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1. INTRODUÇÃO

3.3 Lodo

3.3.2 FORMAS DE DISPOSIÇÃO

As alternativas mais usuais, em países desenvolvidos, para disposição final de lodo de ETE( biossólidos) têm sido as seguintes: uso agrícola, disposição em aterro, incineração, disposição oceânica e recuperação de áreas degradadas. Os Estados Unidos que produzem cerca de 13 milhões de toneladas por ano de lodo de ETE e a Europa cerca

de 16 milhões de toneladas por ano. Desse total de lodo produzido, ou seja, 29 milhões de toneladas por ano, cerca de 40% têm como disposição final os aterros sanitários, 30% uso agrícola, 11 a 16% são incinerados, e o restante em recomposição de áreas degradadas/reflorestamento, disposição oceânica e outras formas de disposição (SABESP, 1998). A Tabela 8 apresenta a produção e o destino final do lodo produzido na Europa.

Tabela 8 - Produção e destino final de lodo de esgoto na Europa. Produção de lodo País Matéria Seca por ano (t X 10³) (%) Uso agrícola (%) Disposição no solo (%) Incineração (%) Despejo no mar (%) Alemanha 2.750 25 65 10 0 Bélgica 35 57 43 0 0 Dinamarca 150 43 29 28 0 Espanha 300 61 10 0 29 França 900 27 53 20 0 Grécia 200 10 90 0 0 Holanda 280 53 29 10 8 Irlanda 23 23 34 43 0 Itália 800 34 55 11 0 Luxemburgo 15 80 20 0 0 Portugal 200 80 12 0 8 Reino Unido 1500 51 16 5 28

Fonte: Lue-Hing et al., (1994)

As alternativas mais usuais para aproveitamento e ou destino final de lodos/biossólidos têm sido as seguintes (PEREIRA,2007):

• Uso agrícola: aplicação direta no solo, composto, fertilizante e solo sintético;

• Disposição em aterro sanitário: aterro exclusivo e co-disposição com resíduos sólidos urbanos;

• Reuso industrial: produção de agregado leve, fabricação de tijolos e cerâmica e produção de cimento;

• Incineração: incineração exclusiva e co-incineração com resíduos sólidos urbanos;

• Conversão do lodo em óleo combustível;

• Landfarming;

• Disposição oceânica.

3.3.2.1 Disposição Agrícola

A utilização do lodo de esgotos em solos agrícolas tem como principais benefícios, a incorporação dos macronutrientes (nitrogênio e fósforo) e dos micronutrientes (zinco, cobre e molibdênio). Como os lodos são pobres em potássio, há necessidade de se complementar esse elemento ao solo na forma de adubos minerais. Pode-se dizer que, normalmente, o lodo de esgoto leva ao solo as quantidades de nutrientes suficientes para as culturas, porém nem sempre de maneira equilibrada e em formas disponíveis para as plantas em curto prazo. Nesse sentido, deve-se conhecer a composição química dos lodos, bem como a dinâmica dos nutrientes após a aplicação no solo, de forma a obter os benefícios agronômicos, evitando os impactos ambientais negativos.Silva et al. (2000). Além deste fato, o lodo de ETE também é considerado um condicionador de solo devido a grande quantidade de matéria orgânica que é disposta no solo, que é um forte atrativo para o solo agrícola, principalmente para solos tropicais.

O lodo proveniente das estações de tratamento de esgotos sanitários, processados de modo a permitir o seu manuseio de forma segura na utilização agrícola foi denominado de biossólido. Para a WEF (1996) o lodo também pode ser utilizado em outros usos benéficos. Para sua disposição final devem ser considerados os seguintes aspectos principais: produção, qualidade (metais pesados e microrganismos patogênicos) e grau de umidade.

O termo biossólido deixou de ser utilizado no Brasil após a Resolução CONAMA 375 de 2006, a qual adota o termo lodo de esgoto.

O uso de lodo na agricultura é a alternativa de disposição final que apresenta menores impactos ambientais negativos, desde que sejam observados o conteúdo de metais pesados, lixiviação de nitrogênio e sua eficácia no sistema de higienização.

Para efetivação de seu uso como fertilizante e condicionante do solo, precauções devem ser tomadas principalmente para que organismos patogênicos não contaminem o ambiente e não comprometam a qualidade das culturas para alimentação animal e humana (ANDREOLI et al., 1994).

Segundo EPA (1991), as taxas de inativação dos microrganismos variam com o tipo e sua condição, método de aplicação do lodo, grau de predição, competição com outros organismos, condições atmosféricas e a composição físico-química do solo. Alguns processos de tratamento do lodo podem ser empregados para controle dos patógenos e redução de vetores, como; compostagem, pasteurização, digestão aeróbia, digestão anaeróbia, radiação gama, radiação beta, hipercloração, inertização pela cal e secagem térmica (EPA, 1992). A eficiência destes métodos depende da natureza do patógeno existente no lodo bem como da qualidade operacional dos mesmos.

Dentre os fatores biológicos limitantes ao uso do lodo na agricultura destacam-se os patógenos, presentes no esgoto doméstico que ao precipitar se concentram nos lodos provenientes dos sistemas de tratamento. A presença destes agentes patogênicos, ainda que substancialmente reduzida, pode causar problemas devido à sua possibilidade de disseminação pelo meio ambiente (ILHENFELD et al., 1999).

A densidade de patógenos presente no lodo de esgoto de uma determinada localidade é bastante variável e depende das condições socioeconômicas da população, das condições sanitárias, da região geográfica, da presença de animais vivendo na rede, da presença de indústrias agro alimentares e do tipo de tratamento a que o lodo foi submetido. Pode diferir ainda de acordo com a natureza do efluente, do tipo de estação e dentro de uma mesma estação ela pode variar de um período para outro (THOMAZ- SOCCOL et al.,1998).

Os diferentes graus de atividade biológica e as concentrações destes agentes patogênicos definem a sua virulência que, associada às condições do meio e à susceptibilidade dos hospedeiros, pode se refletir em algumas alterações na saúde das populações. Deve-se ressaltar, portanto, que o grau de contaminação da população

estabelece base potencial de disseminação das doenças. Portanto, as ações que melhorem o quadro sanitário trarão, também, reflexos positivos relativos à segurança do uso do lodo na agricultura (SANEPAR, 1997a).

No Brasil, os agentes patogênicos constituem-se em um importante elemento de limitação ao uso do lodo na agricultura, porém, é o fator mais facilmente controlado pela adoção de soluções técnicas de higienização que levem à eliminação do patógeno (ANDREOLI et al., 2000).

O uso do lodo de esgoto na agricultura deve, portanto, considerar alternativas de desinfecção, de forma a reduzir a quantidade de agentes patogênicos e correlacionar restrições de uso segundo a qualidade alcançada, a fim de permitir que as condições do meio garantam o uso seguro deste material (SANEPAR, 1997a).

Vale assinalar que o lodo de esgoto é um produto poluente tanto pelos patógenos quanto pelos teores de nutrientes e metais pesados indesejados, mas o seu correto processamento viabiliza a sua utilização como condicionador para solos agrícolas, constituindo uma solução promissora para a destinação final do produto (ANDREOLI et

al.,2000; CHERUBINI et al., 2000). Os valores limites de metais pesados presentes no lodo para aplicação na agricultura segundo algumas agências ambientais estão descritos na

Tabela 9 - Limites nacionais e internacionais de metais pesados, para aplicação de lodo de esgoto na

agricultura. ( mg.kg-1 de lodo, base seca ).

Fonte Zn Cu Cd Mo Ni Pb

Cetesb 7500 4300 85 75 420 840

EUA 7500 4300 85 75 420 840

Europa 2500-4000 1000-1750 20-40 750-1200

Fonte: Cetesb (1998); Estados Unidos (1996); Comunidade Européia ( 2001).

Na sequência as Tabela 10, 11 e 12 com os valores limites para metais em lodo de esgoto ou produto derivado destinado à agricultura, limites máximos de contaminantes admitidos em substratos para plantas/condicionadores de solo e a classificação do lodo de esgoto ou produto derivado segundo agentes patogênicos.

Tabela 10 - Valores limites para substâncias inorgânicas na aplicação agrícola de lodo de esgoto, segundo

CONAMA 375/2006 e a Instrução Normativa (IN) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Substâncias Inorgânicas

Concentração Máxima Permitida no lodo de esgoto ou produto

derivado (mg.Kg-1, Massa seca)

CONAMA 375/2006 IN 27/2006/MAPA* Arsênio 41 Bário 1300 Cádmio 39 8 Chumbo 300 375 Cobre 1500 Cromo 1000 500 Mercúrio 17 Molibdênio 50 Níquel 420 175 Selênio 100 Zinco 2800

Fonte: Resolução Conama 375/ 2006 e Decreto nº 4.954, de 2004 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Tabela 11 - Classes de lodo de esgoto ou produto derivado em função da concentração de agentes

patogênicos ( Conama 375/2006 ).

Tipo de lodo de esgoto ou produto derivado Concentração de patógenos

A

Coliformes termotolerantes < 10³ NMP.g-1 de ST Ovos viáveis de helmintos < 0,25 ovos.g-1de ST Salmonella ausência em 10 g de ST

Virus < 0,25 UFP ou UFF.g-1 de ST B Coliformes Termotolerantes < 10

6NMP.g-1 de ST Ovos viáveis de helmintos < 10 ovos.g-1 de ST

Legenda: ST = Sólidos Totais; NMP = Número mais provável; UFF: Unidade formadora de foco; UFP = Unidade formadora de placa

Tabela 12 - Limites máximos de contaminantes admitidos em substratos para plantas e condicionadores de

solos

Contaminante Valor máximo admitido Sementes ou qualquer material de propagação

de ervas daninhas

0,5 plantas por litro, avaliado em teste de germinação

As espécies fitopatogênicas dos Fungos do gênero Fusarium,

Phytophtora, Pythium, Rhizoctonia e Sclerotinia Ausência

Arsênio (mg/kg) 20,00 Cádmio (mg/kg) 8,00 Chumbo (mg/kg) 300,00 Cromo (mg/kg) 500,00 Mercúrio (mg/kg) 2,50 Níquel (mg/kg) 175,00 Selênio (mg/kg) 80,00

Coliformes termotolerantes - número mais provável por grama de matéria seca (NMP/g de MS)

1.000,00

Ovos viáveis de helmintos - número por quatro gramas de sólidos totais (nº em 4g ST)

1,00

Salmonella sp Ausência em 10g de matéria seca

3.3.2.2 Disposição Em Aterro Sanitário

O aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduo sólidos urbanos no solo, buscado evitar danos à saúde pública e minimizar os impactos ambientais. É operacionalizado pelo confinamento de resíduos sólidos na menor área possível e intercalando-as com camadas de terra como cobertura. Não há interesse em aproveitamento dos nutrientes do solo, este é confinado em células, sofre processo de biodegradação anaeróbia, e gera vários subprodutos como metano e o chorume. Há duas modalidades de disposição:

• Aterro sanitário exclusivo, que recebe apenas lodo, cujo teor de sólidos deve ser superior a 30% ou mesmo seco termicamente;

• Co-disposição com resíduos sólidos urbanos, onde o lodo é misturado com resíduos sólido urbanos.

A mistura do lodo com resíduos urbanos tende a acelerar o processo de biodegradação, porém implica na redução da vida útil do aterro, caso a quantidade de lodo a ser disposto seja significativa (SANTOS, 2003).

A norma brasileira NBR 10.004 (ABNT, 2004) classifica os resíduos sólidos em:

• Classe I – Perigosos

• Classe II A – Não perigosos, não inertes

• Classe II B – Não perigosos, inertes

O aterro é geralmente necessário para atender os seguintes objetivos: absorção de lodo de esgoto com características inadequadas para os usos que estiverem sendo praticados, absorção de volumes de lodo de esgoto excedentes a demanda, disposição de cinzas de incineração caso esta solução seja implementada e garantia de disposição final adequada independente de quaisquer fatores.

A opção de encaminhamento do lodo para aterro sanitário é a mais simples e prática do ponto de vista operacional e financeiro, ao curto prazo. Do ponto de vista ambiental constitui prática contraditória ao próprio tratamento de esgoto, pois se recolhe o esgoto doméstico do ambiente para tratá-lo e devolve-se água limpa aos mananciais, espera-se que também seja retornado a matéria orgânica e nutrientes ao solo de onde foram exportados pelas culturas agrícolas, completando os ciclos biogeoquímicos. A destinação do lodo de esgoto em aterros apresenta, crescentes restrições, em função da superlotação de aterros com lixo domésticos, e da dificuldade de manusear material pastoso como o lodo junto a sacos plásticos contendo lixo, principalmente em épocas chuvosas. Para receber o lodo de esgoto o aterro deve apresentar estrutura para resíduos Classe I e Classe II, e normalmente apresentam uma área reservada apenas para disposição deste material. O material necessita de CADRI ( Certificado de Aprovação para Destinação de Resíduos Industriais ) obtido junto a Cetesb. Cabe ressaltar que a comunidade Econômica Européia proibiu a partir de 2002 a disposição de lodo de esgoto em aterros, exceto se apresentarem teores de umidade e matéria orgânica abaixo de 5%, isto é, após o processo de incineração. Portanto, o futuro da disposição de lodo em aterros a médio e longo prazo é duvidoso, uma vez que a legislação ambiental brasileira tende a seguir normas internacionais e dada a contradição ao conceito de reciclagem seja de materiais orgânicos seja de materiais inertes já implantados nas sociedades desenvolvidas ( FUNDAG, 2007 1 ).

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