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3 COOPERAÇÃO E COOPERATIVISMO

3.2 O Cooperativismo: breve localização do debate

O cooperativismo é um movimento de reação dos trabalhadores em condições de exploração decorrentes dos desdobramentos do desenvolvimento do capitalismo industrial na Europa no Século XIX (RIOS, 1987). Nesse sentido, o cooperativismo pode ser visto como um movimento de reação, ou seja, trata-se de projeto político para os trabalhadores. Em outra direção pode ser utilizado como ‘fachadas’ para manter a exploração do trabalho, funcionando de forma muito semelhante a uma indústria.

Para Schneider (1999) o movimento de interação do cooperativismo com o sistema capitalista frustrou não só a proposta de mudança da sociedade defendida pelos socialistas utópicos como Robert Owen, como também possibilitou a apropriação do cooperativismo na dinâmica do capitalismo como uma nova opção para a economia de mercado.

Abordando as cooperativas em contraposição ao sistema capitalista, Rios (1987) identificou dois projetos alternativos de constituição de cooperativas, o

ascendente e o descendente. No primeiro caso, partia-se de uma “comunidade agrícola e passando pelo beneficiamento da produção, pretendiam atingir o setor de serviços, educação inclusive” (RIOS, 1987). O segundo faz o caminho inverso, primeiro o consumo e depois se chega ao setor agrícola.

Neste último caso, o foco está na oferta de serviços como a disponibilização de mercadorias em condições melhores para os associados. O autor faz uma crítica ao ponderar que tal modelo não tenciona a forma de organização social da produção como no primeiro projeto de cooperativas, o ascendente. A cooperativa considerada como precursora, a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, constituída por 28 tecelões em 1844 em Manchester na Inglaterra faz parte do projeto descendente de cooperativas (RIOS, 1987).

Mladenatz (2003) acrescenta que a formalização dessa cooperativa representa o estabelecimento de um programa que contempla os princípios teóricos, as regras de organização e funcionamento das cooperativas. Os ideais dessa cooperativa são na verdade anteriores a ela e resultado da construção das ideias dos utopistas (P. C. Plockboy e John Bellers, Robert Owen, Charles Fourier, Philipe Buchez, Louis Blanc e Dr. William King), que “desde a segunda metade do século XV até meados do século XVII, escreveram alguns romances sociais, nestes encontrava-se a descrição de organizações sociais futuras, constituídas de maneira racional e desprovidas dos defeitos da sociedade atual” (MLADENATZ, 2003, p. 27). Eles almejavam a transformação da sociedade por meio das relações de produção ao estabelecer associações de caráter econômico fundamentados nos interesses dos trabalhadores.

Assim, em termos doutrinários, a cooperativa é regida por princípios4 e valores5 que orientam suas ações. Para Schneider (2012, p. 254) “o elenco de

4 Em congresso centenário realizado em Manchester, na Inglaterra, em 1995 a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) definiu como normas de conduta das cooperativas os seguintes princípios: adesão livre e voluntária; gestão democrática; participação

valores, princípios e normas que tal doutrina propõe é um paradigma que ajuda a orientar a ação dos cooperadores no seu empenho em prol da realização dos objetivos da cooperação”.

Para Rios (1987) o cooperativismo como resultado da luta dos operários propiciou a constituição de uma organização cooperativa que possui como características básicas a propriedade cooperativa, a gestão cooperativa e a repartição cooperativa. No primeiro caso, a propriedade cooperativa nos elucida que esse tipo de organização trata-se de uma sociedade de pessoas e não de capital. Aqui, reforça-se a ideia de que primeiramente o que se valoriza são as pessoas, o trabalho e não o capital e sua incessante busca por remunerá-lo cada vez mais como acontece nas empresas de capital aberto.

Em sua segunda característica, a gestão cooperativa, o autor traz a perspectiva de que por ser uma sociedade, a decisão sobre os atos da cooperativa deve ser tomada e construída pelo coletivo, apresentando a noção de um processo autogestionário, em que os próprios cooperados tomam ‘as rédeas’ da situação. E por último, a dimensão da repartição cooperativa aponta para a distribuição dos resultados financeiros da organização de forma diversa daquela geralmente praticada pelas empresas capitalistas, que é a remuneração do capital. Em muitas cooperativas, tal repartição é realizada proporcionalmente conforme o volume de produção ou serviços dispostos pelos cooperados junto à cooperativa.

Diante dessas características sobre as cooperativas apontadas por Rios (1987), podemos visualizá-las como uma extensão ou parte integral das atividades individuais de seus associados. Para entender melhor como funciona a lógica da cooperativa, Franke (1982) conceituou-a como sendo extensão das economias cooperativadas. Ou melhor, “a cooperativa [...] é uma associação econômica, de natureza mutualística, cuja missão econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação e interesse pela comunidade.

fundamental se concentra na efetivação de relações negociais dirigidas para a sua esfera interna” (FRANKE, 1982, p. 23).

Nessa linha de raciocínio da visão da cooperativa, com foco voltado para o intermédio das relações dos cooperados com o mercado,

a cooperativa funcionaria como empreendimento econômico de propriedade e sob controle dos seus usuários, que realiza a intermediação dos interesses econômicos desses com o mercado, e que distribui benefícios e custos na razão da utilização que esses usuários-proprietários fazem dos serviços a eles disponibilizados (VALADARES, 2006, p. 3).

Diante desses argumentos, observamos que uma organização cooperativa pode surgir de um acordo voluntário de colaboração empresarial - cooperação entre vários indivíduos, com a finalidade principal de solucionar problemas ou satisfazer às necessidades comuns que excedem a capacidade individual (VALADARES, 2005). Essa visão estaria mais voltada para a cooperação na cooperativa para o processo produtivo e para a convergência de interesses comuns.

Também se visualiza a cooperativa como um projeto político, como lembrou Rios (1987). Nessa perspectiva de cooperativa como um projeto político implica a “noção de movimento social, de relação entre pessoas que buscam se identificar e construir algo em comum, abandonando seu lócus de interesses apenas individuais” (FRANTZ; SCHONARDIE, 2007, p. 2).

No entanto, as cooperativas também podem emergir como uma imposição organizacional por parte do Estado para acessar alguma política pública (FREITAS et al., 2011; FREITAS; FREITAS, 2011) ou mesmo como uma tentativa, por parte do Estado, para organizar um setor como o dos garimpeiros, que se caracteriza como atividade desenvolvida de forma informal, na ilegalidade em que o Estado encontra dificuldades para controlar, fiscalizar e ao mesmo tempo se apropriar dos resultados econômicos dessa atividade que lhe é de direito.

3.3 Formas de organização dos garimpeiros e pequenos mineradores: