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1. INTRODUÇÃO

3.1.3. HELMINTOS E PROTOZOÁRIOS

Parasito é um ser organizado que durante sua vida, ou parte dela, vive às custa de outro, nele se nutrindo e causando algum dano. Dentro deste grupo estão incluídos os helmintos e protozoários parasitos.

Os helmintos e protozoários intestinais, durante sua fase parasitária, vivem no trato gastrointestinal do hospedeiro (homem ou animais) e seus ovos ou cistos são eliminados para o exterior junto com as fezes (THOMAZ SOCCOL et al. 1999).

Os ovos de helmintos sofrem transformações originando larvas que darão continuidade aos ciclos evolutivos e atingirão novos hospedeiros. Para que ocorram estas transformações, cinco condições básicas são necessárias: oxigênio, umidade, temperatura, radiação solar e pH do solo. A falta de uma destas condições, ou sua alteração, pode comprometer a continuidade do desenvolvimento biológico do parasito, ou então ele permanece em latência até encontrar condições favoráveis para retomar seu ciclo biológico. No meio exterior os ovos de nematóides geralmente não sofrem multiplicação. A exceção é o Strongyloides sp, mesmo assim só ocorrerá se as condições externas de temperatura, umidade e oxigênio forem favoráveis às necessidades do parasito. Nos ciclos dos trematóides ocorre multiplicação na fase exógena, mas para que ela ocorra é necessário um hospedeiro intermediário (moluscos) que não está presente no lodo. Os cestóides, igualmente necessitam de hospedeiros intermediários (mamífero ou artrópode) no qual pode ou não ocorrer multiplicação (THOMAZ SOCCOL et al. 1999).

Os cistos de protozoários eliminados com as fezes não se multiplicam no meio externo. Eles sobrevivem pouco tempo no meio ambiente.

Os ovos larvados de helmintos e cistos de protozoários são infectantes para o homem e para os animais pela ingestão de água ou alimentos contaminados com os mesmos. O grau de infecção e a natureza do parasito têm papel importante na patogenicidade causada no hospedeiro. A capacidade patogênica é variável, pode-se

distinguir: agentes patogênicos oportunistas (induzem a doença em caso de diminuição de imunidade do hospedeiro).

Os parasitos, geralmente, apresentam especificidade de hospedeiro e podem ser representados esquematicamente por:

• Específicos para um hospedeiro, no caso de parasitos monoxênicos (necessitam de apenas um hospedeiro para completar o ciclo biológico) como Ascaris

lumbricoides e Trichuris trichiura, são infectantes apenas para o homem;

• Específicos para os hospedeiros intermediários, no caso de parasitos heteroxênicos (precisam de mais de um hospedeiro para completar o ciclo biológico). Neste caso, o risco direto é para o hospedeiro intermediário, mas, na seqüência, representa risco para o hospedeiro definitivo. Exemplo disso é o ovo da Taenia, que é infectante para bovinos e suínos (hospedeiros intermediários) num primeiro tempo, porém, se o homem (hospedeiro definitivo) ingerir carne infectada destes animais vai desenvolver o parasito adulto no intestino. No caso da Taenia solium, o homem pode ser tanto hospedeiro intermediário como hospedeiro definitivo. Para ser hospedeiro intermediário ele deve ingerir ovos de Taenia solium (através de verduras, frutas, mãos contaminadas com ovos) enquanto que para ser hospedeiro definitivo ele deve ingerir carne de suíno contendo Cysticercus cellulosae;

• Hospedeiros acidentais. Certos parasitos animais, como por exemplo, o

Toxocara canis, parasitam habitualmente os cães. No entanto, o homem, ao ingerir ovos larvados destes parasitos, funcionará como hospedeiro acidental, uma vez que a evolução do ciclo é abortiva. Porém, o início do desenvolvimento do ciclo, no homem, pode ter repercussão patológica grave conhecida como larva migrans visceral (THOMAZ SOCCOL

et al.,1999).

Segundo a OMS (1990) as helmintíases mais frequentes no mundo são: enterobíase (103 milhões por ano), ascaridíase (900 milhões/ano), ancilostomíase (800 milhões/ano) e tricuríase (500 milhões/ano). Elas afetam o homem, tanto em países desenvolvidos quanto em países do terceiro mundo. Evidentemente, há uma variabilidade

na taxa de infecção nas respectivas populações. Os principais parasitos e sintomas que eventualmente eles podem causar são mostradasna Tabela 2.

De acordo com Thomaz Soccol et al. (1999), o tempo de sobrevivência dos ovos de helmintos e cistos de protozoários no meio varia com a espécie, condições de temperatura ambiente, umidade, pH do solo, oxigênio e luz solar e pode variar de alguns meses a anos para os helmintos e de alguns dias para protozoários, conforme Tabela 3.

Tabela 2 - Principais parasitos encontrados em lodo de esgoto, hospedeiros normais e acidentais e doenças

causadas.

Parasito Hospedeiro Principais Sintomas

Nematóides

Ascaris lumbricoides Homem nutricionais, vômito, dor Distúrbios digestivos e

abdominal.

Ascaris suum Suíno nutricionais, Distúrbios digestivose

emagrecimento/tosse, febre.

Necator americanus Homem Anemia, emagrecimento

Trichuris trichiura Homem peso, dor abdominal. Diarréia, anemia, perda de

Toxocara canis Cães/Homem

Emagrecimento, diarréia/ febre, desconforto abdominal, sintomas neurológicos

Trichostrongylus axei Bovinos/Homem Gastrite/úlcera gástrica

Cestóides

Taenia solium Homem/Suíno

Distúrbios digestivos, insônia, anorexia, dor abdominal, sintomas nervosos/ emagrecimento

Taenia saginata Homem/Bovinos Distúrbios digestivos, insônia, anorexia, dor abdominal,

emagrecimento

Hymenolepis nana Homem/Artrópodes Diarréia, sinais nervosos

Hymenolepis diminuta Roedores /Artrópodes Distúrbios digestivos

Echinococcus granulosus Cães/Ovinos/Homem Distúrbios digestivos, hepáticos e pulmonares

Protozoários

Entamoeba histolytica Homem Enterite aguda

Giárdia lamblia Homem/cães/gatos Diarréia, perda de peso

Toxoplasma gondi Gatos/Homem/Mamíferos/Aves Alterações de sistema nervoso, coriorretinite

Balantidium coli Homem/Suínos Distúrbios digestivos

Cryptosporidium Homem/Bovinos Gastrointerite

Tabela 3 - Tempo de sobrevivência de ovos de helmintos e cistos de protozoários.

Parasito Tempo de sobrevivência Condições ambientais

Médio Máximo

Ascaris 3 meses 7 – 14 anos Verão/Inverno

Toxocara 8 meses 7 anos 25ºC/inverno

Trichuris 3 meses 2 anos 25ºC/inverno

Taenia 60 dias 1 ano Verão/Inverno

Protozoário 2 dias 15 dias 20 – 30ºC

Fonte: (Sanepar, 1999)

Estudos epidemiológicos têm mostrado que parasitos intestinais (ovos de helmintos e protozoários) presentes no lodo representam riscos para a saúde humana e ou animal. Estes riscos são devidos:

• A ampla distribuição geográfica que os helmintos e protozoários apresentam; • A alta frequência de parasitismo na população em diferentes partes do mundo;

• Longo tempo de sobrevivência dos ovos de helmintos no meio externo;

• A sua baixa dose infectante (um ovo ou um cisto é suficiente para infectar o hospedeiro);

• Ausência de imunidade permanente no hospedeiro.

Os ovos de helmintos foram escolhidos como indicadores da sanidade do lodo por serem comprovadamente os organismos mais resistentes aos processos de higienização, portanto, quando estes forem eliminados, outros organismos patogênicos como, por exemplo, as bactérias também estarão controladas. Sabe-se que, dentre os microrganismos, os ovos de helmintos são os que apresentam maior resistência de vida dentro do lodo de esgoto e alguns ovos podem permanecer viáveis por até 7 anos, quando em condições ideais ( THOMAZ SOCCOL et al., 1999; PAULINO et al., 2001;

REY, 2001).

Há de se destacar, que mesmo uma contagem “zero” não garante que o lodo esteja completamente livre de ovos de helmintos, tendo em vista que nenhuma das metodologias de enumeração garante um percentual de recuperação de 100% dos ovos eventualmente presentes nas amostras processadas. Outro fator considerando a contagem e viabilidade diz respeito à própria coleta de amostras, pois a distribuição dos ovos torna- se muito heterogênea ao longo do perfil.

Já a umidade juntamente com a incidência solar e a temperatura, constitui importante fator limitante ao desenvolvimento fisiológico do microrganismo, pois o teor de água do meio pode modificar efeitos da temperatura sobre os organismos.

Em relação à umidade do lodo para o processo de higienização pode-se considerar que cistos de protozoários, ovos e larvas de alguns helmintos pertencentes ao filo dos platelmintos mostram-se geralmente muito mais sensíveis à dessecação, quando encontrados no meio exterior (REY, 1991).

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