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Constitui uma constante no pensamento de Max Weber a inquietação por explicar o exercício de poder na dominação social e os processos que sustentam as diversas formas de autoridade.

Efetivamente, tais formas de autoridades representam tipos ideais de dominação. É importante salientar que, para Weber, o poder é uma forma de imposição da própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências. A dominação, no caso, diz respeito à “probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas” (WEBER, 2000: 33).

Para Weber, o Estado é uma associação política de dominação, na medida em que a subsistência de sua ordem é garantida mediante ameaça e aplicação de coação física por parte de um quadro administrativo.3

3 Cf. WEBER, Max (2000), op.cit., p.33.

O conceito de poder, do ponto de vista sociológico, é amorfo, pois não está relacionado a nenhum contexto social específico, já que uma determinada pessoa pode impor sua vontade a alguém em inúmeras situações. A relação social de poder e que dá sentido ao seu conteúdo está no fato da existência de obediência a uma determinada ordem.

A abordagem da análise sociológica que Max Weber faz sobre os tipos e as formas de dominação recai na possibilidade de se encontrar legitimidade por meio daqueles que obedecem a uma determinada ordem. Nesse sentido, sua análise recai sobre a obediência que certo quadro efetua em relação a um determinado mandado. Em uma determinada ação social que considera dois sujeitos (A e B), a legitimidade de uma ordem dada por A ocorre quando se tem a obediência de B, que, em sentido último, dá legitimidade a autoridade de A. Assim, os tipos de dominação relacionados à burocracia estão eminentemente vinculados a exercício de poder.

[...] para o exame sociológico, o decisivo não é, decerto, a existência ideal de tal poder (poder de mando de um juiz), deduzível de uma norma mediante conclusão dogmático-jurídicas, mas sim a sua existência efetiva, isto é, que uma autoridade que pretende para si o direito de emitir determinados mandados encontra, num determinado grau socialmente relevante, efetivamente obediência[...] (WEBER, 1999:192-193).

Ressalte-se que o fato de existir quadro administrativo não é condição sine qua non para a existência da dominação. O que a caracteriza é a presença efetiva de alguém dando ordens a outros. Assim, para Weber, guardadas as devidas proporções históricas da análise, acontece com a dominação exercida pelo pai de família, que independe de vínculo a quadro administrativo. A dominação exercida a partir de uma pluralidade de pessoas requer a existência de um quadro administrativo, no qual se estabelece uma relação de obediência a ordens concretas emanadas de quem dirige as ações. Ocorre, entretanto, que a associação sempre se reveste de algum tipo de dominação, em função da existência de um quadro administrativo (WEBER, 2000:33).

Os motivos de submissão variam desde os hábitos inconscientes, que podem estar relacionados aos costumes, até pretensões racionais que se referem a determinados fins,

passando por considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que obedece, por questões de costume, “hábito cego” a um comportamento inveterado, afeto ou pela própria inclinação pessoal de quem obedece. A relação autêntica de dominação está intimamente ligada à vontade de obedecer, que, por sua vez, esconde o interesse na obediência.

Apesar de a análise de Weber partir de uma dimensão a respeito da compreensão do desenvolvimento ocidental, em especial do desenvolvimento do Capitalismo, salienta-se que nem todo processo de obediência está necessariamente ligado a fins econômicos. A obediência do quadro administrativo pode estar vinculada a questões de costume ou simplesmente a relações de afeto, por motivos ideais ou por motivos materiais, que, normalmente, não ocorrem de forma simples e isolada. Apesar de estarem imbricados com outros motivos afetivos ou racionais referentes a valores, acabam por adotar categorias preponderantes num dado sistema social. Esses motivos, no entanto, não são suficientemente sólidos para fundamentar a relação de dominação, cuja essência reside na crença da sua legitimidade. Toda dominação que persista deve “cultivar a crença em sua legitimidade. Dependendo da natureza da legitimidade pretendida diferem o tipo de obediência e do quadro administrativo disposto a garanti-la, bem como o caráter da dominação.” (WEBER, 2000:139).

A dominação legítima, considerando os tipos puros, pode ser revestida, em sua natureza, de três dimensões (WEBER, 2000:141):

a) caráter racional, cuja característica baseia-se na crença na legitimidade de ordens estatuídas daqueles que foram nomeados ou eleitos para exercer a dominação legal; a ordem é revestida de impessoalidade, mas legalmente estatuída aos superiores determinados;

b) caráter tradicional, cuja característica baseia-se na crença na legitimidade de acordo com as tradições e os costumes, que representam a autoridade de dominação tradicional; a obediência aqui estabelecida diz respeito ao “senhor” nomeado pela tradição, em virtude da devoção aos hábitos costumeiros; ou

c) caráter carismático, cuja característica de obediência baseia-se na veneração da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa, cujas ordens são reveladas ou criadas por ela.

Weber ressalta que, historicamente, os três tipos não existem em forma realmente “pura”. A própria dominação carismática pode ser transformada ao ser absorvida pelo cotidiano. O seu caráter representa uma relação social restrita, vinculada à validade de determinadas qualidades pessoais. Quando esse tipo de dominação abrange uma comunidade, uma associação ou um partido político, pode se transformar em uma forma de dominação tradicional, legal, ou ambas. O determinante dessa transformação será o interesse ideal ou material daqueles que integram a comunidade, a associação ou o partido, ou seja, dos membros, do quadro administrativo ou dos homens de confiança de um determinado partido político (WEBER, 2000:162).

Nesse sentido, e dentro de uma perspectiva dinâmica, os três tipos fundamentais da estrutura de dominação não ficam simplesmente dentro de um modo sucessivo a partir de uma linha evolutiva – podem surgir, simultaneamente, em múltiplas combinações. É assim que Weber concebe o desenvolvimento do ocidente não de forma evolucionária. A função da tipologia das formas de dominação permite, assim, a integração, no plano conceitual, das distintas áreas da vida social, servindo para explicar e definir, ao mesmo tempo, as diferenças dos processos de mudança que Weber (2000) considera mais significativos do ponto de vista da evolução histórica da sociedade.

Em essência, a análise de Weber a respeito da realidade social e das formas de dominação é de natureza política (poder). O agente ou os agentes lutam por seus interesses no mercado para participar no poder ou influir na sua distribuição, seja no âmbito do Estado seja entre grupos dentro de um Estado, a fim de desfrutar a sensação de prestígio produzida pelo poder. O acesso ao poder não está somente relacionado a aspectos econômicos e materiais, mas também às honras sociais deles decorrentes. Os indivíduos estabelecem, selecionam, organizam,

impedem e favorecem relações sociais num certo padrão a fim de atender aos valores e interesses daqueles que os impõem.

Embora se trate de um processo social complexo, pode ser definido pelo que Weber denomina de ação social, cujo curso pode ser observado pela sua regularidade, à medida que se repete com o mesmo agente ou entre muitos agentes de forma homogênea. Essa regularidade da ação social dá-se a partir do costume, quando o exercício se baseia no hábito, ou pela regularidade, quando é condicionada pela situação de interesses, referindo-se a uma ação puramente racional (WEBER, 2000:18).

Com efeito, para Weber a “ação” é entendida como “uma conduta humana em que o sujeito ou os sujeitos da ação lhe atribuem um sentido subjetivo. A ação social refere-se a uma ação na qual o sentido visado pelo sujeito ou pelos sujeitos se refere à conduta dos outros, orientando- se por esta em seu desenvolvimento”(WEBER, 2000:14).

A ação social passa a ser compreensível a partir do momento em que se reveste de conteúdos significativos para um determinado grupo social, configurando uma prática na qual está presente um universo simbólico complexo, isto é, um conjunto de significados que reconhece e representa o poder legitimado. Trata-se de representações com as quais a sociedade se identifica, distribui os papéis entre os indivíduos e torna concretos os objetivos ou fins a serem alcançados.

Quando uma ação social de certa dominação se baseia numa relação associativa racional, encontra seu tipo específico na “burocracia”. A ação social, numa situação vinculada a relações de autoridade tradicionais, está tipicamente representada pelo “patriarcalismo” (WEBER, 1999:198). Por sua vez, a dominação carismática apóia-se na autoridade não racionalmente nem tradicionalmente fundamentada de personalidades concretas, mas, sim, em características simbólicas que podem ser construídas por meio de um mito de herói.

3.3 A BUROCRACIA COMO FORMA DE DOMINAÇÃO