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4. Classificação dos regulamentos

4.1. Formas regulamentares mais importantes

Em Portugal os regulamentos do governo se revestem necessariamente pela forma de decretos regulamentares quando sejam independentes, isto é, quando correspondam àqueles previstos no artigo 136.º nº 3, do CPA89 e no artigo 112.º, n.º 6, da CRP.

Também adquirem forma de decreto regulamentar aqueles regulamentos regionais a que se atribui maior relevância90. Os regulamentos das autarquias e os demais provenientes de entes institucionais e corporativos não adquirem forma solene ou específica91, e os regulamentos locais de polícia adquirem forma de posturas.

87

Ana Raquel Gonçalves MONIZ, Estudos sobre os regulamentos..., 2016, pág. 242.

88

Ver art. 178º e ss. e art. 183º CPA.

89

Artigo 136.º 3 — Para efeitos do disposto no número anterior, consideram-se independentes os regulamentos que visam introduzir uma disciplina jurídica inovadora no âmbito das atribuições das entidades que os emitam.

90

Artigo 233.º, n.º 1 da CRP.

91

Salvo quanto aos estatutos auto aprovados por exemplo, das universidades e respectivas unidades orgânicas.

No Brasil os regulamentos são atos normativos colocados em vigência por decreto. E tem como fim especificar as prescrições legais ou prover situações ainda não disciplinadas por lei.92

Em suma, podem ainda ser classificados tomando em consideração seu âmbito de aplicação.

São gerais os que se prestam a regular relações externas, ou seja, as pessoas em geral. São, por outro lado, especiais, aqueles que regulam relações jurídicas especiais de direito administrativo. E são setoriais os que orientam um sector específico de atividade econômica ou social.93

Jose Carlos Vieira de Andrade, acentua, no entanto, a classificação quanto à eficácia dos regulamentos que os distingue em externos e internos.94

Enquanto externos quer abranger os regulamentos aplicados a qualquer relação intersubjetiva, internos quer significar aqueles casos nos quais aos regulamentos fica restringido o estabelecimento de diretrizes acerca da organização ou funcionamento dentro de uma pessoa coletiva ou órgão, e não relativamente a qualquer relação entre eles.95

São internos igualmente aqueles que designam as chamadas auto vinculações internas96 na interpretação e aplicação das leis, na ocasião de exercício de poder discricionário.97

As diferenciações a partir daí são inúmeros e perpassam tanto o fato, por exemplo, de os regulamentos externos apresentarem competência regulamentar

92

Questiona-se se esse decreto continua em vigor quando a lei regulamentada é revogada e substituída por outra. Entendemos que sim, desde que a nova lei contenha a mesma matéria regulamentada. Nesse sentido Hely Lopes MEIRELLES..., Pág. 160.

93

José Carlos Vieira de ANDRADE, Lições de Direito Administrativo, 5ª ed., Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, pág. 144.

94

Deve-se considerar para tal a pluralização subjetiva das administrações públicas, bem como o desenvolvimento jurídico das relações especiais de direito administrativo. Especialmente em virtude de se reconhecerem nelas direitos, liberdades e garantias.

95

José Carlos Vieira de ANDRADE, Lições de Direito Administrativo, pág. 144.

96

Incluindo diretrizes de órgãos superiores.

97

Curioso é o caso dos regulamentos especiais, que demonstra conter normas internas à relação orgânica, mas são considerados externos tendo em vista afetarem o que o autor denomina de posições jurídicas subjetivas dos indivíduos. De uma forma mais cuidadosa, eles interferem no âmbito jurídico dos envolvidos enquanto pessoas e não como categoria de trabalhadores, presos, militares etc. No caso dos regimentos de órgãos colegiados, são a princípio internos, mas podem ser considerados externos quando contem normas relativas a diretos dos membros.

com respaldo em previsão legal expressa, enquanto os internos se fundamentarem no poder de auto-organização administrativa. Quanto o fato de que o regime dos regulamentos externos se encontra no CPA, enquanto os regulamentos internos não dão ensejo a impugnação judicial, tampouco levam em consideração o princípio da inderrogabilidade singular98.

Qual a relevância, portanto, dos regulamentos internos em termos jurídicos? Jose Carlos Vieira de ANDRADE responde a essa pergunta basicamente citando a existência dos regulamentos operacionais, que funcionam como corolário do exercício do poder discricionário. E são impugnáveis no âmbito dos recursos hierárquicos ou tutelares.

O incumprimento dos regulamentos internos por si só não tem repercussão em termos de invalidade da decisão divergente, não dando causa direta a ela.

Entretanto, pode ser tomado como ―indício de arbitrariedade, de violação do

princípio da igualdade ou de mau uso dos poderes discricionários, susceptíveis de invocação perante o tribunal na impugnação de actos, e nas acções de responsabilidade civil administrativa‖.99

As normas regulamentares internas adquirem relevância jurídica a partir do momento em que constituem também uma exceção ao fundamento legal dos regulamentos. Pois, como se sabe, sua emanação não exige previsão legal. O que pode ser atribuído a presença dos poderes de direção e de superintendência.100

Ana Raquel Moniz, nesse aspecto, tece uma crítica sobre o que considera ser um formalismo excessivo na jurisprudência do Tribunal Constitucional português. Pela posição sempre inflexível perante a violação do dever de citação da lei habilitante. O que leva ao consequente reconhecimento de inconstitucionalidade formal, mesmo quando o regulamento, implícita, mas inequivocamente, se refere a lei a qual pretende regulamentar.

98

Uma espécie de princípio da igualdade no âmbito do direito administrativo brasileiro

99

José Carlos Vieira de ANDRADE, Lições de Direito Administrativo, 5ª ed., Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, pág. 145.

100

Ana Raquel Gonçalves MONIZ, Estudos sobre os regulamentos administrativos, 2ª ed., Edições Almedina, Coimbra, 2016, pág. 35.

Em seguida, a mesma autora insiste em frisar que a efetiva existência do fundamento legal do regulamento resta mais valiosa do que a sua ―exteriorização‖.

Para ela esse padrão do Tribunal causa prejuízo ao desviar a atenção de

―questões materiais, cuja apreciação assegura, nos termos do princípio da tutela jurisdicional efectiva, uma protecção mais estável dos direitos e interesses dos cidadãos.‖101

Por fim, há também outras classificações que se preocupam em categorizar os regulamentos, por exemplo, em mediatamente102 ou imediatamente operativos103. Embora muito relevantes em termos de impugnação104, em verdade, neste momento, servem mais a título de curiosidade do que propriamente acrescenta ao foco da investigação aqui assentada.