidos pelo Sindicato estavam a disponibilização de informações e a intermediação. No primeiro caso, os garimpeiros poderiam obter junto ao sindicato informações sobre como obter áreas para pesquisa ou permissão da lavra garimpeira, bem como tirar dúvidas sobre seus direitos como a aposentadoria e as legislações que regem sua atividade. E na atividade de intermediação, o Sindicato fazia o papel de agente conciliador entre os conflitos existentes entre os garimpeiros e os donos dos garimpos, os donos das terras, as empresas de mineração e os órgãos ambientais. Também buscava auxiliar o garimpeiro no acesso à saúde, às questões sociais como cestas básicas e as questões previdenciárias (LIMA et al., 2004).

Outra forma de organização dos garimpeiros como os sindicatos são as associações que não possuem fins econômicos. Segundo o Art. 53 do Código Civil de 2002, “constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos” (BRASIL, 2002). O caráter de finalidade não econômica não quer dizer que a associação não possa realizar atividades econômicas com o intuito de gerar renda, mas sim que os resultados das atividades econômicas não possam ser distribuídos entre seus associados, sendo, portanto, reinvestido na associação para consecução de seus objetivos sociais.

A título de exemplo dissertamos sobre o caso da Associação dos Mineradores do Tapajós - AMOT no estado do Pará. Organização constituída em 1991 a partir da necessidade dos proprietários de pequenos garimpos em estreitar laços com as companhias de mineração e assim, a associação figuraria como uma entidade que iria facilitar a articulação dos proprietários dos garimpos

para se relacionar não só com as mineradoras, mas também com os órgãos públicos (CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL - CETEM, 2004).

Como entidade de representação e defesa dos interesses de seus associados, a AMOT atua na defesa dos interesses dos donos dos garimpos e também na defesa dos seus interesses nas questões políticas, “a associação age em favor dos garimpeiros, particularmente em conflitos de terra como aqueles com os madeireiros, assim como grupo de lobby na arena política e na disseminação de informações através da mídia” (CETEM, 2004, p. 5).

Esses dois casos, de certa forma, revelam a busca pela necessidade de proteção e defesa dos interesses dos garimpeiros e dos donos dos garimpos frente aos conflitos com as companhias de mineração, as madeireiras e outros garimpeiros. Além dos sindicatos e das associações, os garimpeiros também podem se organizar em cooperativas conforme explicita e prioriza a Constituição de 1988. Segundo o artigo 4º da Lei 5764/71, “as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados” (BRASIL, 1971).

Em relação às cooperativas existem diversas formas de classificá-las quanto a seus fins, ao tipo de atividade econômica, de repartição dos benefícios, de auxílio mútuo, de incentivo dos organizadores. Muitas são constituídas para realizar a intermediação entre a produção dos seus associados com o mercado, facilitando o acesso para conseguir a portaria de lavra, para comercializar a sua produção direta aos compradores finais sem passar pelos intermediários, para realizar a compra coletiva de insumos, entre tantas outras possibilidades. Essa é uma das formas de organização das cooperativas, mas nem sempre elas assumem esse papel de intermediador das relações entre a produção do associado e o mercado.

Nas cooperativas do ramo mineral há uma multiplicidade de formas organizacionais em que essa intermediação não existe. A cooperativa, por

exemplo, pode simplesmente assumir a função de executar as ações ambientais, obrigatória para quem explora recurso mineral e, lógico, se vincula a impactos ambientais. Nesse prisma questiona-se sobre qual modelo organizacional essa multiplicidade de atividades econômicas poderia se organizar: no caso das cooperativas seria mais voltada ao consumo, a produção ou aos serviços?

Para exemplificar, a cooperativa investigada no estudo realizado por Bitencourt (2009), caracteriza-se como uma cooperativa de serviços, uma vez que realiza o serviço de recuperação ambiental para os garimpeiros, atuando para o cumprimento das exigências ambientais e legais. Além do mais, a cooperativa busca a “realização dos trâmites para obter os requerimentos de lavra, a atividade de recuperação das áreas, a emissão da carteira de garimpeiro, o registro de máquinas e motores e a posterior renovação” (BITENCOURT, 2009, p. 103).

A cooperativa analisada por Amade e Lima (2009) foi criada basicamente para garantir o direito de lavra e seu modelo organizacional era, inclusive, desconhecido pelos cooperados. Os cooperados não sabiam como ela funcionava, mas estava voltada diretamente para cumprir com obrigações ambientais. A gestão ambiental era, assim, seu foco.

Nesse sentido observa-se que nas cooperativas do ramo mineral não existe um modelo organizacional definido, ora se estruturam como cooperativas de serviços, produção ou consumo a depender das necessidades e anseios do quadro social. Isso não quer dizer que seja prejudicial para a atividade garimpeira e para a regulação das cooperativas, uma vez que a própria atividade indica variedades de formas possíveis de se atender a diferentes necessidades econômicas e sociais dos cooperados.