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3   CARACTERÍSTICAS VISUAIS DE AGENTES DETERIORADORES

3.1   CARACTERÍSTICAS VISUAIS DE AGENTES BIÓTICOS 46 

3.1.3   Atividades de insetos 61

3.1.3.3   Formigas, abelhas e vespas 83

As Formigas, abelhas e vespas são coletivamente incluídas na ordem Hymenoptera.Vários elementos insetos dessa ordem podem atacar a madeira, no entanto, as discussões aqui são limitadas às formigas-carpinteiras e abelhas-carpinteiras, em função desses dois grupos atacarem madeiras em serviço.

3.1.3.3.1 Formigas-carpinteiras

As formigas-carpinteiras [ingl.: carpenter ants] (Formicidae) diferem dos insetos previamente discutidos, porque esses insetos usam a madeira para abrigos ao invés de alimentos [(RITTER; MORRELL, 1990); (HIGHLEY, 1999)p13-13; (ELEOTÉRIO, 2000)p33;

(SHUPE et al, 2008) ; (CLAUSEN, 2010) ]. São insetos sociais com uma organização complexa que gira em torno de uma rainha. Para sustentar a colônia e criar operários, as formigas-carpinteiras jovens devastam grandes distâncias no ninho para obter alimento, que podem consistir de secreções de insetos, insetos, e alimentos com fonte de açucares.À medida que a colônia da rainha original cresce, com os seus eventuais 100.000 elementos, os operários ampliam gradualmente o ninho, causando danos graves internos na madeira.Muitas colônias preferem habitar em madeiras acima do ponto de saturação das fibras e estão frequentemente associadas ao apodrecimento interno (RITTER; MORRELL, 1990). A madeira deteriorada por formigas-carpinteiras é caracterizada pela presença detúneis limpos, isentos de excrementos, que são essencialmente limitados ao lenho inicial macio, e se estendem paralelamente ao longo das fibras (Figura 3.43c) [(RITTER; MORRELL, 1990); (SHUPE et al, 2008)p11]. À medida que os operários atacam a madeira, retiram grande quantidade de excrementos fibrosos, depositando-os na base da peça atacada. Esses excrementos depositados podem fornecer um sinal facilmente identificável como indicativo de infestação. As formigas-carpinteiras são frequentemente confundidas com os térmitas (cupins), no entanto existem vários métodos fáceis para distinguir os ataques entre essas duas espécies (Tabela 3.2).

Tabela 3.2. Características de diferenciação entre térmitas e formigas- carpinteira.

Características Térmita Formiga-carpinteira

Alado

2 pares de asas de tamanhos iguais 2 pares de asas de tamanhos desiguais

Segmentos corporais Tamanho igual, sem constrições Tamanho variável, com constrições.

Antenas Levemente arqueadas Cotoveladas

Operários adultos Coloração creme

Raramente é visto fora do ninho

Coloração escura

Pode ser visto frequentemente fora do ninho

Cintura Larga Estreita

Fonte de alimento Digerem madeira. Digerem açucares e outros insetos

Danos na madeira Galerias com excrementos Galerias sem excrementos

As formigas carpinteiras normalmente atacam as madeiras não tratadas, existindo uma preferência por madeiras macias, ou por madeiras previamente atacadas por fungos apodrecedores. As infestações de determinadas espécies podem ocorrer em árvores recém- abatidas, em postes danificados, em árvores vivas, em troncos, e em madeira estrutural no interior de edificações (MARTINS, 2009).

a) Formiga-carpinteira alada fêmea b) Formiga-carpinteira operária c) Aspecto dos resíduos Figura 3.42. Características visuais de diagnóstico de formigas-carpinteiras. Fonte: OGG (2014).

a) Formigas-arpinteiras operárias b) Tronco de árvore deteriorado c) Aspectos visuais

Figura 3.43. Características visuais de diagnóstico de galerias e danos provocados por formigas-carpinteiras. Fontes: SCHARF (2007), MARTINS (2009).

Atualmente, estima-se que existam cerca de 18.000 espécies de formigas no mundo, sendo que o Brasil apresenta 2.000 espécies identificadas e, destas, somente 1% é considerada praga, sendo cerca de 50 espécies adaptadas ao ambiente urbano. As espécies do gênero Camponotus ssp., de hábito normalmente noturno (com exceções), geralmente fazem ninhos em cavidades no solo, madeiramentos, árvores vivas ou mortas, atrás de batentes de janelas ou portas, vigamentos de telhado, rodapés, assoalhos, fendas em paredes, dentro de gavetas e forros de madeira, possuindo ninhos satélites ou secundários, ligados ao ninho principal. As espécies mais comuns em território nacional são Camponotus atriceps (C. abdominalis), C. rassus, C. rufipes, C. arboreus, e C. fuscocinctus. Entretanto, as espécies de Camponotus mais encontradas na arborização urbana em São Paulo são C. atriceps, C. crassus, C. rufipes, C. sericeiventris e C. rengeri (ZORZENON et al, 2011).

As formigas carpinteiras de um modo geral nidificam (formam ninhos) nos mais variados ambientes, colonizando galhos e troncos de árvores vivas ou mortas, solo, cupinzeiros abandonados, madeiramentos em decomposição e de construção de casas, praticamente em todos os materiais fabricados em madeira (ZORZENON et al, 2011). Apesar da escavação de madeiramentos ou aproveitamento de aberturas existentes nelas para o feitio dos ninhos, essas formigas não se alimentam de celulose, procurando preferencialmente por substâncias contendo carboidratos (açúcares, néctar, etc.) podendo muitas vezes interagir mutualisticamente com cochonilhas, pulgões e cigarrinhas a procura de substâncias

adocicadas secretadas por insetos sugadores), proteínas (insetos, aves mortas, etc.), gorduras, dentre outros alimentos (ZORZENON et al, 2011). Uma pesquisa realizada pelo Instituto Biológico em área na cidade de São Paulo, durante 8 anos, em mais de 1.600 árvores viárias de 52 espécies diferentes, identificou espécies nativas e exóticas de maior e menor susceptibilidade à infestação por formigas carpinteiras (ZORZENON et al, 2011).

3.1.3.3.2 Abelhas-carpinteiras

Assim como as formigas-carpinteiras, as abelhas-carpinteiras [ingl.: Carpenter Bees] utilizam a madeira apenas para abrigo e ninho. Para isso, as abelhas-carpinteiras (Xylocopa sp.) constroem túneis paralelos às fibras, principalmente em espécies de madeiras coníferas, abrindo galerias entre 13 cm a 45 cm de profundidade por 0,7 cm a 1,3 cm de diâmetro (Figura 3.44), podendo ter ramificações (MARTINS, 2009). As abelhas-carpinteiras são notavelmente semelhantes aos zangãos, porém com uma leve diferenciação na coloração. Ataques por esses insetos são raros, mas segundo Ritter e Morrell (1990), quando a infestação ocorre, os danos podem ser graves.Os adultos desses insetos depositam seus ovos em galerias (túneis) internas na madeira e em células individuais, abastecidas com alimento para criação das larvas em crescimento.Os adultos podem emergir e reinfestar a madeira.Ritter e Morrell (1990) relatam que esses insetos também podem atacar madeiras tratadas com retenções inorgânicas a base de arsênio em regiões de interface na linha de afloramento acima do solo.

Figura 3.44. Os diâmetros de orifícios abelha-carpinteira variam entre de 0,7cm a 1,5cm. Fonte: MARTINS (2009)

Figura 3.45. Características visuais de Orifícios de abelhas-carpinteira e aberturas de galerias (Túneis) paralelas às fibras produzidas por ataque abelhas-carpinteiras, ATM (2010).

Conforme citado em Marchi e Alves-dos-Santos (2013) as abelhas-carpinteiras do gênero Xylocopa latreille, conhecidas popularmente no Brasil como mamangavas, estão presentes na maioria dos continentes, predominantemente nos trópicos, subtrópicos e nas áreas mais quentes das regiões temperadas (HURD; MOURE, 1963) e são conhecidas mais de 700 espécies, das quais 50 ocorrem no Brasil [(HURD, 1978); (SILVEIRA et al, 2002); (MOURE, 2008)]. De acordo com Schrottky (1902) a esse gênero pertencem as máximas abelhas, pois são abelhas grandes e robustas, como se trata do único gênero da Xylocopini [(SILVEIRA et al, 2002); (MICHENER, 2007)]. A maioria das espécies é solitária ou facultativamente social e constroem ninhos em madeira morta, ramos ou em cavidades de bambu, frequentemente agregados [(HURD; MOURE, 1963); (SAKAGAMI; LAROCA, 1971); (CAMILLO; GARÓFALO, 1982); (CAMILLO et al, 1986); (GERLING et al, 1989); (MARCHI; MELO, 2010); (PEREIRA; GARÓFALO, 2010)]. Algumas espécies também nidificam em escapos florais e outras partes vivas de árvores [(HURD, 1978); (SILVEIRA, 2002); (VIANA et al, 2002); (RAMALHO et al, 2004)].

Marchi e Alves-dos-Santos (2013) ainda descreveram que a Xylocopa (Neoxylocopa) augusti é um exemplo de abelha-carpinteira que nidificam em madeira morta ou em ramos secos de árvores vivas. De acordo com Hurd e Moure (1963), exibem certa preferência por mourões de cercas. Um ninho de X. augusti foi encontrado num mesmo tronco contendo ninhos ativos de X. frontalis e X. hisurtissima (HURD; MOURE, 1961). Sakagami e Laroca (1971) descreveram a arquitetura dos ninhos desta espécie e observaram que as fêmeas fecham a entrada dos seus ninhos com seu metassoma quando perturbadas, assim como X. frontalis e X. grisescens. Marchi e Alves-dos-Santos (2013) registraram as principais espécies de abelhas-carpinteiras Xylocopa no Estado de São Paulo.

Figura 3.46. Características visuais de diagnóstico de abelhas-carpinteiras: a) os danos por abelhas-carpinteiras em madeira podem ser graves, quando ocorrem infestações. Essas abelhas constroem túneis longos de grandes diâmetros paralelos às fibras para depositar seus ovos, e podem resultar em perdas significativas de área de seção transversal; b) larvas e pupa, KAAE (2013); c) abelha-carpinteira adulta, MARTINS (2009).

a) b) c)

Figura 3.47. Características visuais para identificação de ataque de abelhas-carpinteiras: a) orifícios internos na madeira; b) orifício e excrementos fecais de abelhas carpinteiras em pilar de madeira. Foto: TOBYOTTER; c) aspectos visuais deterioração externa em viga após ataque de abelhas-carpinteiras e com aberturas na madeira por pássaro pica-pau para capturar a larva, GIBB (2010).

Segundo Marchi e Alves-dos-Santos (2013) os ninhos da espécie Xylocopa (Neoxylocopa) brasilianorum ocorrem em madeira morta. Uma descrição precisa da arquitetura do ninho foi apresentada por Sakagami e Laroca (1971). Em Morretes, Paraná, fêmeas de X. brasilianorum construíram ninhos entre dezembro de 2006 e fevereiro de 2007. A maioria dos ninhos se encontrava na parte inferior do substrato e apresentaram o orifício de entrada em torno de 110 mm. Neste local, fêmeas de X. frontalis utilizaram o início de escavação de X. brasilianorum. Um dos ninhos foi fundado em um ramo seco de araucária próximo a uma agregação de ninhos de X. frontalis. Já o hábito de nidificação de X. suspecta foi estudado na região de Ribeirão Preto [(CAMILLO; GARÓFALO, 1982); (GERLING et al, 1989); (CAMILLO et al, 1986); (PEREIRA, 2002); (CAMILLO, 2003)]. Assim como para X. grisescens e X. frontalis, as fêmeas de X. suspecta utilizam bambus além de madeira morta e seca, como substrato para nidificação, sem especificidade em relação ao substrato utilizado. O diâmetro da entrada dos ninhos variou de 10 a 12 mm [(CAMILLO, 2003); (PEREIRA; GARÓFALO, 2010)].