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Fortalecimento da justiça eleitoral no México

CAPÍTULO 2 Direitos políticos e democracia no México

2.4. Fortalecimento da justiça eleitoral no México

O último passo da transição mexicana foi dado com a ampliação das leis eleitorais e a regulamentação da juridicidade eleitoral, mediadora de conflitos e instância recursal de direitos políticos. O Estado mexicano procurou a supressão de “vazios” legais, quanto aos abusos cometidos em relação à prática dos direitos políticos. As garantias foram especialmente construídas para assegurar a idoneidade do voto e a competitividade entre lideranças partidárias, graves problemas envolvendo direitos políticos no México.

De acordo com o pesquisador e Secretário de Estudio Y Cuenta do Tribunal Electoral del Poder Judicial de la Federacion (TEPJF), Dr. David Cienfuegos Salgado, a institucionalização de normas e da justiça eleitoral, iniciada nos anos de 1970, foi importante para garantir “constraints” às medidas que obstacularizavam os direitos políticos. O principal mecanismo utilizado para impedir a liberdade política era o controle do registro de candidaturas. 55

Historicamente, os candidatos de oposição, os sujeitos que eram perseguidos politicamente, dificilmente poderiam recorrer aos tribunais. Porque não reconhecíamos que os direitos políticos poderiam defender-se em instâncias institucionais, esta foi a discussão do século XX. No século XIX, também, mas, tínhamos menos instrumentos para proteger parte dos direitos políticos. É difícil perceber, mas somente ocorriam no âmbito de negar o registro a candidatura. Neste país, houve uma época em que foram proibidos os partidos políticos. Uma época em que a oposição estava associada, vamos dizer, entre aspas, com movimentos sociais armados, como a guerrilha. O que é compartilhado por vários países da América Latina. Tínhamos uma história de que a oposição dificilmente tinha espaços para ceder e quando foram organizados, não foram funcionais. Há uma grande mudança que se dá somente nos anos 70 e permite um avanço maior da oposição. Este avanço, somente a partir de então, vai permitir a oposição eleger deputados, senadores e representantes em governos locais. Sem embargo, a nível federal é palpável que não existisse um mecanismo para defender os direitos políticos porque, ao final, quem decidia os direitos políticos era o mesmo órgão que funcionava como colégio eleitoral, com o qual não havia possibilidade de colocar-se como um órgão de natureza judicial. Considerando o mérito destas discussões a perseguição era um pouco mais complexa. Simplesmente, não podiam participar da vida política. Nem sequer existiam os instrumentos para fazer válida esta participação.

(Dr. David Cienfuegos)

55 Entrevista realizada na Cidade do México, em novembro de 2011, com o cientista político e

pesquisador, responsável pela diretoria estatística do TEPJF: Dr. David Cienfuegos Salgado, Secretario

As principais reformas da década de 1990 tiveram por objeto a autonomia das instâncias judiciais, administrativas e a competitividade partidária. Neste período, a fiscalização dos procedimentos, administração do cadastro e do título eleitoral foram definitivamente estabelecidos. Tais medidas serviram para dar início a uma forma mais confiável e legitimada de organização do processo eleitoral.

A implementação da justiça eleitoral foi lenta. Esta fase correspondeu ao processo final de transição democrática, ao mesmo tempo em que foi o momento inicial para a garantia substantiva aos direitos políticos.

Com as reformas de 1990, 1993 e 1996, várias medidas de segurança para o cadastramento foram tomadas. A Reforma de 1993 incluiu uma disposição especial que ampliou a participação dos cidadãos como observadores nos atos eleitorais. Assim, o Artigo 82 no Código Federal Electoral (Cofipe), permitiu aos cidadãos a participação como observadores nos atos de preparação e desenvolvimento do processo eleitoral. (Diaz-Santana: 2002: p.06). Além de observadores individuais, comissões eleitorais passaram a ser responsáveis pela fiscalização dos procedimentos do pleito.

Estas medidas proporcionaram que houvesse um incremento nas denúncias de irregularidades e fraudes nas votações. Devido às denúncias, no que diz respeito às dimensões administrativas do pleito, o Estado mexicano tomou uma medida indispensável para a organização da democracia procedimental.

A justiça eleitoral mexicana organizou-se por meio de duas instituições principais. A primeira delas, regulamentada em 1990, foi o Instituto Federal Electoral (IFE), responsável por administrar o processo eleitoral. O Instituto Federal Eleitoral, como organismo jurídico autônomo, tornou-se responsável por administrar a organização das eleições federais. O avanço institucional limitou-se ao reconhecimento da necessidade de uma justiça eleitoral permanente, embora ainda controlada pelo governo.

Conforme previsto no Artigo 41 da Constituição mexicana, a organização das eleições federais foi descrita como uma função estatal exercida pelos poderes Legislativo e Executivo, com a participação dos partidos políticos nacionais e dos cidadãos (Cano, op.cit: p.341). A primeira composição do IFE, criticada por sua ligação orgânica com os poderes interessados em suas deliberações, previa ao Secretário de

Governación a ocupação da presidência do instituto e presença dos partidos políticos na direção do instituto (Olvera, 1999).

O desenho institucional do IFE passou por alterações com as reformas posteriores. No que diz respeito ao seu corpo técnico e orçamento, desde a sua formação, o Instituto Federal Electoral foi concebido como um órgão constitucional, com funcionários públicos de carreira e com recursos orçamentários independentes. Desde então, os procedimentos administrativos do IFE são a elaboração do registro e da jornada eleitoral, da capacitação e educação cívica, da contagem e computação dos votos, além do anúncio dos resultados.

No México, o “padrón electoral” passou a ser aperfeiçoado a cada reforma. A identidade eleitoral sofreu modificações com a incorporação da fotografia do eleitor e as eleições de 1994 absorveram este impacto. Este simples procedimento dependeu de esforços, no sentido do redimensionamento do senso eleitoral.

Isto permitiu que, nas eleições dos anos 2000, a identificação eleitoral se transformasse no principal documento do país. Além do título, com fotografia, foram garantidas a assinatura e a banda magnética – tornando-se o principal documento de identificação nacional.

Quanto aos mecanismos que garantiram o contencioso eleitoral, estes também foram assegurados, incrementalmente. Em 1993, o Tribunal del Contencioso Electoral (Tricoel) deixa de existir para ser criado o Tribunal Federal Electoral (TRIFE). A principal mudança foi o fim da sazonalidade de seus trabalhos, que passaram a ter caráter permanente e nacional. Muito embora, as deliberações do tribunal continuassem sujeitas à aprovação final. Isto porque a palavra do TRIFE ainda poderia ser modificada, ou revogada, nos colégios eleitorais. A jurisdição do tribunal permaneceria sujeita aos colégios eleitorais federais e estaduais, ainda ligadas ao Legislativo (Cano, 1999).

Como pudemos perceber, vários procedimentos administrativos, como o cadastramento eleitoral e o título, foram fortalecidos, contudo, ainda havia diversas lacunas institucionais. Até então, estas lacunas diziam respeito à autonomia dos tribunais, das instâncias eleitorais e, também, à institucionalização das denúncias de delitos eleitorais.

No intuito de fiscalizar as campanhas eleitorais, em 1994, outra instituição eleitoral foi criada. A Fiscalía Especializada para la Atención de Delitos Electorales (FEPADE) passou a integrar as instituições eleitorais mexicanas. A instituição veio a

ser o órgão cujo objetivo seria a prevenção e sanção dos delitos eleitorais por meio de fiscalização definida por averiguações prévias, em matéria penal eleitoral federal. 56

Contudo, até 1996, a dificuldade da instituição foi facultada ao procedimento de denúncias que deveriam ser realizadas diretamente pelos cidadãos, uma vez que eram exigidos documentos comprobatórios da coação ou manipulações do voto (op.cit:p.04). Faltava ainda a autonomia necessária para a institucionalização dos tribunais eleitorais no país.